Déjà vu é matéria de discussão, filmes, livros, mistérios. Mas o que é exatamente déjà vu? “É o sentimento que você já fez exatamente a mesma coisa antes – já esteve naquele lugar ou já realizou aquela atividade em particular – quando você sabe que não fez”, explica a especialista no assunto, Anne M. Cleary.
Segundo Cleary, nem todo mundo experimenta a sensação, mas a maioria das pessoas sim. Talvez seja um curto-circuito no cérebro. Ou uma memória distante que escorregou para o presente. Ou as duas coisas e algo mais. Seja qual for o caso, o déjà vu não é apenas um sentimento estranho e irrelevante na vida: a melhor compreensão do fenômeno quase certamente levará a uma melhor compreensão de como nosso cérebro funciona.
Akira O’Connor, que estuda déjà vu na Universidade de St. Andrews, na Escócia, afirma que os jovens, da adolescência a meados dos 20 anos, experimentam mais déjà vu. Pessoas cansadas também têm a sensação com mais frequência, como aqueles que viajam muito. Mesmo com muitos mais anos armazenados em seus bancos de memória, as pessoas mais velhas não são tão propensas a déjà vu.
Quando a maioria de nós sente um déjà vu, achamos um pouco esquisito ou mesmo significativo – quem nunca pensou que poderia ser uma lembrança de uma vida passada?
A maioria simplesmente continua com seu dia. Outros não são tão sortudos: algumas pessoas sofrem de déjà vu, uma sensação de já ter vivido antes.
“Parece louco, até divertido, mas na realidade é extremamente inquietante e muda drasticamente o comportamento das pessoas”, conta O’Connor. “As pessoas acham que experimentam a sensação mais fortemente com novas experiências. Como eles acham essa situação inquietante, tendem a evitar a novidade, com a triste consequência de que podem retirar-se do mundo para um pequeno universo de familiaridade, assistindo reprises de filmes e programas de TV o tempo todo porque isso lhes traz menos angústia”, explica.
Não há nenhum tratamento para pessoas com essa condição, que é muitas vezes relacionada com problemas de memória e envelhecimento.
Mas como pode ter um tratamento se não há nem uma compreensão clara do que causa o déjà vu e sentimentos relacionados a ele?
Cleary afirma que algumas possíveis causas da sensação estranha incluem erros na forma como o cérebro processa o mundo que nos rodeia ou breves disfunções neurológicas, como uma atividade cerebral espontânea que desencadeia um sentimento inadequado de familiaridade, ou uma pequena convulsão. Também, múltiplas causas podem trabalhar juntas.
Por enquanto, os pesquisadores estão encontrando novas maneiras de analisar o déjà vu. Cleary está usando realidade virtual para ver se pode acionar o sentimento nas pessoas e descobrir exatamente o que em uma “cena” faz o déjà vu acontecer. Já se sabe que visão não é necessária, pois pessoas cegas têm déjà vu também.
“Os pesquisadores precisam descobrir o que causa a desconexão entre o sentimento de que algo é familiar, e saber que esse algo não pode ser familiar”, diz O’Connor. “Quero entender quais partes do cérebro estão associadas com o sentimento de familiaridade e quais partes estão associadas com o saber que algo deve ou não deve evocar memórias”, conta.
Por Natasha Romanzoti