Os escritores que achavam que sabiam escrever estão tendo dificuldade em soletrar alguns nomes de seus leitores. Isso acontece dentro e fora das noites de autógrafo. Volta e meia, topamos com uma pessoa que nos diz seu nome e temos que pedir que ela soletre calmamente. Às vezes, é necessário escrever num papel, porque é difícil entender.
Pois eu achava que essa coisa de nomes inventados, nomes esquisitos, nomes que a gente pede ao outro para escrever e para soletrar, isso era uma invenção brasileira, sobretudo do Rio de Janeiro para cima. Outro dia, abri um jornal chileno e voltei a ficar intrigado com esse fenômeno, que, percebo, é universal.
Para que algum eventual leitor com nome raro não se sinta atingido pelo que estou dizendo, vou comentar o que vi escrito no jornal chileno. Primeiro, uma coisa espantosa: quando a Amy Winehouse morreu, a inscrição desse nome no registro civil chileno duplicou. E olha que não estou falando dos EUA ou da Inglaterra, mas do Chile, aquele país comprido junto à Antártica.
O mesmo registro civil chileno reúne pessoas com nomes assim: Barack, Shakira e Mafalda. Mas até aí, podemos considerar que é a admiração por personagens que estão nos jornais, como Britney. Mas há algo intrigante nesse mundo em que os sujeitos viraram objetos. Certos nomes de pessoas são nomes de empresas, coisas, objetos e marcas comerciais, como Sony. Claro que há nomes em homenagem a figuras históricas – Stalin, Lenin etc. –, mas há sobretudo os nomes inventados: Youdesshinderline e Meybelyn.
Há nisso uma identidade com o que também ocorre no Brasil. Aqui começou uma invasão de nomes com k, y, e w. Poder-se-ia pensar que é devido ao fato de que, recentemente, elas foram anexadas devidamente ao nosso alfabeto. Mas penso que isso está mais relacionado ao fenômeno da globalização. Se tenho um nome que soa como o nome das pessoas que vivem no centro, então sou menos periférico. Onomasticamente, estou por dentro.
Quando era menino, os almanaques traziam sempre aquela estória do indivíduo que se chamava Um Dois Três de Oliveira Quatro e se referia àquela família do Rio Grande do Norte cujos descendentes eram numerados em francês. Há poucos anos, estive lá e conheci o historiador Dix-Huit Rosado. A lista é inumerável. Há na internet um site só com nomes insólitos, tipo Faraó do Egito de Souza Fariz Mamar e Flora Floripes Flor da Floresta Brasileira.
Na minha infância, algumas vizinhas tinham nomes que nunca mais reencontrei: Castorina, Espiridiana, Ambrosina. Houve uma época em que virou moda botar nos filhos nomes compostos, tipo Carlos Augusto, André Filipe, Lúcio Flávio. Nos anos 1970, apareceu uma geração querendo restaurar a simplicidade dos nomes e surgiram pedros, thiagos, simones, carolinas. Já Maria e Cristina sempre foram (religiosamente) predominantes nas chamadas de colégio.
Sabe-se que antigamente o sobrenome indicava a origem, a família e a profissão. As pessoas tinham raízes. Os nomes também tinham significado. Aprendi que Afonso veio do teutônico Adalfuns, significando espírito combativo, inclinado ao combate.
Bom, isso foi antigamente. Futuramente, talvez, a ideia de forma e conteúdo será ultrapassada. Seremos siglas abstratas, androides e humanoides, e mais do que nunca será difícil unir o nome à pessoa.