Um
dos impasses masculinos no casamento é conciliar
a porção macho
protetor e a porção criança feliz.
Porque
sua mulher ama quando você é adulto, seguro, firme, decidido, capaz
de resolver crises e contas, dar colo e acalmar, dizer que tudo vai
dar certo com a voz resoluta de radialista.
A
mulher ama e espera ser amada desse modo. Com alguém disposto a
oferecer segurança e sentido, com o peito maior do que o
travesseiro, para aninhar e resguardar cheiros e futuro. Com um homem
que acaricie seus cabelos em silêncio, sem que ela descubra o que
ele está pensando.
Mas,
se o homem está feliz ao lado da mulher, será uma criança. Eis o
grande problema da dinâmica de casal: se a mulher faz o homem feliz,
ele será uma criança, daí é ela que ficará descontente. Parece
que precisa deixar o homem preocupado para ser feliz, mesmo que
resulte na tristeza dele.
Homem
bom para a ala das noivas é melancólico, aborrecido, casmurro,
fortaleza enigmática, caixa com senha numérica e alfabética.
Já
um homem realizado é livre como um campo de futebol num dia
ensolarado. Muda seu riso, seu olhar brilha, seu rosto se amplia e se
torna uma matraca. Transforma-se num bobo carente, disposto a fazer
troça de qualquer assunto. Não leva coisa alguma a sério.
Debochado, hiperativo, como se estivesse arremessando aviãozinho
ainda do fundo da sala de aula. Vai apertar, morder, empurrar,
beliscar, incomodar, perturbar, série de movimentos proibitivos da
fantasia feminina.
Nos
momentos de euforia do namoro, reproduz a descontração com seus
amigos: em especial na pelada e no boteco. Um churrasco entre
barbados exemplifica sua felicidade: os participantes só vão
confidenciar bobagens e besteiras sobre sexo e carreira. A frequência
estará desembaraçada, ingênua, afeita a piadas, gafes e fraquezas
cômicas.
Homem
brinca de brigar, mulher quando briga não gosta de brincar, entende
a diferença? É um cacoete ancestral, egresso do jardim da infância.
No recreio, o homem fingia guerra com os colegas para mostrar apego.
Por sua vez, a mulher se divertia em montar casinha, em estabelecer
ordem e hierarquia nas emoções e afetos.
A
questão é que a mulher não ama quando seu marido se infantiliza,
porém é quando ele está mais à vontade. É quando ele
verdadeiramente está amando. A mulher é seduzida pela imagem do
homem tenso e guardião, e não suporta o menino enfeitiçado pelo
encantamento da relação.
Na
realidade, a mulher se irrita quando sua companhia assume ares de
palhaço, ou de louco. Julga comportamentos hostis, que não inspiram
nenhuma confiança. Despreza essas demonstrações circenses de
disputa. Tente derrubá-la na cama fora do clima sexual, que ela
ficará puta da vida.
Odeia
quando seu marido se mantém hipnotizado assistindo uma partida da
Série C, ou na medida em que inventa de jogar playstation e perde a
hora ou ainda começa a jogar bolinha dentro de casa e quebra
objetos. Odeia sua birra e manha, seu timbre de desenho animado, suas
miradas tristonhas de chantagem.
A
mulher jamais vai nos entender. Portanto, você tem que alternar com
sabedoria os dois momentos. Este é o ponto delicado: encontrar a
medida. Ser os dois ao mesmo tempo sempre, e nunca exageradamente.
Nem
ser demais um, nem deixar de ser o outro.
Nem
ser pai demais da esposa, nem ser seu filho.