Uma teoria recente associa a Revolução Francesa à fome que castigou a Europa durante a segunda metade do século XVIII, deflagrada pela erupção do vulcão islandês Laki, entre junho de 1783 e fevereiro de 1784. A nuvem de cinza e poeira cobriu o continente europeu, provocando uma sequência de invernos rigorosos, seguidos de minguadas colheitas. A escassez alimentou a insatisfação popular. Não à toa, Luís XVI perderia a cabeça na guilhotina dez anos depois do ocorrido.
No meu 4º ano primário, a professora dividiu a turma em dois grupos e promoveu um debate sobre o homem e o meio. Um lado da sala defendeu a supremacia da ciência sobre a mãe natureza, enquanto a outra metade evocou meteoros, tufões, furacões, maremotos e enchentes para dar cabo das conquistas do engenho humano.
Na época, eu não conhecia a obra de Jared Diamond e tomei partido do homem. Anos depois, o antropólogo me faria entender que o destino de um povo é indissociável da geografia à qual ele pertence. O homem é o meio.
O Rio de Janeiro é uma cidade insalubre. A proximidade entre a cadeia de montanhas e o mar impede a circulação do ar, os charcos e mangues que alimentam a Baía de Guanabara são criadouros naturais de larvas e mosquitos e o calor abafado propicia a propagação de vírus, amebas, germes e bactérias, além de provocar alergias.
Sempre invejei o ar seco e civilizado das zonas temperadas, que deixa os cabelos sedosos e mantém os poros fechados. Mas a idade me ensinou que a aridez causa sangramentos e envelhecimento precoce. O clima seco amofina, enrijece o caráter e agride a mucosa.
Hoje, venero o bafão carioca. O ar molhado e pesado do Rio de Janeiro. Mas, cadê? Faz três meses que só vejo azul anil. A gigantesca massa de ar quente continua estacionada sobre o Sul e o Sudeste, empurrando as nuvens para o oceano e o Acre. As águas de março não deram o ar da graça e as precipitações de outono nunca foram muito animadoras.
Ando prostrada, desinteressada, sem vontade ou determinação, não aguento mais sol. Outro dia me peguei desfrutando a chuva artificial da gravação do seriado Tapas e Beijos. O inferno abate. Como sobreviver a um dezembro que se perpetua de janeiro a janeiro? E se for definitivo? Será esse o quinhão que nos cabe no agourento aquecimento global?
Em um ano truncado, com Copa e eleição pelo caminho, o clima desértico aumenta as tensões, o risco de apagão, o desabastecimento, a agressividade das manifestações populares e o risco de uma reviravolta política. Se só chover em setembro, cabeças vão rolar até o fim de 2014, vítimas do verão escaldante.
Os maus ventos, que afastaram as intempéries do Centro-Sul do Brasil, à maneira do vulcão islandês, podem trazer consequências graves em um ano de tantas decisões.
Tenho pena dos que, neste momento, ocupam cargos de chefia e liderança. Não existe nada mais ingrato do que assar vacas magras, enquanto se administram as sete pragas do Egito.