Segundo Platão, existe um plano das idéias.
Toda realidade que percebemos é um reflexo dessas idéias.
O plano das idéias é onde se origina uma das faculdades mentais que nos diferenciam de outras espécies, a imaginação. A capacidade de “vermos” com a mente coisas que não, necessariamente, existem no plano real, naquele momento. É a capacidade de projeção de algo ou situação abstrata.
Criatividade x Fantasia?
A criatividade é ativa, a fantasia é passiva. Ambas fazem parte do plano das idéias e são
derivadas da nossa faculdade de imaginar coisas.
São as duas faces de uma mesma moeda, com uma
diferença fundamental: não tem o mesmo valor quando se trata de produzir algo
novo.
O lado positivo da imaginação produz a
criatividade, que se manifesta na ânsia de viabilização daquilo que foi
imaginado, resultando em sua realização efetiva.
A criatividade pressupõe um projeto de amanhã. Evolui,
torna- se um trabalho e realiza-se.
A fantasia, apesar de muitas vezes festejada, tem um aspecto bastante negativo; nem sempre evolui para ser um projeto de construção de um amanhã. Muitas vezes pode substituir, perigosamente, o processo trabalhoso dessa construção e ir direto para o estado de prazer imediato que a fantasia pode proporcionar. Para quem não acredita no próprio potencial de realização, a fantasia é tudo que resta. A fantasia busca o prazer imediato, busca apenas um alívio, um caminho mais fácil.
Ela
não pensa em construir sua própria realização, apenas sonha inconsequente.
A fantasia, quando é levada apenas como
brincadeira, um recreio da mente, é muito saudável. É normal fantasiarmos ser
um pop-star ou um ídolo famoso. Quem nunca se apresentou para um maracanãzinho
lotado, aplaudindo de pé, enquanto cantava embaixo do chuveiro?
Enquanto a fantasia ficar no plano da
brincadeira, da diversão e do prazer, ela servirá plena e saudavelmente a sua
natureza, que é realizar-se em si mesma.
Mas, sozinha ela não atende às nossas necessidades
básicas de sobrevivência.
Nossa mente é palco constante de ambigüidades
traiçoeiras. A partir do poder de imaginar, tanto podemos evoluir na direção da
imaginação criativa quanto para a fantasia paralisante. Via de regra,
desenvolvemos as duas vertentes, de modo que, no início do processo
imaginativo, fica muito difícil prever para que direção aquele pensamento irá
pender. No nascedouro das idéias, elas não tem diferença alguma, são a mesma
coisa: nossa mente abstraindo e paramaterializando uma projeção. Somos capazes de imaginar
eventos bastante complexos.
O destino que damos a nossa imaginação é o que faz toda a diferença.
Podemos arregaçar as mangas e tentar produzir
o que imaginamos ou podemos nos sentar e ficar fantasiando como seria bom se
aquilo se realizasse como ficaria feliz, famoso, bonito, rico e tudo que
poderia usufruir como conseqüência. A fantasia, nesses casos, pode alcançar
estágios perigosos e delirantes, principalmente, em indivíduos com uma
realidade já fragilizada.
O interessante dessa história, é que, quando
bem dosada, a fantasia pode ser um elemento propulsor da imaginação. Assim como
imaginar criativamente, fantasiar os resultados também faz parte do mecanismo
de motivação pessoal. Se for encarada como uma das possíveis conseqüências de um
processo, será saudável. Mas, caso se torne o único evento derivado da
imaginação, será infrutífero e inócuo. Muitas vezes, chegando a se tornar
extremamente danoso e doentio.