Há muitas coisas boas em se mudar de casa ou apartamento. Em
princípio, toda e qualquer mudança é um avanço, um passo à frente, uma ousadia
que nos concedemos, nós que tememos tanto o desconhecido. Mudar de endereço, no
entanto, trás um benefício extra. Você pode estar se mudando porque agora tem
condições de morar melhor, ou, ao contrário, porque está sem condições de
manter o que possui e necessita ir para um lugar menor. Em qualquer dos dois
casos, de uma coisa ninguém escapa: é hora de jogar muita tralha fora. E, se
avaliarmos a situação sem meter o coração no meio, chegaremos a um previsível
diagnóstico: quase tudo que guardamos é tralha.
Começando pelo segundo caso, de você estar indo para um
lugar menor. Salve! Considere isso uma simplificação da vida, e não um passo
atrás. Não haverá espaço para guardar todos os seus móveis e badulaques. Se
você for muito sentimental, vai doer um pouquinho. Mas não é crime ser
racional: olhe que oportunidade de ouro para desfazer-se daquela estante enorme
que ocupa todo o corredor, e também daquela sala de jantar de oito lugares que
você só usa em meia dúzia de ocasiões especiais, já que faz as refeições do
dia-a-dia na copa. Para que tantas poltronas gordas, tanta mobília herdada,
tantos quadros que, pensando bem, nem bonitos são? Xô! Leve com você apenas o
que combina e cabe na sua nova etapa de vida. O que sobrar, venda, ou melhor
ainda: doe. Você vai se sentir como se tivesse feito o regime das nove luas, a
dieta do leite azedo, ou seja lá o que estiver na moda hoje para emagrecer.
No caso de você estar indo para um lugar maior, vale o
mesmo. Aproveite a chance espetacular que a vida está lhe dando para exercitar
o desapego. Para que iniciar vida nova com coisa velha? Ok, você foi a fundo de
caixa, e não sobrou nada para a decoração, compreende-se. Pois leve seu fogão,
sua geladeira, sua cama, seu sofá e o imprescindível para não dormir no chão.
Pra começar, isso basta. Coragem, é hora de passar adiante todas as roupas que
você pensa que vai usar um dia, sabendo que não vai. Hora de botar no lixo
todas as panelas sem cabo, os tapetes desfiados, as almofadas com rombos, os
discos arranhados, as plantas semimortas, aquela lixeira medonha do banheiro,
os copos trincados, os guias telefônicos de três anos atrás, todas as flores
artificiais, as revistas empoeiradas que você coleciona, a máquina de escrever
guardada no baú, o aquário vazio e o violão com duas cordas. Tudo isso e mais o
que você esconde no armário da dependência de serviço. Vamos lá, seja homem.
Caso você não esteja de mudança marcada, invente outra
desculpa qualquer, mas livre-se você também da sua tralha. Poucas experiências
são mais transcendentais como deixar nossas tranqueiras pra trás.