Uma leitora que assistiu à entrevista que dei recentemente para Marília Gabriela diz não ter entendido eu ter sido enfática sobre a importância de se valorizar a diversão num relacionamento, já que no primeiro bloco eu afirmei que não era de balada e preferia encontros mais privados. A ela, isso soou como uma contradição.
A leitora, que vou chamar de Carmem, não disse a idade, mas deduzi que ainda estivesse naquela fase em que diversão é sinônimo de festa – uns 19 anos, no máximo. Em tempo: eu gosto de festa. Um aniversário, um casamento, uma comemoração especial. Uma aqui, outra acolá, com algum espaçamento entre elas. Gosto.
Só que, quando falei em diversão, Carmem, falei antes de tudo num estado de espírito. Existe uma frase ótima, que não lembro de quem é, que diz que rir não é uma forma de desprezar a vida, e sim de homenageá-la. Mas atenção pra sutileza: isso não significa passar os dias feito uma boba alegre, dando bom dia pra poste. Trata-se de rir por dentro. De achar graça nas coisas. Mesmo as que não dão muito certo. A essa altura você já deve ter descoberto que nem tudo dá certo.
Parece um insulto falar de diversão com quem, aos 19 anos, deve ser expert no assunto, mas minha tese de mestrado, se eu tivesse que defender uma, seria: gente madura é que sabe se divertir. A verdadeira liberdade está em já ter feito vestibular, já ter terminado a faculdade, já ter casado, já ter tido filhos, já ter conquistado estabilidade profissional, já ter separado (é facultativo) e, surpreendentemente, ainda não ter virado um fóssil.
Com o resto de vida que se tem pela frente, sem precisar provar mais nada pra ninguém, muito menos pra si mesmo, é hora de arrumar a mochila e conhecer lugares que você sempre sonhou conhecer (Fernando de Noronha, quem sabe) e alguns que você nunca imaginou colocar os pés (Mongólia, digamos). Aprender um idioma só pela paixão por sua sonoridade: italiano, claro. Aprender a jogar pôquer ou ter umas aulas de sinuca. Aprender a cozinhar. Caso já saiba, aprender a cozinhar com intenção de abrir um restaurante um dia.
Você deve estar se perguntando: isso diverte um relacionamento? Ô.
Óbvio que é preciso trabalhar feito um escravo para custear toda essa programação, mas nada melhor para um casal do que se manter ocupado em seus ofícios e depois realizar juntos atividades desestressantes e hiperprazerosas, que deixarão ambos mais leves e, não duvide, mais jovens.
Carmem, se divertir é dormir cedo, acordar cedo, trabalhar, suar e arriscar. Pareço louca? Se divertir é isso também, enlouquecer. Festa é bom de vez em quando. E festa toda noite é coisa de gente triste. A vida mundana, ela mesma, é que tem que ser uma farra diária.
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