VIDA: FAZ ALGUM SENTIDO? - Liane Alves

A gente só é capaz de compreender o significado da vida 
quando olha a existência sob outra perspectiva.

Depois de 7,5 milhões de anos de cálculos, o ultracomputador desenvolvido exclusivamente por uma raça de seres estelares para responder qual é “o sentido da vida, do universo e de tudo o mais” finalmente dá sua resposta.
Anunciada “com majestade e calma infinitas”, o Pensador Profundo – esse é o nome do computador, de acordo com o Guia do Mochileiro das Galáxias, escrito por Douglas Adams – fornece a chave que irá desvendar o principal enigma do cosmos.

E a resposta dele para o sentido da vida é... 42. Isso mesmo, o número 42. O que suscita outras dezenas de milhões de perguntas, que podem ser resumidas numa só: “42 o quê?!?” Esse é o problema. Para entender o sentido da vida – e, por enquanto, vamos admitir que ela tenha um –, é preciso compreender algo que não está diretamente contido na própria vida.

Como o arco-íris, que não existe por si mesmo, mas que é apenas o resultado da interação entre nosso olho e a refração da luz nas gotículas de água, o significado da existência também nasce de uma parceria entre nós e aquilo que achamos que é a realidade. É uma atribuição ao que vivemos e experimentamos. Portanto, o número 42 como resposta, assim como a própria vida, pode não ter sentido nenhum. Somos nós que atribuímos, ou não, um significado para ele, com base no que vivenciamos e entendemos do mundo.

Por que será que precisamos tanto atribuir um valor especial para a vida? E quais os fatores que nos ajudariam a vivê-la mais plenamente? Bom, aí já dá para responder. Quando comecei a refletir sobre esta reportagem, lembrei-me de Deus. Mais especificamente, das primeiras páginas do Gênesis. Depois de haver criado céus e terra, peixes, animais, florestas e o ser humano, Ele teve um momento de contemplação. Olhou para sua criação e viu que tudo aquilo era bom. Foi a primeira atribuição de sentido para a vida: a de que ela era simplesmente boa. Não importa se no pacote vieram dor de dente e uma vaga atrás da coluna na garagem do prédio. No geral, ela é boa e generosa. No particular, pode incluir problemas.

“Mesmo quando achamos que a vida não tem nenhum sentido, estamos atribuindo um sentido para ela: o de que a existência é absurda, caótica, sem significado ou coerência”, diz a psicóloga paulista Karen Jimenez. Bom, ela tem razão. Esse olhar já carrega um monte de sentidos, inclusive. Ao contrário de Deus contemplando sua criação, muitas pessoas acham que vida é ruim, injusta, desagradável e até negativa. E, para a maioria delas, essa apreciação é deprimente. “Ela pode levar a um desânimo total”, diz Karen. Agora, sugere Karen, pergunte para uma pessoa que está vivendo uma grande paixão o que ela acha da vida.

Ou a uma criança brincando num parquinho. Ela nem vai querer perder tempo em responder a essa questão, tão interessada que está em viver. “Quem acha que a existência não tem sentido é porque perdeu seu encantamento por ela. Está desapaixonado pela existência. E qualquer coisa que não nos apaixona automaticamente nos desinteressa.” Nessa condição, tudo fica cinzento, com cara de dia nublado. “Somos seres que precisam de significado, seja no trabalho, seja nos relacionamentos ou nos seus projetos.” O sentido ativa nossa emoção – como o nome diz, aquilo que nos move para a ação.

“Ele nos devolve o prazer, o desejo de interagir, de criar”, diz Karen. Um dos segredos, então, é se apaixonar novamente por ela, descobrir seu encanto. Esse estado de graça geralmente nasce de uma harmonia interior, essencialmente espiritual, que se traduz depois numa harmonia exterior. Como diz Sócrates, em Fedro, na sua pungente prece: “... ajudai-me a buscar a beleza interior e fazer com que as coisas exteriores se harmonizem com a beleza espiritual”. Para a maioria de nós, esse sentimento de plenitude surge quando sentimos que estamos realizando o propósito do que viemos fazer nessa vida, algo que é único e individual. Aí a existência se reveste de sentido e beleza. “Imagine que o único propósito da vida seja só sua felicidade – então a existência seria uma coisa cruel e sem sentido.

Porém, seu intelecto e seu coração lhe dizem que o significado da vida é servir à força que o enviou o mundo. Então, quando isso acontece, a vida se torna uma alegria”, escreveu o russo Leon Tolstoi. Por que será que funcionamos assim? Por que o absurdo e a falta de sentido da vida nos incomodariam tanto? Uma teoria, por favor Quando a vida viola nossa lógica e expectativa, quando ela foge daquilo que supomos que aconteceria, mergulhamos num sentimento que o filosófo dinarmarquês Soren Kierkegaard descreveu como uma inquietante “sensação do absurdo”. É algo tão desagradável, tão desorientador, que o cérebro imediatamente se prepara para desenvolver uma coerência para aquilo que nos tirou do chão.

“Ficamos tão motivados em nos livrar dessa sensação que passamos a procurar significado e coerência em qualquer outro lugar”, diz Travis Proulx, pesquisador da Universidade de Santa Bárbara, na Califórnia, envolvido com estudos sobre como o absurdo molda o cérebro humano. Em entrevista ao jornal The New York Times, ele diz que cérebro é programado para identificar padrões e predizer o que está para acontecer com base neles. Os padrões nos dão um sentido, algo muito útil desde que o ser humano desceu das árvores e se colocou em contato direto com leões e outros predadores. Enfim, somos treinados para antever que isso mais aquilo só pode dar naquilo. Agora, imagine o que acontece quando a vida diz o contrário? De certa forma, enlouquecemos. Além disso, o cérebro é reacionário.

Ele “gosta” de padrões, de algo que se repete e que lhe permite fazer previsões, pois funciona a partir delas. E são justamente as sequências previsíveis que permitem a leitura de um significado. “Quando os padrões se rompem (por exemplo, quando alguém tropeça em algo inesperado, como uma poltrona de plástico no meio de uma floresta), imediatamente o cérebro passa a tatear por algo que faça sentido”, diz o pesquisador. Ou seja, passa a formular hipóteses, um dos passatempos prediletos da humanidade. Não nos conformamos facilmente com algo sem explicação. Porém, mesmo quando estamos confusos e desesperados, e quando a vida parece não ter significado algum, algo pode ocorrer.

As enfermeiras francesas Rosette Poletti e Barbara Dobbs, no livro Dar Sentido à Vida, falam da importância dos acontecimentos inesperados que podem mudar radicalmente nosso olhar sobre a existência, para melhor. “Mesmo numa vida que está indo à deriva, quando uma pessoa não leva mais adiante nenhuma busca de sentido, não acredita mais em seu futuro, não espera mais nada e quando nada mais tem significado para ela, sempre existe a possibilidade de uma reviravolta inesperada, surpreendente e, às vezes, milagrosa”, afirmam elas, que, inclusive, acompanharam muitos desses casos. O que as autoras afirmam é que o inexplicável pode sempre acontecer e mudar completamente uma convicção, uma situação, um jeito de ser. Isto é, algo improvável pode ocorrer e ser capaz de nos dar novamente um sentido à vida.

É sempre bom ter essa possibilidade em mente. O problema é que a existência também parece estar cheia de fatos aleatórios, não previsíveis e sem significado aparente. Essa falta de sentido é tão perturbadora que outro pesquisador, o físico Leonard Mlodinow, da Universidade de Berkeley, na Califórnia, se dedicou a escrever um livro inteiramente sobre como o acaso atropela e muitas vezes determina nossas vidas. O título é ótimo: O Andar do Bêbado. Diz o autor que a vida pode ser tão previsível quanto os passos de alguém que bebeu muito depois de uma festa. Ou que eles podem até ter um sentido. Mas que pode demorar muito para a gente saber qual. A tarefa a que o físico se propõe é falar sobre as leis que regem o acaso aparente, devolvendo um sentido à vida ao sustentar que eles não são tão aleatórios, imprevisíveis e caóticos assim. Isto é, que eles têm uma causa.

Ele também reconhece que a falta de significado existencial pode mexer muito com nosso equilíbrio emocional. “De fato, a resposta humana à incerteza é tão complexa que, por vezes, distintas estruturas cerebrais chegam a conclusões diferentes e aparentemente lutam entre si para determinar qual delas dominará as demais”, diz Mlodinow. Ou seja, ficamos confusos num mar de suposições de probabilidades. E tendemos a nos guiar pelas estatísticas: se determinada coisa aconteceu quatro vezes, é bem provável que também acontecerá uma quinta. Ou, então, a seguir a intuição, que muitas vezes desdiz o senso comum. O físico desconfia dessas duas respostas.

Ele acha que por trás da aleatoriedade funcionam outras regras, que pouco têm ver com a intuição ou o senso comum. E que conhecê-las nos ajuda a compreender a existência. “A capacidade de tomar decisões e fazer avaliações sábias diante da incerteza é uma habilidade rara. Porém, como qualquer habilidade, pode ser aperfeiçoada pela experiência”, diz ele. O acaso não é por acaso Uma das primeiras leis a se conhecerem, por exemplo, está baseada na Teoria dos Jogos, elaborada por um psicólogo, Daniel Kahneman, que, contra todas as probabilidades, acab ou ganhando o Nobel de Economia em 2002.

Aconteceu algo extraordinário com ele. Indicado para dar apoio psicológico a professores de pilotos de caça israelenses pela Universidade Hebraica, ele logo imaginou ensinar aos instrutores de pilotos a estratégia de recompensar comportamentos positivos em vez de punir equívocos, prática que funciona muito bem com ratinhos de laboratório. Mas um de seus alunos-instrutores discordou veementemente. “Muitas vezes elogiei meus alunos por manobras bem executadas, e na vez seguinte os pilotos sempre se saíam pior. E já gritei com eles por manobras mal executadas, e eles melhoraram logo em seguida”, disse ele.

Essa reclamação espontânea foi o primeiro passo para o Prêmio Nobel de Kahneman. Em vez de impor suas ideias, ele foi atrás da razão por que acontecia isso – isto é, do sentido. E observou que estava diante de um fenômeno chamado de regressão à média. Descobriu que desempenhos extraordinários – tanto ruins quanto bons – eram pura questão de sorte ou azar, já que a tendência dos pilotos aprendizes era ter um desenvolvimento médio que evoluía lentamente. E que no dia seguinte após de um grande feito, ou um fracasso, a tendência era voltar à média.

Por isso o instrutor tinha a impressão de que o elogio não funcionava, pois no dia seguinte o piloto voltava ao desempenho normal e não conseguia repetir seu feito. Também por isso é que ele pensava que a bronca dava certo – pois após uma barbeiragem a tendência do piloto era voltar à média e “melhorar”. O que Leonard Mlodinow explica em seu livro são as diversas leis, segundo vários autores e cientistas, que agem com relação à aleatoriedade.

Em outras palavras, o acaso existe, mas há muitas leis que o regem que desconhecemos. Em outras palavras, ele diz que o acaso não é caótico nem absurdo, mas que segue leis complexas que ainda não conseguimos desvendar. Isso complica um pouco as coisas, que não são tão simples e diretas quanto podemos imaginar e prever. “Sei que a vida parece ter sentido, mas não sei exatamente qual”, diz com sinceridade o administrador de empresas paulista Fabio Constantino Magalhães.

“Acho que levaria muito tempo para compreendê-la e mais tempo ainda para poder manipulá-la”, afirma. Sabiamente, ele admite seus imprevistos e acasos e não se horroriza mais com eles. “Nunca vou conseguir controlá-los, mesmo”, diz. Prefere então levar a vida com senso de humor, acreditando num sentido maior favorável e generoso, mas não necessariamente explícito e identificável para nós. Em resumo, mesmo não dominando as leis que regem o acaso, e tomando decisões imperfeitas e fazendo muitas bobagens, é possível que a existência, ainda assim, esconda um sentido oculto. O filosófo alemão Arthur Schopenhauer dizia que, perto do fim da vida, temos a chance de olhar para trás e contemplá-la.

Dessa maneira vamos perceber como cada evento, que se acreditava ser apenas uma nota isolada e sem relação com as outras, na verdade fazia parte de uma grande e bela sinfonia. Como todos aqueles que acham que a vida tem sentido, espero que ele tenha razão. Do caos à prática Sempre vai haver alguém para tentar explicar o significado da existência, mesmo afirmando que ela não tem sentido algum. Um dos maiores exemplos da ala dos que defendem o absurdo total da existência é o anárquico grupo de comediantes inglêses Monty Python. Nas primeiras cenas do filme O Sentido da Vida, realizado por eles, vemos um velho prédio que desliza por Manhattan, na verdade uma caravela repleta de piratas disfarçada.

Os bucaneiros invadem a sala principal da Maior Corporação das Américas enquanto Harry, um dos melhores executivos da empresa, explanava sobre o sentido da vida com base em dois conceitos fundamentais: o de que as pessoas não usam mais chapéus como antigamente e de que a alma só passa a existir depois de um longo processo de autoobservação. Executivos e piratas entram em luta, o narrador do filme pede desculpas por um início tão caótico, um prédio cai por cima do escritório-navio e a fita começa de novo.

Para os integrantes do Monty Python, só o absurdo pode explicar o absurdo existencial. Esse tema também é muito caro aos fi lósofos. E para um historiador da filosofia, o inglês Julian Baggini. Competente e hábil nas tiradas típicas do humor britânico, ele escreveu o livro Para Que Serve Tudo Isso?, em uma notável tentativa de explicar o que os filósofos já falaram sobre o sentido da vida. Que, para ele, como para seus compatriotas do Monty Python, também não tem signifi cado algum. Mesmo assim, é uma delícia acompanhar seu raciocínio. Ao fazer isso, Baggini parece uma dona de casa inglesa de meia-idade que entra num quarto desarrumado para tentar organizá-lo, enquanto resmunga: “Céus, esses filósofos deixaram isso aqui um caos! Olha que ba-gun-ça!”

Posso imaginá-lo examinando Soren Kierkegaard como se fosse um vaso de Murano e dizendo: “Esse aqui eu vou colocar ali! Sartre com aquelas teorias existencialistas, vou pôr perto da entrada, para não atrapalhar depois, e Schopenhauer vai ficar melhor ali, ao lado da felicidade...” Assim Baggini vai espanando, trocando móveis de lugar, colocando fora o que não interessa. Quando a gente termina o livro, está tudo arrumadinho. Pode não ser do nosso gosto, mas numa coisa ele tem razão: é melhor pensar num quarto limpo. Depois de afastar a possibilidade da existência de um universo com propósito e significado já no primeiro capítulo e, com isso, a negar a hipótese de Deus (não é preciso concordar com ele, por sinal), Baggini navega por mares interessantes e insuspeitados, levando em conta toda a história da filosofia. Pode-se discordar, mas ele dá uma excelente base de discussão e nos ensina a raciocinar. No fim, ele próprio reconhece: “Temos que sair e viver a vida, e não conseguiremos fazê-lo se estivermos pensando inutilmente ‘para que serve tudo isso’”.

Ele reconhece que a filosofia serve para se raciocinar sobre a vida e que isso é legal – se não ocupar tempo demais. Em vez de se perder em elucubrações, Baggini propõe algo bem mais prático: amar. “O amor dá sentido à vida mesmo que ela não tenha sentido ou propósito”, afirma. “O amor – em todas suas formas – é crucial para os seres humanos e uma das coisas que fazem com que valha a pena existir.” Com ele é mais fácil enfrentar a incerteza, a fragilidade e a imprevisibilidade da existência, diz Baggini. Num dos seus contos, outra vez o escritor russo Leon Tostoi dá as chaves para que a vida tenha sentido: priorizar o que está acontecendo a cada instante, considerar como a mais importante do mundo a pessoa que está a seu lado naquele momento e fazer tudo que estiver ao seu alcance para torná-la feliz.

Ou, como diz Robin S. Sharma no livro Descubra seu Destino, ouvir o chamado do seu propósito de vida, transformar as provações diárias em experiências recompensadoras e saber amar. Nas palavras de Baggini, degustar a vida e vivê-la com amor. Parece que pelo menos nisso dá para concordar com eles. 

POR QUE MENTIMOS?


Quem nunca inventou uma desculpa para escapar de um compromisso ou “distorceu um pouco” os fatos para impressionar alguém?
A lista de motivos que podem levar uma pessoa a mentir é praticamente interminável. Será que existe algo em comum entre eles?

Em estudo recente, os pesquisadores Shaul Shalvi, da Universidade de Amsterdam (Holanda), Ori Eldar e Yoella Bereby-Meyer, da Universidade Ben-Gurion do Negev (Israel), investigaram fatores que podem estar por trás de um comportamento desonesto.

Quem é mais desonesto, o homem ou a mulher?
Para começar, eles usaram como base duas premissas confirmadas por pesquisas anteriores: a de que o primeiro instinto da pessoa faz com que ela busque servir seus próprios interesses; e a de que as pessoas mostram uma tendência maior a mentir quando conseguem justificar a mentira para si mesmas. Shalvi e seus colegas imaginaram que um terceiro fator pode incentivar uma mentira: o tempo.

Mentir demora mais
Quando as pessoas agem rapidamente, elas podem tentar fazer o possível para garantir um benefício, até mesmo distorcer regras éticas e mentir. Ter mais tempo para decidir leva as pessoas a restringir as mentiras e evitar trapaças”, explica Shalvi.

Honestidade sob pressão
O grupo de pesquisadores reuniu 70 participantes adultos e realizou dois experimentos. No primeiro, eles deveriam jogar um dado três vezes e contar aos pesquisadores (que não podiam ver os resultados) qual foi o primeiro valor tirado. Seria dada uma recompensa monetária proporcional ao número.

Como identificar um mentiroso
O fato de jogar o dado três vezes abria brecha para uma “pequena inverdade”: se o participante relatasse o valor mais alto dos três mesmo que não fosse da primeira jogada, não estaria mentindo 100% – afinal, ele tinha tirado o valor, não é mesmo? Para fins de comparação, alguns participantes tinham um limite de tempo (20 segundos) para informar o resultado. Os demais podiam demorar o quanto quisessem.

Como a equipe não via os resultados, para saber se o participante estava mentindo, Shalvi e seus colegas comparavam as respostas com resultados que seriam mais prováveis. Ao final do experimento, eles constataram que participantes dos dois grupos mentiram, e que isso ocorreu com mais frequência entre aqueles que tinham um limite de tempo.

O segundo experimento foi quase idêntico, mas dessa vez o participante só poderia jogar o dado uma vez – o que tirava aquela brecha para “distorcer um pouco os fatos”. Dessa vez, menos participantes mentiram, mas aqueles que tinham o limite de tempo para informar o resultado mostraram uma tendência maior a mentir.

Uma implicação desses resultados é que, para aumentar a probabilidade de um comportamento honesto nos negócios ou em questões pessoais, é importante não colocar a pessoa contra a parede, mas lhe dar tempo”, aponta Shalvi. Mas e se a pessoa usar esse tempo para pensar em uma mentira mais elaborada e convincente? Bom, aí já é outra história…

ESTUDO DESCOBRE JEITO SIMPLES PARA DIMINUIR MENTIRAS

Qual a forma mais comum que companhias, governos, autoridades tem para garantir que as pessoas estão falando a verdade? No final de qualquer acordo ou contrato, eles pedem para a pessoa assinar uma declaração atestando a sua honestidade.

Pelo que nós já sabemos sobre o mundo, isso não parece funcionar 100% eficientemente.

Foi o que concluiu uma equipe de pesquisadores em uma série de quatro experimentos. Eles mostraram que a assinatura de uma declaração no final de uma declaração de imposto ou revisão de seguro não faz nada para promover a honestidade.

As pessoas que assinaram uma declaração desse tipo não eram mais ou menos propensas a mentir do que as que não assinaram.

Mas os cientistas descobriram uma maneira muito eficaz de promover o comportamento honesto: basta pedir as pessoas para assinar a declaração de ética no início do formulário – antes dele ser preenchido – e não no final.

Segundo os pesquisadores, simplesmente mudar a assinatura para o começo de um formulário trará os padrões morais em foco, quando a ética é mais necessária. Quando as pessoas assinam algo no final de um formulário, o “dano” já foi feito; os indivíduos já preencheram o formulário, já se envolveram em vários truques mentais e justificativas que lhes permitiram manter uma autoimagem positiva, apesar de ter “enganado” o sistema.

No primeiro experimento, os pesquisadores colaboraram com uma companhia de seguros. Eles revisaram 13.488 políticas que cobrem 20.741 carros. Em metade das declarações de revisão, as pessoas foram convidadas a assinar uma declaração dizendo:
Prometo que a informação que eu estou oferecendo é verdadeira”, antes de estimar o quanto eles tinham conduzido no ano anterior. A outra metade assinou a declaração depois de fazer a estimativa.

Pessoas que assinaram primeiro disseram que tinham dirigido mais quilômetros. Em média, as pessoas que assinaram a declaração de honestidade antes de estimar sua quilometragem relataram dirigir 3.910 quilômetros a mais do que aqueles que assinaram no final.

Os participantes também foram convidados a falar seus rendimentos e despesas para o que parecia ser uma declaração normal de impostos. Assinar o formulário de imposto antes de preenchê-lo reduziu drasticamente as mentiras.

37% das pessoas que assinaram o formulário de imposto antes de iniciar os seus cálculos foram decobertas trapaceando. Dos que assinaram o formulário por último, depois de preenchê-lo, 79% trapacearam.[BussinessInsider]
Por Natasha Romanzoti 

QUER MELHORAR A MEMÓRIA? ESQUEÇA AS COISAS

Problemas de memória? 
O melhor a se fazer, para poder se lembrar, é esquecer. 
Sim; cientistas descobriram que, quanto melhor você é em esquecer, 
melhor você é em lembrar.

Como isso funciona: para se lembrar de fatos que são importantes na sua vida hoje, você tem que ser capaz de abrir mão de informações que você não precisa mais.

Por exemplo, se alguém lhe perguntar quem é o presidente atual do Brasil, você pode se lembrar de Fernando Henrique Cardoso, ou Lula. Claro, isso está incorreto. Então você tem que arrumar uma maneira de não pensar sobre FHC ou Lula, para poder se lembrar de que a presidente atual do Brasil é a Dilma Rousseff.

Claro, você não precisa se esquecer pra sempre dos outros presidentes do Brasil. Seu cérebro está cheio de informações, e para que você tenha informações importantes ao seu alcance – na ponta da língua -, tem que se esquecer de fatos que não são imediatamente necessários.

É como os seus pertences: coisas importantes que você pode armazenar em sua mesa. Coisas menos importantes, você coloca numa gaveta. Outras, você deixa ao alcance de sua mão. Se você realmente precisar do que estiver na gaveta, é só buscar o que você precisa, mas é mais difícil o acesso a ela.

Para ter uma noção de como o cérebro se esquece, a fim de se lembrar, pesquisadores realizaram algumas experiências.

Em uma delas, os voluntários receberam uma lista de seis palavras relacionadas; uma lista de seis frutas, por exemplo.

Em seguida, os voluntários tiveram que fazer um teste simples em que a categoria foi listada junto com a primeira letra de três itens, seguidos por um espaço em branco a ser preenchido. Por exemplo, categoria “frutas” seguido por um “L” de laranja, ou “M” de maçã.

Depois disso, os voluntários fizeram o mesmo teste, mas desta vez com letras iniciais para todos os seis itens. Os voluntários facilmente se lembraram dos três itens que estavam no outro teste. Os outros três foram muito mais difíceis de lembrar. Suas memórias desses itens haviam sido “perdidas”.

O experimento explica o que acontece quando trocamos de número de telefone, por exemplo. Uma vez que você aprendeu o novo número, é quase impossível recordar o antigo. E isso faz sentido, pois seria muito difícil para nós se lembrar de cada número de telefone que já tivemos.

Os pesquisadores afirmaram que algumas pessoas são melhores em “esquecer para lembrar” do que outras. Essas pessoas tendem a ser melhores em resolução de problemas, o que tem a ver com a maneira como seus cérebros organizam a informação, que as ajuda a pensar.
E você? É melhor em lembrar, ou esquecer?

PODEMOS “APRENDER” DURANTE O SONO

Para todos os preguiçosos, uma boa notícia: está comprovado que você pode melhorar seus conhecimentos dormindo. Não que você vá conseguir fazer aquelas coisas de desenhos ou propagandas, como dormir com fones de ouvido e uma gravação em francês, e acordar falando a língua.

No caso do estudo, pesquisadores da Universidade Northwestern (EUA) selecionaram participantes para aprender duas melodias no teclado. Após todos cumprirem seu dever de músicos, foi permitido que eles dormissem por 90 minutos. Enquanto tiveram uma soneca, uma das melodias foi tocada na sala, ininterruptamente.

Após acordarem, os participantes tiveram que lembrar as melodias e tocá-las. E, como já era de se esperar, a que foi tocada repetidamente acabou sendo melhor lembrada do que a outra.

Os cientistas ainda não sabem exatamente como funciona a memória durante o sono, mas esse estudo acrescenta mais uma evidência disso. Ao que parece, nós não podemos realmente aprender algo novo enquanto dormimos, mas sim fortalecer algo que já sabemos (o que não deixa de ser uma aprendizagem).

Mas se levarmos em conta que uma pessoa comum dorme em média 7 a 8 horas por noite, isso resulta em 200 mil horas dormindo. É tempo suficiente para consolidar muitos conhecimentos que ainda estão meio vagos!
Por Bernardo Staut 

CHICO XAVIER – O Amor

O Amor, sublime impulso de Deus, a energia que move os mundos:
Tudo cria, tudo transforma, tudo eleva.
Palpita em todas as criaturas.
Alimenta todas as ações.
O ódio é o Amor que se envenena.
A paixão é o Amor que se incendeia.
O egoísmo é o Amor que se concentra em si mesmo.
O ciúme é o Amor que se dilacera.
A revolta é o Amor que se transvia.
O orgulho é o Amor que enlouquece.
A discórdia é o Amor que divide.
A vaidade é o Amor que ilude.
A avareza é o Amor que se encarcera.
O vício é o Amor que se embrutece.
A crueldade é o Amor que tiraniza.
O fanatismo é o Amor que petrifica.
A fraternidade é o Amor que se expande.
A bondade é o Amor que se desenvolve.
O carinho é o Amor que se enflora.
A dedicação é o Amor que se estende.
O trabalho digno é o Amor que aprimora.
A experiência é o Amor que amadurece.
A renúncia é o Amor que se ilumina.
O sacrifício é o Amor que se santifica.
O Amor é o clima do Universo.
É a religião da vida, a base do estímulo e a força da Criação.
Ao seu influxo, as vidas se agrupam, sublimando-se para a imortalidade.
Nesse ou naquele recanto isolado, quando se lhe retire a influência, reina sempre o caos.
Com ele, tudo se aclara.
Longe dele, a sombra se coagula e prevalece.
Em suma, o bem é o Amor que se desdobra, 
em busca da Perfeição no Infinito, segundo os Propósitos Divinos;
e o mal é, simplesmente, o Amor fora da Lei.

DRAUZIO VARELLA - Viagem ao passado

Fui há pouco a Portugal e à Espanha. 
Não existe comparação com a vida que forçou meus avós a emigrar.

Nasci no Brás durante a Segunda Guerra Mundial. Não havia outro bairro que encarnasse a quintessência da vida paulistana daquele tempo: imigrantes italianos, portugueses e espanhóis, operários e casas de cômodos.
As ruas eram de paralelepípedos, cinzentas como os muros das fábricas. Para achar uma árvore era preciso andar até a igreja de Santo Antônio, em que meus pais e meus tios casaram e batizaram seus filhos.
Meu avô paterno emigrou sozinho para o Brasil com a sabedoria dos 12 anos de idade. Nos ombros, a responsabilidade de enviar dinheiro à mãe e aos irmãos mais novos, que haviam acabado de perder o pai na Galícia, norte da Espanha. Em São Paulo, casou com uma conterrânea e tiveram três filhos. Homem à antiga, proibiu minha avó de falar espanhol em casa, com medo de que os filhos um dia quisessem mudar para o país ibérico.
Meus avós maternos chegaram jovens e nunca mais retornaram a Portugal. Ele, baixo e atarracado, tinha uma escrivaninha com tampo de correr e uma caligrafia bordada que lhe havia garantido o posto de telegrafista no glorioso Corpo de Bombeiros. Ela, mulher de presença forte, andava sempre de preto. Todo fim de tarde, entretida com o bordado, ouvia as poesias de Bocage e os romances de Eça de Queiroz que o marido lia em voz alta.
Minha infância foi marcada pelo futebol na calçada da fábrica em frente de casa, pelos operários que saíam cedo com a marmita, pelas mães que berravam o nome dos filhos na hora das refeições e pelas brigas das mulheres nos cortiços aos domingos, ocasião em que se tornava mais acirrada a disputa pela posse do tanque, do varal e do banheiro coletivo.
Por descender de imigrantes que romperam laços com a península Ibérica, jamais tive nenhum compromisso com seus países de origem. Com exceção da afinidade cultural transmitida pelos costumes familiares, nunca me passou pela cabeça que, além de brasileiro, eu pudesse estar associado a outra nacionalidade.
Muitos anos atrás, fui ver "Bodas de Sangue", filme do espanhol Carlos Saura. Fiquei espantado diante daqueles bailarinos esguios com o mesmo tipo de calvície que eu e com a semelhança física entre eles e as pessoas que frequentavam a casa dos meus avós. Evidentemente, meus genes chegaram até mim graças à competição e à seleção natural que deu origem aos povos ibéricos.
Consciente dessa aventura evolutiva, estive há pouco tempo em Portugal e no norte da Espanha. Não existe comparação entre a vida nesses lugares e aquela que forçou meus avós a emigrar. A adesão à Comunidade Europeia revitalizou a economia, tornou as cidades seguras e bem cuidadas, criou empregos e mecanismos sociais para amparar os mais frágeis.
Se no início do século passado esses países dispusessem de tais recursos para proteger seus agricultores, meus avós teriam permanecido em suas aldeias.
Nessas circunstâncias, caro leitor, quem sairia prejudicado?
Este que vos escreve. Primeiro, porque meus pais teriam vivido a quilômetros de distância um do outro, circunstância pouco favorável à minha concepção. Depois, porque, ainda que tal encontro porventura ocorresse, eu não teria experimentado as alegrias e agruras de ser brasileiro.
Você argumentará que eu não viveria num país com tanta desigualdade, corrupção institucionalizada, impunidade, falta de educação e violência urbana.
É verdade, nos países ricos esses problemas são incomparavelmente menos graves, mas há outro lado: eles estão empenhados em manter a qualquer preço o bem-estar já conquistado. O futuro deles é lutar pela preservação do passado, enquanto o nosso está em construção.
Entre eles, as relações humanas são mais cerimoniosas, e o cotidiano, repetitivo e previsível. Não lhes sobra espaço para o inesperado, o encontro com a felicidade exige planejamento prévio: o e-mail para visitar um irmão, as férias na praia em 2014, o ingresso para um espetáculo que acontecerá dez meses mais tarde. A vida lá não pulsa como aqui.
Organização, serviços públicos de qualidade, leis rigorosas e aposentadorias decentes são privilégios que asseguram conforto e segurança, bens invejados pelos que não têm acesso a eles, mas que não parecem trazer alegria aos povos que deles desfrutam.

MoMA - New York - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra, passo a passo pelo museu.

FERNANDA TORRES - Fusão

Uma das sensações mais estranhas para um filho de atriz é ver a sua mãe possuída por alguém que não é exatamente ela, embora seja. Quando pequena, eu evitava assistir à novela Sangue do Meu Sangue porque o personagem da minha progenitora apanhava demais do marido. Também sentia vergonha na plateia de Seria Cômico Se Não Fosse Sério, quando Zanoni Ferrite cortejava a desvairada Alice. Mais velha, substituí por uma noite a menina que fazia a filha de Petra Von Kant. Nunca mais esqueci o rosto transtornado e a fúria de minha mãe deitada no chão, bêbada, como que em transe. Desde então, trabalhamos juntas diversas vezes, a ponto de eu achar que havia me curado do mal-estar da juventude. Coube ao filme Central do Brasil ressuscitar os medos atávicos. Nele, Dora, a ex-professora que escreve cartas para analfabetos na estação de trem, aceita levar um menino órfão de volta para o pai, no Nordeste. Assim que embarca no ônibus, Dora saca uma garrafa de pinga da bolsa e entorna pelo gargalo. Diante da cena, senti, novamente, o velho embaraço de ver dona Fernanda louca, descomposta e mãe de coisa nenhuma. Suspeito que a ideia da bebedeira tenha saído da cabeça de João Emanuel Carneiro, corroteirista do filme. A crueldade do núcleo principal de Avenida Brasil cultiva a mesma dureza. A sensação de que o mundo adulto é tão ou até mais desamparado do que o infantil. Na semana passada, corri para tirar a maquiagem depois de um dia longo no estúdio. No camarim, a TV estava ligada na novela das 9. Parei. Carminha largava o filho no lixão. O único alento para o ato funesto era o olhar amoroso de Vera Holtz; o resto, silêncio. Fui tomada pela mesma insegurança que me abateu no Central. A Adriana deve gravar tanto, decorar tanto, que não há mais resistência para a ardilosa Carminha. Não se vê mais a atriz, só sobrou a personagem. É um vício comum no intérprete a exibição das lágrimas como se fossem troféus. As de Adriana, não; bem antes de cair, já enchiam os olhos de mágoa, mirando o filho desaparecer pelo retrovisor. Medalha de honra para o diretor Gustavo Fernandez. Voltei deprimidíssima para casa. No dia anterior, eu tivera a sorte de ouvir os dez cornos repetidos em série por Marcello Novaes. Uma surra de impropérios digna do pior cafajeste de Nelson Rodrigues, tão canalha que chegava a dignificar a cornidão heroica de Tufão. Na sua novela anterior, A Favorita, João propôs começar a trama sem estabelecer com clareza quem seria a heroína e quem seria a vilã. Em Avenida Brasil, fez diferente, definiu de saída, sem espaço para dúvidas, para depois subverter os papéis. É um dramaturgo e tanto. Se é que existe algo que ainda não foi dito sobre Avenida Brasil, cito aqui a cinematografia com que são feitas, principalmente, as externas. Há uma utilização muito precisa das lentes, do desfoque do primeiro plano e da profundidade de campo. Durante muitos anos, o cinema e o vídeo trilharam caminhos separados, quase opostos. O primeiro era feito em película e o outro em tape. Não havia conversa. A revolução tecnológica do início do milênio aposentou o celuloide e ampliou as nuances da captação digital. Hoje, cinema e TV falam a mesma língua. Cabe aos envolvidos explorar os recursos advindos dessa fusão. Ricardo Waddington é meu cunhado. Graças a essa proximidade, pude acompanhar as dezenas de visitas feitas por ele a feiras de equipamentos, bem como a contratação de técnicos que redefiniram as rotinas de som e luz de seu núcleo na TV Globo. Esse apuro tecnológico, hoje, dimensiona o realismo cortante de Avenida Brasil. Cordel Encantado, também dirigida por Amora Mautner, foi um divisor de águas, mas a atual trama das 9 leva o padrão ainda além. É uma televisão que aponta para o futuro e quebra uma barreira de linguagem importante, dando um peso cinematográfico ao carro-chefe da programação. Que venham outras em seu lugar.

EPICURO - Nenhum Prazer é um Mal em Si


Nenhum prazer é um mal em si, mas certas coisas capazes de engendrar prazeres trazem consigo maior número de males que de prazeres. Se as coisas que proporcionam prazeres às pessoas dissolutas pudessem livrar-lhe o espírito das angústias que experimentam diante dos fenómenos celestes, da morte e dos sofrimentos, e se, por outro lado, lhes ensinassem o limite dos desejos, nada teriamos de censurar nelas, pois que as cumulariam de prazeres, sem mistura alguma de dor ou pesar, os quais constituem precisamente o mal. 

STANISLAW PONTE PRETA - A Velha Contrabandista

Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da Alfândega - tudo malandro velho - começou a desconfiar da velhinha.

Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:

- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?

A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:

- É areia!

Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.

Mas o fiscal desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.

Diz que foi aí que o fiscal se chateou:

- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.

- Mas no saco só tem areia! - insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:

- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?

- O senhor promete que não "espáia"? - quis saber a velhinha.

- Juro - respondeu o fiscal.

- É a lambreta.

LUIZ FERNANDO VERISSIMO - Beijos


Queria ser um homem moderno, mas tinha alguma dificuldade com o protocolo. Por exemplo: não sabia quem beijava. Quando via aproximar-se uma conhecida do casal, perguntava para a mulher, apreensivo, com o canto da boca: “Essa eu beijo? Essa eu beijo?”. Nunca se lembrava.
Para simplificar, passou a beijar todas. Conhecidas ou não. Quando lhe apresentavam uma mulher, em vez de apertar sua mão, beijava-a. Dois beijos, um em cada face.
Muito (muá) prazer (muá).
Outro problema era a quantidade de beijos. Já tinha dominado os dois beijos, estava confortável com dois beijos, quando a moda passou a ser três. Um dia, a mulher comentou:
Não sabia que você era tão amigo da Fulana (o nome verdadeiro não é este).
Beijo todas.
Quantas vezes?
Quem está contando?
Às vezes, ele partia para o terceiro beijo e a beijada não esperava. Ou então esperava e ele não dava, e quando ele voltava ela já recuara. Não havia nada mais constrangedor do que oferecer a face para o terceiro beijo (ou o quarto, quando a moda passou a ser esta) e o beijo não vir. Ficar, por assim dizer, com a cara no ar enquanto a mulher se afastava, rezando para que ninguém tivesse notado. O problema da vida, pensava ele, é que a vida não é coreografada.
Aí os homens começaram a se beijar também. Tudo bem. Seu lema passou a ser: se me beijarem, eu beijo. Mas não tomava a iniciativa. Quando chegavam numa reunião, fazia um rápido levantamento dos presentes. Essa eu beijo duas vezes, essa três, esse me beija, esse não me beija, aquele já está me beijando quatro vezes...
Na outra noite, numa
recepção de casamento, a mulher comentou:
Você enlouqueceu?
Me descontrolei, pronto.
Você beijou todo o mundo.
Todo o mundo estava beijando todo o mundo.
Mas beijo na boca?
Foi só um.
Mas logo o padre?!
Tomado por uma espécie de frenesi, depois de beijar uma fileira de conhecidos e desconhecidos, ele dobrara o padre pela cintura e o beijara longamente, como no cinema antigo.

CONTARDO CALLIGARIS - Aproveitar a vida e suas dores

Meu ideal não é a felicidade, 
mas a variedade e a intensidade das experiências, 
sejam alegres ou penosas.

Com frequência, em conversas e entrevistas, alguém me pergunta o que penso da felicidade -obviamente, na esperança de que eu espinafre esse "ideal dominante" de nossos tempos.
Na verdade, não sei se a felicidade é mesmo um ideal dominante.
Claro, o casal e a família felizes são estereótipos triviais: "Com esta margarina ou com este carro sua vida se abrirá num sorriso de 'folder' ou de comercial". Mas ninguém leva isso a sério, nem os que declaram que tudo o que querem é ser felizes.
Se alguém levasse a busca da felicidade a sério, ele se drogaria, e não com remédios ou substâncias de efeito incerto e insuficiente: só crack ou heroína -tiros certeiros.
O que resta é a felicidade como tentação, como uma vontade de cair fora, compreensível quando a vida nos castiga muito. Fora isso, minha aspiração dominante não é a de ser feliz: quero viver o que der e vier, comédias, tangos e também tragédias -quanto mais plenamente possível, sem covardia.
Meu ideal de vida é a variedade e a intensidade das experiências, sejam elas alegres ou penosas.
Há indivíduos que pedem para ser medicados preventivamente, de maneira a evitar a dor de um luto iminente. É o contrário do que eu valorizo; penso como Roland Barthes: "Luto. Impossibilidade -indignidade- de confiar a uma droga -sob pretexto de depressão- o sofrimento, como se ele fosse uma doença, uma 'possessão' -uma alienação (algo que nos torna estrangeiros)- enquanto ele é um bem essencial, íntimo...".
O trecho está na pág. 159 de "Diário de Luto", que acaba de ser publicado em português (WMF Martins Fontes, excelente tradução de Leyla Perrone-Moisés).
São as fichas nas quais Barthes registrou sua dor entre outubro de 1977 (a morte da mãe) e setembro de 1979 (poucos meses antes de ele mesmo sofrer um atropelamento cujas consequências seriam fatais).
Logo nestes dias, um amigo meu, Paulo V., está perdendo seu pai. Ele me escreve, consternado, que "nada sobrará" do pai: uma cadeira vazia, gavetas de roupas e papéis e que mais? A lembrança se perderá com a vida do filho, que não lhe deu netos e de quem também nada sobrará. A resposta que encontro, para meu amigo, é uma questão: por que uma vida não se bastaria, mesmo que não sobre nada e, a médio prazo, ninguém se lembre?
Barthes se pergunta se ele estaria escrevendo "para combater a dilaceração do esquecimento na medida que ele se anuncia como absoluto. O -em breve- 'nenhum rastro', em parte alguma, em ninguém" (pág. 110). Mas suas anotações não são um monumento fúnebre para a mãe.
Para Barthes, escrever é o jeito de abraçar a experiência, de vivê-la plenamente. Ele se revolta contra as distrações e as explicações consolatórias dos amigos; recusa as teorias que lhe prometeriam um bom decurso de seu luto ("Não dizer luto. É psicanalítico demais. Não estou de luto. Estou triste") e foge, embora a contragosto, das crenças que apaziguariam a dor ("que barbárie não acreditar nas almas -na imortalidade das almas! Que verdade imbecil é o materialismo!").
Enfim, Barthes chega quase a recear que o luto acabe, como se, além da mãe adorada, ele temesse perder também, aos poucos, sua experiência dessa perda.
Meses depois da morte dos meus pais, havia momentos em que eu lamentava que meus afetos e pensamentos voltassem "ao normal", como se minha vida fosse mais pobre sem aquela dor. E havia outros em que, de repente, um detalhe me fisgava, até às lágrimas. Esses momentos eu acolhia com alegria.
Como Barthes anota, a dor do luto pode deixar de ser o afeto dominante, mas ela sempre volta, com a mesma força: "O luto não se desgasta porque não é contínuo" (pág. 92).
Falando em "detalhes" que fisgam, as anotações de Barthes reabriram a ferida de quando ele morreu, mais de 30 anos atrás.
De que sinto mais falta? Do timbre de sua voz e de duas coisas que, de uma certa forma, faziam parte do timbre de sua voz.
Sinto falta de seu gosto pela inconsistência das ideias e dos saberes ("proporcionalmente à consistência desse sistema, sinto-me excluído dele", pág. 73).
E sinto falta de sua coragem para falar a partir da singularidade de sua experiência, sem a menor pretensão de erigi-la numa generalidade que valha para os outros.
Em suma, sinto falta dele, mas não é só que eu sinto falta dele, é que ele, ainda hoje, faz falta.

O QUE SÃO OS SONHOS?

 
Sonhos resolvem problema práticos, estimulam a criatividade e,
 sozinhos, já servem como uma terapia noturna.


Imagine dois pontinhos. Agora, que você está acordado, eles vão ser só dois pontinhos mesmo. Mas no sono profundo é diferente. Se uma parte do cérebro imagina isso, outra área fica inspirada e cria um par de olhos. Mais outra pega e coloca esses olhos numa face. Se o rosto sair feio, a área mais burra da mente se assusta. E solta um comando mandando você correr. Começa o enredo de um sonho. Louco, mas a realidade não é muito mais sã. Pense em alguma coisa estúpida. "Martelo", por exemplo. Não existe nenhum lugar na sua cabeça com a definição da palavra "martelo". Tudo o que há é um mosaico de referências: a dor no dedo depois de uma martelada infeliz, a imagem da caixa de ferramentas do seu avô... Elas só se juntam de vez em quando para formar uma ideia sólida, igual acontece com os tijolos mentais que constroem os sonhos. A realidade e o sonhar, na verdade, se completam. E a ciência está descobrindo que uma não existe sem a outra. Vire a página para saber o que os sonhos realmente são. Isso se você não estiver sonhando neste momento.

Você tem 3 vidas paralelas. Uma é esta aqui, de quando você está acordado. Outra é o sono. O sonho é a terceira: duas horas por noite em que o corpo está paralisado, mas algumas áreas do cérebro ficam mais aceleradas do que o normal. Só que de um jeito diferente: de dia, a parte do cérebro que mais trabalha é o gerentão da mente: o córtex pré-frontal, o setor de massa cinzenta logo atrás da sua testa responsável pelo pensamento racional. No sonho é o contrário: essa área apaga e o resto funciona a toda.

Para entender melhor, pense no cérebro como uma escola. De samba. São várias áreas (ou alas, no caso) fazendo tarefas diferentes. Na vida acordada, cada uma faz seu trabalho bonitinho, sob o comando do córtex pré-frontal. Mas à noite é anarquia pura. Livres do controle da gerência, áreas que nunca interagem de dia começam a trocar informações feito loucas. Tipo: passistas da ala das memórias antigas se embrenham na do córtex visual (a parte que processa imagens). Nisso as memórias incitam a produção de um cenário do passado. E você pode sonhar com um lugar bonito para onde foi aos 6 anos de idade. Depois gente de outra ala, a das emoções profundas, aparece por lá. Aí o amor da sua vida pipoca naquela paisagem. E a festa na sua cabeça vai entrando pela noite. Cada vez mais doida.

Chega uma hora que ninguém é de ninguém. Tudo fica misturado. Aí você pode sonhar que seu escritório fica num barco, e que esse barco navega numa avenida. Quer sair voando? Beleza. Nem o pensamento racional nem a gravidade estão lá para impedir. A memória de curto prazo, que depende diretamente do córtex pré-frontal, está desligada também. Então os rostos mudam o tempo todo, você não consegue ler direito... Até por isso seu avatar do sonho é sempre disléxico.

Parece só uma farra mental. Mas não: os sonhos têm um propósito. E justamente o mais inesperado: eles tecem a realidade.

Como? Para começar, eles resolvem seus problemas. Foi o que concluiu um dos neurocientistas mais respeitados do mundo, Robert Stickgold, de Harvard. A base para isso foi uma experiência simples, feita neste ano. A equipe de Stickgold colocou 100 voluntários para andar num labirinto virtual, um daqueles 3D, de jogos tipo Counter Strike. O grupo foi posto para treinar as manhas do labirinto, aprender a navegar nele, por algum tempo. Depois deram um intervalo de 5 horas e chamaram o pessoal de volta para uma prova: ver quem conseguia achar a saída do labirinto mais rápido. Mas tinha um detalhe: os pesquisadores colocaram metade dos voluntários para tirar um cochilo de duas horas. O resto ficou acordado. Na volta, o time dos dormidos se deu ligeiramente melhor que o dos despertos - demoravam alguns segundos a menos para encontrar a saída.

Até aí, nada de mais. Mas veio uma surpresa. Entre os que foram dormir, alguns sonharam com o jogo. Esses tinham virado Ayrtons Sennas do labirinto: melhoraram seu tempo 10 vezes mais que os outros. Os cientistas ficaram eufóricos. Mais ainda depois de ler os relatos dos sonhadores. "O jogo me fez sonhar com uma caverna que visitei - e no sonho ela era tipo... tipo um labirinto", disse um. "Só ouvi a musiquinha do jogo no sonho", falou outro. Mas como isso pôde melhorar o desempenho deles?

Para Stickgold, essas imagens mentais eram apenas uma sombra do que o cérebro dos voluntários fazia de verdade. E o que ele fazia era processar o labirinto no meio da balbúrdia dos sonhos. No caso do rapaz que sonhou com a caverna, por exemplo, estava claro que o jogo se fundia às memórias antigas dele. Era como se a experiência nova, a de aprender a se virar no labirinto, estivesse entrando no meio da escola de samba desgovernada.

Stickgold imagina que, quando o cérebro digere alguma experiência dessa forma, ele faz algo especial: extrai o que há de mais importante nessa experiência. Aí ela fica mais compreensível. E você aprende algo novo sem se dar conta.

A conclusão é ambiciosa. Para o neurocientista, isso acontece com tudo o que o cérebro capta. Nada deixa de passar pela festa dos sonhos. É nela que peças do presente se encaixam com as do passado, formando a imagem mental que temos do mundo. Nessa imagem está tudo o que você sabe, do significado da palavra "martelo" até seus amores e traumas.

Não há uma prova definitiva de que é assim mesmo que tudo funciona. Mas as experiências de laboratório indicam que sim. E as da vida real também. É comum, por exemplo, acordar com uma ideia nova. Prontinha. Já aconteceu com você? Com Paul McCartney aconteceu. Numa manhã de 1965, ele acordou com uma música na cabeça, foi para o piano e tirou a melodia. Ficou estarrecido. "Não acreditava que ela pudesse ser minha", disse. Era, sim. E acabou gravada com o nome de Yesterday. Coincidência uma obra onírica ter virado o maior sucesso comercial da maior banda da história? Talvez não. Satisfaction, a mais célebre dos Stones, também apareceu num sonho - de Keith Richards.

Mas ninguém teve sonhos tão célebres quanto outro sujeito: Freud, que escreveu sobre o assunto usando em grande parte os próprios sonhos como base. Apesar dos avanços da neurociência, suas ideias sobre o mundo onírico continuam respeitadas. Faz sentido? Sim. E não.

A teoria de Freud: os sonhos são a manifestação de desejos reprimidos. Ponto. Vários sonhos, de fato, parecem ser isso mesmo. Se você está com sede, provavelmente vai sonhar que está bebendo água.

Mas o problema nela é óbvio. A maior parte dos sonhos não tem nada a ver com desejo. Uns são tão banais que não podem entrar nessa classificação. Outros são pesadelos. Alguém deseja morrer afogado por uma daquelas ondas gigantes de sonho? Ele sabia que não. Mas batia o pé: os desejos estariam quase sempre disfarçados. Sigmund explica: "Um dia falei para uma paciente, a mais inteligente das minhas sonhadoras, que os sonhos são a realização de desejos. No dia seguinte ela me contou ter sonhado que estava indo viajar com a madrasta", escreveu em seu A Interpretação dos Sonhos, de 1899. "Mas eu sabia que, antes, ela tinha protestado contra o fato de que teria de passar o verão na mesma vizinhança que a madrasta. De acordo com o sonho, então, eu estava errado. Mas era o desejo dela que eu estivesse errado, e esse desejo o sonho mostrou realizado." Acredite. Se quiser.

Por essas boa parte dos pesquisadores de hoje prefere tratar Freud mais como literatura do que como ciência. A gente sonha com água quando está com sede? Usando as analogias deste texto, a explicação seria: o pessoal do sistema límbico foi até a ala do córtex visual e disse que seu corpo estava com sede. O córtex pegou e criou uma imagem que tem a ver com sede. Sem drama. O sonho da paciente inteligente? Bom, às vezes uma viagem de trem com a madrasta é só uma viagem de trem com a madrasta...

Mas alguns cientistas defendem que as pesquisas modernas confirmaram muito do que Freud pensava. Allen Braun, um neurologista célebre, faz uma defesa sólida: "O fato de as regiões do cérebro responsáveis pela memória emocional e de longo prazo ficarem supercarregadas enquanto as do pensamento racional repousam pode ser visto em termos freudianos como o ‘ego’ saindo do comando e dando liberdade ao inconsciente", diz. Mas ele também acha a teoria de Freud defasada.

A interpretação moderna dos sonhos é mais complexa. Quem estuda a mente hoje olha com atenção para os detalhes do sonho de cada pessoa, sem correr atrás de interpretações genéricas. Usar símbolos universais, do tipo "sonhar com água significa x ou y", então, nem pensar. Isso seria subestimar o maior talento do cérebro sonhador : a capacidade de criar metáforas surpreendentes.

Ann Faraday, uma psicóloga americana especializada em sonhos, tem um bom exemplo dessa habilidade poética. Ela estava para ser entrevistada no programa de rádio de um certo Long John Nebel. Aí, na noite anterior, sonhou que um sujeito de ceroulas a ameaçava com uma metralhadora. Símbolo fálico, desejo sexual enrustido... Tem tudo aí. Mas não. A interpretação dela foi bem mais direta. Long John é "ceroula" em inglês, e o apresentador era conhecido por ser particularmente ferino. O sujeito de roupas íntimas, então, era uma metáfora que o cérebro dela arranjou para o nome do sujeito; e a metralhadora, uma para o medo que ela sentia de ser agredida na entrevista. Só isso.

E tudo isso. "Podemos aprender sobre as emoções que nos guiam na vida real se prestarmos atenção nos sonhos", diz o psiquiatra J. Allan Hobson, de Harvard. O exercício aí é tentar decifrar as metáforas dos sonhos, encontrar quais elementos da sua vida estão por trás delas - uma tarefa profunda e pessoal em que nenhum dos dicionários de sonhos já feitos desde a invenção da escrita vai poder ajudar.

E nem sempre será fácil. A psicóloga americana Rosalind Cartwright, por exemplo, concluiu algo paradoxal com base em anos de estudos: que os rejeitados num relacionamento que mais sonham com o ex são os que se recuperam mais rápido do baque da separação. Isso casa bem com as pesquisas de Stickgold: talvez seja o cérebro maquinando formas de lidar com o rompimento, dando um jeito de aliviar a dor. Mas não dá para ter certeza, só especular. Ainda há certas coisas entre a vida real e os sonhos que estão além da ciência. Para começar, não dá nem para saber se você vai acordar daqui a pouco e descobrir que tudo isso foi um sonho. Mas ok. No fundo, dá na mesma.

O QUE SÃO OS PESADELOS?

Dormir com os anjos? 
Todas as noites, ter sonhos com monstros e perseguições? 
Parece desesperador? 
Nem tanto. Ter tantos pesadelos pode ser bom...


Estou em uma praia paradisíaca em Bora Bora. A água é azul-turquesa, a areia é muito branca, o dia está ensolarado. De repente tudo faz silêncio. Olho para o mar e vejo ondas gigantescas se aproximando. Vinte, 30, 40 metros de água chegando cada vez mais perto. Saio correndo para me proteger. Entro em um castelo medieval (?) e tranco as portas, mas as ondas o destroem. Continuo correndo. Entro em outra casa para me esconder, mas a maré também a engole. É então que acordo, apenas para reconhecer minha cama quentinha - e adormecer de novo. Começo a sonhar outra vez. Agora estou de férias num parque de diversões, cuja grande atração é a casa mal-assombrada. Lá dentro, leões que andam sobre duas patas e vestem cartolas e bengalas serão alimentados com bebês humanos. Angustiada, tento salvar as crianças, mas tudo que consigo é atrair a atenção dos leões para mim. Mais uma vez, saio correndo para fugir das feras. Corro tanto que chego ao fim do parque, à beira de um desfiladeiro. Estou tremendo de medo - e acordo. Foram dois pesadelos na mesma noite, mas não estou assustada. Nos últimos anos, já fui enterrada viva, participei de sessões de canibalismo, vi crianças se matando, comi ratos vivos, fui envenenada e morri centenas de vezes. Faço parte dos 2 a 6% da população mundial que tem pesadelos recorrentes, mais de uma vez por semana (no meu caso, quase todos os dias). Mas sou apenas o exemplo extremo de algo que todo mundo tem: sonhos ruins - que têm lógica, importância e significado próprios dentro do delirante mundo dos sonhos.

Ter muitos pesadelos, na verdade, não é coisa extraordinária. Um dos maiores estudos já feitos sobre conteúdo dos sonhos, que analisou 500 homens e 500 mulheres, mostrou que é muito mais comum sentir medo, ansiedade e apreensão durante a noite do que alegria ou felicidade. E que, em um terço dos sonhos, a pessoa passa por algum grande "infortúnio": doenças, ameaças, morte. Elementos sobrenaturais são comuns (alô, leões bípedes de cartola?). Durante a infância, quase metade das crianças tem pesadelos todas as semanas. Na vida adulta, as mulheres sofrem mais com eles do que os homens, e fortes emoções são mais frequentes nos sonhos delas - 57% contra 41%. (Isso faz sentido porque, ao longo do milênios, mulheres foram vítimas mais frequentes de ataques e violência.) Pesadelos fazem parte da vida noturna de qualquer pessoa, o que indica que talvez tenham alguma função evolutiva, e sejam pouco mais do que apenas um capricho do cérebro dormindo.

Uma das teorias que explicam a importância dos sonhos ruins vem do psiquiatra Allan Hobson. Para ele, pesadelos são uma espécie de treino para situações de perigo. Fomos selecionados durante milhões de anos de evolução para ter um cérebro que é naturalmente amedrontado - o que explica, por exemplo, o fato de o pesadelo mais comum ser o que envolve algum tipo de perseguição. Ou seja, aqueles que têm muitos pesadelos estariam em vantagem evolutiva, pois ficariam mais alertas e preparados na vida real. E, assim, teriam mais chances de sobrevivência. Neurologicamente, a teoria faz sentido porque uma das áreas mais ativadas durante o sono REM é a amígdala, aquele pedacinho do cérebro que controla a ansiedade e o sistema de fuga ou luta dos animais. "Quem tem mais sonhos desagradáveis fica mais regulado emocionalmente", diz Flávio Aloe, coordenador do Centro Interdepartamental de Estudos do Sono do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Mas, se existe um fator que os sonhos ruins realmente preveem, é a personalide. Quem tem pesadelos plausíveis, como não conseguir terminar uma prova a tempo, por exemplo, costuma ter grande capacidade de concentração e habilidade para separar o pensamento racional do emocional. Já as pessoas no outro oposto de personalidade têm dificuldade em distanciar a razão da emoção, são mais vulneráveis a situações de estresse, e passam boa parte da vida (acordada) viajando em pensamentos distantes. Mas nem tudo é ruim. "Quem passa a vida tendo pesadelos tem tendências artísticas e criativas que não são encontradas nos outros grupos", diz Patrick McNamara em seu livro Nightmares. São essas as pessoas agraciadas com sonhos de alienígenas e banquetes canibais.

Eu mando agora
Na teoria, não faz muita diferença se os seus pesadelos são banais ou esdrúxulos. O que importa é a sensação desagradável que eles causam. Mas, no limite, se os pesadelos forem recorrentes ou muito extremos, eles podem ter consequências negativas para a vida acordada (poucas coisas são piores do que sonhar que está sendo enterrado vivo, acredite). Pesadelos já foram associados a depressão, ansiedade crônica, esquizofrenia e até tendências suicidas. Por isso, não faltam métodos para ajudar a diminuir os sonhos ruins em casos crônicos. Uma das maneiras mais polêmicas - e que tem cara de ficção científica - é ensinar à pessoa que sofre de pesadelos recorrentes a ter sonhos lúcidos. Em outras palavras, é fazer com que o sonhador reconheça que está sonhando, entenda que todas aquelas ameaças não passam de criações da mente e tente modificar o enredo do sonho racionalmente. Alguns sonhadores experientes relatam conseguir voar e fazer sexo quando quiserem, e até escolher o cenário dos sonhos, no melhor estilo A Origem. E o assustador é que já há estudos que legitimam seus resultados.

O problema do sonho lúcido é comprovar sua existência. Como um cientista pode observá-lo se ele acontece apenas dentro da cabeça do sonhador? Para isso, Stephen LaBerge, um psicólogo da Universidade Stanford que dedicou sua vida a estudar esse fenômeno, encontrou uma solução. Ele pediu que os voluntários escolhessem o enredo de seus sonhos antes de dormir e indicassem com movimentos específicos dos olhos o momento em que começassem a sonhar (já que o olho não fica paralisado durante a noite). As ondas cerebrais e os sinais vitais dos voluntários eram medidos a noite toda. Como num milagre, a partir do momento em que os adormecidos davam o sinal de que estavam sonhando, as partes do cérebro e as reações do corpo combinavam perfeitamente com o tema do sono. Se a pessoa estivesse correndo, sua respiração ficava ofegante. Se ela estivesse voando, as áreas do cérebro ligadas a movimentos espaciais eram acionadas. "Isso explica por que os sonhos parecem reais. Para o cérebro, eles são reais", diz LaBerge em seu livro Lucid Dreaming. Foi o que ele precisou para ter certeza de que o sonho lúcido existia.

E o que isso significa para quem sofre de pesadelos constantes? Bem, que daria para afastar os perigos imaginários enquanto o pesadelo está acontecendo. Apesar de algumas descobertas de LaBerge ainda serem questionadas no meio acadêmico, poucos duvidam de que seja possível saber que se está sonhando (você já deve ter sentido isso também). Daí, para entender que aquele gremlin mutante que está prestes a comê-lo é apenas coisa da sua imaginação, é só um passo. Foi o que aconteceu comigo, involuntariamente, quando percebi que teria pesadelos toda vez que adormecesse. Certa noite, sonhei que estava caindo. Era uma queda angustiante, e vi que o chão se aproximava. De repente, percebi que não era a primeira vez que aquilo acontecia comigo - e que eu estava viva e que aquilo só poderia ser um sonho. Foi o que bastou. Nesse instante diminuí de velocidade e caí suavemente no chão. Depois desse dia, os sonhos inquietantes não pararam de aparecer - mas nunca mais deixei que me assustassem.

Como controlar seus sonhos?
O especialista Stephen LaBerge dá um passo a passo

1. Faça um diário
Anotar sonhos incentiva você a lembrá-los e prestar atenção quando ocorrem. Quando estiver acordado, pergunte-se sempre: "Isso é um sonho?"

2. Saiba que é sonho
Durante o sonho, tente ler objetos: se você não conseguir, é sonho. Dica: faça o mesmo acordado. Parece bobo, mas ajuda a transformar em ato inconsciente.

3. Redistribua o sono
O último passo é fatal: durma 6 horas; acorde, ande pela casa; durma mais duas. LaBerge garante que as últimas são ótimas para sonhos lúcidos.
por Karin Hueck

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.
Livros de Edmir Saint-Clair

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