No início dos anos 1970, os cariocas começaram a deixar seus cabelos crescerem muito mais do jamais antes. Os astros do rock inglês do Led Zeppelin, Pink Floyd, Genesis, Yes e cia tinham, todos, os cabelos maiores do que os das nossas namoradas. Logo, meus amigos estavam ostentando cabeleiras bem abaixo dos ombros.
E, eu, adivinhem? Estava estudando no Colégio Militar do Rio de Janeiro
por livre e espontânea vontade de brincar de soldadinho. Se arrependimento matasse...
Corte militar,
máquina 1, toda semana.
Eu e minha família tínhamos passado um ano fora
morando em Uruguaiana, na fronteira com a Argentina. Naqueles anos, os jornais
do Rio e SP chegavam com dois dias de atraso, e não havia sinal de televisão na
cidade. Muito diferente do mundo que havíamos deixado no Leblon. Era como estar
em outro país, numa cultura completamente diferente.
Quando
viajei, os cabelos de todos eram iguais, mais ou menos do mesmo tamanho. Quanto
menor mais prático e mais gostávamos.
Quando
voltei, meus amigos tinham cabelos longos e usavam roupas completamente
diferentes das minhas e do meu cabelo.
Voltei
já matriculado e há 4 dias do início das aulas, no Colégio Militar. Sem tempo
para desistir.
Me
lembro que fiquei assustado quando percebi como tudo tinha mudado tanto. Viajei
no meio do ano anterior, aos 11 anos, e voltei precisamente 1 ano depois. O
suficiente para o mundo inteiro mudar.
As
roupas, as novas gírias e trejeitos foram assimilados facilmente, com a volta
da convivência. Mas, os meus cabelos...quanta diferença. Me sentia um estranho no próprio ninho.
Depois
de dois anos e meio cortando o cabelo, semanalmente, no modelo recruta, saí do
Colégio Militar. Os meus amigos do bairro, e de infância, não cortavam os seus
há anos.
Me
senti livre como o astro de Hair e cheguei a ter o cabelo mais compridos entre os
da minha turma.
Mas, no
começo, ainda demorou vários meses, até que meu cabelo crescesse o suficiente e
eu me sentisse seguro para frequentar o píer e as dunas da Gal.