CONSUMO, LOGO EXISTO - Roberta de Medeiros

Comprar exageradamente pode ser uma forma patológica de aplacar angústias; muitas vezes, a compulsão é “sazonal”: festas de fim de ano e férias convidam ao consumo excessivo

Diante de um mercado forte e diversificado, o homem da sociedade contemporânea é continuamente bombardeado por sedutoras peças publicitárias, que prometem bem-estar, status, conforto, projeção imediata e ilusão de segurança. Com a chegada das festas de fim de ano, a lógica do “consumo, logo existo”, segundo a qual o bem-estar é conquistado pela aquisição de produtos, se torna ainda mais evidente. Em casos extremos, a compulsão por compras pode se tornar patológica.

Dois psiquiatras, o alemão Emil Kraepelin (1856-1926) e o suíço Eugen Bleuer (1857-1939), foram os primeiros a escrever sobre o comprar compulsivo (ou oniomania), no início do século XX.Para os pesquisadores, levar em conta a dificuldade de controlar o impulso é elemento essencial para compreender o quadro. Eles observaram que algumas mulheres com esse diagnóstico buscavam excitação, assim como os jogadores patológicos. O tema caiu no esquecimento nos anos seguintes e foi retomado de forma mais intensa na década de 90. O transtorno, porém,ainda não é considerado uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo a psicóloga Tatiana Filomensky, do Ambulatório dos Transtornos do Impulso do Hospital das Clínicas, a pessoa que sofre de compulsão experimenta uma forte ansiedade que só é aliviada quando faz a compra. “Ela não consegue controlar um desejo intrusivo e repetitivo. O ato é imediatamente seguido por intenso sentimento de alívio.” Em situações de impossibilidade de comprar podem aparecer sintomas como irritação, sudorese, taquicardia, tremor e sensação de desmaio iminente. Algum tempo depois de adquirir a nova mercadoria, porém, surge a sensação de remorso e decepção diante da incapacidade de controlar o impulso. Numa atitude compensatória, o mal-estar causado pela culpa leva a pessoa a comprar novamente, dando continuidade ao círculo vicioso.

Numa sociedade que estimula o máximo consumo e a satisfação do prazer imediato, a compulsão por compras não é notada tão prontamente pela família, diferente do que ocorre com de outras dependências, como o abuso de drogas. Por isso, quem sofre do transtorno leva muitos anos para reconhecer o caráter patológico do seu comportamento. Mas quando isso acontece, a pessoa sente vergonha por não vencer a batalha contra o impulso – e, assim, o transtorno pode ser mantido em segredo por anos a fio.

Segundo a psicóloga Juliana Bizeto, coordenadora do Ambulatório de Dependências Não Químicas, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a avaliação do problema não é feita com base na quantidade de dinheiro gasto. Isso, por si só, não constitui evidência para diagnóstico, mas sim prejuízo que o comportamento pode causar na vida da pessoa, já que ela passa a negligenciar atividades sociais importantes como trabalho e família. “O que deve ser considerado é a relação do paciente com a compra. Para o compulsivo, o único prazer está no ato de adquirir, ele não pretende usufruir do objeto: é um comportamento vazio”, afirma. Há, portanto, uma restrição do prazer, um empobrecimento social e uma queda da qualidade de vida, já que a pessoa se torna apática diante de outros estímulos.”

Em sua tese de doutorado, Juliana Bizeto investiga os fatores de risco que estão envolvidos com o surgimento de dependências não químicas. Com base em dados de uma pesquisa realizada com pacientes compulsivos atendidos pelo Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad), da Unifesp, ela constatou que um aspecto de grande importância é a falta de inserção social. “A pessoa que não está inserida em um grupo social, seja no trabalho, na família ou na igreja tem maior possibilidade de desenvolver algum tipo de dependência, seja por compras, jogos, sexo ou internet”, observa.

O artigo “Compulsive Buying. Demography, Phenomenology and comorbidity in 46 subjetcs”, publicado pelo periódico Gen Hosp Psychiatry em 1994, mostra que 94% dos compradores compulsivos são mulheres. Juliana ressalta, porém, que a presença do transtorno na população masculina pode estar subestimado. “Não sabemos se as mulheres são realmente as maiores vítimas ou se são as que mais frequentemente procuram o serviço de saúde. Em alguns casos, a gravidade do quadro é ainda mais acentuada nos homens porque eles demoram a buscar tratamento e, quando isso acontece, chegam ao ambulatório muito comprometidos”, ressalta.

O PRAZER SE ESGOTA logo depois que a mercadoria é adquirida: 
os bens são acumulados,mas não utilizados; falta de inserção social 
e baixa autoestima são fatores de risco

Tempo de Abusos
Nem sempre esse comportamento se repete durante o ano todo. A pessoa também pode ter “orgias” de compras ocasionais em algumas situações, como aniversários, épocas de festas e férias. A terapeuta observa, porém, que o gasto episódico não é suficiente para confirmar um diagnóstico. “No caso da compra por hábito ou impulso, a pessoa se sente atraída pelo produto; quando se trata de compulsão há descontrole, o compulsivo simplesmente não resiste e compra”, diz a psicóloga Júnia Cicivizzo Ferreira, da Unifesp.

Ela lembra que, em geral, os adolescentes são alvos fáceis quando o assunto é o consumo exagerado. O transtorno tem início no final da adolescência, fase em que as pessoas conseguem crédito pela primeira vez, fazendo com que alguns já iniciem a vida adulta como uma dívida incalculável. As compras descontroladas feitas por adolescentes podem estar associadas ao abuso

de drogas e de álcool e ao início precoce da vida sexual. Apesar de o custo do transtorno nunca ter sido calculado, estima-se que o impulso de comprar movimente mais de US$ 4 bilhões em compras anuais nos Estados Unidos, segundo o artigo “The Influence of culture on cunsumer impulsive buying behavior”, de 2002, publicado na revista J. Consume Psycol.

Segundo Tatiana Filomensky, o comportamento compulsivo pode servir como meio de descarga para sanar angústias, raiva, ansiedade, tédio e pensamentos de desvalorização pessoal.
Segundo ela, trata-se de um movimento aprendido. Embora não haja um “modelo”, há muitos casos de pessoas com o transtorno que tiveram pais ausentes que compensavam negligência com presentes. “Há casos, por exemplo, de pessoas que se atrasam para buscar o filho na escola e depois os compensam com doces ou brinquedos. Com isso, ensinam que objetos e produtos aplacam a tristeza; esse comportamento pode ser adotado pela criança na fase adulta.”

“Há pais que passaram por dificuldades financeiras na infância e, na melhor das intenções, tentam poupar os filhos de privações”, diz o psicólogo Luiz Gonzaga Leite, coordenador do Departamento de Psicologia do Hospital Santa Paula e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo. “Isso pode comprometer a ideia de limite tornar essas crianças, adultos incapazes de suportar frustrações.”

Poder e Narcisismo
O psicólogo Antonio Carlos Alves de Araújo concorda que o transtorno está relacionado à carência afetiva, mas acredita que o problema também tenha implicações com a necessidade de estabelecer relações de poder. “Nossa organização social nos ensina que para ser poderoso é preciso possuir objetos.
O desejo de posse pode ser uma forma de compensar sensações de inferioridade que vivemos na infância diante dos adultos. Parte daí a vontade de mostrar, mais tarde, que somos fortes.
E essa busca é realimentada pela cultura: afinal de contas, a carência dá lucro.”

Já o psicanalista Joel Birman, professor de psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que a voracidade do compulsivo está envolvida com elementos tão presentes na atualidade, como o narcisismo, o culto ao eu e o vazio existencial. O ato de comprar, segundo ele, equivale a uma experiência erótica que atenua o sofrimento do homem contemporâneo. “As pessoas recorrem ao consumo exagerado para que possam exibir uma imagem narcísica, que tem por objetivo o preenchimento do vazio com objetos. A compulsão se baseia numa lógica social que supervaloriza o ter em detrimento do ser.”

Segundo Birman, a pessoa está sujeita ao consumo incontrolável à medida que projeta ideais de perfeição nos ídolos idealizados, fabricados pela indústria cultural, que suprem a carência afetiva. “Nossa cultura valoriza astros envolvidos em impressões estéticas e performáticas, o que aumenta a insegurança das pessoas sobre o que têm como potência. Isso deflagra uma sensação generalizada de desqualificação. Se não fôssemos bombardeados a cada instante pelo estrelismo alardeado pela mídia, estaríamos menos tomados pela compulsividade.”


O avarento e o perdulário: duas faces da mesma moeda
Em seu livro Do ter ao ser, o psicanalista Erich Fromm diz que possuir coisas é uma condição inerente ao homem. Há cerca de 12 mil anos, com a fundação da agricultura, nossos ancestrais passaram a desenvolver uma ligação mais intensa com utensílios e adornos. Os objetos eram usados no cotidiano e tinham funcionalidade. Na sociedade capitalista, porém, a propriedade deixa de ter esse caráter utilitário: em geral, acumulamos mais bens do que somos capazes de usar.

Do ponto de vista psíquico, o avarento e o esbanjador têm em comum a relação patológica com a propriedade, relacionada ao “ter possessivo”: ambos querem acumular mais que seria necessário para o seu uso. Tanto a infinidade de objetos que o gastador acumula em suas incursões por lojas de departamentos quanto o dinheiro que o poupador exagerado deixa de gastar remetem à ideia de uma propriedade morta, uma vez que os bens deixam de ter qualquer funcionalidade ou valor de uso.

Em seu texto “Caráter do erotismo anal”, de 1908, Sigmund Freud propõe um paralelo entre os interesses envolvidos no ato de acumular bens e o dinheiro. Segundo a teoria psicanalítica, a criança se agarra ao desejo de possuir porque ainda não é capaz de produzir – e essa sensação faz parte do desenvolvimento saudável. Mas se o adulto se torna refém do sentimento de posse, isso pode significar que ainda não se sente capaz de criar algo por si.

Fatores Biológicos
Pesquisas indicam que alguns neurotransmissores têm papel importante no surgimento do comportamento compulsivo. É o caso da serotonina, envolvida nos processos de regulação dos estados de humor e do sono. Pouca quantidade da substância no cérebro parece estar ligada à impulsividade. Um estudo que examinou usuários de ecstasy, droga que leva à perda de neurônios de serotonina, mostrou que esse grupo apresentou maior propensão à impulsividade e tomadas de decisões erradas.

Outra substância que pode estar envolvida na compulsão é a dopamina, relacionada à dependência de substâncias e de comportamentos. As alterações na atividade do neurotransmissor podem estar associadas à busca de recompensas, que causam sentimentos de prazer. Alguns autores do estudo propõem a existência de um mecanismo de dependência desencadeado
pela diminuição de dopamina, que provoca a chamada síndrome de deficiência da recompensa e indica que algumas pessoas têm mais risco de desenvolver dependência.

Estudos com pacientes com doença de Parkinson reforçam a hipótese de que a dopamina está envolvida nos transtornos do controle dos impulsos. Vários pacientes examinados apresentavam comportamento repetitivo de busca de recompensa, como compulsão por jogo, sexo, comida e compras. Esse comportamento estaria relacionado com a degradação das células neurais que captam a substância, em função da doença e do tratamento.

BEM-VINDO AO AGORA! - Steve Ayan

Utilizar técnicas de atenção plena para aceitar o presente e para vivê-lo de forma intensa pode ajudar a controlar o stress e modificar comportamentos inadequados, harmonizando pensamentos e sentimentos

Depois da segunda caneca de cerveja, minha concentração acabou. Bebida e música alta atrapalhavam qualquer tentativa de ouvir minha própria respiração. Debruçado sobre a mesa, eu falava ininterruptamente com a pessoa à minha frente. Minhas palavras pareciam um pouco deslocadas em meio à bagunça. Não importa, eu precisava falar: naquele mesmo dia eu havia meditado por sete horas inteiras. Até então, nunca havia me entregado a essa prática –- pelo menos não seriamente. E me sentia como se tivesse carregado as baterias.

Pela manhã, havia participado da atividade no grande salão de conferências do Centro de Psicoterapia Integrativa (CIP) de Munique, com 18 noviços – 17 mulheres e um homem. Meditação fazia parte de um curso de extensão para terapeutas e médicos interessados em aprender fundamentos da atenção plena, - pois quem pretende utilizar a prática com seus pacientes deve primeiro exercitá-la.

No meio da sala, em volta de um girassol pintado sobre o assoalho, foram espalhados vários cartões-postais. Em vez das apresentações usuais, os participantes foram orientados a escolher uma figura que representasse seu estado de espírito naquele momento. Eu me decido por uma vista do rio Sena, me sinto como se estivesse de férias.

Deitados de costas, “percorremos” mentalmente nosso corpo. Esse primeiro exercício é chamado justamente de body scan. Guiados pela voz da psicóloga Petra Meibert, que coordena a atividade, o foco de atenção se desloca pouco a pouco, partindo dos pés, passando pelas pernas, torso e braços até chegar à cabeça, procurando “sentir” cada órgão. Mantenho-me concentrado e procuro desconsiderar sinais de cansaço. Mas já na próxima meditação, sentado, esbarro em meus limites. “Sua respiração é uma âncora que sempre o traz de volta para o aqui e o agora”, observa a professora com voz suave. “Cada inspiração é um novo começo e cada expiração é um desprendimento.”

Mal ela faz uma pausa de alguns segundos, meus pensamentos já se desviavam: um redemoinho irresistível de imagens, lembranças e pensamentos. Será que vou para casa no intervalo do almoço ou como alguma coisa aqui por perto? Onde foi que coloquei minha carteira? Eu estava em todo lugar, só não estava ali comigo, naquele momento. “Onde está a sua atenção agora?”, perguntou Meibert. Ai, fui pego no pulo!, pensei.

Petra Meibert ensina meditação desde 2002. Como docente do -Instituto de Atenção Plena e Controle do Stress, ela passou a oferecer também cursos de aperfeiçoamento para terapeutas. E ela não pode se queixar de pouca demanda: a chamada “meditação curativa”, sem a significação espiritual, parece estar na moda. Após ter sido rejeitada por escolas médicas ocidentais como esotérica por muito tempo, houve um boom de tentativas terapêuticas de utilizar exercícios de atenção plena para resolver problemas psicossomáticos, stress, depressões, dependência de nicotina e até mesmo distúrbios de personalidade.

Um passo importante nessa direção foi dado no fim dos anos 70 pelo biólogo e médico americano Jon Kabat-Zinn. Ele defendia que não são as condições externas que causam stress, e sim a forma como lidamos com esses acontecimentos.

Com base em sua própria experiência com meditação, Kabat-Zinn desenvolveu um programa de relaxamento com duração de oito semanas, durante o qual o participante deve aprender a “dedicar atenção plena ao momento, sem julgá-lo”. Ou seja: não procurar atribuir valores a qualquer sensação ou pensamento que lhe ocorrer, classificando-os como bons ou ruins. A proposta é simplesmente observar com benevolência aquilo que está acontecendo no “agora”. E, pelo menos por um instante, abandonar a trilha sempre percorrida pelo raciocínio e pelos sentimentos, desligar o “piloto automático” – metáfora preferida de Kabat-Zinn. Aquele que conseguir fazê-lo encontrará paz interior e serenidade, garante o pioneiro da atenção plena, pois a maioria dos sofrimentos psíquicos está escondida nas reações automáticas do dia-a-dia, das quais praticamente não temos consciência. Estar atento ao momento presente pode nos ajudar a interrompê-las. Ao final dessa “desautomatização” obteríamos, portanto, um estado de lucidez e serenidade: uma espécie de nirvana do homem moderno.

Mas certamente o caminho até lá é longo, já que a maioria das pessoas só consegue manter a atenção focada em um objeto por, no máximo, alguns minutos. “Nossa cabeça é permanentemente assombrada por pensamentos sobre o que ocorreu antes ou planos para o que faremos, o que nos impede de perceber o momento imparcialmente. Exercitar a atenção plena, portanto, significa primeiramente nos concentrarmos em nosso funcionamento mental”, diz Meibert.

A estratégia de redução de stress -– MBSR, mindfulness-based stress reduction – desenvolvida por Kabat-Zinn prevê o desenvolvimento da atenção plena por meio de exercícios “formais”: além do body scan, são utilizadas posições simples de ioga, assim como meditações em posição sentada ou caminhando. As aulas semanais em grupo não bastam, cada um deve treinar sozinho até uma hora por dia.

SABOR DE CONSCIÊNCIA
Ações ou objetos aparentemente banais podem se tornar úteis para os exercícios. A diretora do Instituto de Atenção Plena, Linda Lehrhaupt, conta, por exemplo, que vários alunos se espantam quando são convidados a apenas observar uma uva-passa com o máximo de concentração que conseguirem, imaginar o seu sabor sobre a língua, colocá-la na boca e só então saborear o doce da fruta da forma mais intensa possível.
Uma “lição de casa” bastante comum: desempenhar uma atividade cotidiana à sua escolha com a maior atenção possível! Seja amarrar um cadarço, pentear os cabelos ou beber um copo de água. Embora pareça fácil, nem todos conseguem desempenhar tranqüilamente essa atividade com profunda concentração.

Três importantes estudos comprovaram, nos últimos anos, a eficácia dos procedimentos baseados na atenção plena. Um dos autores, o psiquiatra Scott R. Bishop, professor da Universidade de Toronto, considera “bastante possível que a efetividade desse método está mais relacionada a características de personalidade das pessoas que se sentem atraídos por ele do que ao método em si”. Faltam estudos que comprovem essa hipótese, mas é sensato considerar que a prática da meditação pressupõe certo grau de disponibilidade para o contato consigo mesmo.

APENAS BEBER um copo de água: concentração em gestos simples 
pode nos ajudar a perceber nossos pensamentos 

O termo “atenção plena” vem do budismo: um de seus livros mais significativos, a Satipatthana Sutta, ressalta que a atenção plena deve ser desenvolvida em quatro âmbitos: do corpo, das sensações, da mente e dos “objetos mentais”. Segundo a obra, a prática é fundamental para atingir a sabedoria. Vários psicoterapeutas adeptos da prática, porém, temem que seja banalizada como um método psicológico oportuno. “Atenção plena não é uma técnica mental, mas uma postura”, ressalta Petra Meibert. Apesar dos temores de descaracterização de práticas milenares, a tradição oriental e a medicina ocidental nunca estiveram tão próximas, como mostra o interesse do Dalai Lama pela neurologia.

É verdade que já se sabe muito sobre processos que ocorrem no cérebro durante a meditação (ver quadro na pág. 92). Mas será que o mergulho interior regular também opera mudanças psicológicas de longa duração? Afinal, a prática da atenção plena não tem como objetivo fazer com que a pessoa se sinta especialmente bem durante o exercício. A recompensa ao esforço consiste muito mais em adquirir condições para lidar melhor, na vida diária, com stress, temores ou melancolia. Pois, segundo a teoria, as pessoas com prática em atenção plena são mais equilibradas e menos susceptíveis a estímulos externos ou internos que causem desconforto.

O psicólogo Willi Zeidler, professor da Universidade Técnica de Berlim, testou essa teoria em 2006, avaliando o reflexo de fechamento das pálpebras, reação natural ao susto, como critério. Essa ação ocorre, por exemplo, como conseqüência de um estampido alto e é difícil de ser controlada voluntariamente. A força com que a pálpebra se fecha, porém, pode ser manipulada experimentalmente por meio do chamado priming (do inglês prime, preparar). Durante o experimento, são apresentadas aos participantes imagens que podem despertar emotividade, como um pôr-do-sol romântico ou uma cena de um acidente grave. Se a pessoa testada estiver propensa à evitação, as pálpebras são cerradas com mais força como reação ao estampido que se segue.

Zeidler supõe que se pessoas com experiência em meditação são menos impregnadas por suas reações emotivas, então esse efeito modulador deveria ser claramente menos marcante nelas. O fechamento da pálpebra não deveria sofrer influência das imagens assustadoras.
Participaram de seu estudo 35 voluntários com tempo de prática de meditação que variava de dois meses a 40 anos. O psicólogo constatou que quanto maior a experiência, menos o seu reflexo de susto era reforçado pelo priming emocional. Os meditadores avaliavam as imagens atrozes tão negativamente quanto pessoas que não exercitavam a meditação – mas, no caso dos primeiros, o seu efeito esmaecia relativamente rápido.

DONOS DO DESTINO
Há pouco tempo, o efeito do treinamento da atenção plena sobre o estado de diferentes grupos de pacientes também foi estudado com detalhes. O casal de psicólogos Paul Grossmann e Ulrike Kesper-Grossmann realizou um trabalho pioneiro nessa área na Alemanha. Um resultado importante: a percepção de si próprio estimulada pelos exercícios de atenção plena muitas vezes está associada a um aumento da auto-eficácia. O termo é usado pelos dois pesquisadores para indicar o grau de convicção subjetiva de que somos capazes de influenciar nosso próprio destino e, em vez de vítimas de condições incontroláveis, senhores de nossas escolhas -– conscientes ou não.

Essa capacidade, central para muitas linhas terapêuticas, está diretamente vinculada ao valor e à aceitação de si. Aqui, a atenção plena aparentemente tem efeito positivo e, portanto, hoje – já que as fronteiras entre as diversas escolas estão cada vez mais tênues – ela também é adotada pela psicoterapia clássica.

Um grupo coordenado pelos pesquisadores Zindel Segal, da Universidade de Toronto, e John Teasdale e Mark Williams, da Universidade de Oxford, adaptou o programa de Kabat-Zinn para o tratamento de pessoas com depressão, combinando métodos da terapia comportamental cognitiva. Se os pacientes recebem alta após uma fase aguda e param de tomar seus medicamentos, freqüentemente ocorrem recaídas: até oito entre dez pessoas voltam ao buraco emocional. Essa situação pode ser prevenida por meio da terapia cognitiva baseada na atenção plena (MBCT, mindfullness-based cognitive therapy).

Em testes clínicos, o tratamento reduziu a tendência de os pacientes se preocuparem exageradamente com fatos corriqueiros e se torturar com ressentimentos. O hábito de pensar constantemente nos problemas, a ponto de se sentir tomado por eles, e em supostas deficiências pode ser reduzido por meio de técnicas de introspecção: o indivíduo consegue “separar-se” mais facilmente de avaliações negativas e, dessa forma, passa a encarar algumas “falhas” de forma mais tranqüila.

Na opinião do psicólogo Peter Fiedler, da Universidade de Heidelberg, o procedimento, porém, tem algumas limitações. “Em muitos casos, esses exercícios não são suficientes e às vezes chegam a ser prejudiciais.” Se o distúrbio depressivo tem raiz em uma situação, separação ou morte de uma pessoa próxima, a tentativa de “aceitar a situação sem julgá-la” pode piorar ainda mais a crise psíquica, já que reconhecer sentimentos desagradáveis como dor, raiva e falta é fundamental para a elaboração do luto. Fiedler aconselha cautela – o apelo de que “todas as coisas são boas assim como são” não pode substituir o diálogo terapêutico orientado.

Stress e depressão não são, porém, os únicos campos de aplicação da atenção plena. Existem hoje várias utilizações promissoras para o tratamento de dores crônicas e vítimas de traumas. Em ambos os casos, o efeito aparentemente paradoxal causa surpresa: justamente a atitude de investigar os próprios sentimentos e se concentrar atentamente nas associações surgidas reduz o sofrimento dos pacientes.

A professora de psicologia Marsha Linehan, da Universidade de Washington, em Seatle, utiliza exercícios de atenção plena até mesmo para o tratamento de pacientes com transtorno borderline (ou de personalidade limítrofe). Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, (ABP), o distúrbio psiquiátrico afeta cerca de 2% dos adultos, principalmente mulheres jovens. O quadro é caracterizado por grande instabilidade emocional – quase sempre deflagrada por experiências anteriores traumáticas com os pais ou outras pessoas próximas. Stress, rejeição e outros fracassos podem desencadear crises de agressividade, automutilação e tentativas de suicídio.

Na terapia dialético-behaviorista desenvolvida por Linehan, são utilizados princípios da psicologia cognitiva, o segundo os quais os sentimentos, bons ou ruins, freqüentemente resultam da forma como valorizamos certas percepções. Por exemplo, o pensamento “que dia bonito!” nos predispõe à tranqüilidade, assim como atribuições negativas do tipo “eu não sei nada e não valho nada” representam golpes emocionais. Ao estimular a capacidade consciente dos pacientes de aceitar os fatos como são, Linehan atingiu resultados terapêuticos consideráveis. De acordo com o mote (aparentemente contraditório) “aceitar significa modificar”, o treinamento da atenção plena fez com que os pacientes conseguissem controlar melhor suas reações impulsivas e passassem a se valorizar mais de maneira geral.

Usada também para ajudar a melhorar a qualidade de pessoas com doenças graves, por gente empenhada em abandonar o cigarro e como coadjuvante no tratamento da hipertensão, a meditação pela atenção plena está sendo agora testada em pacientes com distúrbios psicossomáticos. Os mais otimistas poderiam supor que se trata de arma milagrosa contra todos os males do mundo. A euforia, porém, provavelmente turva o fato de que os relatórios clínicos de efetividade da atenção plena quase sempre vêm de cientistas e terapeutas que adotam, eles próprios, esse método em sua prática profissional.

Além disso, as pesquisas sobre a maioria das aplicações ainda são incipientes. Assim, ainda permanece em aberto a que exatamente se podem atribuir os efeitos positivos: à meditação em si, à vivência com o grupo ou ao estímulo generalizado para que a pessoa lide mais consigo mesma e com o próprio corpo? Uma outra questão metodológica a ser considerada é o quanto o sucesso dos exercícios depende da personalidade dos praticantes. De qualquer forma, pode-se imaginar que pessoas que são, em geral, mais equilibradas emocionalmente reagem melhor à meditação. Assim, como método terapêutico, a atividade não seria adequada a qualquer pessoa.

Mas como “medir” a atenção e pesquisar seus efeitos clínicos? Para budistas mais radicais, essa proposta pode parecer difícil de ser compreendida. No entanto, hoje são as próprias pessoas que lidam com a atenção plena que buscam uma prova científica de seus benefícios. Uma associação dos terapeutas de atenção plena, criada há pouco, pretende estabelecer normas fixas para a formação de profissionais.

A fim de formular empiricamente uma teoria sobre o tema, já foram desenvolvidos diversos instrumentos – na Alemanha, por exemplo, foi criado o Questionário de Freiburg sobre Atenção Plena (Freiburger Fragebogen für Achtsamkeit – FFA) pelos psicólogos Nina Buchheld e Harald Walach. Os participantes da pesquisa observam e informam como está sua própria atenção em diferentes situações. A confiabilidade desses questionários ainda deve ser testada em pesquisas mais amplas. Mas, de qualquer maneira, os primeiros estudos clínicos feitos com pacientes com diagnósticos de pânico e depressão já mostraram que a “observação imparcial” de processos internos está fortemente associada à melhora dos sintomas das doenças. O fato é que mesmo que nem sempre onde se anuncia a “atenção plena” exista um conceito terapêutico completamente assegurado cientificamente, o interesse pelas técnicas de meditação ajuda muitas pessoas a ultrapassar obstáculos antigos.


CONCEITOS-CHAVE
- Procedimentos baseados na atenção plena têm sido cada vez mais adotados pela medicina e pela psicoterapia. Exercícios de atenção aumentam a percepção do corpo e estimulam a vivência imparcial do momento.

- O termo “atenção plena” vem do budismo: um de seus livros de referência, Satipatthana Sutta, ressalta que a atividade deve ser desenvolvida em quatro âmbitos: do corpo, das sensações, da mente e dos “objetos mentais”.

- Um programa de oito semanas para combate ao stress (MBSR) desenvolvido pelo médico americano Jon Kabat-Zinn, da Universidade de Massachusetts, associou pela primeira vez, em 1979, técnicas de meditação oriental com a escola médica ocidental.

- Aplicações clínicas da atenção plena são hoje variadas: estudos relatam, por exemplo, eficácia no tratamento de sintomas de stress, dores crônicas, depressão e distúrbios da personalidade limítrofe. No entanto, ainda não há provas científicas asseguradas metodicamente.


BIOLOGIA QUE AGRADA A BUDA
Tanto as pesquisas sobre as bases neurológicas da experiência mística como os estudos sobre a genética das religiões interessam principalmente aos seguidores das religiões orientais, em particular do hinduísmo e do budismo, porque combinam com suas concepções filosóficas. Tanto que o líder do budismo tibetano, o Dalai Lama, criou e financiou o Mind and Life Institute (www.mindandlife.org), um centro de pesquisa que tem como objetivo estudar o cérebro durante a meditação e as experiências místicas. Também a idéia da existência de um gene da espiritualidade agrada aos budistas, cuja teoria da reencarnação prevê que se possa receber uma pequena herança espiritual da pessoa que se era na vida precedente. Segundo a crença, esse elemento, combinado com dois grandes genes herdados dos pais, contribui para criar o perfil físico e espiritual do novo ser humano.

ALTERAÇÕES NO CÉREBRO DURANTE A MEDITAÇÃO
Nos últimos anos, exames feitos com procedimentos por imagem revelaram o que acontece na cabeça das pessoas quando estão meditando e quanto esforço cerebral é necessário para que consigamos atingir um estado de introspecção. A atividade de algumas regiões do cérebro pode ser facilmente compreendida com base em pressupostos fundamentais. Em primeiro lugar, o meditador precisa focar sua atenção em um ponto determinado. Essa atividade é realizada por uma parte do córtex pré-frontal, localizado no cérebro frontal. Por outro lado, estímulos externos perturbadores precisam ser “desligados”. Isso é providenciado pelo córtex cingular anterior (CCA).

Essa área cerebral também participa de outros processos cognitivos, por exemplo, quando as pessoas passam pelo teste de Stroop: elas têm de dizer em voz alta a cor das letras que são mostradas em um monitor; a palavra, porém, significa outra cor (ver quadro abaixo). Para se conseguir diante da palavra “vermelho” (grafada em verde) dizer realmente “verde” – e não “vermelho” – o que está escrito deve ser ignorado. Isso é muito difícil no começo, porém, após um pouco de treino, o CCA simplesmente desliga o estímulo perturbador.

Em um estudo realizado na Escola Médica de Harvard, em 2000, a pesquisadora Sara Lazar descobriu por meio da tomografia funcional por ressonância magnética (TfRM) outras áreas do cérebro que desempenham algum papel durante a meditação. Ela percebeu que havia elevada atividade não só nas regiões do córtex pré-frontal e do cingular anterior, mas também no córtex parietal, no hipocampo e no corpo estriado (striatum), que é parte dos gânglios basais.

Além disso, neurologistas do Hospital Geral de Massachusetts mostraram em 2005 que a meditação regular provoca alterações no cerebelo – justamente nas partes do córtex cerebelar que participam da percepção e dos processos emocionais.

Resultados dos estudos do neurocientista americano Richard Davidson, diretor do Laboratório de Neurociência Afetiva da Universidade de Wisconsin, em Madison, também causaram admiração há pouco tempo. O estudioso das emoções, colaborador do Dalai Lama desde 1992, examinou a atividade cerebral de monges tibetanos enquanto eles meditavam. O seu gráfico de atividades neuronais indicava não apenas um estado de intensiva concentração, como já era de esperar – mas também alterações perceptíveis no lobo frontal, importante para o controle das ações.

Foi constatado que monges experientes apresentaram grande atividade no córtex frontal esquerdo. Testes do tipo antes-e-depois feitos com novatos em meditação que haviam concluído o programa anti-stress de Kabat-Zinn confirmaram: em comparação com o lobo frontal direito das pessoas testadas, o esquerdo se tornava gradualmente mais ativo durante períodos cada vez mais longos. Se essa transferência está relacionada ao “efeito de bem-estar” relatado pelo praticante, porém, ainda é uma questão polêmica.
Tradução de Renata Dias Mundt

O SEGREDO DO CASAL FELIZ: COMPARTILHAR ALEGRIAS

A chave para manter viva a magia do casamento é encontrar meios para promover aspectos positivos; a maneira de lidar com boas notícias pode ser mais decisiva para o relacionamento que a capacidade de oferecer apoio um ao outro em situações difíceis. Veja o que a ciência tem a dizer sobre a intimidade

Relacionamentos íntimos, como o casamento, estão entre as mais importantes fontes de satisfação individual. Apesar de muitos casais entrarem nessa jornada com a melhor das intenções, muitos se separam ou permanecem juntos apesar da relação deteriorada. Entretanto, alguns continuam felizes e bem-sucedidos. Qual será o segredo? Alguns indícios surgem das últimas pesquisas no novo campo da psicologia positiva. Fundada em 1998 pelo psicólogo Martin E. P. Seligman, da Universidade da Pensilvânia, essa área inclui pesquisas sobre as emoções consideradas positivas, os pontos fortes dos seres humanos e o que é importante para a maioria das pessoas. Nos últimos anos, pesquisadores que se dedicam a esses estudos descobriram que casais satisfeitos são propensos a acentuar mais o lado bom da vida, diferentemente daqueles que continuam juntos apesar de infelizes ou que se separam. Eles não apenas lidam bem com as adversidades, mas também celebram os momentos felizes e trabalham para construir e reforça situações favoráveis.

É possível que a forma de um casal lidar com as boas notícias seja ainda mais relevante para a o convívio que a capacidade de se apoiar mutuamente nas circunstâncias difíceis. Proporcionalmente, pessoas felizes com sua vida amorosa também experimentam individualmente mais emoções agradáveis que negativas, em comparação com aquelas envolvidas em relacionamentos fracassados. Certas estratégias costumam melhorar essa proporção e, portanto, ajudar a fortalecer as relações. Outro ingrediente para um relacionamento de sucesso: cultivar a paixão. Aprender a se dedicar à pessoa afetivamente importante em nossa vida, de forma saudável e prazerosa, favorece o amadurecimento emocional.

O que a ciência tem a dizer sobre a intimidade:

1. Excitação. O psicólogo Arthur Aron, da Universidade Stony Brook, descobriu que as pessoas tendem a se ligar emocionalmente quando estão agitadas, por exemplo, devido ao exercício, aventuras ou exposição a situações perigosas.

2. Bem pertinho. Estudos dos psicólogos sociais Leon Festinger e Robert Zajonc, da Universidade Stanford, concluíram que simplesmente estar perto de alguém tende a produzir sentimentos positivos. Quando uma pessoa, de forma consciente e proposital, permite que a outra invada seu espaço pessoal, os sentimentos de intimidade aumentam rapidamente. Talvez por isso seja mais fácil brigar por telefone do que quando estamos
fisicamente próximos.

3. Semelhança. Opostos às vezes se atraem, mas uma pesquisa coordenada pelo economista comportamental Dan Ariely, da Universidade Duke e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT ), mostra que as pessoas tendem a formar par com aqueles que são parecidos com elas – em termos de inteligência, experiência e nível cultural e atratividade. Algumas pesquisas chegam a sugerir que apenas imitar alguém pode aumentar a proximidade.

4. Humor. Os pesquisadores Jeanette e Robert Lauer, especializados em relações amorosas, mostraram em 1986 que em uniões felizes de longa duração os parceiros fazem o outro rir bastante. Outro estudo revela que principalmente as mulheres frequentemente procuram parceiros que as divirtam e vê-las achar graça é atraente para eles – possivelmente porque quando rimos ficamos em uma posição menos defensiva, o que facilita a aproximação. Conhece algumas boas piadas?

5. Novidade. O psicólogo Greg Strong, da Universidade Estadual da Flórida, constatou que as pessoas tendem a se aproximar quando estão iniciando uma nova tarefa. A novidade apura os sentidos e também faz as pessoas se sentirem vulneráveis e se ajudarem mutuamente. Portanto, aprender coisas juntos é um jeito de fortalecer laços.

6. Inibições. Milhões de relacionamentos provavelmente começaram com uma taça de vinho. A inibição bloqueia as sensações de vulnerabilidade, o que pode de fato ajudar a criar vínculos. Ficar bêbado, no entanto, pode surtir efeito contrário.

7. Bondade e perdão. Vários estudos confirmam que tendemos a criar laços com pessoas bondosas, sensíveis e atenciosas. Sentimentos de amor podem emergir com especial rapidez quando alguém muda de comportamento deliberadamente – por exemplo, desistindo de fumar ou de beber – para se adaptar às nossas necessidades. Em geral, o perdão também cria vínculos e cumplicidade.

8. Toque e sexualidade. Uma massagem nas costas pode fazer maravilhas. Mesmo se aproximar de alguém, sem de fato tocar, pode despertar em ambos inúmeras sensações. Vários estudos, um deles realizado pela psicóloga social Susan Sprecher, da Universidade Estadual de Illinois, aponta que a sexualidade pode reafirmar sentimentos de proximidade e carinho.

9. Comprometimento. Estudos de pesquisadores como a psicóloga Ximena Arriaga, da Universidade de Purdue, sugerem que o compromisso é um elemento essencial na construção do amor. Pessoas cujos comprometimentos são fracos interpretam o comportamento de seus parceiros mais negativamente, o que com o tempo pode destruir a relação. Quando se tem a firme intenção de manter o relacionamento, os problemas conjugais são mais facilmente relativizados. Pesquisas científicas ilustram como as pessoas se apaixonam e sugerem técnicas para construir relacionamentos consistentes.
Revista Mente&Cérebro

A DIFÍCIL FELICIDADE - Danuza Leão

É uma aflição, um medo de que nada dê certo, 
que você está sonhando,vai acordar e ver que não é nada daquilo

EXISTEM momentos -raros, é verdade- em que tudo está bem. Bem, não: ótimo. A casa finalmente ficou pronta, os gatos estão com saúde, os filhos bem e felizes, faltam só 15 dias para a viagem marcada há seis meses -e a passagem parcelada já está paga-, a saúde em forma total e, como se não bastasse, uma proposta de trabalho nova e sedutora -e sem ter que deixar o atual trabalho. A vida está tão boa que chega a dar uma agonia. E isso é normal? Não, diria a maioria das pessoas. Sim, afirmam os mais habituados a conviver com as profundezas da alma.

É bem verdade que esses tempos são raros, e normalmente, até bobagens como a máquina de lavar roupa que está com defeito é um estresse. Mas quando eles acontecem são difíceis de suportar. A palavra é essa mesma: suportar.

É uma aflição, um medo de que nada dê certo, que você está sonhando, vai acordar e ver que não é nada daquilo, que a realidade não é assim, que existem problemas de todos os tipos o tempo todo e que nem o direito ao silêncio de sua casa você tem. Quando chega tem que ver os recados da secretária eletrônica, abrir o computador para ver os e-mails, e o mais normal é receber uma notícia que pode não ser péssima, mas será suficiente para perturbar sua santa paz. Que o ar-condicionado do quarto não está funcionando, por exemplo.

Mas tudo isso é normal, tão normal que não chega a causar nenhum abalo maior. Faz parte do dia-a-dia, faz parte de todos os dias, isso sem falar de uma dor de coluna, do brinco que sumiu, do lençol que manchou com água sanitária.

Mas tem aqueles dias maravilhosos em que tudo dá certo, e que o futuro, tudo indica, vai ser melhor ainda do que o presente. É curioso que esses dias nunca têm a ver com um homem maravilhoso que você conheceu na véspera. 

Esse tipo de encontro não costuma trazer paz, e sim angústia, ansiedade, insegurança, taquicardia, aflição. Não, esses grandes momentos acontecem apenas com nós mesmos, na nossa mais profunda -solidão? Não, solidão não é a palavra certa. É um sentimento de você com você mesmo, que não é compartilhado com nenhum ser humano e que prova que, apesar do que dizem, ninguém precisa de ninguém para ser feliz de verdade. 

Para ir a um cinema, comer uma pizza, trocar uma idéia sobre as infidelidades públicas dos políticos americanos, até aí se vai. Mas para ser feliz mesmo, para se ser profundamente feliz, não se precisa de ninguém, e o que pode parecer uma tragédia para alguns, é uma liberação para outros.

Não que só você seja feliz o tempo todo, mas existem aqueles momentos em que se é totalmente feliz, e é aí que as coisas se complicam. Como nada é fácil, você começa com a culpa, claro. Como ser feliz com tanta gente sofrendo? E aí começa o medo, o grande medo, aquele de perder a felicidade que está sentindo.

Para isso se apela para tudo: fazer uma aula de ginástica, tomar um tranqüilizante ou não fazer rigorosamente nada e ficar deitado na cama olhando para o teto, só sendo feliz e mais nada. Mas isso não dá porque os pensamentos não deixam, e a vontade é que aconteça alguma coisa que traga você de volta para o mundo imperfeito em que vive; a televisão quebrar já seria o suficiente. Ser infeliz é muito ruim, mas ser feliz é muito difícil. 

ENSAIO SOBRE O AMOR E A AMIZADE - Lya Luft

Que qualidade primeira a gente deve esperar de alguém 
com quem pretende um relacionamento? 
Perguntou-me o jovem jornalista, e lhe respondi: 
aquelas que se esperaria do melhor amigo.

O resto, é claro, seriam os ingredientes da paixão, que vão além da amizade. Mas a base estaria ali: na confiança, na alegria de estar junto, no respeito, na admiração.
Na tranqüilidade. Em não poder imaginar a vida sem aquela pessoa. Em algo além de todos os nossos limites e desastres.

Talvez seja um bom critério. Não digo de escolha, pois amor é instinto e intuição, mas uma dessas opções mais profundas,arcaicas, que a gente faz até sem saber, para ser feliz ou para se destruir. Eu não quereria como parceiro de vida quem não pudesse querer como amigo. E amigos fazem parte de meus alicerces emocionais: são um dos ganhos que a passagem do tempo me concedeu. Falo daquela pessoa para quem posso telefonar, não importa onde ela esteja nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: “Estou mal, preciso de você”. E ele ou ela estará comigo pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for.

Mais reservada do que expansiva num primeiro momento, mais para tímida, tive sempre muitos conhecidos e poucas, mas reais, amizades de verdade, dessas que formam, com a família, o chão sobre o qual a gente sabe que pode caminhar.

Sem elas, eu provavelmente nem estaria aqui. Falo daquelas amizades para as quais eu sou apenas eu, uma pessoa com manias e brincadeiras, eventuais tristezas, erros e acertos, os anos de chumbo e uma generosa parte de ganhos nesta vida.

Para eles não sou escritora, muito menos conhecida de público algum: sou gente.

A amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele mas sem o ônus do ciúme – o que é, cá entre nós, uma bela vantagem. Ser amigo é rir junto, é dar o ombro para chorar,é poder criticar (com carinho, por favor), é poder apresentar namorado ou namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão, é poder até brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma. Amiga é aquela a quem se pode ligar quando a gente está com febre e não quer sair para pegar as crianças na chuva: a amiga vai, e pega junto com as dela ou até mesmo se nem tem criança naquele colégio.

Amigo é aquele a quem a gente recorre quando se angustia demais, e ele chega confortando, chamando de “minha gatona” mesmo que a gente esteja um trapo.

Amigo, amiga, é um dom incrível, isso eu soube desde cedo, e não viveria sem eles. Conheci uma senhora que se vangloriava de não precisar de amigos: “Tenho meu marido e meus filhos, e isso me basta”. O marido morreu, os filhos seguiram sua vida, e ela ficou num deserto sem oásis, injuriada como se o destino tivesse lhe pregado uma peça. Mais de uma vez se queixou, e nunca tive coragem de lhe dizer, àquela altura, que a vida é uma construção, também a vida afetiva. E que amigos não nascem do nada como frutos do acaso: são cultivados com…amizade.

Sem esforço, sem adubos especiais, sem método nem aflição: crescendo como crescem as árvores e as crianças quando não lhes faltam nem luz nem espaço nem afeto.

Quando em certo período o destino havia aparentemente tirado de baixo de mim todos os tapetes e perdi o prumo, o rumo, o sentido de tudo, foram amigos, amigas, e meus filhos, jovens adultos já revelados amigos, que seguraram as pontas.

E eram pontas ásperas aquelas. Agüentei, persisti, e continuei amando a vida, as pessoas e a mim mesma (como meu amado amigo Erico Verissimo, “eu me amo mas não me admiro”) o suficiente para não ficar amarga. Pois, além de acreditar no mistério de tudo o que nos acontece, eu tinha aqueles amigos.

Com eles, sem grandes conversas nem palavras explícitas, aprendi solidariedade, simplicidade, honestidade, e carinho.

Nesta página, hoje, sem razão especial nem data marcada, estou homenageando aqueles, aquelas, que têm estado comigo seja como for, para o que der e vier, mesmo quando estou cansada, estou burra, estou irritada ou desatinada, pois às vezes eu sou tudo isso, ah!, sim.

E o bom mesmo é que na amizade, se verdadeira, a gente não precisa se sacrificar nem compreender nem perdoar nem fazer malabarismos sexuais nem inventar desculpas nem esconder rugas ou tristezas. A gente pode simplesmente ser: que alívio, neste mundo complicado e desanimador, deslumbrante e terrível, fantástico e cansativo.

Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante,engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos agüenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores:como o verdadeiro amor.

NEGRA - Caetano Veloso

Pessoalmente, quase só uso “preto” para me referir 
a pessoas de pele escura e cabelo crespo: “negro”

Da janela do hotel dava para ver Ponta Negra, que uma vez escalei
Natal estava sob chuva quando cheguei tarde da noite mas amanheceu ensolarada. Da janela do hotel dava para ver a Ponta Negra, que uma vez já escalei com muita vertigem (invejo Zuenir e Mary, capazes de subir dunas verticais sem se sentirem numa cena de “Gravidade”). Sempre achei o nome Ponta Negra misteriosamente apropriado. Uma razão mais lógica deve existir para a nomeação, mas a mim me parece que esse evoca a solenidade da vista. “Ponta” descrevendo a forma geográfica e “negra” dando o tom grandioso.

A palavra “negro” sugere uma preciosidade que “preto”, seu sinônimo, não suporta. Sendo ambas o nome da cor (ou ausência de cor) dos objetos de que a luz não volta, “preto” traz à mente algo fosco e pedestre, enquanto “negro” anuncia brilho e mistério. Se se fala de um vestido preto, pode-se estar falando de uma peça de roupa que se usa em qualquer lugar. Mas um vestido negro é necessariamente um traje para ocasião especial, festa noturna e de gala, ou vestimenta ritual de monjas e bruxas.

Em inglês, língua em que “negro” não designa a cor mas exclusivamente a etnia dos subsaarianos, “preto” (“black”) passou a ser preferido, para se referir aos descendentes de escravos africanos, depois que “Negro” (que se grafa sempre com a inicial maiúscula, como acontece com os toponímicos) revelou-se contaminado do valor semântico pejorativo que em “nigger” chega a equivaler a um xingamento. Não há a possibilidade de se dizer “a Negro dress” (“um vestido negro”) em inglês, exceto se se quer dizer, de modo aliás raro, que um certo vestido tem características da subcultura norte-americana afrodescendente.

Em francês há exclusividade do sentido étnico para “negro” na palavra “nègre” — que, ao que parece, já tem carga negativa há séculos. Pedro Sá imita muito bem um entrevistado de documentário de Coutinho que, ressaltando o orgulho que tem de sua ascendência, diz, em voz grave, “Preto é cor; negro é raça”. Acho curioso que “black” tenha prevalecido nos Estados Unidos, a partir do movimento dos direitos civis e finalmente difundindo-se por toda a sociedade, e “negro” seja a palavra escolhida pelo discurso racialista no Brasil.

Pessoalmente, quase só uso “preto” para me referir a pessoas de pele escura e cabelo crespo: “negro” me soa como se se estivesse querendo envernizar uma ideia simples, como quando se diz “firmamento” em vez de “céu” ou “rubro” em vez de “vermelho”. Mas às vezes parece-me que só “negro” dá a imponência que desejo sublinhar em certas figuras (acho que outro dia, aqui mesmo, falei do rosto negro de Milton Nascimento).

Há algo em Ponta Negra que exige isso. Resulta que o nome se parece muito com o lugar, embora o que o marca seja a língua cor de marfim que sobe para o céu entre duas margens de vegetação. Por alguma razão misteriosa, eu, em minha ignorância, acho que o nome Ponta Negra foi dado a essa língua de areia, não à ponta de terra que a comporta. Estive duas vezes este ano em Natal. Em ambas fiz o show “Abraçaço”. Mas agora, além do show (que foi em praça pública, para uma multidão de sumir de vista e que me comoveu ao cantar refrãos e trechos das canções do novo disco — e de seguir com respeitosa atenção a longa e lenta “Um comunista”, inclusive aplaudindo-lhe alguns versos), fiz uma palestra em parceria com o poeta Eucanaã Ferraz, sobre poesia e letra de música. Foi bonito ouvir Eucanaã falar para aquela plateia interessada, sob uma tenda armada para a Semana Nacional do Livro da UFRN. O que fez com que eu me sentisse bem quando foi a vez de eu próprio falar. Mas o melhor de tudo foi ouvir Eucanaã ler a letra de “Itapuã”, numa interpretação que me fez acreditar que aquilo era poesia.

De Natal fui para a Bahia para participar da aula inaugural da primeira escola em Santo Amaro da Universidade do Recôncavo. Minha cidade é muito negra. Digo isso e percebo quando é que uso “negro” naturalmente. Há muitas pessoas pretas, quase-pretas e mulatas. Numa mesa de calçada de um bar de esquina, conversei com meus irmãos Rodrigo e Mabel (somos mulatos). Um cara que conheci lá me contou que o povo de Santo Amaro diz que a escola que coube a nossa cidade é uma escola de mata-cachorro. Como os cursos ali tratarão de produção musical e engenharia de espetáculos, o nome que lá sempre se deu aos contrarregras de circo (mata-cachorros) foi usado para mofar daquilo que nos foi destinado.

Mas minha profecia é que dali nascerá uma força cultural que superará o crime do chumbo (como é que o Chico Oliveira diz que a luta ecológica não é enfrentamento do capitalismo?), a favelização e a tristeza. Os mensaleiros serão presos e as biografias serão soltas? Vou para Bogotá.

DILEMAS BRASILEIROS - Nelson Motta

Muitos professores são contra premiações por desempenho, 
mas assim nivelam os piores, os mais ausentes e incompetentes 
aos melhores e  mais dedicados

Para o bem e para o mal, as sociedades que mais crescem, enriquecem e progridem são as mais competitivas, onde impera a meritocracia e são oferecidas condições para que mais gente concorra para a excelência profissional nas ciências, nas artes e na tecnologia, na busca de inovações, de novos produtos e serviços. Assim como a vida real, a competição social é dura, implacável e muitas vezes injusta, muitos caem pelo caminho, muitos espertos e desonestos se dão bem, mas toda a sociedade se beneficia com o progresso. Exemplos são desnecessários.

Há também quem veja a recompensa aos méritos individuais como simples darwinismo social, corrida de ratos engendrada pelo capitalismo, conspiração contra a dignidade, a unidade e os interesses dos trabalhadores e suas corporações. Um exemplo: muitos professores são contra premiações por desempenho, mas assim nivelam os piores, os mais ausentes e incompetentes aos melhores, mais dedicados e eficientes, em nome da solidariedade corporativa, em prejuízo dos alunos e da competitividade internacional do país.

Tão difícil quanto harmonizar os direitos à informação e à privacidade é equilibrar a competitividade e a solidariedade. Não é preciso ser nenhum professor DaMatta para ver que um de nossos maiores problemas é que os brasileiros — individualistas, malandros e sentimentais, habituados a misturar o publico ao privado e à cultura do compadrio e da boca livre — têm enorme dificuldade em escolher entre uma e outra, querem os benefícios das duas, mas sem pagar o preço.

Enquanto o Brasil for uma sociedade de mercado, nosso grande conflito estará na distribuição equitativa dos benefícios da sociedade competitiva. Enfraquecer os fortes não beneficia os fracos, prejudica a todos. Mas não fortalecer os fracos enfraquece toda a sociedade moralmente e atrasa o seu progresso material.

O Brasil de Dilma vive um estranho dilema em que os defensores da competitividade, que faz crescer toda a sociedade, são os liberais e conservadores, e os que privilegiam a solidariedade corporativa, que atrasa a vida do país, e dos seus cidadãos, os progressistas.

FELICIDADE NO AMOR - Manuel Bandeira


Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

DOIS CORPOS - Octavio Paz


Dois corpos frente a frente
são às vezes duas ondas
e a noite um oceano

Dois corpos frente a frente
são às vezes duas pedras
e a noite um deserto

Dois corpos frente a frente
são às vezes raízes
na noite enlaçadas

Dois corpos frente a frente
são às vezes navalhas
e a noite um relâmpago

Dois corpos frente a frente
são dois astros que caem
num céu vazio

(Tradução de Luís COSTA)

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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