A mãe, onipotente, acredita ser a pessoa mais essencial
para tornar seus filhos felizes
Não importa a classe social. Não importa a idade. Ou o endereço e a profissão. Não importa se é casada ou solteira. O maior medo da mãe é que seu filho ou sua filha não seja feliz. Por mais impalpável que seja esse medo, por mais subjetivo que seja o conceito de felicidade, a mãe, em sua onipotência, acredita ser a pessoa mais essencial para fazer de seu filho ou de sua filha um adulto feliz.
Um dos medos comuns é não ser uma boa mãe – e esse adjetivo tem dezenas de significados. O que é ser boa mãe? Ela costuma ter obsessão em manter o filho e a filha alimentados, agasalhados e saudáveis, qualquer que seja a idade, como se isso os livrasse de todas as maldades do mundo. Tantas mulheres se culpam pelas desventuras dos filhos. Onde foi que errei? É uma culpa inútil, não leva a nada. Uma culpa perigosa, porque retira dos filhos a responsabilidade por seus caminhos e os infantiliza.
Existe hoje, nas famílias, um medo mais concreto, quase tão paralisante quanto um pesadelo. É um medo maior que o filho ficar sem emprego ou ser assaltado. As mães receiam que os filhos se viciem em drogas, percam a saúde e o rumo.
Esse sentimento foi detectado por uma pesquisa publicada pelo jornal Folha de S.Paulo. As drogas sempre existiram, mas, hoje, elas atemorizam 45% dos paulistanos. É muito. Fácil entender. Drogas são hoje mais letais e disseminadas. O crack e seus efeitos devastadores estão expostos nas esquinas, nos parques, na mídia. E desafiam governos, que parecem perdidos e impotentes. Não há campanhas maciças nas escolas nem conversas suficientes em casa sobre os perigos, que podem ser irreversíveis. Vejo, desolada, o choro de mães, amigas ou não, cujos filhos estão internados por cocaína. Eles entram, saem, entram de novo – a luta pela reabilitação é eterna.
Na semana passada, um atleta promissor do Fluminense, Michael, de apenas 20 anos, foi suspenso por uso de cocaína. Com os olhos marejados, Michael admitiu precisar de tratamento. Pode ficar até dois anos fora dos gramados. O problema não é o período de punição imposto a ele, mas sua chance real de se livrar do vício e de não desperdiçar seu talento e sua vida.
Adianta conversar com os filhos? Adianta. Desde cedo. Mas o amor e o rigor maternos não são suficientes. Sempre defendi que escolas levem turmas de adolescentes a presídios e clínicas para escutar depoimentos de quem se deixou destruir pelas drogas. O rito da iniciação continua o mesmo, lúdico e prazeroso, como se não houvesse amanhã. Antigamente, estudantes fumavam cigarro de tabaco no banheiro da escola para transgredir e se sentir parte da turma. O mesmo acontece hoje com drogas mais letais.
Há ainda um medo específico, de mãe para filha. Apesar de toda a luta pela igualdade e contra a discriminação de gêneros, um temor persiste com a filha menina: a violência sexual, o estupro. Tive somente filhos homens. Não conheço, portanto, o medo materno de que uma filha seja vítima de abusos. Estupro é um dos crimes mais covardes e nojentos da espécie humana. E atinge incomparavelmente mais meninas e mulheres do que meninos e homens.
Não há fronteiras para essa barbárie. Na semana passada, um menor armado com revólver estuprou uma jovem mulher de 30 anos num micro-ônibus no Rio de Janeiro em plena luz da tarde. Um pastor, Marcos Pereira, foi preso, acusado de ter violentado dezenas de mulheres, várias delas menores. A Escola Britânica do tradicional bairro da Urca, no Rio, prendeu em flagrante um faxineiro que filmava alunas adolescentes com um celular escondido no banheiro.
Em Cleveland, nos Estados Unidos, foi preso um ex-motorista de ônibus escolar, o porto-riquenho Ariel Castro, de 52 anos, que estuprava e mantinha em cativeiro três jovens, raptadas por ele entre 2002 e 2004. No Brasil e no mundo, meninas e mulheres estão sendo estupradas neste exato instante, por pais, parentes, ex-maridos e ex-namorados, vizinhos, conhecidos e desconhecidos.
A mãe do menor que estuprou a passageira do ônibus, uma mulher de 45 anos que vive numa favela carioca, entregou o filho à polícia e disse: “Criei ele com tanto carinho. Nunca imaginei que fosse capaz de cometer um crime desses”. A mãe do algoz sequestrador nos Estados Unidos, Lílian Rodriguez, disse, chorando: “Sou uma mãe com dor. Peço desculpas pelo que meu filho fez. Peço perdão a essas mães – e que as meninas me perdoem. Tenho um filho doente que cometeu um crime terrível”.
É duro para as mães. Depois de engravidar, parir, amamentar, embalar, passar noites em claro, criar, educar, desdobrar-se em trabalho dentro e fora de casa, elas só querem que seus filhos e filhas sejam felizes.