Desprezamos o valor dos contatos físicos, para uma vida sadia. Tocar e ser tocado é uma necessidade atávica que, se não for atendida, nos leva ao stress e à depressão crônica.
Sabe qual é a diferença entre a sua necessidade de sexo e sua necessidade de tocar e ser tocado? Se a resposta é não, você está entre a maioria. Muito pouco tem sido dito sobre o assunto e muitas pessoas nem imaginam o quanto isso afeta suas relações, decisões e qualidade de vida.
Instintivamente, todos nós sabemos sobre nossas necessidades, sobre o conforto e segurança que o contato físico proporciona. Poucos, no entanto, têm uma compreensão intelectual dessa necessidade.
O entendimento disso pode melhorar a qualidade do relacionamento com os companheiros, reduzir a necessidade de Jogos Psicológicos, facilitar a descoberta de nós mesmos e ampliar a habilidade para obter o que queremos sem explorar os outros.
Depressão crônica – A necessidade de contato com outros corpos humanos é primária, herdada fisiologicamente e esse instinto governa boa parte de nossos comportamento, mesmo que a gente não perceba. Geralmente se considera que o calor humano não passa de expressão simbólica, que significa gentileza ou consideração. Calor humano, porém, tem um significado muito real. É uma necessidade biológica básica: questão de vida ou morte para as crianças (bebês não suficientemente tocados não se desenvolvem normalmente, em casos extremos podem até morrer).
Para os adultos, o contato físico é tão importante quanto o sexo. Não é uma questão vital, mas a falta de toques pode fazer-nos viver num estado de depressão meio crônica (com menos energia, menos alegria e menos entusiasmo).
O apelo sexual – com a conseqüente satisfação física, biológica e emocional – é igualmente importante para uma vida equilibrada. O sexo, no entanto, ganha importância exagerada quando se espera que atenda às duas necessidades. Mas, quando se compreende a diferença entre as duas, a própria união sexual pode ser enriquecida.
Massagem x stress – Pesquisas médicas registram a melhora de todos os sinais vitais (batimentos cardíacos, pressão sanguínea, etc) quando a mão do paciente é segura ou acariciada, mesmo por um estranho (médico ou enfermeira); e mesmo quando o paciente está inconsciente. Os executivos com a clássica síndrome de personalidade tipo A (líder, com grandes riscos cardíacos, tipo entusiasta, na constante luta contra o relógio, tendendo à impaciência, irritação, ansiedade e hostilidade; altamente competitivo) sentem-se agradavelmente calmos quando aumenta a quantidade de contatos físicos. Por exemplo, após uma massagem. Ela pode mesmo modificar a pressão sanguínea, se feita de forma sistemática. O contato físico é um dos antídotos mais poderosos contra o stress.
Contatos proibidos –Deliberadamente ou não, reagimos às nossas necessidades em formas que variam da benigna (muita gente passa mais tempo estimulando a pelo no chuveiro do que seria preciso para se lavar) à destrutiva (casos amorosos impulsivos, rapidíssimos ou intermináveis). Um desejo sexual obsessivo ou compulsivo geralmente é sintoma de falta de contatos físicos; as pessoas que conseguem atender essas necessidades tendem a colocar a atividade sexual em melhor perspectiva.
Nossa sociedade criou uma série de tabus, o que praticamente nos proíbe de obter nossa cota e, conseqüentemente, aumenta a taxa de manipulação dos contatos disponíveis. O contato sexual é praticamente a única maneira socialmente aceita para os adultos serem tocados. Desde que o poder de manipulação está na relação direta da necessidade, o sexo raramente é disponível sem um “negócio”. Casais fiéis, onde cada parceiro detém o monopólio da quantidade de contato físico que o outro recebe, ou casais onde um tem “permissão” para atividades extraconjugais e o outro não, são particularmente vulneráveis aos jogos de poder, a não ser que estejam dispostos a reconhecer suas necessidades e concordem em atendê-las.
Com muitos casais, a falta de comunicação resultará em falta de contatos físicos e sexuais. Sentirá mais, claro, aquele que valoriza a fidelidade. Para este e para os outros, há algumas receitas ao final do texto
Toque brasileiro – Os tabus geralmente nos limitam aos contatos rituais (um aperto de mão, tapinhas nas costas, o abraço superficial). Em parte devido à nossa dificuldade em imaginar contato físico sem implicação sexual.
O Brasil é um dos raros países do mundo ocidental onde existe uma larga faixa de toques socialmente aceitáveis. Particularmente, e felizmente, no que se refere às crianças. Mas certos aspectos comuns na América se encaixam aqui também. Alguma das afirmações seguintes lhe parece familiar? Um homem não toca outro homem, e eles param de tocar os filhos tão logo cheguem à puberdade, por medo de implicações homossexuais. Os pais param de tocar as filhas tão logo cheguem à puberdade, porque morrem de medo dos reflexos sexuais dessa experiência (não sabem que é um fenômeno absolutamente normal). Um homem não toca uma mulher que não seja sua própria esposa, a não ser que pretenda levá-la para a cama. Os adultos não tocam seus pais idosos, embora esta seja provavelmente a única fonte de contato que lhe sobra.
O mito de que as mulheres se tocam mais pode ser destruído em 3 minutos de observação empírica – num coquetel: os braços abertos, no ar, um passo adiante, dois beijinhos na face e um passo para trás.
Por tudo isso, muitos de nós crescemos confusos. Alguns clientes que tivemos não conseguiam sequer distinguir entre solidão e desejo sexual.
O preço do toque – O sexo é geralmente usado como maneira de pagar pela satisfação de ser tocado. Ninguém pode ter uma relação sexual sem se deixar tocar. Mas todos podem se tocar sem ter uma relação sexual; o problema é que a maioria de nós não sabe fazer isso. Muitos casais só conseguem quando um dos dois está doente.
O toque é muitas vezes mais íntimo do que uma relação sexual. É mais difícil se despersonalizar nesse caso (exceto em situações profissionais, como o da enfermeira ou massagista, e mesmo assim a intenção é de ajuda e não de troca). Muitos concordarão que é mais fácil encontrar alguém para manter uma relação sexual do que confiar em alguém para abraçar e tocar sem objetivos sexuais.
Os homens acham mais difícil pedir conforto físico do que convidar alguém para a cama. E em ocasiões de crise, quando tudo o que querem é carinho, acabam pagando com uma relação sexual e correm o rico adicional de quebrar a cara. Se reconhecessem a natureza de suas necessidades, eles simplesmente pediriam um carinho.
O que fazer? Antes de tudo, procure entender seu corpo, suas respostas, e gradualmente compreenda a diferença de sensações entre uma necessidade e outra. irritação e desconforto geralmente atribuídos à falta de sexo, podem ser examinados de forma diferente. Tente um contato não sexual (uma massagem pode ser o jeito mais simples de começar) e veja como se sente. Aprenda a distinguir entre solidão, insegurança, necessidade de conforto e apetite sexual.
Se você vive uma relação monogâmica, há algumas maneiras de compensar uma ausência eventual: um belo chuveiro, ou banho de imersão, banho de sol, sauna, exercícios físicos. E uma nutritiva massagem. Alguns psicoterapeutas fornecem massagens específicas para necessidades emocionais.
Cuide-se nas crises. Quando houver qualquer quebra numa relação amorosa, o período de transição pode ser muito facilitado pela mesma medicina preventiva. A quantidade de toque que a gente recebe fornece a medida da qualidade de nosso sistema social de sustentação. Uma falta muito grande de toque pode indicar uma necessidade de desenvolver amizade dentro e fora da família.
Tire o pijama – É ilusão romântica dizer que apenas as pessoas que se atraem sexualmente podem ter um contato físico gratificante. É possível trocar toques com um amigo ou mesmo um estranho, ou alguém com quem a gente se encontre casualmente. Será mais fácil para pessoas tranqüilas com sua própria sexualidade (não têm que provar nada a ninguém) e que acreditam na sua habilidade de entender os outros. Isto – claro – é mais difícil numa sociedade chauvinista.
Para os casais, uma gama muito mais profunda de contatos íntimos pode surgir do esclarecimento de cada parceiro sobre suas próprias necessidades e da exploração de novas maneiras de tocar carinhos não sexuais. Cada um deve identificar áreas especialmente gostosas: costas, pés, cabeça, a parte interna dos braços (freqüentemente relacionada com padrões de carícias recebidas na infância).
E que tal dormir sem pijamas ou camisola? Você pode aprender – se ainda não sabe – a dormir em íntimo contato, sem expectativas sexuais. Durante o dia, aumentar o contato físico também é possível: um cutucão, um tapinha nas costas, sentar-se um ao lado do outro, tocar-se com os pés.
Os casais podem ainda experimentar ir para a cama e abraçar-se quando tiverem que discutir alguma coisa. Concordem – quando se sentirem bem, abraçados – que, durante uma discussão emocional, nenhum dos dois se recusará a “levar o assunto para a cama”. É muito difícil brigar quando o contato físico confirma a cada um que o relacionamento tem prioridade muito maior que o assunto em discussão.