No passado, o homem tinha um poder absoluto nas esferas
públicas e profissionais, confirmando seu poderio econômico. Ele também se
mostrava onipotente, intransponível, parecendo ser o todo poderoso que não
tinha nenhum temor.
De onde vinha esse homem desconhecido, misterioso, distante,
aparentemente frio?
Tudo começa lá no início, em como foi a educação das
crianças. Como era esse lar? Era harmonioso? Os pais expunham o seu amor e carinho?
Tanto os meninos quanto as meninas recebiam beijos e abraços? Havia diálogo,
espaço para expressar todas as emoções, inclusive raivas, mágoas, decepções? O
respeito existia para todos? Porque é lá que as crianças aprendem a pensar,
sentir, se comunicar, poder confiar ou não nas pessoas...
Acompanhamos ao longo dos tempos como foi repressora a
educação dos meninos, bem diferente das meninas, e é claro que isso só
contribuiu para anestesiar, dificultar imensamente a sensibilidade dos homens
para lidar com as emoções e para entrar em contato com os seus sentimentos.
Quando olhamos para trás, lembramos de que quase sempre
ouvíamos os pais falando para seus filhos:
- que não deviam chorar, pois isso era coisa de “maricas”; -
que quando apanhassem na escola, também deviam bater e não chorar; - se
começassem a chorar, iam engolir o choro ; - em alguns casos mais extremos, era
dito: “E se vier para casa chorando porque apanhou, ainda vai tomar uma surra”;
A única emoção mais ou menos tolerada era a raiva, a agressividade,
porque isso era sinal que o filho era macho.
Com as mulheres, era exatamente o oposto. Se elas choravam
em quaisquer ocasiões, como num casamento, por exemplo, era dito: “ Que lindo,
como ela é sensível “. Assim, as emoções vivem no plano de fundo da vida de um
homem e no primeiro plano da vida de uma mulher. Enquanto as mulheres parecem
estar naturalmente mais cientes das suas emoções, os homens têm que tentar
conhecê-las, compreendê-las para conseguir lidar de verdade com elas. E é por isso
que eles têm uma tendência de racionalizar, compartimentalizar e
intelectualizar.
Um aspecto muito importante também, que se diferenciava
totalmente na educação das meninas era quanto à sexualidade. A preocupação e o
incentivo dos pais para com os meninos eram enormes. O esperado era que eles
fossem machos, que beijassem muitas meninas, tivessem uma grande quantidade de
experiências sexuais, fossem os verdadeiros garanhões.
No interior de cada homem ainda persiste uma
vulnerabilidade, um medo secreto de que lhe falte competência e coragem,
dificuldade de admitir que está em crise, sofrendo e que precisa de ajuda,
porque tem vergonha. Quando ele se sente perdido, se fecha, recua, pois não
sabe o que fazer com suas angústias, suas inseguranças...
Há algumas décadas atrás, o movimento feminista começou
reivindicando novos espaços de atuação para as mulheres, gerando uma grande
revolução social, e trazendo novos parâmetros em todas as esferas na vida de
ambos. A insatisfação delas era muito grande com a total falta de perspectivas,
com a submissão absoluta ao marido (onde os direitos eram só deles), na
inexistência de realizações pessoais... Elas hoje estão competindo no mercado
de trabalho, financeiramente, com uma liberdade sexual adquirida através do
surgimento da pílula anticoncepcional, mas também da independência financeira.
São mulheres mais vividas, com inúmeras experiências afetivas e sexuais, e mais
exigentes.
E ai encontramos um novo “ HOMEM “ que tem que conviver com
todas essas mudanças dentro e fora de casa, que se sente perdido, assustado com
essa nova mulher, porque ainda não sabe bem qual é a sua posição, quais são as
novas regras, o que ele ganhou ou perdeu com todas essas transformações, se
perguntando: “ Como? Eu não sou mais o chefe da casa?” Acho que esse
questionamento muitas delas se fazem hoje também: o que elas perderam e
ganharam com todas essas mudanças, porque há um verdadeiro nó nas comunicações.
Hoje, as mulheres acham bonito quando o homem se emociona,
pois acham que ele é sensível, qualidade tão valorizada por elas. Vejo muito,
tanto no consultório quanto na vida aqui fora, que eles também querem conseguir
mostrar suas inseguranças, seus medos, seus anseios, conseguir realmente entrar
em contato com seus sentimentos, mas querem encontrar mulheres que não os
diminuam ou critiquem por isso, mas pelo contrário, que estejam ao seu lado,
que o apoiem, que sejam solidárias, e que os admirem, até por estarem se
expondo.
Elas querem encontrar neles um companheiro, cúmplice, com
quem elas possam falar sobre suas inseguranças, seus ciúmes, suas dúvidas, seus
medos e também querem que eles lhe deem todo o apoio que precisam.
Surge então, o que considero primordial para um possível
entendimento entre eles, que é o total conhecimento e a profunda compreensão
das reais diferenças que existem entre eles.
Sabemos que não é nada fácil, porque hoje está mais do que
provado que homens e mulheres se comunicam de formas totalmente peculiares.
Esse é um dos pontos primordiais quando um casal vem buscar ajuda, tentar falar
a mesma língua. É muito comum, e me toca profundamente ver um casal em crise,
pensando muitas vezes até em separação, mas com um amor ainda muito grande um
pelo outro.
É um novo tempo, mudanças radicais de valores, estilos de
vida totalmente novos, novas maneiras de se relacionar. É preciso que ambos não
se esqueçam disso, para que possam se colocar um no lugar do outro, sabendo que
todas essas diferenças dos séculos passados, ( principalmente a educação tão
machista dos homens ), não podem magicamente serem apagadas. É difícil para
elas também, porque muita coisa nova e desconhecida, elas começaram a viver.
Para que as grandes transformações realmente ocorram na vida, é necessário um
longo percurso:
- tempo para ver e enxergar, - tempo para pensar e avaliar,
- tempo para poder elaborar, - e tempo para poder introjetar de verdade o que
foi elaborado.
O respeito e a busca de compreensão com todas essas
diferenças é são absolutamente importantes, até porque estamos vivendo
exatamente esse novo momento, onde os desencontros estão aparecendo a todo
instante, e tanto eles como elas, ainda não sabem bem como se encontrar.