Somos
amigos há muitos anos, e um dia ela me disse
em tom de piada gentil:
‘Quando eu crescer quero ser você.’
Nanda querida, a sério,
quando envelhecer quero ser você
Como
diria Nelson Rodrigues, fiquei besta. O primeiro livro de Fernanda
Torres, “Fim”, é o início brilhante de uma carreira de
escritora e já a coloca entre os melhores da sua geração
literária. Sim, ela mesma, que há tanto tempo brilha nos palcos e
nas telas, que corta cana toda semana no Projac para divertir o
público de “Tapas e beijos”, a Nanda que alegra os amigos com
sua inteligência e seu humor.
Atriz
consagrada em 35 anos de carreira, Nanda começou a dar pinta de
outros talentos em suas crônicas na “Folha de S.Paulo” e na
“Veja Rio”, conquistando leitores, exercitando seus instrumentos
de expressão e se fortalecendo para o voo mais alto e arriscado de
um romance. E que romance! Tão audacioso que seu tema é a morte de
cinco velhos de Copacabana que formavam uma turma na juventude, mas
narrada na primeira pessoa por cada personagem, formando um tecido de
suas memórias, sentimentos e delírios, em que várias verdades se
entrelaçam para contar o mais importante da vida de cada um: seu
fim.
O
tema seria pesado e indigesto, os velhos chatos, ranzinzas,
neuróticos, doentes, devassos, vulgares e banais, mas nas mãos de
Nanda se transformam em personagens ricos e fascinantes em sua
grandeza e pequenez, que nos fazem rir e chorar com suas memórias de
vida e, sim, de morte. Numa sucessão vertiginosa de dramas e
comédias sem fronteiras, uma história puxa outra num fluxo
narrativo em que os velhos e suas mulheres e amantes se alternam como
narradores e personagens, como afetos e desafetos, como jovens e
velhos.
Nelson
aconselhava os jovens a envelhecerem rapidamente. Mas de onde Nanda
tirou tanta sabedoria, experiência e velhice para escrever essas
histórias? E com um estilo tão seco e elegante, tão econômico e
contundente, de frases curtas e precisas, sem gastar uma palavra em
vão, com um timing de comédia e um ritmo que hipnotiza o leitor. É
o melhor livro brasileiro que li desde “Pornopopeia”, de Reinaldo
Moraes.
Somos
amigos há muitos anos, e um dia ela me disse em tom de piada gentil:
quando eu crescer quero ser você. Nanda querida, a sério, quando eu
envelhecer quero ser você.