Você sabe quais são as distorções cognitivas mais comuns nos casais?
As distorções cognitivas são esquemas rígidos e errôneos de pensamento que nossa mente utiliza durante o processamento de informação. Selecionam a informação que é considerada, a maneira como ela é processada e os resultados, em forma de pensamentos e emoções, deste processamento.
Existem diferentes tipos de distorções cognitivas e todas as pessoas as experimentam em algum momento de sua vida. Se as distorções aparecem em ocasiões pontuais, não representam um problema. Agora, se aparecem frequentemente, geram problemas nas relações interpessoais, mal-estar psicológico, e são um freio para o desenvolvimento pessoal.
Para os casais, é comum que as distorções cognitivas também deixem sua marca. Se as distorções chegam a dominar nossos pensamentos relacionados com a convivência, o amor ou as famosas DRs, o relacionamento passará por um momento de crise. Por isso, detectar as distorções cognitivas que dirigem o processamento da informação no relacionamento é chave para ganhar qualidade de vida e ser mais feliz.
Generalização excessiva: uma vez é o suficiente
A generalização excessiva acontece quando um ou dois incidentes isolados servem para formular declarações ou regras globais. Um exemplo de generalização excessiva seria: se meu namorado(a) se esqueceu de comprar algo que lhe pedi, da próxima vez que necessite um favor eu não vou lhe pedir porque penso que “sempre se esquece de tudo que peço”.
O problema mais importante da generalização excessiva é que converte a pessoa que a possui num juiz que emite sentenças o tempo todo. E deixa a pessoa julgada sem capacidade de mudança porque, se um erro significa que sempre erramos, para que tentar mudar?
Uma estratégia útil para vencer a generalização excessiva é buscar dados que contradigam a regra global. Por exemplo, se você acha que seu namorado(a) se esquece de tudo que você pede, é importante buscar exemplos de situações nas quais ele(a) se lembrou do que foi pedido. Trata-se de treinar a sua capacidade de questionar a si próprio e assim ser mais objetivo a respeito da informação na qual você se baseia para chegar numa conclusão.
Extremismo: os óculos de grau que engrandecem tudo
Esta distorção se observa quando uma experiência é vivenciada através de uma lente que aumenta muito determinados pontos negativos ou características. Durante a etapa da paixão do casal, é comum que as pessoas filtrem o resultado de seus encontros usando o extremismo. Tanto convertendo um pequeno detalhe em algo fantástico, como uma pequena falha em algo catastrófico.
O extremismo se observa também em casais que não estão acostumados a ter discussões ou os que a tem pela primeira vez. Quando se encontram em uma situação na qual não chegam a um ponto de vista em comum, o desacordo é tido como algo que não pode ser superado e que será um obstáculo para o crescimento do relacionamento.
Exemplos desta distorção cognitiva seriam: “não consigo suportar que não esteja de acordo comigo” ou “lhe flagrei em uma mentira boba, mas dá no mesmo, é terrível que tenha mentido”. Uma ferramenta para combater o extremismo é enriquecer nosso vocabulário emocional buscando um meio termo para o que queremos expressar.
Personalização: quando nos sentimos o centro do do universo
Esta distorção cognitiva é responsável pelas situações nas quais a pessoa se sente causadora do estado de ânimo ou comportamento do outro. Por exemplo, pensamentos como: “com certeza veio do trabalho de mau humor porque não lhe enviei uma mensagem ao meio-dia” ou “como fiquei até tarde com minhas amigas, agora cheguei em casa e ele não quer saber de mim”.
A personalização gera um sentimento de excessiva responsabilidade sobre o bem-estar dos demais. Porque a pessoa atribui a si mesma uma importante capacidade de controle sobre as emoções que seu parceiro(a) pode experimentar.
Um exercício prático para combater a personalização é desenhar um círculo e dividir os 100% da responsabilidade do que aconteceu entre todas as possíveis causas, deixando de considerar unicamente a responsabilidade que você acredite ter sobre o fato em questão.
Desqualificar o positivo: quando há uma nota para tudo
Consiste em definir a outra pessoa de maneira negativa, desqualificada e global. O desqualificar negativo faz com que sejam identificados no parceiro(a) características negativas em praticamente todas as esferas de sua vida. Alguns exemplos disso seriam: “ é um egoísta que segue olhando o futebol enquanto estou falando”, “ela não tem consideração, está sempre falando dela mesmo” ou “parece que é bobo, tem dificuldade de entender sempre que lhe estou explicando, não é inteligente”.
O problema mais importante desta distorção cognitiva no relacionamento é que, se você não põe freio, pode acabar derivando em, segundo o psicólogo John Gottman, um dos quatro cavaleiros do apocalipse que precedem uma separação: o desprezo. Desqualificar o positivo da pessoa com a qual temos um relacionamento faz com que potencializemos uma imagem negativa dele ou dela. E assim, aumenta o mal-estar emocional, a raiva e a irritação.
Raciocínio emocional: se eu me sinto assim é porque algo é assim
O raciocínio emocional faz com que se busquem causas externas às quais nos sentimos e que se entenda que, se estamos mal por causa de alguma situação, isto significa que a situação é ruim e que algo ou alguém é responsável por isso.
Esta distorção cognitiva no casal faz com que as emoções transbordem na pessoa e que se tomem decisões exclusivamente em função do estado emocional. Um exemplo de raciocínio emocional seria: “estou triste, me sinto abandonado porque não me enviou uma mensagem o dia todo”.
Decidir exclusivamente em função de como nos sentimos não é positivo porque baseamos nossa decisão em algo efêmero e que muda constantemente como as emoções. O relacionamento de um casal precisa de continuidade e compromisso a longo prazo, e isso não pode se basear sempre em impulsos emocionais do momento.
Para combater o raciocínio emocional, é fundamental distinguir entre como nos sentimos e como a situação é objetivamente. Fazer um esforço para observar o que acontece desde fora e o que não, desde a emoção que nos invade. Refletir sobre que conselho daríamos a um amigo nas mesmas situações é um exercício de distanciamento psicológico para combater o raciocínio emocional.
Leitura da mente: um perigoso poder sobrenatural
A leitura da mente faz com que a pessoa mostre uma atitude defensiva como resposta a aquilo que crê que o outro está pensando. Esta distorção cognitiva num relacionamento de um casal também faz com que atuemos em função da informação que “supomos”, e não em função da informação que realmente “temos”.
Alguns exemplos de leitura de mente seriam: “ainda que tenha dito que não lhe incomoda ficar em casa, eu sei que está irritado” ou “apesar do meu namorado ter me felicitado por ter sido promovida no trabalho, estou segura de que ele não acredita que eu mereço”.
Para combater esta distorção é imprescindível ter claro que muitas vezes nós mesmos não estamos seguros do que está acontecendo, do que está sendo sentido e do que estamos pensando. É impossível saber com certeza o que o outro pensa. Mesmo que você conheça muito uma pessoa, é muito difícil saber com exatidão o que está sendo pensado.
Uma máxima para combater a leitura de mente é “perguntar antes de adivinhar”. Questione-se e pergunte as coisas que você quer saber do seu namorado(a) ao invés de tentar adivinhar.
Compreender melhor como funciona a sua mente é dar o primeiro passo necessário para derrubar os seus limites. Se você trabalha cada dia para combater as distorções cognitivas que aparecem num relacionamento de um casal, você se sentirá dono dos seus pensamentos, livre de preconceitos e preparado para viver seu relacionamento plenamente.
Fonte: A mente é maravilhosa.