Nos últimos anos, cada vez mais pessoas têm deparado com a
necessidade de amparar pessoas próximas – idosos ou acometidas por doenças e
limitações severas – sem que tenham se preparado para tal
A palavra “cuidado” tem origem latina, cogitatu, vocábulo do
qual derivam também “pensamento”, “reflexão” e “cura”. Pode parecer estranho à
primeira vista, mas basta nos determos um pouco para nos darmos conta do quão
intimamente ligadas estão essas ideias.
Em suas várias facetas, o cuidar
requer, por um lado, o planejamento racional e, por outro, recursos emocionais
que ofereçam suporte a essa tarefa tão complexa. Nos últimos anos, cada vez
mais pessoas têm deparado com a necessidade de amparar pessoas próximas –
idosos ou acometidas por doenças e limitações severas – sem que tenham se
preparado para tal.
E não porque não saibamos que o imprevisto, a incapacidade
(permanente ou momentânea) nos rondam.
Como em outras épocas as pessoas evitavam
pronunciar a palavra “câncer” numa tentativa pueril de afastar a patologia,
muitas vezes, ainda hoje, postergamos conversas, decisões e providências, na
tentativa de adiar a angústia – embora tenhamos conhecimento dos processos
inerentes ao envelhecimento, por exemplo.
Obviamente não é prazeroso pensar em como queremos
atravessar situações dolorosas, mas nos aproximarmos dessa realidade e nos
familiarizarmos com ela pode ser a maneira mais saudável de enfrentar esse
momento.
Caso contrário, quando surge uma situação “repentina” em que as
limitações de um parente se impõem, em geral uma única pessoa termina se
sobrecarregando com os cuidados – e, não raro, adoecendo tanto física quanto
mentalmente, já que esse tipo de acontecimento tende a mobilizar profundamente
a família, muitas vezes trazendo à tona mágoas e conflitos não resolvidos.
Nos
últimos anos, algumas linhas de pesquisa na área da psicologia buscam não
apenas enfatizar a importância de preparar as pessoas para momentos de crise,
mas também encontrar maneiras de aliviar o profundo cansaço e a solidão, tantas
vezes vinculados ao ato de cuidar do outro – em geral, deixando de cuidar de si
mesmo.
Temas árduos, delicados, mas que pedem reflexão e cuidado,
em nome de nossa saúde física e mental.
E de uma possibilidade de cura – não
como na medicina, privilegiando a erradicação dos sintomas, mas no sentido
tomado pela psicanálise, que privilegia o acompanhamento e a possibilidade de
transformação por meio do encontro e do afeto.