Fruto do mais legítimo acaso, caiu-me nas mãos, presenteado por uma amiga, um livro. Eu não a conhecia antes, e essa amiga passou tão rápido na minha vida, que acho que a função dela era só me dar esse livro. Uma dessas pessoas mágicas que a vida manda pra gente com a única função de nos fazer algum bem.
Ela me fez prometer que o leria.
O livro realmente me impressionou como há muito não acontecia?
Me identifiquei profundamente. Trata-se da transcrição de uma palestra do filósofo francês contemporâneo André Comte-Sponville. O nome do livro é Felicidade, desesperadamente. Ele faz um passeio pela história da filosofia e utiliza as vários correntes filosóficas para apoiar seu próprio raciocínio.
O livro me fez compreender o que sempre pensei e nunca havia conseguido enunciar e entender daquela forma tão clara e óbvia.
A identificação com a condução do assunto proposta pelo escritor foi completa. A primeira coisa que o livro me fez ver, é que eu havia, finalmente, compreendido o que é amar de verdade. Não de verdade no sentido de intensidade, mas no sentido de profundidade e amplitude. E, também, no sentido da ação.
O verdadeiro amor desperta nosso lado melhor. O lado mais humano, amigo, parceiro. Temos vontade de fazer coisas que façam o outro feliz. E, por causa dessas nossas atitudes bonitas para com o ser amado, nos vemos mais bonitos. Nossa autoestima aumenta, o que nos faz amar o amor que sentimos pela outra pessoa. E esse ciclo se fecha ao sermos retribuídos e, por isso, amamos ainda mais a pessoa que nos faz sentir todo esse prazer de viver.
E, que aumenta na medida em que transformamos esse amor em atitudes, nos fazendo capazes de sentir felicidade pela felicidade do outro, prazer pelo prazer do outro. Nesses momentos conseguimos ser verdadeiramente felizes.
Cada um do seu jeito, com as suas verdades. Unidos apenas pela felicidade de estar junto. Pela alegria e o prazer que o amor proporciona.
Mas, a felicidade não existe para o amor dos imaturos, do desejo egoísta que quer o objeto porque não o tem. Do que quer a posse, o controle, quer o poder de manipular o outro através dos sentimentos. Este, está condenado a ser infeliz .
É esse pensamento imaturo que ainda sustenta a formalidade dos antigos modelos de casamento e suas subformas como uma meta de vida para a maioria.
O amor de verdade trás com ele a possibilidade real de felicidade. Ele nos faz sentir amor apenas com a simples idéia de que a pessoa amada existe. E que, também, nos ama. Mesmo que não estejamos naquele momento fisicamente próximos. A simples idéia da existência do outro já é razão de sentir alegria.
Não existe sentimento de posse. Existe desejo. Não existe obrigação. Existe vontade. Cada encontro acontece porque o desejo impulsionou. Porque trás prazer, felicidade. Trás alegria, amor.
O prazer de se sentir o objeto de desejo do nosso objeto de desejo é indescritível, é o momento mais mágico da vida. É a felicidade verdadeira.
O amor sem posse, apenas pela alegria de amar e de sentir prazer com o prazer do outro e felicidade com a felicidade do outro.
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O Leblon pré-novelas do Manoel Carlos.
Contos e crônicas.
A Casa Encantada
Contos do Leblon
Edmir Saint-Clair
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