Um dos grandes mistérios da biologia moderna é o bocejo! Existem muitas teorias sobre o bocejo mas a verdade é que até hoje ninguém sabe ao certo qual seria a função desse comportamento exibido por todos vertebrados, dos peixes aos seres humanos. Ou seja, ninguém sabe pra que diabos serve o bocejo. Há teorias que dizem que o bocejo estaria ligado a respiração, outras dizem que é uma forma de obter mais oxigênio quando mais se precisa (no meio de um filme chato?), outras que teria ligação com a coluna vertebral e que seria uma forma de alongá-la. De verdade...ninguém sabe. Mas uma coisa todos sabem: bocejar é um comportamento contagiante. Um boceja aqui, o outro em seguida boceja ali.
Acredita-se que o aspecto contagiante do bocejo seja uma expressão de empatia entre os indivíduos de uma mesma espécie. Seria uma forma de contágio emocional pelo qual o indivíduo mostraria pro outro que ele é capaz de sentir e expressar o mesmo que o outro. Irene, que muito já pensou sobre o bocejo, tem outra teoria. Ela acredita que o bocejo seja uma forma do indivíduo sinalizar pro outro que ele está dando um tempo, o que de fato significaria dizer que não está querendo nenhuma interação com o outro, seja ela sexo, briga, brincadeira ou assistir uma aula mega chata. E ao contagiar o outro através do bocejo, o indivíduo estaria trazendo o contagiado para a mesma “vibe” que o bocejador. Isso faria com que aquele inicialmente interessado em sexo, briga ou brincadeira também perdesse o interesse pela atividade em questão. Ou seja, o bocejo com seu caráter contagiante seria um modulador da vida em sociedade, um sincronizador de interesses momentâneos. “Se você não está a fim, entendi...Também perdi a vontade”. Assim falaria Irene.
Mas será que esse contágio funciona da mesma forma em outras espécies? Um estudo publicado esta semana na revista PeerJ, que é uma revista com uma nova proposta para o já sabido fracassado processo de revisão de pares, compara o efeito contagiante do bocejo em seres humanos com o de outra espécie de primatas, o Pan paniscus, ou simplesmente chimpanzé.
Os pesquisadores passaram aproximadamente 500 horas observando o comportamento dos macacos moradores de dois zoológicos na Holanda e também de seres humanos (esses não eram moradores do zoológico...). O estudo selecionou cinco variáveis para registro, são elas: A hora que foi dado o bocejo, a identidade do bocejador e daqueles presentes que notaram o bocejo (chamados de observadores), se houve ou não contágio do bocejo num intervalo de até 3 minutos após o bocejo, tempo de latência do bocejo dado pelo contagiado e sexo de todos os envolvidos, do bocejador e daqueles contagiados.
Os pesquisadores observaram que macacos e seres humanos não diferem nem no tempo que levam e nem na forma como respondem ao bocejo de outro indivíduo qualquer da mesma espécie. No entanto, em seres humanos, a resposta ao bocejo é potencializada caso haja uma estreita relação entre o bocejador e o observador. Ou seja, quando o bocejador tem um forte laço com o observador, as chances do observador ser contagiado pelo bocejo do bocejador são muito maiores do que nos casos onde o bocejador não tem relação com o observador. Isso significa que as chances de você responder ao bocejo de um familiar, amigo ou colega são maiores do que as chances de se contagiar pelo bocejo de um desconhecido.
Se o bocejo de fato é uma expressão de empatia, o achado é então muito claro. Estamos pouco nos lixando para a forma como o outro, que não tem um estreito laço com a gente, está se sentindo. Mas quando o assunto diz respeito a um dos nossos, a coisa muda de figura. Isso ilustra bem o caráter sectário e separatista do ser humano e a supervalorização daquele que nos é próximo. É possível que este comportamento tenha sido fundamental para manter as famílias, tribos e grupos unidos ao longo da evolução humana.
Pode ser também que o efeito contagiante do bocejo tenha funcionado como uma linguagem pela qual o contagiado diria ao bocejador: eu reconheço você. Você é um dos meus!