"TENHO 28 ANOS E BASTANTES QUESTÕES. Uma delas é: a paixão é para os fracos?Na sua coluna deixa claro que amor é uma coisa, paixão, outra e os que se entregam a ela frequentemente se estrepam. Alguns se dão bem, é claro. Mas não é a regra. E eu faço parte da maioria. Tive uma relação de seis anos com Mauricio, com idas e vindas. Apaixonei-me perdidamente. Mas surgiu um problema: depois de um tempo de namoro, a atração dele por mim diminuiu e ao longo do tempo se agravou. Ele se justificava, jovem recém-formado, dependia dos pais... Ate lograr independência e mudar de cidade. Rompemos. Dois anos separados, reatamos e fui morar com ele. Nesse período, nosso problema se agravou. Admirava-me, mas não me desejava. Separei e, dois meses depois, engravidou outra garota, com quem está casado hoje, muito feliz. Sinto-me ingênua por ter investido no “amor”; fui meu próprio algoz... Estou solteira e ainda sofro. O que fazer? Apesar de bonita e sexy – ao menos para muitos outros rapazes -, não quero uma nova paixão em 2012...”
Ellen
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DESSA VEZ O MILIONÁRIO PRÊMIO DA MEGA-SENA tinha saído para um único apostador, um modesto camponês que, de repente, ficou rico e famoso na sua pacata região. Sua felicidade durou pouco, dois anos depois, foi assassinado num episódio amplamente difundido pela mídia. Meses mais tarde, o prêmio novamente acumulado foi para um funcionário público, que discretamente, embolsou a fortuna e mudou de cidade. Seus amigos relatam que agora ele se dedica ao esporte e viaja pelo mundo com sua família.
Ao primeiro a fortuna matou, ao segundo, proporcionou glamour e alegria…
Respondo à Ellen dizendo que a paixão é a Mega-Sena de uma vida que, dependendo de como for administrada, mata ou alegra. Paixão e Mega-Sena oferecem fantásticas quantidades de energia, criatividade, beleza etc., porém obnubilam os sentidos, transformam o sujeito que, nunca mais será o mesmo, promovendo felicidade total ou, às vezes, tragédia iminente.
Ellen precisa entender que sua dolorosa experiência pessoal não demoniza a paixão, nem a transforma em garantia de felicidade. Ela oferece momentos plenos, eufóricos e quase sempre, irresponsáveis… Funciona como uma droga, sem química nem traficante, porém paixão e dinheiro não admitem desaforos. Vamos rever sua história: durante anos foi apaixonada por Maurício e não o perdeu por amá-lo excessivamente, mas porque Maurício não enfrentou nem resolveu seus problemas sexuais. A relação começou como outras, com ereção e desempenho normais, porém, para alguns homens, a continuidade da relação aniquila o desejo. Começam sexualmente bem, porém à medida em que a relação se estabelece, se torna “familiar”, a namorada vira irmã e boa amiga e para recuperar o erotismo, precisam trocá-la ou se separar por um tempo e assim reiniciar o ciclo… A paixão persistiu, por isso retomaram o que desapareceu foi o tesão do Maurício.
Amor e admiração mútuos operaram contra o desejo e era óbvio que precisavam de uma adequada e urgente ajuda terapêutica. Ellen amou e foi amada. Perdeu, porque o sintoma neurótico apagou o desejo é possível que Maurício, com o tempo, venha a repetir o sintoma no seu recente casamento. O único erro da Ellen foi ter retomado o segundo tempo da relação, sem avaliar a gravidade do problema. Foi mulher apaixonada, romântica e ingênua, já que, pensando objetivamente não havia motivos para uma solução espontânea...
Reconheço que com alguma frequência as mulheres toleram as limitações sexuais dos seus futuros maridos, confiando que o casamento, os filhos ou a própria vida irão resolvê-los. Nem sempre é assim, mesmo que neste caso tenha sido o próprio Maurício que desistiu, imaginando, como é típico, que Ellen era a responsável pelos seus fracassos. Por isso não é adequado usar histórias pontuais para demonizar paixão e Mega-Sena, mesmo que, às vezes, aparentem ser as únicas responsáveis. Sinceramente, acredito que Ellen deveria se dar novas oportunidades de amar, evitando negar ou desvalorizar os sinais relevantes do homem que dorme ao seu lado. Precisa enfrentar, discutir, tratar a questão e, na medida do possível, renovar suas apostas no fascinante jogo da vida.