Era um homem que sempre tivera boa sorte, mas certo dia começou a deparar-se com muitas contrariedades. Foi visitar um sábio e disse-lhe:
- Venerável sábio, estou à beira do desespero. Desde há um tempo, tudo me corre mal. A minha mulher adoeceu, os meus negócios dão prejuízo e o meu ânimo anda abatido.
- Assim são as coisas – disse o sábio. – A fortuna e o infortúnio alternam-se. É a lei da vida.
- Não, não – protestou o homem. – Alguém conjurou contra mim, garanto-lhe.
O homem estava obcecado com isso e os raciocínios do mestre de nada serviam. De repente, o mestre disse:
- Ainda bem que conservo o amuleto que o meu mestre me deixou e que é infalível nestes casos. Nunca falhou.
O sábio pôs um pequeno seixo do rio na mão do homem e disse-lhe:
- Não o percas. É muito poderoso. Pendura-o ao pescoço e todos os dias, durante um mês, reza-lhe uma prece. Foi benzido pelo meu mestre e pelo mestre do mestre do meu mestre.
Aliviado, o homem foi-se embora. Todos os dias rezava uma prece ao amuleto e o seu ânimo começou a restabelecer-se, os seus negócios começaram a correr melhor e a sua mulher começou a recuperar. Passado um mês, voltou a visitar o sábio e disse-lhe:
- Alma nobre, que relíquia maravilhosa! Aqui a tem, senhor, é muito valiosa! Grande poder o dela!
Mas o sábio ordenou-lhe:
-Jogue-a fora! Desfaz-te dessa simples pedrinha. Não é um amuleto, apanhei-a um dia qualquer perto do rio.
O homem indignou-se visivelmente e perguntou:
- Está a fazer pouco de mim? Por que fez isso?
- Porque estavas tão obcecado que tive de usar a tua imaginação construtiva para refrear a tua imaginação destrutiva. É como quando um homem sonha que está a ser atacado por um leão mas encontra um revólver e o mata, ou seja, com uma arma ilusória matou um leão ilusório.
O poder da imaginação é extraordinário, tanto na sua direção construtiva como destrutiva, criativa ou autodestrutiva. É uma energia que há que saber orientar.
A imaginação descontrolada e neurótica faz-nos ver o que não é e induz-nos a falsas interpretações e a sentirmo-nos ameaçados por objetos, situações e circunstancias que não têm qualquer mal.
Um sinal de sabedoria é poder manter a mente mais atenta ao aqui e agora e exercitá-la para que compreenda o que é, e não o que foi ou possa vir a ser.
in “Os Melhores Contos Espirituais do Oriente” – Ramiro Calle.