Todo ser humano nasce com certas necessidades básicas, ingênitas, que precisam ser satisfeitas para que o organismo sobreviva. As necessidades básicas são as de: oxigênio, alimento, líquido, repouso, atividade, sono, exoneração dos intestinos e da bexiga, fuga de situações amedrontadoras e evitação da dor.
Em conexão com cada uma delas, todo ser humano está sujeito aos ensinamentos da sua cultura. Todos respiramos, comemos, bebemos, descansamos, dormimos e eliminamos segundo as formas costumeiras do nosso grupo, seja qual for o costume que prevaleça nos demais. Até certo ponto, somos todos feitos sob medida, de acordo com o modelo que predomina em nossa sociedade.
O significado de cultura
Em virtude da sua grande capacidade de adaptação e do seu engenho notável, o homem pode aperfeiçoar de muitíssimos modos a forma pela qual os outros animais satisfazem as suas necessidades. Possui capacidade de criar o próprio meio, em vez de ser obrigado, como no caso de outros animais, a sujeitar-se ao meio em que se encontra. Dentro de cada sociedade existem maneiras especiais de satisfação das necessidades.
As origens dessas maneiras, em regra geral, estão “perdidas na névoa dos tempos” ou, como dizem os aborígines australianos, “pertencem ao tempo do sonho”. Com efeito, uma das coisas mais difíceis em Antropologia é traçar a origem de um costume. De ordinário, não existe ninguém com idade suficiente para lembrar-se da sua origem porque, por via de regra, ele surgiu há muito tempo, muito antes da tradição oral ou da história escrita.
A cultura representa a resposta do homem às suas necessidades básicas. É o modo que tem o homem de colocar-se à vontade no mundo. É o comportamento que aprendeu como membro da sociedade. Podemos defini-la como o modo de vida de um povo, o meio, em formas de idéias, instituições potes e panelas, língua, instrumentos, serviços e pensamentos, criado por um grupo de seres humanos que ocupam um território comum.
É esse meio feito pelo homem, a cultura, que todas as sociedades humanas impõem ao meio físico e no qual todos os seres humanos são adestrados. De tal forma se identifica a cultura com a própria vida que se pode dizer perfeitamente não ser ela tanto sobreposta à vida quanto uma extensão da mesma vida.
Assim como o instrumento amplia e estende as capacidades da mão, assim a cultura acentua e estende as capacidades da vida.
São os seguintes critérios pelos quais se reconhece a cultura:
(1) precisa ser inventada,
(2) precisa ser transmitida de uma geração a outra,
(3) precisa ser perpetuada em sua forma original ou numa forma modificada.
Ao passo que outros animais são capazes de um restrito comportamento cultural, só o homem parece possuir uma capacidade virtualmente ilimitada de cultura.
O processo de criar, transmitir e manter o passado no presente é cultura – a capacidade que o semantista norte-america Alfred Korybski denominou vinculadora do tempo. As plantas vinculam as substâncias químicas, os animais vinculam o espaço, mas só o homem é capaz de vincular o tempo.
A cultura é a criação conjunta do indivíduo e da sociedade, que interagem mútua e reciprocamente, para se servirem, manterem, sustentarem e desenvolverem um ao outro.
A cultura, portanto, é o complexo de configurações mentais que, em forma de produtos de comportamento e produtos materiais, constitui de modo principal que tem o homem de adaptar-se ao meio total, controlando-o, mudando-o e transmitindo e perpetuando os modos acumulados de fazê-lo.
A mudança evolutiva se processa em todos os animais por mutação e pela armazenagem, nos genes, das mutações adaptativamente valiosas.
No homem, a mudança evolutiva também se processou dessa maneira, mas a adição de um sem-número de mudanças não genéticas, que também representam mudanças evolutivas sociais.
Essas mudanças culturais ou de comportamento, não genéticas, não estão armazenadas nos genes, porém na parte do meio feita pelo homem, na parte aprendida, na cultura, nos instrumentos, nos costumes, nas instituições, nas baladas, etc., nas lembranças dos homens, assim como em outros dispositivos não genéticos de armazenamento e recuperação de informações.
A natureza humana é o que se aprende do meio feito pelo homem; não é alguma coisa com que se nasce.
O ser humano nasce, isso sim, com as possibilidades de aprendizagem, que, mediante o ensino adequado, podem ser transformadas nas capacidades unicamente humanas.
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