SL:
ou Second Life, ambiente virtual em 3D que simula a vida real. Jogo
criado pelo Linden Lab. Foi sensação do mercado publicitário no
final dos anos 2000. Graças ao realismo da animação, os usuários
(avatares) podem ver e interagir com o outro (avatar). Uma mentirinha
convivendo com outras. Até a maioria sacar que está perdendo coisas
mais interessantes da FL (First Life), a vida real, enquanto vivem
como avatares idealizados na second. Virtualmente já somos
simulacros de nós mesmos, imagens redesenhadas para redes sociais.
Não precisamos de outro universo, ou melhor "metaverso",
para viver. Diante da decadência, o Lab disponibilizou a versão 2.0
em 2010, que dividiu a vida de mentirinha em ilhas como Welcome
Island, para novos jogadores, Freebies, ilhas com itens gratuitos,
além de ilhas de nudismo, sexo virtual, compras, praias e
discotecas. Um metaverso complexo e esquisitão. Perfeito pra quem
tem tempo disponível. E parafusos a menos. Ver bonecos (avatares)
pelados em praias de mentirinha? Sinistro...
WWIS:
Quando se pensa que já inventaram as maiores idiotices da
humanidade, sempre tem uma que supera. É a sigla de What Would I Say
(O Que Eu Deveria Dizer), aplicativo que trabalha com o utilitário
BOT, de "robot", e se espalha como uma praga. WWIS gera
automaticamente comentários no Facebook que parecem escritos por
você. Tecnicamente falando, usa o modelo BOT, algoritmos e
inteligência artificial, para misturar posts anteriores. Você quer
ser uma pessoa atuante nas redes, mas não sabe como nem tem tempo.
Quer passar uma imagem divertida, antenada. A de um ativista sedutor.
Como um robô com seu teclado no colo, o WWIS seleciona frases
bacanas e as espalha, para disseminar não suas ideias, mas as ideias
que querem que você as tenha ou que você deveria ter. O que eu
posso dizer... Coisa de maluco.
Pipoca:
É uma tremenda descoberta. A figura do pipoqueiro, então,
proustiana. Problema é cair em mãos erradas, como o plutônio. Em
salas de cinema. Em sacos maiores que estômagos. Se acontece comigo,
acontece com você: em quase todo filme, um esfomeado na fileira de
trás passa os créditos, a introdução do longa, o segundo ato, até
o ponto de virada, mastigando milho como um cavalo. O drama se
intensifica, a irritação também. Pode apostar, é na cena mais
intensa da trama que o quadrúpede chacoalha o saco, como se
estivesse na Timbalada, para espalhar o sal depositado. Pensei em
várias maneiras protestar. A que mais me seduz: usar um turbante e
levar um timbal para entrar no ritmo do chocalho, cantando "fui
embora, meu amor chorou, eu vou nos beijos de um beija-flor, no
tique-taque do meu coração, yo quero te namorar, amor".
Saco
de balas: Tenho certeza de que grandes divas, como Fernanda, Tônia e
Bibi, pensaram em largar o ofício quando começou a venda de pacotes
de balas nos teatros. Cujo glutão, provavelmente parente do animal
que passa um filme mastigando milho, não percebe que aquele
barulhinho, desembrulhar uma jujuba, um delicado ou uma balinha de
hortelã, desconcentra até a camareira que tenta dormir na coxia
durante a peripécia que já ouviu centenas de vezes, que antecede a
revelação da protagonista, como as representadas por Fernanda,
Tônia e Bibi.
Buzina:
Primeiro inventaram o automóvel. Depois perceberam que transeuntes e
animais não saíam da frente, estupefatos ao ver que aquele veículo
com rodas se movia sem tração de quatro patas. Inventaram a buzina
com os princípios de uma corneta, que substituiu os gritos de "sai
da frente!". Educou a população que não conhecia a novidade.
Sofisticou-se. Passou a ser intermitente e ao alcance dos dedos. O
que tornou não mais uma ferramenta para a segurança do trânsito,
mas objeto de vingança, assédio, grosseria, descontrole emocional,
alívio de estresse e forma de pressão, como se o alto índice de
decibéis produzido fosse capaz de fazer outros automóveis saírem
da frente, criarem espaço livre para o carro da besta que buzina
prosseguir.
Cigarro:
Dizem que Colombo jogou fora o tabaco com que foi presenteado.
Sensato. Mas um marinheiro levou para a Espanha, se gabou pelas ruas
mascando aquela planta considerada do "diablo". Em 1561, o
embaixador francês em Portugal, Jean Nicot, percebeu que o tabaco
aliviava sua enxaqueca. Tinha que ser um francês... Descobriu de
onde vem a palavra nicotina? Que depois foi enrolado por uma máquina,
encurtou a vida dos nossos avós e se transformou numa epidemia
aparentemente inocente e glamorosa. Se você, como eu, foi viciado,
sofreu o diabo para largar, dá umas pigarreadas até hoje e escuta
de todo médico que consulta, "ex-fumante?", como uma
repreensão, como se seus dias estivessem contados, sabe do que falo.
Invençãozinha do capeta.
Alarme
de carro: Nem preciso me alongar. Talvez seja uma unanimidade: é das
mais estúpidas invenções. Porque não reduziu o índice de roubos
de carro e só aumentou as noites mal dormidas de milhões de
inocentes. Uma pergunta. Depois de escutar repetidamente por minutos,
"fué, fué, fué, atenção, este veículo está sendo roubado
e é monitorado pela empresa tal, por favor ligue para zero
oitocentos xis xis xis, obrigado", alguém ligou?
Atendimento
automático pelo telefone: É aquela voz humana reproduzida por um
computador do serviço de atendimento ao consumidor. Que não pede
para você digitar um para "sim", dois para "não",
três para "mais opções" ou nove para "voltar ao
menu anterior", mas para você falar o que pretende. O que deixa
a família desavisada em pânico, com suspeitas de que chegou o
momento da internação: a fase sem volta em que você começou a
falar sozinho. Não basta falar claramente e pausadamente. É preciso
adivinhar o que deve ser dito para ser atendido, que palavra-chave os
programadores escolheram. Por exemplo. Perdi uma conta telefônica
antiga e precisava da segunda via. Ao dizer em voz alta "segunda
via", a voz computada disse, numa simpatia contagiante:
"Entendi, você disse segunda via. Mas você já pagou a sua
conta, não necessita da segunda via". Então, tentei: "Perdi
a conta e preciso da segunda via". Escutei: "Entendi, você
disse segunda via. Mas você já pagou a sua conta, não necessita da
segunda via". Levei um tempo me divertindo. Porque parti para a
ignorância e passei a falar palavras estranhas, como "rocambole".
E porque reconheci a voz do meu amigo e colega de faculdade, um
grande piadista por sinal, Paulo Sharlack. Que sucede a voz do meu
amigo e colega do colegial, Maurício Pereira, que dá as boas-vindas
do SAC. Não resolvi o problema naquela tarde. Mas matei as saudades
de ambos.