Se
alguém perguntar se sua vida foi, até agora, um sucesso ou um
fracasso, o que você vai responder? Detalhe: dinheiro não tem nada
a ver, ser famosa e ter aparecido em capas de revista também não.
Então o que é ter tido uma vida de sucesso? Bem, depende de cada
um.
Todos
nós já ouvimos, da boca de uma mulher modesta, a frase "criei
meus filhos, estão todos encaminhados, posso me considerar
realizada". E quem nunca ouviu, de pessoas que aparentemente têm
tudo - por tudo entenda-se família, saúde, dinheiro, amor, mesmo
que não seja verdadeiro, e não necessariamente nessa ordem -, mas
vivem eternamente infelizes, tentando, inutilmente, entender o
significado da vida?
Temos
todos - quase todos - excelentes razões para achar que nossa vida
foi gloriosa ou um vale de lágrimas. Você, por exemplo, já deve
ter passado por ótimos e por péssimos momentos; quais ficaram na
sua cabeça, ou melhor, no seu coração? Os melhores ou os piores?
É
difícil fazer essa avaliação; às vezes a gente se acha uma pessoa
privilegiada, outras vezes uma pobre coitada. Depende de quais
valores naquele momento são os seus, pois dependendo da hora, eles
também mudam.
Houve
um tempo em que seus sonhos se resumiam a passar a vida viajando pelo
mundo, num turbilhão que não deixasse tempo nem para pensar; isso
sim, seria a felicidade -só que não foi.
Depois
houve um outro momento em que tudo que quis foi encontrar um bom
marido, mesmo meio sem graça, mas que tivesse hora certa de chegar
em casa, e um bando de crianças em volta perturbando bastante o seu
juízo para não ter tempo de pensar se era feliz ou infeliz. Isso
sim, seria a felicidade - só que também não foi.
Aí
achou que o importante seria a realização pessoal, independente da
vida sentimental - ou melhor, de um homem. Isso sim, seria a
verdadeira felicidade. Também não foi, mas conseguiu o que parecia
impossível: viver sem ter que estar permanentemente apaixonada, ou
melhor, sem inventar que estava apaixonada.
Hoje,
se alguém perguntar se sua vida foi -até agora- um sucesso ou um
fracasso, continuaria sem saber responder.
Foram
muitos os bons momentos e tão felizes, tão inesquecíveis, que
prefere até esquecer, pra não lembrar. Quanto aos maus momentos,
foram também tantos, que faz tudo para esquecer, não lembrar, e às
vezes até consegue.
Se
houvesse uma maneira de apagar tudo, passar uma borracha, não
lembrar nem do bom nem do ruim, zerar - é, zerar tudo, como seria
bom.
Agora,
pelo menos, já sabe; às vezes acorda feliz, sem nem saber por que,
sai de casa, na primeira esquina tropeça e fica no pior humor da
vida. Já no dia seguinte acorda péssima, o telefone toca, é alguém
de quem você gosta, fala de maneira carinhosa, e a vida se torna, de
repente, deliciosa de ser vivida. É essa certeza de que tudo pode
mudar em minutos, segundos, que nos ajuda a segurar, quando tudo fica
difícil.
Quando
as coisas estiverem indo mal, pense em quantas outras vezes elas
estiveram tão mal quanto, às vezes até pior -e depois passou. Não
se queixe, não reclame, não chore, não se descabele, apenas
espere; apenas espere, com aquela quase resignação que parece até
indiferença, que vê tantas vezes nos olhos dos mais velhos, que
sabem que vai passar - porque sempre passa.
A essa
indiferença se pode chamar sabedoria ou experiência - o que, no
final, é mais ou menos a mesma coisa.