O que mudou nas nossas vidas com o surgimento do telefone
celular?
Sucedido pelo smartphone. A intenção era nos falarmos mais. O celular
potencializou essa comunicação e o Smartphone reduziu-a a ponto de, hoje,
falarmos muito mais por texto ou recado de voz do que no “telefone” propriamente
dito, falando ao vivo.
As diferenças em
nossas vidas são muito mais profundas do que nos damos conta.
Quando só havia o telefone fixo as pessoas tinham que
ligar e dar a sorte de encontrar a pessoa em casa. Não era acostume ninguém se ligar o dia
inteiro. Ligar para alguém no trabalho era sinal de que alguma coisa grave
tinha acontecido.
Quando saíamos de casa, por qualquer motivo, ficávamos absolutamente inacessíveis, incomunicáveis.
Era o normal. Na praia, na chuva, na fazendo ou numa casinha de sapê que não
tivesse telefone, o que era o comum, qualquer pessoa desligava-se das pessoas
que quisesse, sem maiores explicações. Era o comum.
Se alguém estivesse esperando uma ligação importante, ficava
em casa de plantão. Se marcasse tal hora, tinha que ligar de onde estivesse. Era a época de reinado dos orelhões.
Amarelos com a logomarca da Telerj.
Naquelas épocas as linhas telefônicas tinham
um bom valor de mercado. Linhas eram alugáveis com boa lucratividade para os
fornecedores. Hoje, as operadoras fazem tudo para você ter um de graça, que só
serve pra receber ligações de telemarketing. Ninguém mais usa. Tornou-se absolutamente dispensável.
Cada época tem suas características e encantos. Mas, o
fato de estarmos o tempo todo acessíveis a todos, me dá a sensação de uma
corrente invisível que prende sem percebermos.
Não dá
mais pra “sumir do mapa”. Não dá mais pra ir para a praia e esfriar a
cabeça, sem receber mensagem de alguém. Seja do trabalho, de casa, ou de
qualquer ser humano, naqueles momentos em que tudo que a gente precisa e quer é
dar um mergulho no mar. E só “sumir do
mapa”.
Só a pessoas mais chatas ligariam mais de duas vezes, caso você
tivesse saído de casa por mais tempo. Ligar mais que isso, era atestado de
psicopatia. O normal era a pessoa ligar
uma vez e deixar recado na secretária
eletrônica. Daí, não ligar mais. A obrigação do retorno estava da mão do
outro. Se tivesse vários recados na secretária, significava uma invasão com
agravante pela insistência que desclassificou muita gente...
Hoje, todo mundo chipado e controlado pelo smartphone, estamos acessíveis o tempo
todo. Por voz, imagem, mensagem de texto, mensagem de voz e, até por telefone.
Se não te encontram de um jeito te
encontram de outro.
Ou de outro. Ou de outro. Ou de outro. Ou de outro.
Quando só existia o
telefone fixo, dar um tempo de tudo era possível. Hoje, é quase impossível.
Ia-se jogar pelada(futebol) e ninguém interrompia a diversão no meio,
por causa de um toque de telefone chato. Realmente, era o paraíso da escolha.
Da privacidade. Era possível “fugir do mapa”. Como
isso faz diferença...
Muitas vezes, é a
diferença entre dar ou não uma resposta atravessada para alguém que você
não gostaria de magoar. Por que hoje, não temos escolha de não atender. E, ao
mesmo tempo, não podemos atender porque estamos estressados e nos tornamos mais
sucetíveis a darmos respostas grosseiras
ou agressivas.
[Para quem espera uma
ligação importante, não existe saída senão a ansiedade da espera. E a frustração
da chamada que não veio é muito maior.]
Na época do telefone
fixo, você tinha a opção de interromper aquele ciclo ansioso, simplesmente
batendo a porta de casa e saindo para espairecer. Indo “sumir do mapa”. O tempo que se estava na rua, estava-se
incomunicável. Isso diminuía a sensação de frustração ou de rejeição pelo não
telefonema recebido também. Afinal, estava-se incomunicável mesmo. Havia uma
opção, era “sumir do mapa”.