O outro não importa mais.
E a gente percebe isto nos acontecimentos
do dia a dia,
das coisas mais bobas às mais sérias
do dia a dia,
das coisas mais bobas às mais sérias
O escritor Oswald de Andrade tem uma frase que eu gosto muito, que diz: “O erro do homem é pensar que é o fim do barbante; o barbante não tem fim”. A maldade humana também não. O egoísmo e o individualismo também não. No trânsito, no trabalho, na vida real ou nas telas da TV e do cinema a ideia parece uma só: ganhar do outro, agora, já. A urgência de vencer, de ser famoso, de ganhar dinheiro não tem limites.
Atropela, elimina, destrói numa voracidade de dar medo. O outro não importa mais. E a gente percebe isto nos acontecimentos do dia a dia, das coisas mais bobas às mais sérias e até criminosas. Quer um exemplo? O padre famoso está almoçando, a senhora da mesa do lado quer uma foto para colocar nas redes sociais. Como ela quer fazer a foto naquele momento e, naturalmente, não pode esperar, interrompe a garfada do peixe que o padre está levando à boca e, com o telefone na mão, praticamente o intima a fazer a foto. Quer outro? A pessoa está parada no sinal de trânsito, que está fechado, e descobre que ele abriu pelo som da buzina do carro que está a seguir.
O motoqueiro passa xingando, esbravejando, porque quer passar, e o motorista ousou seguir seu caminho, normal, sem se espremer para facilitar a passagem dele. Mas não pense que nesses casos banais a urgência ou o não querer prevalecem. A mulher engravida, o filho nasce e ela não o quer. Joga no mato, abandona, esquece e segue adiante, provavelmente fazendo outros filhos. O dentista não tem dinheiro suficiente para atender o assaltante? Coloca-se fogo nele. Eu leio as estatísticas divulgadas sobre nós, brasileiros e brasileiras, e elas dizem que a violência diminui. Que me desculpem os pesquisadores, mas não acredito. Pelo que leio, sou obrigada a achar que a situação só piora.
Que, bandidos ou não, as criaturas ficam cada dia mais violentas. Veja o caso do cabeleireiro assassinado no banheiro da boate. Me recuso a discutir se ele era gay ou não. Se era gay ou não estava no direito dele, vivendo a vida dele. Era uma pessoa, um ser humano, que saiu de casa para se divertir. Por que é que tem que acabar assim? Por que a Justiça sempre dá seu jeito para soltar os acusados de um crime, como no caso da boate Kiss, em Santa Maria? Por que um crime praticado por um ‘de menor’ merece punição diferente, mesmo que seja igual ao praticado por um ‘de maior’?
Por que é que ainda existem brancos que acham que têm mais direitos que os negros? Por que fizeram uma lei para as empregadas domésticas e, agora, ficam discutindo um jeito de burlá-la? Porque todo mundo quer se dar bem, todo mundo se acha especial, diferente, egoisticamente mais merecedor. Num certo sentido, todo mundo se acha o fim do barbante.