A noite já quase caía e eu ia passando pela praia de Ipanema em direção a Copacabana quando o motorista de táxi que me levava soltou uma exclamação. Inclinei-me para frente, sem entender bem o que ele dizia, só tendo percebido que a frase acabara com a expressão “tudo dourado”. Já ia pedir que ele repetisse o comentário quando meus olhos viram, através do vidro da frente do carro, a imagem à qual sem dúvida o rapaz se referia. Na altura do Castelinho e indo até a ponta do Arpoador, os prédios, a areia, a pedra, tudo estava cor de ouro – e brilhava, brilhava como um enfeite de Natal.
O motorista diminuiu a marcha, ou talvez tenha sido um sinal de trânsito que, num ajuste perfeito e providencial, acabava de fechar. O fato é que ficamos os dois ali, em silêncio, olhando, observando o cenário tão conhecido, mas que naquele instante ganhava uma tonalidade incomum.
Quando o carro recomeçou a andar, olhei para trás. O sol, que já quase se punha atrás do morro do Vidigal, surgira de repente – depois de tantos dias de chuva – e ao vencer as nuvens se mostrava como uma bola de fogo, cujos raios se despejavam diretamente sobre a ponta do Arpoador, formando à nossa frente aquela pequena cidade de ouro, como se saída de um conto das mil e uma noites.
Mas não foi só isso. Havia naquele fim de tarde algo mais.
Mal me recuperara da surpresa e olhei na direção do mar. E ali, muito além das ilhas, emergindo das brumas que suavizavam o horizonte, estava o pé de um arco-íris, de um colorido perfeito, subindo e desaparecendo no céu lilás do começo de noite, antes de completar o arco. Há muito tempo não via um arco-íris tão nítido, de cores tão bonitas. Mostrei-o ao motorista de táxi que, como eu, parecia não saber mais o que dizer.
Entramos pela Rua Francisco Otaviano, com pena de deixar aquela paisagem para trás. Mas quando desembocamos no Posto Seis, o arco-íris, fugidio e mágico como qualquer arco-íris, estava lá, só que agora inteiro, surgindo de trás do Marimbás, cobrindo com seu arco toda a curva do mar de Copacabana e indo desaparecer além do Morro do Leme, lá pelas bandas do Pão de Açúcar. Suas cores eram menos nítidas, talvez porque a noite caía depressa, ou porque em Copacabana anoitece primeiro. Mas, de toda forma, era lindo.
E eu me deixei recostar no banco do carro, pensando no fascínio desta cidade, capaz às vezes de nos agredir tanto, com violência, sujeira, miséria, e ao mesmo tempo nos dar tanta beleza. E guardei nas retinas aquelas visões – todas as cores do arco-íris, o pôr-do-sol mais dourado – como se fossem presentes dela para mim.