Durante dias, toda vez que cruzava com algum funcionário mais expansivo, a pergunta era sempre a mesma:
- E aí patrão...já virou presidente?
 - Não...vamos aguardar...
 - Tô esperando pra comemorar.
 - Obrigado... dizia com a ansiedade redobrada.
 
E realmente, estava demorando mais do que ele havia calculado. Já havia sido convidado, aceitara, haviam fechado as condições de remuneração e a única coisa que faltava era o Sr. Amaury se aposentar para que tudo se realizasse.  
Nesse dia, a ansiedade ficou quase insuportável quando viu, ao chegar ao hotel, o Sr. Amaury se despedindo dos funcionários.  
- É hoje! Pensou.
 
Ao se aproximar dele o Sr. Amary, sempre tão simpático e um dos grandes responsáveis pela indicação dele para o cargo, limitou-se a dar-lhe um aperto de mão muito furreca e sequer olhou-lhe nos olhos. Achou estranho.
Foi direto para sua sala pensando que alguma coisa estava estranha. A manhã acabou, chegou a hora do almoço e ele não fora chamado por ninguém. Nem as reclamações diárias aconteciam. Porque não o chamavam logo para que ele pudesse assumir. Ligou para a mulher para aliviar um pouco a tensão. Quando ela atendeu, ele também a achou estranha.
- Alô, oi amor?
 - Oi...já leu o jornal né?
 - Que jornal...li o quê?
 - Calma amor, não é tão ruim assim...mantém a calma pra não perder a cabeça.
 - Fala logo mulher...não li o quê?
 - Sabe aquele político condenado pelo mensalão...que vai cumprir pena em regime semiaberto mas é obrigado a trabalhar para poder sair?
 - Sim...o que eu tenho a ver com isso?
 - Pois é, ele vai pagar a pena sendo o novo gerente do SEU hotel...e ganhando o dobro do que te ofereceram.
 
Ele desligou o telefone.
 *Qualquer semelhança é de propósito.
