Cora Ronai testa camas de hotéis
e fala da importância de conjuntos para bons sonhos
Um dia, num reino muito distante, uma moça bateu à porta do castelo numa noite de tempestade. Apresentou-se como princesa real e pediu abrigo, mas estava tão molhada e desarrumada por causa da chuva e do vento que era impossível saber se era mesmo uma princesa. Pelo sim e pelo não, recebeu pousada, mas antes que fosse para o quarto de hóspedes, a rainha mandou arrumar a cama com diversos colchões macios, um sobre o outro e, por baixo de todos eles, botou uma ervilha. No dia seguinte pela manhã, perguntou à moça como tinha passado a noite.
— Infelizmente dormi muito mal — respondeu. — Havia uma coisa dura na minha cama, e acordei cheia de manchas roxas pelo corpo...
A rainha ficou radiante com a resposta. Só uma verdadeira princesa poderia ter pele tão sensível e delicada. A princesa casou-se com o filho da rainha e todos foram felizes para sempre. Esta é, em linhas gerais, a história de um dos meus contos de Andersen favoritos, “A princesa e a ervilha”. Gosto do nonsense da situação, e me identifico com a princesa: não chego a perder o sono por causa de uma ervilha, mas sou tão exigente em relação à cama em que durmo que, se tudo não estiver perfeito, passo realmente por maus bocados. Por isso, presto atenção redobrada às camas dos hotéis onde me hospedo.
Não devo ser a única. Nos últimos tempos, as camas de hotel evoluíram e transformaram-se em “conceitos” — leia-se sofisticados conjuntos de colchão, travesseiro, roupa de cama e o que mais seja necessário a uma boa noite de sono. A primeira vez que dormi num conceito foi no Westin San Francis, em São Francisco, onde conheci a paradisíaca “Heavenly bed”. Gostei tanto que, se morasse nos Estados Unidos, teria comprado a coisa toda: o conjunto custava US$ 3,5 mil, precinho salgado mas nada demais para nós, brasileiros, que vivemos no país mais caro do mundo. Algum tempo depois, também na Costa Leste, mas dessa vez em Los Angeles, descobri a “The W Bed”, cama da rede W, igualmente deliciosa, e igualmente à venda para hóspedes empolgados, pela módica quantia de US$ 2,5 mil — uma pechincha para tanto aconchego.
Minha experiência mais recente com camas de sonho — com e sem trocadilho — aconteceu logo ali, no Sofitel Copacabana, onde me hospedei para travar conhecimento com o conceito “MyBed”, a versão da rede para o suprassumo do conforto. Não é fácil para uma cama de hotel superar a minha própria em conforto — durmo num colchão Tempur-Pedic guarnecido de travesseiros e edredom de pluma alemães — mas a “MyBed” conseguiu esse feito.
Qual é o segredo dessa maravilha? A rigor, são vários (embora, a meu ver, o principal seja a vizinhança do Le Pré-Catelan, onde reina o chef Roland Villard, cujas criações são sonhos em forma de comida). Para começar, a cama é mais alta, mais larga e mais comprida do que uma cama comum. Por cima do colchão — que já fica sobre uma base acolchoada — vai um sobrecolchão de plumas de ganso, fazendo dobradinha com o edredom de algodão egípcio, de modo a transformar o hóspede no recheio de um sutil sanduíche de plumas, embrulhado em lençóis e fronhas de 220 fios.
Finalmente, há os travesseiros. Quatro imensos, por cama — mas se alguém não gostar, sem problemas. O hotel tem um menu de travesseiros, com opções para crianças, para adolescentes, para quem dorme de bruços, de lado ou de costas, para quem tem o sono agitado, para quem prefere espuma ou quer dimensões ainda maiores para sonhar...
Em conjunto, essas maravilhas transformam o corriqueiro hábito de dormir numa experiência sensorial cativante. A estrutura do colchão está no ponto certo para garantir aconchego na hora de adormecer e costas inteiras na hora de acordar; o sobrecolchão e o edredom dão um toque de suavidade extra; os lençóis e as fronhas garantem a felicidade no contato com a pele.
Ninguém precisa ficar triste ao deixar o hotel. A “MyBed” está à venda, no todo ou em partes. É possível levar o colchão a R$ 2,6 mil, o edredom a R$ 300, o jogo de lençóis a partir de R$ 250 e assim por diante. Faça a cama exatamente como o hotel e, à noite, decida para que canto do globo os seus sonhos irão levá-lo. Bonne nuit!