Muitos de vocês certamente já experimentaram os efeitos positivos de ouvir uma música que gostam, seja enquanto trabalham, fazem exercícios ou estão tentando relaxar. Fica, porém, uma pergunta: o que a ciência tem a dizer sobre esses efeitos?
Para descobrir, uma dupla de pesquisadores revisou 155 estudos sobre a influência da música na neuroquímica humana. “Nós encontramos evidências convincentes de que intervenções musicais podem ter um papel na saúde”, destaca o professor Daniel J. Levitin, do departamento de psicologia da Universidade de McGill (Canadá). “Mais importante ainda, documentamos os mecanismos neuroquímicos pelos quais a música tem um efeito em quatro domínios: temperamento, estresse, imunidade e interações sociais”.
Certas músicas podem, segundo os autores, elevar a produção de imunoglobulina A (um anticorpo essencial) e de células brancas que atacam invasores como bactérias e germes. Além disso, ouvir ou tocar música pode reduzir os níveis de cortisol (conhecido como hormônio do estresse) e elevar os de oxitocina (ligado ao bem-estar) no corpo, melhorando o humor da pessoa e facilitando interações sociais – o próprio hábito de se reunir com amigos para ouvir música também poderia ser levado em consideração nesse ponto.
O cérebro prefere música clássica
Dizer “esta música é muito boa” ou “nossa! Que música horrível” é muito comum. Todos têm seus gostos particulares e rejeitam artistas e bandas que fogem das preferências pessoais. Mas, uma pesquisa publicada no periódico científico BMC Research Notes revela que talvez haja um padrão. Segundo o artigo, as pessoas tendem a gostar das músicas que soam “complexas” aos ouvidos, mas que são “decifráveis e armazenadas” pelo cérebro, como as composições eruditas.
O autor do estudo, Nicholas Hudson, biólogo da Australian Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization, disse que o cérebro comprime a informação musical como um software de computador faz com um arquivo de áudio: ele identifica padrões e remove dados desnecessários ou redundantes. A música clássica, por exemplo, pode parecer complexa para quem ouve, mas o cérebro consegue encontrar padrões para o trabalho de compressão. Pouca coisa é descartada. Hudson usou programas de compressão de músicas para imitar como o cérebro age e usou músicas que já haviam sido analisadas em um estudo de 2009 que mediu como 26 voluntários curtiam músicas de diferentes gêneros musicais como clássico, jazz, pop, folk, eletrônica, rock, punk, techno e tango.
Entre as músicas que o biólogo escolheu, “I should be so Lucky” da Kylie Minogue foi comprimida a 69,5% de seu tamanho original; “White Wedding” do Billy Idol foi diminuída a 68,5%; e a Terceira Sinfonia do Beethoven foi reduzida a 40,6% do seu tamanho inicial. O cérebro, como o software encontraram mais padrões na música do compositor alemão. Com as outras músicas, ele teve pouco trabalho de compressão, pois o resto foi “jogado fora”. Fazendo uma comparação, as músicas mais “comprimíveis” foram aquelas escolhidas como as mais agradáveis no estudo de 2009.
Mas, porque nosso cérebro gosta mais das músicas que o fazem trabalhar mais para comprimi-las? “É da nossa natureza sentir mais satisfação ao atingir uma meta quando a tarefa é mais difícil. As coisas fáceis trazem um prazer superficial. As músicas mais simples, com poucos padrões de compressão, rapidamente ficam irritantes e deixam de ser estimulantes”, disse Hudson. Esta é uma explicação para aquela sensação de enjoar rapidamente de uma música. O teste também incluía barulhos aleatórios que só puderam ser comprimidos a 86%. O resultado foi que estes sons causaram indiferença e tédio nas pessoas.
Já foi dito que música clássica ajuda a memória, ajuda o foco nos estudos e pode até deixar as pessoas mais inteligentes. Este é mais um estudo que comprova a qualidade da música clássica, mas, como diz o ditado: gosto não se discute.
P/ Guilherme de Souza