Por uma infelicidade tremenda, fui ler os comentários
de um site sobre o acontecido em Santa Maria e dei com uma criatura funesta que
falou coisas impublicáveis. Um só. Um único demente entre tantos solidários, e
pensei: precisa mais que um para lamentarmos a falta de compaixão? Porque essa
foi a palavra que me invadiu desde as primeiras horas de um domingo ensolarado
lá fora e nublado aqui dentro: compaixão.
Qualquer pessoa que tenha um filho ou uma filha não tem
como não se colocar no lugar dos pais, dos avós, dos tios daquela garotada que
saiu no sábado à noite para se divertir e que foi vítima do destino –
poderíamos também chamar de descaso, insensatez, irresponsabilidade –, mas é
cedo para diagnósticos precisos. Destino é uma palavra mais abrangente.
Tenho duas filhas que comumente saem à noite, dançam,
se divertem em lugares fechados, e eu não faço vistorias prévias, não peço
laudos, não investigo, simplesmente confio que elas estarão em segurança. Quem
pode garantir? Alguém deveria, mas o destino não se responsabiliza. Nunca se
responsabilizou.
Sei de dois irmãos e de um casal de namorados que
tinham relações com amigos meus e que estão entre as vítimas. De íntimo, eu não
conhecia ninguém. Isso me afasta da tragédia? Nada nos afasta dessa tragédia, a
não ser que não tenhamos compaixão. Essa palavra não me sai da cabeça. Um mundo
individualista como o nosso precisa abraçar esse conceito, esse sentimento:
compaixão. Se colocar no lugar do outro. Dói, mas é necessário.
Quem não tem filhos sofre. Quem tem se arrebenta. Não é
algo que se explique. Nenhum racionalismo conforta. É um soco que nos tira o ar
e nos faz lembrar o que tanto buscamos esquecer: que somos todos vulneráveis
diante da fragilidade da vida.