O ciúme é um
daqueles sentimentos que a gente veste de monstro e prefere varrer para baixo
do tapete. É algo negativo, na opinião da maioria das pessoas, difícil de olhar
e constrangedor.
Há quem diga que é um verdadeiro veneno para os
relacionamentos – e realmente pode ser! Mas será mesmo que o ciúme é sempre
negativo?
Existe uma medida de ciúmes que não apenas é saudável,
como também vital para um relacionamento. Amor nenhum dura por muito tempo sem
ele, ou pelo menos não o desejo.
O desejo é uma estrutura delicada; é uma força sempre em
tensão, pois necessita de elementos em oposição para existir. Sem dúvidas, é
preciso alguma proximidade: para que o amor possa nascer, torna-se necessária
alguma semelhança e intimidade. Afinal, é do desejo de união que nasce o amor.
Por outro lado, ele precisa do completo oposto: distância.
Sim, o desejo exige certa diferença. Sem que algo me
escape, não posso desejar, não é mesmo? Pois é a própria falta o seu motor.
O ciúme, nesse sentido, nos lembra que o outro não é
nosso. Faz recordar que há sempre algo nele que nos escapa, um instigante
mistério. Ele abala nosso chão e acrescenta uma pitada de risco na relação – na
estrutura triangular, corresponderia ao calor necessário para acender esse
fogo.
O ciúme nos lembra que sempre temos algo a conquistar,
que sempre é possível haver um território novo a desbravar.
Ele é um lembrete constante do valor de nossos amores,
pois, se não houver o risco, o excesso de segurança pode ser tornar entediante
e desestimulante.
Este ciúme é diferente do ciúme patológico. Ele não
almeja controlar e não busca uma proximidade sufocante.
Pelo contrário: tolera a distância, porque sabe que nela
é que brota sua razão de existir, o amor.
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