Não pode ser autêntico um sentimento de união íntima com os outros seres da natureza se ao mesmo tempo não houver, no coração, ternura, compaixão e preocupação pelos seres humanos.
É evidente a incoerência de quem luta contra o tráfico de animais em risco de extinção, mas fica completamente indiferente perante o tráfico de pessoas, desinteressa-se dos pobres ou procura destruir outro ser humano de que não gosta.
Isto compromete o sentido da luta pelo meio ambiente. Não é por acaso que São Francisco, no cântico onde louva a Deus pelas criaturas, acrescenta o seguinte: «Louvado sejas, ó meu Senhor, por aqueles que perdoam por teu amor.» Tudo está interligado. Por isso, exige-se uma preocupação pelo meio ambiente, unida ao amor sincero pelos seres humanos e a um compromisso constante com os problemas da sociedade.
Além disso, quando o coração está verdadeiramente aberto a uma comunhão universal, nada nem ninguém fica excluído desta fraternidade.
Portanto, é verdade também que a indiferença ou a crueldade com as outras criaturas deste mundo acabam sempre de alguma forma por se repercutir no tratamento que reservamos aos outros seres humanos. O coração é um só, e a própria miséria que leva a maltratar um animal não tarda a manifestar-se na relação com as outras pessoas. Todo o encarniçamento contra qualquer criatura «é contrário à dignidade humana».
Não nos podemos considerar grandes amantes da realidade se excluímos dos nossos interesses alguma parte dela: «Paz, justiça e conservação da criação são três questões absolutamente ligadas, que não se poderão separar, tratando-as individualmente sob pena de cair novamente no reducionismo.»
Tudo está relacionado, e todos nós, seres humanos, caminhamos juntos como irmãos e irmãs numa peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor que Deus tem a cada uma das suas criaturas e que nos une também, com terna afeição, ao irmão Sol, à irmã Lua, ao irmão Rio e à mãe Terra.
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