Para
ginecologistas, sociedade não estimula a mulher a conhecer sua
sexualidade como acontece com o homem. "A menina é policiada, o
menino é reconhecido como macho", diz Amaury Mendes. Eles
também falam das reações do corpo feminino ao orgasmo, de forma
que até seria possível saber quando ela finge
A reclamação é
comum aos ouvidos de Carolina Ambrogini: meses ou anos em um
relacionamento sem nunca ter atingido o orgasmo durante a relação
sexual. “Tem pacientes mais velhas que me procuram, mas acho que é
coisa das mulheres mais novas, por volta dos 25, 30 anos. Já tiveram
experiências e à medida que não conseguem, pensam se têm algum
problema. Já as mais velhas se resolveram, amadureceram e passaram a
ter [orgamos] ou desistiram e pronto”, diz a ginecologista e
coordenadora do Projeto Afrodite, do Departamento de Ginecologia da
Unifesp.
Para Amaury
Mendes, professor e médico do ambulatório de sexologia da UFRJ, a
mulher não tem os mesmos incentivos que o homem durante a juventude
para explorar sua sexualidade. “Por mais evoluída que seja uma
família, existe desde cedo um desestímulo no caso das garotas. A
menina que tiver uma atitude muito livre sexualmente vai ser
policiada, e o menino sabe que se ele for assim vai ser reconhecido
como macho. Isto tem uma influência no comportamento desta menina,
não digo que seja exclusivamente por isso, mas causa uma confusão
na cabeça da mulher, um desconhecimento”, afirma o especialista.
“É uma falta
de conhecimento, de intimidade, com o próprio corpo. Faz com que ela
tenha essa dificuldade de ter sensações prazerosas. Para que
aconteça a excitação é preciso sair um pouco do mundo concreto,
se deixar levar por essas sensações, fantasias. A culpa, se é que
podemos chamar assim, é mais da mulher, acredito eu”, diz
Carolina.
A ginecologista
afirma ainda que a inibição, citada por Amaury, faz com que muitas
mulheres não consigam se masturbar.
Amaury fala em
questões “biopsicossociais”: “Pode ter um problema metabólico,
disfunção hormonal, algo que atrapalha a percepção e
sensibilidade; pode ser psicológico, ela não se sente bem com o
corpo, se sente feia; e pode ser social, coisa da criação. Quando
falamos de entrega, desejo e orgasmo, a mulher é muito mais complexa
do que o homem. Se ela tiver um companheiro interessante e
interessado, as coisas caminham”.
O QUE O HOMEM
PODE FAZER? PERGUNTAR
Se você, homem,
se apressou em colocar a culpa logo na “sociedade” e tirar o
corpo fora, é aconselhável não cruzar os braços e esperar a
companheira consultar uma especialista. “O que ele pode fazer é
perguntar. Às vezes a mulher tem dificuldade de falar, de perguntar
se está bom, se está gostoso. Outra coisa é investir nas
preliminares. A parcela de culpa do homem nisso é que ele quer ir
logo para a penetração. Ele precisa de mais investimento no sexo
oral, em outras coisas que facilitam o orgasmo feminino”, diz
Carolina.
A coordenadora do
Projeto Afrodite revela que algumas pacientes que a procuram dizer
que conseguem atingir o orgasmo sozinhas, mas não com os parceiros
por conta de uma “dificuldade de entrega, de confiança”: “O
orgasmo é a perda de controle, mulheres controladoras se deixam
levar por essa coisa de perda”. “Tem que ter esse descontrole. É
um desequilíbrio de sentimentos. Os franceses chamam de ‘la douce
mort’ (a doce morte, em tradução literal)”, diz Mendes.
Amaury acredita
que a perda de controle neste momento, “deixar de ter o
comportamento padrão, gritar, ferir os costumes morais de alguns
caras de gerações anteriores” pode ser visto como algo “perigoso”
pelas mulheres. “O comportamento padrão é embasado em protocolos
familiares de que não pode ter sexo oral, sexo anal. Tem casais que
até hoje o sexo é protocolar, quase que reproduzido”, completa.
FINGIR OU NÃO FINGIR? COMO IDENTIFICAR
“A gente se
depara com esses dilemas. A mulher diz que sempre fingiu e agora não
sabe como vai falar para ele”, conta Carolina. Questionada se há
maneiras do homem identificar isso para abrir um diálogo entre o
casal, ela ri, mas dá algumas orientações: “Se ela está pouco
lubrificada, pode significar que não está muito excitada, e ele
pode ter uma ideia por aí. Depois do orgasmo dá uma sensação de
relaxamento, pode ser que ela continue ‘pilhada’, insatisfeita
porque não conseguiu. Tem homem que consegue saber, mas é difícil.
Uma pessoa pode fingir bem, como a Meg Ryan”.
Ao mencionar a
atriz norte-americana, Carolina faz referência a uma cena clássica
do cinema. Em “Harry & Sally – Feitos um Para o Outro”, o
personagem de Billy Crystal diz que nenhum mulher jamais fingiu um
orgasmo com ele. Meg, sentada à sua frente, questiona como ele sabe
disso. “Porque eu sei”, ele rebate. Para provar seu ponto, Meg
passa a simular (clique para assistir) que está tendo um orgasmo,
no meio de uma cafeteria.
Parar para pensar
no meio de uma relação sexual se a companheira está fingindo não
é a tarefa mais simples, mas caso interesse, Amaury passa outros
detalhes das reações do corpo feminino ao orgasmo. “A vagina sua,
tem uma secreção bem tensa que até escorre pela perna, toda a
musculatura do corpo se contrai, aparecem pequenas manchinhas
vermelhas no tórax e no rosto, tem também uma película de suor
frio nessas regiões, o coração dispara, a respiração fica
ofegante, e o momento de recuperação depois disso. E se ela for
convenientemente estimulada, não vai ter o período de latência que
o homem tem.”
Mas, ao invés do
casal brincar de caras e bocas na hora do sexo, Carolina Ambrogini
sugere algo mais simples: a conversa. “Todo mundo quer mostrar
segurança, mas ninguém nasce sabendo fazer sexo. As pessoas
aprendem com a experiência. As mulheres querem passar a ideia de que
o cara vai leva-las para rua, e os caras querem acreditar nisso. A
gente insiste bastante no estímulo ao dialogo.”