Estava vendo na TV um destes casos de estelionato contra mulheres. Na reportagem falavam de um homem bem-apessoado, na faixa dos 40 anos e com uma lábia de dar inveja. Traços claros de psicopatia, como a ausência de sentimentos, delatou a psiquiatra forense convidada para falar sobre o caso. Ela também focou no perfil das vítimas, geralmente mulheres carentes. “A carência faz com que estas mulheres queiram agradar, se fazer necessárias. Por isso eles conseguem tirar delas o que querem”.Algumas só deram uma carga de celular, mas outras podem dar até a casa onde moram. Não é difícil encontrar este tipo de crime por aí e eu mesma já atendi algumas mulheres que acabaram caindo em golpes como esse. E sim, a culpa é da carência, concordo com a psiquiatra.
O problema é que a carência, como ela disse, funciona ao contrário. Achamos que carente é aquele que quer tirar tudo do outro. Que quer todo o carinho, toda a atenção, que seja visto 24 horas por dia. Isso não seria mais sinal de carência, mas de dependência. A carência mesmo é sempre a carência de dar. De dar carinho, afeto, ajuda. As pessoas carentes querem participar da vida do outro, fazerem-se presente a qualquer custo. Acabam sendo pessoas chatas, pegajosas, quando todo o intuito é sempre o de ajudar.
Mas porque as mulheres chegam neste ponto (sim, existem homem com esse perfil, mas são mais difíceis de encontrar)? Existe um forte traço genético, uma coisa que a mãe natureza colocou na mulher de cuidar da cria. Até aí, um lado meio materno até é justificável. Mas o maior problema é o traço cultural.
Mulheres são ensinadas a cuidarem de seus homens, custe o que custar. Se precisa mudar pra Zâmbia, lá estamos nós disponíveis para isso. É mais fácil uma mulher abrir mão de tudo para que o marido se destaque no trabalho, por exemplo (de novo, estou generalizando, que fique claro). Quando elas encontram um tipo que geralmente conta uma história de dor e sofrimento, são pegas como moscas na teia de aranha.
Mas o que é essa carência da mulherada então? É a ausência de si. É a carência de olhar para si mesma. Para a sua vida, de viver seus próprios sonhos, de ir para academia ou caminhar num parque, de fazer uma aula de mandarim ou só tirar um dia de descanso de verdade. Parar de achar que precisa dar conta da vida de todo mundo, principalmente dos filhos, e esquecer dela mesma. Essa distância que ela cria de si mesma gera a carência e uma ansiedade absurda que parecem que só poderão ser satisfeitas por um homem. Daí a atrair estes tipos é um passo. Mas não é só isso. A carência estraga também relacionamentos que tinham tudo para serem bom e duradouros. Criam uma necessidade gigante do outro e isso pode incomodar. Criam uma dependência, um “só vou se você for” que acaba sufocando o parceiro e gerando brigas desnecessárias e homéricas. Gera e causa ciúmes, medo e apreensões que tornam o relacionamento insustentável. Aí é mais uma frustração, mais uma fonte de alimentação para a própria carência.
Se você se identificou com isso, cuidado. Comece a cuidar disso agora. Procure um terapeuta, uma ajuda. Faça ou até volte a fazer as coisas que você gosta ou gostava. Mesmo que tenha pouco tempo, que trabalhe muito, priorize a você e as suas necessidades. É como dizem no avião, quando dão as instruções de segurança no voo: em caso de despressurização da cabine, primeiro coloque a máscara em você e depois nas crianças. Se você não estiver bem, nada vai andar direito. Não, não é egoísmo. É sobrevivência.
E ainda livra de predadores como os estelionatários psicopatas. Cuidar de si é amar o mundo e todas as pessoas que estão ao seu redor sentirão os resultados benéficos.