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O QUE É SER “BOM DE CAMA”? – Flávio Gikovate

Muita gente acha que a questão da sexualidade está equacionada e “resolvida”. Tanto isso é verdade que os livros sobre o assunto escassearam e os sexólogos praticamente desapareceram. Não compartilho desse ponto de vista. Acho que temos vivido uma época fortemente influenciada pela indústria pornográfica; isso nos leva a pensar o sexo de uma forma curiosa, como algo parecido com os exercícios físicos mais exigentes e rigorosos. 

A influência desses filmes que estão, aos milhares, disponíveis pela internet, tem sido tal que voltaram algumas das antigas preocupações e preconceitos: agora, de novo, os homens têm se preocupado com as dimensões de seus pênis; o orgasmo vaginal parece ter voltado a ser fundamental para que uma mulher se satisfaça de verdade e seja realmente “boa de cama”. Suponho que esses ingredientes sejam muito interessantes do ponto de vista das filmagens; porém, na vida real não têm maior serventia.

Tanto nos filmes eróticos, como na publicidade e no conteúdo das obras de ficção, tudo leva o observador a crer que o relacionamento erótico entre duas pessoas não passa de um jogo de sedução e poder, em que, tomando como exemplo o ambiente heterossexual, uma mulher poderosa tenta submeter o homem, encantado por sua beleza e desenvoltura; isso enquanto o homem, graças às suas aptidões físicas, tenta despertar nela o prazer que, nessa linguagem corpórea peculiar, teria o significado de uma rendição. Não espanta que tantas não alcancem o orgasmo num relacionamento íntimo apesar de todos os esforços de seus parceiros; essas mesmas mulheres, ao se masturbarem, alcançam o clímax com grande facilidade; ou seja, não se trata de um problema sexual e sim de um empenho em não se deixar subjugar.

Num contexto como esse, agrava-se a já natural associação entre o sexo e a agressividade, afastando bastante o relacionamento íntimo de qualquer tipo de convívio sentimental. Não estou me referindo a elos matrimoniais; penso que o encontro erótico entre pessoas que mal se conhecem só pode se tornar uma espécie de demonstração de competência de ambas as partes e onde vale tudo, inclusive fingir o prazer – condição cada vez mais frequente, talvez também influenciada pela indústria pornográfica. Os homens se empenham em “dar” prazer à mulher com o intuito de deixá-la dominada e também para seu deleite pessoal: ele se orgulha de ser competente o suficiente para estimulá-la do jeito certo para que ela chegue lá; isso basicamente como manifestação de vaidade pessoal e não como anseio genuíno de agradar o parceiro. Um indivíduo que haja assim pode muito bem ser considerado “bom de cama”. Da mesma forma, a mulher que aceita variações mais “picantes” durante o ato e que emite os ruídos considerados eróticos acaba sendo considerada como “boa de cama” mesmo se tudo isso contiver uma boa dose de falsidade.

Penso que é muito importante retomarmos as reflexões acerca da nossa sexualidade, pois ela vem tomando um rumo nada interessante. É possível tratar o tema de uma forma radicalmente oposta à que vem sendo conduzida: ao invés do sexo vinculado ao controle – controle sobre as próprias sensações e controle sobre o parceiro –, considerar que a verdadeira liberdade sexual consiste em ser capaz de se “descontrolar”. Uma mulher pode se colocar sexualmente de forma insinuante, ousada e disposta a impressionar o parceiro; ou então, apenas se despojar de todas as armas e armaduras, soltar-se e se deixar embalar pelas sensações agradáveis que derivam das trocas de carícias próprias da estimulação das zonas erógenas. A mulher não se entrega ao homem e sim ao prazer durante as trocas de carícias com um parceiro confiável, sendo essa condição bastante mais comum do que a capacidade de se soltar diante de parceiros que tenham acabado de conhecer. Essa talvez seja a mulher verdadeiramente “boa de cama”!

Um homem que esteja realmente despreocupado com seu desempenho e com todos os aspectos quantitativos relacionados à sua sexualidade pode se entregar ao prazer das trocas de carícias sem pretender subjugar, dominar, controlar; buscará apenas o seu prazer e o deleite derivado do prazer da parceira. Não é necessário ser agressivo, ter “pegada” para ser “bom de cama”; basta estar ali de corpo e alma.

Nos casais acostumados a entender o sexo como jogo de sedução e de dominação, o erotismo tende a decrescer muito depois de consolidado o vínculo; sim, porque não há mais necessidade de seduzir! Se tiverem desenvolvido o gosto por mergulhar no sexo como fonte efetiva de prazer, não terão problemas em manter o nível de interesse em suas práticas ao longo das décadas. Será importante reforço da intimidade e cumplicidade indispensável para a longa vida dos casais, além, é claro, de ser adorável fonte de descontração e relaxamento.
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EM QUE CONSISTE A INTIMIDADE? – Flávio Gikovate

A intimidade consiste em uma adorável sensação de proximidade e cumplicidade com uma pessoa especial: um amigo sincero, um parente, um parceiro sentimental. Ela só se constrói em determinadas condições especiais, sendo que a mais importante delas tem a ver com o modo como se constituiu nosso modo de pensar.

Cada um de nós desenvolveu um jeito de correlacionar as palavras e os pensamentos que é mais original do que pensamos. Apesar de todos falarmos a mesma língua, nem sempre o que dizemos corresponde exatamente ao que o outro ouve; e, o que é o principal, muitas vezes não está em sintonia com aquilo que estava em nossa mente. Ou seja, como cada cérebro é único, não é raro que aquilo que estou escrevendo aqui agora – e que é o fruto de um esforço de transformar em palavras o que se passa em minha mente – não corresponda ao que você, leitor, estará entendendo. Isso não se deve apenas à uma eventual dificuldade minha de me comunicar e sim a diferenças relevantes entre os nossos modos de pensar.

Em contrapartida, há vezes em que o que falamos ou escrevemos parece corresponder exatamente ao que nosso interlocutor entendeu. A sensação é extremamente agradável, uma vez que nos sentimos devidamente entendidos e isso define uma importante afinidade no sistema de pensar, condição indispensável para que se constitua um relacionamento íntimo. Quando ocorre essa comunicação bem sucedida nossa sensação é de aconchego, de não estarmos tão sozinhos nesse mundo.

Ao longo do convívio com alguém cujo modo de pensar é suficiente parecido com o nosso, é claro que podem surgir divergências de pontos de vista e mesmo de atitudes diante das várias condições objetivas da vida de cada um dos que são íntimos.

É indispensável que esse canal fluente e fácil de comunicação não se feche, o que exige certos cuidados muito relevantes. O primeiro deles diz respeito ao modo como colocamos nossas diferenças: o melhor caminho consiste no uso da primeira pessoa do singular e não a terceira pessoa, uma vez ela que pode facilmente provocar a sensação de cobrança, crítica ou acusação.

Se algo me desagrada no outro, posso dizer a ele que “eu fico triste quando acontece isso ou aquilo entre nós” em vez de “não acho que você deveria fazer isso ou aquilo”; ou pior ainda: “não aceito – não admito – que você faça isso ou aquilo”.

Ninguém tem o direito de exigir nada de ninguém, muito menos dos mais íntimos. Temos o direito e mesmo o dever de informá-los sobre os desdobramentos de seus atos: “quando você age dessa ou daquela maneira, isso provoca em mim tantas e tais sensações e emoções”. Se o outro quiser nos agradar certamente tenderá a evitar as condutas que nos entristecem. Se não for esse o caso, cabe a nós decidir se aceitamos ou não o convívio com essa pessoa.

Outro ingrediente que considero fundamental para a continuidade dos relacionamentos baseados em respeito e intimidade é a ausência de críticas.

Quando uma pessoa relevante nos censura, nossa sensação é muito desagradável; e é especialmente ruim se esperávamos algum tipo de compreensão ou alívio de um desconforto que nós mesmos estejamos sentindo por termos cometido algum erro.

Quando esperamos colo e recebemos uma reprimenda, tendemos a nos calar; e não só naquela dada situação específica, mas também em qualquer outra que venha a ser passível de algum tipo de reprimenda.

Um exemplo: se eu contar para o meu parceiro sentimental algo no qual eu tenha falhado – ou algum sonho ou pensamento não muito abonador – eu não gostaria de ouvir algo do tipo “nossa, nunca pensei que você fosse fazer essa bobagem ou ter tal tipo de pensamento”. É claro que da próxima vez que eu fizer algo que possa ser censurável ou pensar algo não tão agradável não mais contarei o que se passou comigo.

Assim, o que mais comumente interrompe a comunicação e impede a intimidade são atitudes críticas e reprovadoras vindas de parceiros cuja aceitação nos é tão importante.

Se ao invés de críticas ouvirmos algo do tipo “você sabe que em uma dada ocasião fiz algo parecido e sei muito bem como é chato errar e imagino como você deva estar se sentindo; mas não se aflija, pois isso logo passa”, é claro que a intimidade cresce e se fortalece.

Em síntese, as boas relações de companheirismo acontecem entre aqueles que possuem modos de ser e de pensar assemelhados, que sejam muito cautelosos ao colocar suas divergências – sempre dando prioridade para a descrição da repercussão das ações do outro sobre si mesmo – e, mais que tudo, entre pessoas que não se arvorem em juízes e que sejam acima de tudo cúmplices.

PARA MELHOR CONHECER AS PESSOAS – Flávio Gikovate

A primeira condição para conseguirmos conhecer melhor as pessoas diz respeito a tratarmos de evitar o erro usual de buscarmos avaliá-las tomando por base a nós mesmos. Ou seja, um erro grave é o de pensar assim: “eu no lugar dela faria isso ou aquilo”; a verdade é que eu não sou ela e a forma de ser e de pensar não acompanha obrigatoriamente a nossa. Temos de nos afastar da nossa maneira de pensar e tentar, com objetividade, entender como funciona o psiquismo de quem queremos conhecer.

Um aspecto importante para quem quer efetivamente conhecer o outro consiste em prestar bastante atenção em seus atos, gestos, expressões corporais e faciais. Podemos saber muito de uma pessoa pela forma como se move dentro de casa, como pega o jornal, se ela serve ou não as pessoas que estão à sua volta, pelo sorriso, pela facilidade com que se irrita, como reage quando está com raiva e assim por diante. Esses traços são particularmente relevantes quando o observado está distraído, sem intenção de impressionar os interlocutores. A objetividade na avaliação é essencial e depende de critérios de valor claros na mente do observador.

É claro que se pode conhecer muito das pessoas por seus sentimentos: sua capacidade de amar e se dedicar, a forma como lidam com o ciúme, como se comportam quando sentem inveja, se têm controle sobre suas emoções ou não.

Um aspecto que me chamou a atenção mais recentemente e que considero extremamente relevante é que as pessoas mais egoístas – as que recebem mais do que dão e que, por isso mesmo, são mais dependentes – são mais realistas e objetivas para analisar o modo de ser das pessoas com as quais convivem. Elas buscam se aproximar de pessoas mais generosas, competentes para lhes dar o que necessitam. Elas sabem perfeitamente que os mais generosos são ricos em sentimentos de culpa, esta que, uma vez estimulada, faz com que não resistam e digam “sim” mesmo quando gostariam de dizer “não”.

É curioso, pois os mais egoístas não são muito empáticos, ou seja, não são competentes para se colocar no lugar das outras pessoas; porém, são objetivos e realistas na avaliação dos que os cercam. Isso nos leva a concluir que a atitude empática, a de se colocar no lugar do outro, pode nos induzir a erros de avaliação bem maiores do que aqueles que derivam da observação direta e objetiva.

Os mais generosos, aqueles que, por vaidade ou incapacidade de lidar com excesso de sentimentos de culpa, dão mais do que recebem, são os que mais erram na avaliação que fazem a respeito de seus interlocutores. A forma como exercem a empatia, a de imaginar o outro à sua imagem e semelhança, ofusca a objetividade que deveriam ter para perceber que os seres humanos não são tão parecidos conosco quanto gostaríamos. A verdadeira empatia deveria se assemelhar à dos “hackers”, aqueles que tentam entrar na mente do outro com isenção, buscando entender como é que ela funciona.

Perceberiam, por exemplo, que os mais egoístas não sentem culpa e não têm pudor em dramatizar situações com o intuito de provocar esse sentimento nos mais generosos. Perceberiam que a ausência de culpa gera uma diferença enorme entre as pessoas, de modo que os mais egoístas mentem com facilidade, inventam sofrimentos duvidosos apenas com o intuito de, pela via da chantagem sentimental, induzir os mais generosos a agir de acordo com sua vontade e satisfazer seus anseios e necessidades.

A conclusão a que devemos chegar é que o realismo e a objetividade são bons mecanismos de exploração do meio externo e que a avaliação das pessoas também deve ser regida pela observação dos fatos e não por ideias.

Os mais generosos tendem a ser idealistas nos dois sentidos da palavra: se baseiam mais em suas suposições do que nos fatos; e também tendem a ver beleza e virtude onde não existe: acreditam que, no fundo, todas as pessoas são boas e que têm coração de ouro.

A proposta de Freud, de que todos temos um Super Eu, uma censura moral interna, deriva de generalizações que ele fez tomando por base a si mesmo e algumas outras pessoas. Convém ser realista e objetivo: uma boa metade da humanidade não sente culpa. Assim, quem quiser aprender a conhecer melhor as pessoas deve se ater aos fatos mais que às ideias. 

O realismo só gera certo pessimismo numa primeira fase e para aqueles acostumados com o mundo das ideias onde tudo é belo e, principalmente, existe de acordo com seus gostos e vontades.
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O QUE É SERENIDADE? – Flávio Gikovate

O termo serenidade costuma estar associado a mais de um significado, sendo que o primeiro deles tem a ver com a capacidade de algumas pessoas de lidar com docilidade e tolerância com as situações mais adversas, especialmente aquelas que não dependem de nós. 

Muitas vezes nos angustiamos e perdemos a serenidade quando nos sentimos pressionados por expectativas que nós mesmos produzimos em relação aos nossos projetos; é preciso cautela para que nossos planos de futuro, nossos sonhos e esperanças não se transformem em pesadelos e fontes de tensão e de decepções. Os que fazem planos mais realistas sofrem menos e se aproximam mais da serenidade.

A serenidade corresponde a um estado de espírito no qual nos encontramos razoavelmente em paz, conciliados com o que somos e temos, com nossa condição de humanos falíveis e mortais. É claro que tudo isso depende de termos atingido uma razoável evolução emocional e mesmo moral: não convém nos compararmos com o que são ou tem as outras pessoas, não é bom nos revoltarmos com o fato de não sermos exatamente como gostaríamos; conciliados com nossas limitações, podemos usufruir da melhor maneira possível as potencialidades que temos.

Um aspecto que considero muito importante para a questão da serenidade é a competência dos indivíduos para lidar com o tempo. Um exemplo disso é a inquietação que toma conta de muitos quando, presos no trânsito, não conseguem chegar a um encontro na hora marcada. Apesar do atraso não ser da responsabilidade deles, sofrem e se sentem por vezes até mesmo culpados pelo que está acontecendo. Chegam ao local esbaforidos e demoram um bom tempo para se recuperarem de um problema que, como regra, não tem a menor importância concreta.

Outra peculiaridade dessa dificuldade de lidar com o tempo própria da maioria das pessoas tem a ver com a condição de quem espera um acontecimento, o resultado de uma prova que irá indicar sua aprovação – ou não – em um concurso, a expectativa nervosa diante do resultado de um exame médico que irá dizer da sua condição de saúde. Saber esperar é uma das virtudes mais raras que tenho conhecido e certamente contribui enormemente para que uma pessoa desenvolva esse estado de calmaria correspondente à serenidade. Sim, porque é fato que, de certa forma, estamos continuamente esperando eventos que irão influenciar nossas ações futuras.

O momento presente é sempre uma ficção: vivemos entre as lembranças do passado e a esperança de acontecimentos futuros que buscamos, mais ou menos ativamente, alcançar. A regra é que estejamos indo atrás de alguns objetivos, perseguindo-os com mais ou menos determinação e persistência. A maior parte das pessoas se sente muito triste quando está sem projetos, apenas usufruindo dos prazeres momentâneos que suas vidas oferecem. Somos pouco competentes para vivenciar o ócio. Esse estado de não querer nada, não estar buscando nada e que os filósofos antigos consideravam como muito criativo é algo gerador de um estado de alma que chamamos de tédio e que não deixa de ser uma forma peculiar de depressão. No tédio nos perguntamos acerca do sentido da vida e, como não temos meios de responder a essa pergunta, nos deprimimos.

De uma certa forma, fazemos tudo o que fazemos com o objetivo de fugir do ócio e do tédio que o acompanha. Mesmo nos períodos de férias percebidas como merecidas – por termos sido capazes de produzir bastante – temos que nos ocupar: abandonamos nossos afazeres habituais e nos entretemos com a visita a lugares que não conhecemos, com a prática de esportes exigentes, com a leitura… Aqueles que não são capazes de se deleitar com essas outras ocupações, tendem a fazer uso excessivo do álcool ou de outras drogas. A verdade é que poucos são os que conseguem ficar em paz em prolongada inatividade.

Por outro lado, perseguir objetivos com obstinação e aflição de alcançá-los o quanto antes também subtrai a serenidade. Assim, perdemos a serenidade quando andamos muito devagar, perto da condição do ócio – que traz o tédio e a depressão – e também quando nos tornamos angustiados pela pressa de atingirmos logo nossas metas. Mais uma vez, a sabedoria, a virtude está no meio, naquilo que Aristóteles chamava de temperança: cada um parece ter uma “velocidade ideal”, de modo que se andar muito abaixo dela tenderá a se deprimir, ao passo que se andar muito acima dela tenderá a ficar muito ansioso. Interessa pouco comparar nossa velocidade com a dos outros, posto que só estaremos bem quando estivermos em nosso ritmo, qualquer que seja ele. 

Conhecer a si mesmo implica, entre outras coisas, conhecer a velocidade na qual nos sentimos confortáveis e conseguimos andar com competência e serenidade.

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OS DESENGANADOS E OS ENGANADOS – Flávio Gikovate

Não sei se ainda hoje se fala assim, mas até há alguns anos se dizia, a respeito de alguém que estivesse gravemente enfermo, que ele estava desenganado. Ou seja, que estava à beira da morte. Quanto mais penso mais acho curioso o fato de usarmos a palavra “desenganado” quando nos referimos a uma pessoa que vai morrer, já que isso vai acontecer a todos nós.

Desenganado é aquele que já sabe que vai morrer, ao passo que aqueles que gozam de boa saúde, que ainda não sabem que vão morrer, são os “enganados”.

Nos relacionamos de uma forma extremamente complexa com o fato de sermos mortais. A tendência que predomina em nós é a de negá-la, o que define o mecanismo pelo qual nos tornamos “enganados”, aqueles que fingem não saber que vão morrer.

Poucas são as pessoas que, em plena saúde, pensam na morte como uma possibilidade permanente. Poucos levam em conta a morte como parte dos seus projetos de vida: a morte determina um sentimento de urgência, de que não podemos adiar indefinidamente nossas decisões, de que temos que fazer opções e aceitar perdas.

Aliás, uma das dificuldades de lidar com as perdas é que todas elas têm algo da morte, da inaceitável e inexorável finitude. Ao pararmos de fumar dizemos: “nunca mais poderei fumar um cigarro”! Nunca mais é quase sinônimo de morte; é vivenciar a morte em vida. Rupturas amorosas provocam sentimentos equivalentes.

Mesmo aqueles que se empenham em não fazer parte dos “enganados” têm que viver como se fossem eternos. Em termos, é claro. Não cabe, aos 80 anos de idade, continuar a trabalhar e a poupar para o “futuro” da mesma forma que se faz aos 30 anos. Não é o caso, porém, de se abandonar todos os projetos e planos para o futuro, já que não é impossível que se possa viver ainda uns 10 ou 15 anos com boa atividade e lucidez.

Penso que o ideal é se posicionar mais ou menos da seguinte forma: sabemos que somos mortais e que poderemos morrer a qualquer instante. Porém, temos que atuar como se fôssemos viver para sempre. Trata-se de ter, ao mesmo tempo, consciência da finitude e humildade de saber que não se é dono do próprio destino.
Não creio que se deva pensar de modo diferente no caso de sermos portadores de alguma doença mais ou menos grave. Mesmo respeitando os médicos e a medicina, não são eles – e nem os exames que eles nos mandam fazer – os que vão decidir sobre se estamos em vias de morrer ou não.

Vivemos a vida com a sombra da morte ao nosso lado. Mesmo que uma tomografia ou outro exame detecte de modo vigoroso a presença da sombra da morte, isso não deveria nos surpreender tanto e nem mesmo considerarmos que já fomos julgados e que o veredito da morte é fato consumado, que a vida já foi derrotada.

Penso que cada situação existencial contém os ingredientes da vida e da morte e os exames são como uma fotografia, o registro de um estado momentâneo que sempre poderá ser alterado. Nós que não estamos enganados não poderemos ser desenganados.

Nós que não estamos enganados podemos estar com saúde ou doentes. Em ambos os casos, sabemos que se trata de uma fotografia instantânea e não de um filme permanente e definitivo. Talvez devamos compreender que a vida é mesmo uma luta permanente – agonia é sinônimo de luta, como aprendi lendo Miguel de Unamuno, escritor e ensaísta espanhol do século passado.

Lutamos contra inúmeros obstáculos e adversidades externas. Lutamos contra inimigos reais, animados e inanimados. Lutamos contra adversidades climáticas e tentamos sobreviver a guerras e a invasões de microrganismos. Lutamos para permanecer serenos diante de situações alarmantes e ameaçadoras, para manter a alegria mesmo em situações mais tristes, para sermos ponderados mesmo quando somos provocados etc. Nenhuma dessas eventuais vitórias é definitiva, de modo que em futuras situações teremos que voltar à luta com igual vigor e persistência. A luta é diária e ininterrupta.

Nenhuma luta contra adversidades externas é tão difícil e dolorosa quanto a que travamos internamente entre nossas tendências construtivas e destrutivas, entre a vida e a morte. A briga é permanente e independe de estarmos ou não com boa saúde. Não creio que seja igualmente relevante o fato de estarmos doentes – tanto as doenças banais como as de maior gravidade e perigo. Estamos sempre diante de um estado momentâneo, de uma fotografia. A luta é contínua.

Tanto faz se estamos sadios ou doentes, temos que lutar pela vida e contra a morte a cada dia, a cada instante. Temos que lutar com todas as nossas forças para prolongar a vida e fazer dela uma condição construtiva e produtiva tanto para nós como para os que nos cercam. Temos que lutar sabendo que, no fim, seremos derrotados; a morte, e só ela, dará fim à nossa agonia. Quando a batalha final chegar, os que souberam lutar com dignidade também saberão aceitar a derrota com docilidade.
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O LADO OBSCURO DA PALAVRA - Flávio Gikovate

Uma das mais fascinantes aquisições da nossa espécie foi a linguagem. Mesmo dispondo de um cérebro competente e da laringe, foram necessários vários milênios para que pudéssemos construir um conjunto de sons correspondentes a objetos, seus atributos e ações.

Depois, os sons tiveram de ser transformados em algum tipo de sinal, de desempenho – precursor das palavras e, finalmente, das letras que as compõem. O que cada criança demora poucos anos para aprender nos custou muito tempo e suor para construir.

Estabelecida a linguagem, passamos a experimentar um período de grande e rápida evolução, que correspondeu aos últimos 5 mil anos de nossa história.

A transferência de informações de uma geração para outra ficou muito mais fácil devido à existência da palavra, de modo que temos acumulado conhecimento a uma velocidade cada vez maior.

Como consequência, surgiram novos conceitos e ideias, e tudo isso acabou promovendo o progresso tecnológico de que tanto nos orgulhamos.

Nossa memória foi suficiente para armazenar todo o conjunto de dados necessários para a evolução em cada setor das atividades humanas.

Essa característica de nosso cérebro pode ser estimulada graças ao desenvolvimento da linguagem, pois é por meio das palavras que os fatos e os conceitos se fixam no sistema nervoso.

A comunicação entre as pessoas também experimentou grande avanço. A narrativa literária ficou cada vez mais sofisticada.

Usando a linguagem, sabemos expressar os mais diversos estados da alma. Podemos fazer perguntas sobre as sensações do outro. Podemos conhecer suas alegrias e a razão de suas amarguras, de forma fácil e direta.

Infelizmente, parece que tudo é uma faca de dois gumes. Até agora, falamos das impressionantes vantagens que obtivemos com a aquisição da linguagem. Mas existe também o lado negativo desse processo que nos permitiu um uso mais adequado da inteligência.

Por exemplo, uma pessoa, ao perceber que será punida se outras descobrirem determinado comportamento seu, poderá tentar esconder o fato por meio das palavras.

A mentira não deixa de ser uma utilização sofisticada da inteligência, mas também é um subproduto dela por seu caráter imediatista. Pode ajudar momentaneamente. A médio e a longo prazo, leva o mentiroso a se perder, afastando-o da realidade. Sim, porque ele passa a utilizar a razão de forma menos rigorosa e precisa.

A mentira é “coisa dos espertos”, dos que querem tirar vantagem sempre. Nunca aproximará alguém da verdadeira sabedoria e serenidade. A longo prazo, não há trambique no jogo da vida.

A linguagem se estabeleceu e com ela achamos os meios para uma comunicação interpessoal extraordinariamente fácil e direta. Por outro lado, os seres humanos aprenderam a usar a linguagem para afastar o interlocutor da verdade.

Por meio da mentira, as palavras ganharam peculiaridades muito negativas. Passaram a ser utilizadas para que uma pessoa consiga se impor indevidamente sobre outra.

A comunicação foi dando lugar ao jogo de poder, à dominação, ao desejo de enganar com o intuito de obter vantagens. Em vez de perseguir a verdade, a maioria costuma perseguir a vitória.

Como distinguir a verdade da mentira? Nem sempre é simples. Nem sempre é possível fazer essa separação. Muitas vezes, teremos de lançar mão da nossa sensibilidade para captar, nos gestos e nas atitudes do outro, suas intenções.

Mesmo assim, vale a seguinte regra geral: sempre que as palavras não estiverem de acordo com os fatos, prevalecem os fatos.

Se um homem diz a uma mulher que a ama muito e a maltrata o tempo todo, consideramos o tratamento e não a palavra.


Falar é fácil e, depois da invenção da mentira, só tem valor quando a palavra vem acompanhada de atitudes que confirmem o que está sendo dito.

AS BRIGAS “NORMAIS” DOS CASAIS – Flávio Gikovate

Sempre me surpreendo quando ouço casais falando que só têm aquelas brigas “normais”. Elas costumam ser ricas em gritos, ofensas leves ou moderadas; isso quando não envolvem algum empurrão ou agressões maiores. As razões são as mais variadas, quase sempre relacionadas com ciúmes, dinheiro ou diferenças de opinião acerca de algum tema pouco relevante. Enfim, os casais brigam por assuntos que talvez devessem ser conversados, negociados, discutidos em tom respeitoso e cada um tentando sinceramente saber o que o outro pensa sobre aquele problema.

Qual a razão para tanta dificuldade em conversar com delicadeza e elegância justamente com aquela pessoa que, ao menos como regra, se ama? Porque as diferenças de opinião ofendem tanto? A primeira sensação que se tem é a de que, ao não concordar com algum ponto de vista, a pessoa parece estar traindo seu parceiro: “quem não está comigo está contra mim”. Não deixa de ser um tanto absurda essa proposição, especialmente nos tempos atuais em que, definitivamente, homens e mulheres têm o mesmo nível de instrução e ambos pensam por conta própria.

Conviver com alguém que tenha pontos de vista divergentes pode ser extremamente rico e útil se os casais pararem de tomar como ofensa pessoal aquilo que é a expressão mais sincera da individualidade: nossas ideias!

Num casal existe “eu”, “você” e “nós”; acho bom que seja assim. A postura deles na hora das discussões não costuma ser a de buscarem um denominador comum; o que buscam é mudar o ponto de vista e o modo de pensar do outro. Não se trata de um genuíno desejo de trocar pontos de vista e sim da postura autoritária de fazer prevalecer seu ponto de vista. Como isso costuma encontrar certa resistência por parte do parceiro, surgem as discussões acaloradas, quase sempre associadas aos berros e tudo o mais. Não existem diálogos e sim duelos!

O usual é que, nos casais, um dos dois seja o que se exalta mais rapidamente. É o mais imaturo, o que tolera pior frustrações e contrariedades de todo o tipo; e é assim que esse tipo de pessoa decodifica a diferença de opinião; quer comandar, ter a palavra final. Muitas vezes o mais tolerante se comporta como quem aceita aquela decisão final, aparentemente concordando com o “estourado”; isso com a finalidade de não estender a discussão.

 Vai acumulando mágoas, o que não é bom. Podem se transformar em malcriações desnecessárias em algum momento futuro ou mesmo na perda do interesse pelo parceiro. Qualquer pessoa de bom senso e que está vivendo a dois deveria pensar não só no seu bem-estar e felicidade mas cuidar para que seu par também esteja se sentindo assim.

Por vezes a impressão que tenho é a de que as brigas por motivos fúteis acontecem justamente quando o casal está vivendo bem e em concórdia por um certo número de dias. É como se não tolerassem mais do que uma certa cota de harmonia e felicidade; de um ponto para adiante parece necessário jogarem um balde de água fria naquele ambiente quente e harmonioso. A excessiva e prolongada felicidade sentimental aparece como muito ameaçadora, como se ela fosse atrair alguma coisa muito ruim. É o medo da felicidade.

E o medo da felicidade não é nada mais do que o medo de se perder aquela felicidade porque sentimos que o risco de acontecimentos negativos aumenta quando estamos bem. Isso não é verdade, mas aqueles que não suportam o medo acabam por criar pequenos conflitos capazes de perturbar a serenidade – e com isso evitar o suposto mal maior.

Aprender a lidar com diferenças de opinião exige bom senso e perseverança. As pessoas deveriam, como regra, usar a primeira pessoa do singular: “eu fico triste quando isso ou aquilo acontece”; “eu gostaria que certas coisas fossem desse ou daquele jeito”. Sempre “eu” e nunca “quero que você…”.

Ninguém é obrigado a fazer coisa alguma. O parceiro tem que saber o que nos agrada e o que nos aborrece e magoa. Caberá a ele se preocupar ou não com o nosso bem-estar. Se ele não ligar para nos magoar, cabe a nós decidir o que fazer: tolerar ou se afastar. Além disso, é preciso que os que se amam aprendam a ouvir os argumentos do outro sem ficar apenas se preparando para encontrar as respostas em contrário. 

Ouvir tratando de ver se ele tem razão; e mudar de ponto de vista sempre que ouvir algo mais adequado. Isso cria um contexto evolutivo, condição fundamental para a longevidade e uma vida rica em comum.

Quanto ao medo da felicidade e a tendência que temos de amplificar problemas para destruir parte do que construímos, só nos cabe ficar atentos e saber que, definitivamente, felicidade não mata.

O LADO OBSCURO DA PALAVRA - Flávio Gikovate

Uma das mais fascinantes aquisições da nossa espécie foi a linguagem. Mesmo dispondo de um cérebro competente e da laringe, foram necessários vários milênios para que pudéssemos construir um conjunto de sons correspondentes a objetos, seus atributos e ações.

Depois, os sons tiveram de ser transformados em algum tipo de sinal, de desempenho – precursor das palavras e, finalmente, das letras que as compõem. O que cada criança demora poucos anos para aprender nos custou muito tempo e suor para construir.

Estabelecida a linguagem, passamos a experimentar um período de grande e rápida evolução, que correspondeu aos últimos 5 mil anos de nossa história.

A transferência de informações de uma geração para outra ficou muito mais fácil devido à existência da palavra, de modo que temos acumulado conhecimento a uma velocidade cada vez maior.

Como consequência, surgiram novos conceitos e ideias, e tudo isso acabou promovendo o progresso tecnológico de que tanto nos orgulhamos.

Nossa memória foi suficiente para armazenar todo o conjunto de dados necessários para a evolução em cada setor das atividades humanas.

Essa característica de nosso cérebro pode ser estimulada graças ao desenvolvimento da linguagem, pois é por meio das palavras que os fatos e os conceitos se fixam no sistema nervoso.

A comunicação entre as pessoas também experimentou grande avanço. A narrativa literária ficou cada vez mais sofisticada.

Usando a linguagem, sabemos expressar os mais diversos estados da alma. Podemos fazer perguntas sobre as sensações do outro. Podemos conhecer suas alegrias e a razão de suas amarguras, de forma fácil e direta.

Infelizmente, parece que tudo é uma faca de dois gumes. Até agora, falamos das impressionantes vantagens que obtivemos com a aquisição da linguagem. Mas existe também o lado negativo desse processo que nos permitiu um uso mais adequado da inteligência.

Por exemplo, uma pessoa, ao perceber que será punida se outras descobrirem determinado comportamento seu, poderá tentar esconder o fato por meio das palavras.

A mentira não deixa de ser uma utilização sofisticada da inteligência, mas também é um subproduto dela por seu caráter imediatista. Pode ajudar momentaneamente. A médio e a longo prazo, leva o mentiroso a se perder, afastando-o da realidade. Sim, porque ele passa a utilizar a razão de forma menos rigorosa e precisa.

A mentira é “coisa dos espertos”, dos que querem tirar vantagem sempre. Nunca aproximará alguém da verdadeira sabedoria e serenidade. A longo prazo, não há trambique no jogo da vida.

A linguagem se estabeleceu e com ela achamos os meios para uma comunicação interpessoal extraordinariamente fácil e direta. Por outro lado, os seres humanos aprenderam a usar a linguagem para afastar o interlocutor da verdade.

Por meio da mentira, as palavras ganharam peculiaridades muito negativas. Passaram a ser utilizadas para que uma pessoa consiga se impor indevidamente sobre outra.

A comunicação foi dando lugar ao jogo de poder, à dominação, ao desejo de enganar com o intuito de obter vantagens. Em vez de perseguir a verdade, a maioria costuma perseguir a vitória.

Como distinguir a verdade da mentira? Nem sempre é simples. Nem sempre é possível fazer essa separação. Muitas vezes, teremos de lançar mão da nossa sensibilidade para captar, nos gestos e nas atitudes do outro, suas intenções.

Mesmo assim, vale a seguinte regra geral: sempre que as palavras não estiverem de acordo com os fatos, prevalecem os fatos.

Se um homem diz a uma mulher que a ama muito e a maltrata o tempo todo, consideramos o tratamento e não a palavra.

Falar é fácil e, depois da invenção da mentira, só tem valor quando a palavra vem acompanhada de atitudes que confirmem o que está sendo dito.

SIMPATIA, ANTIPATIA, CHATICE – Flávio Gikovate

Parece evidente que o sucesso profissional, econômico e social de uma pessoa depende muito da sua capacidade de se relacionar bem com os colegas. Acredito que os dois aspectos mais importantes para um relacionamento construtivo sejam: nossa capacidade de não atribuir valor — positivo ou negativo — a nós mesmos sem consulta aos fatos e nossa capacidade de prestar atenção aos outros e dispensar-lhes cuidados e gentilezas. Quanto ao primeiro aspecto, já alertei para os perigos de formularmos opinião a respeito de nós mesmos antes mesmo de saber o que pensam de nós os que nos cercam. Na verdade deveríamos ter uma atitude mais humilde, para não confiar tanto nos nossos julgamentos, especialmente nos que dizem respeito a nós mesmos.

A ideia que fazemos de nós deveria ser uma média aritmética das opiniões que as pessoas têm a nosso respeito. É perigoso sermos muito autossuficientes num tema que depende mesmo da forma como as outras pessoas nos veem. Minha opinião acerca da minha aparência física, por exemplo, vale muito menos do que a opinião dos outros.

O segundo aspecto essencial para ter sucesso nas relações interpessoais diz respeito à nossa capacidade de prestar atenção às outras pessoas e agir de uma forma que as cative, que as agrade. Será simpático aquele indivíduo que tiver a habilidade de fazer um elogio na hora certa, incensando adequadamente a vaidade do interlocutor, aquele que souber fazer perguntas e deixar o outro falar bastante de si mesmo, aquele que aborda o outro com um sorriso no rosto, com uma boa palavra, com sinais de preocupação, aquele que tem bom humor, que faz graça, que não se queixa demais de suas próprias dificuldades, que tenta não ser pesado nem se colocar como alguém que terá de ser ajudado a toda hora.

A maior parte das pessoas simpáticas, aquelas que se esforçam em ser bem-aceitas, são voltadas para agradar o outro também com o objetivo de favorecer a si mesmas. Não é raro que sejam pessoas menos sinceras e até mesmo mais egoístas, uma vez que tratam de cativar para obter algum tipo de vantagem. Porém isso não é regra, de modo que as criaturas mais bem formadas do ponto de vista moral também deveriam ter bastante cuidado ao abordar os seus pares. Não há nada de errado em ser atento às peculiaridades do outro, em evitar a agressividade desnecessária e os comentários negativos em relação tanto aos presentes como aos ausentes.

A pessoa se torna antipática quando age de modo oposto ao que descrevi. Ao não tomar cuidado para não pisar no pé dos outros, ela vai fazendo inimigos ao longo do caminho. Muitas são as que confundem isso com autenticidade; acham que ser sincero é agir exatamente da forma como se pensa, mesmo que isso fira o interlocutor; ou seja, se eu achar uma pessoa gorda deverei dizer isso a ela, mesmo sabendo que vou magoá-la. É preciso refletir mais, pois sinceridade não pode ser confundida com agressão, que é a verdadeira motivação no caso do exemplo citado.

O antipático é aquele que está sempre pronto para falar dos defeitos dos outros. Faz gestos e tem posturas de superioridade, podendo, com facilidade, humilhar um colega. A desatenção e o descaso no trato com as outras pessoas será sempre, do meu ponto de vista, uma inadequação e um desrespeito. Não é virtude, autossuficiência e muito menos sinceridade ou espontaneidade. É desleixo, descaso com as inseguranças e fraquezas alheias.

O chato é um antipático particular, cuja principal característica é não prestar a menor atenção no outro. Na medida em que não se põe no lugar do outro e nem nota os sinais que ele emana, poderá continuar contando uma história que só interessa a ele mesmo quando todos a sua volta já se dispersaram e bocejam. O chato tem mais interesse em falar do que em ser ouvido. Aliás, tem a falsa ideia de que tudo o que ele disser será efetivamente do interesse de todas as outras pessoas. É difícil determinar de onde uma pessoa pode ter tirado uma ideia assim tola.

É difícil também entender como uma pessoa não altera sua postura apesar de repetidos insucessos de ordem prática. O chato monopoliza para si as atenções, ofendendo a vaidade das outras pessoas que também acreditam ter coisas interessantes a dizer.

Insisto mais uma vez na necessidade imperiosa de estarmos atentos aos nossos relacionamentos interpessoais. A verdade é que o entendimento entre as pessoas não se dá de forma espontânea, por isso é conveniente que nos dediquemos aos processos relacionados com a comunicação. Temos de nos tornar especialistas nessa área se quisermos usufruir o que as relações humanas têm de bom e construtivo.

COMO DEFINIR MATURIDADE EMOCIONAL? - Flávio Gikovate

Penso que a maturidade emocional se caracteriza pelo atingimento de um estado evolutivo no qual nos tornamos mais competentes para lidar com as dificuldades da vida e por isso mesmo com maior disponibilidade para usufruir de seus aspectos lúdicos e agradáveis.

Talvez a principal característica da pessoa madura esteja relacionada com o desenvolvimento de uma boa tolerância às inevitáveis frustrações e contrariedades a que todos nós estamos sujeitos. Tolerar bem frustrações não significa não sofrer com elas e muito menos não tratar de evitá-las. A boa tolerância às dores da vida implica certa docilidade, capacidade de absorver os golpes e mais ou menos rapidamente se livrar da tristeza ou ressentimento que possa ter sido causado por aquilo que nos contrariou.

Pessoas maduras também se aborrecem com as frustrações, mas não “descarregam” sua raiva sobre terceiros que nada têm a ver com o que lhe ocorreu. Freud dizia que a maturidade se caracterizava pela substituição da raiva pela tristeza e penso que ele tinha razão. Acrescentei mais um ingrediente, qual seja, o de que devemos tratar de nos livrar da tristeza o mais depressa possível.

A maturidade emocional tem muito a ver com o que, hoje em dia, se chama de inteligência emocional (I.E.): competência para se relacionar com pessoas em todos os ambientes, habilidade para evitar conflitos desnecessários e até mesmo tentar harmonizar interesses e agir sempre em prol da construção de um clima positivo e agradável nos ambientes que frequenta. Assim, a pessoa mais amadurecida busca também a evolução moral, condição que a leva a agir de modo equânime, atribuindo a si e aos outros direitos e deveres iguais.

Pessoas com boa I.E. também agem com certa estabilidade de humor, de modo que não são criaturas “de lua”, aquelas que nunca se pode saber com antecipação em que estado de humor estarão. É claro que a estabilidade de humor não significa estar sempre alegre e feliz; o humor das pessoas mais equilibradas é proporcional ao que está lhes acontecendo, sendo que os momentos de tristeza são vividos com dignidade e classe.

As pessoas mais tolerantes a frustrações, moralmente mais bem desenvolvidas e de humor estável são capazes de despertar a confiança daqueles que com elas convivem. Assim, tornam-se bons parceiros sentimentais, bons amigos, sócios, colegas de trabalho…

A maturidade acaba vindo acompanhada de uma série de boas propriedades e elas são motivo de satisfação dos que foram capazes de avançar na direção de conquistá-la. É claro que o processo de evolução é interminável e jamais deveríamos nos considerar como um “produto acabado”; estar sempre progredindo tende a determinar um estado de alma positivo, um justo otimismo em relação ao futuro – sim, porque quem está crescendo pode esperar mais coisas boas para si lá adiante.

Outra característica da maturidade é o senso de responsabilidade sobre si mesmo, assim como o desenvolvimento de uma sólida disciplina: isso significa controle racional sobre todas as emoções, especialmente a preguiça. Uma razão forte também exerce controle e administra a inveja, os ciúmes, os anseios eróticos e românticos, assim como a raiva e a agressividade. Controlar não significa reprimir e muito menos sempre deixar de agir de acordo com as emoções; significa apenas que elas passam pelo crivo da razão e só se tornam ação quando por ela avalizadas. Esse é mais um motivo para que sejam criaturas confiáveis, uma vez que exercem adequado domínio sobre si mesmas.

Os mais evoluídos emocionalmente tentem a ser mais ousados e a buscar com determinação a realização de seus projetos. Têm menos medo dos eventuais – e inevitáveis – fracassos, pois se consideram suficientemente fortes para superar a dor derivada dos revezes. Ao contrário, aprendem com seus tombos, reconhecem onde erraram e seguem em frente com otimismo e coragem ainda maior. Costumam ter melhores resultados do que aqueles mais ponderados e comedidos, condição que não raramente esconde o medo do sofrimento próprio dos que enfrentam os riscos.

Finalmente, para que possamos viver com serenidade e alegria, temos que aceitar uma propriedade essencial da nossa condição: somos governados pelo que chamo de “princípio da incerteza”; ou seja, não sabemos responder as questões essenciais que caracterizam nossa existência: qual o sentido da vida, de onde viemos, para onde vamos, por quanto tempo estaremos aqui etc.

É sobre esse solo de areia movediça que temos que construir nosso castelo e fazê-lo com otimismo e persistência mesmo sabendo que ele pode ruir a qualquer momento.

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O QUE É SER LIVRE? – Flávio Gikovate

Falar sobre a liberdade é uma das questões mais fascinantes da Psicologia. Usamos muito essa palavra, mas temos dificuldade em conceituá-la. Todo o mundo afirma que quer ser livre, mas pouca gente sabe dizer o que quer fazer com a liberdade.

É comum pensar que se pode agir sem impor limites à nossa vontade. Não é meu ponto de vista. Aliás, não tenho muita simpatia pela ideia de que viver bem é não abrir mão de nenhum tipo de desejo. Essa abordagem me parece ingênua e não leva em conta o fato de que, em nossa vida interior, há outras peças tão importantes quanto as do desejo.

Por exemplo: uma pessoa me agride e eu tenho vontade de revidar com toda a força e posso até desejar matá-la. Mas tenho dentro de mim um conjunto de valores morais. Se eu transgredi-los, experimentarei uma dor íntima muito desagradável, que é a culpa. Os animais, em geral, não sentem outra coisa senão o desejo e o medo. O ser humano não: tem um cérebro sofisticado que “fabrica” conceitos e padrões de comportamento que as pessoas acham muito importante respeitar. Em muitos casos, as normas estão em oposição às nossas vontades.

No exemplo citado, isso fica evidente. Pelos nossos valores éticos, não temos o direito de matar outro ser humano.

Como agir? Respeitamos a vontade ou os padrões? Acredito firmemente que devemos nos ater aos padrões. Devemos seguir nossos pontos de vista e nossas convicções. Agir sempre em concordância com a vontade é franca imaturidade, é não saber suportar frustrações e contrariedades. Evidentemente que estou me referindo às situações em que a razão está em oposição à vontade. No caso de ela não provocar nenhuma reação negativa, é lógico que devemos tentar realizá-la.

Não se trata, portanto, de desprezar nossos desejos. Se estou com boa saúde, posso comer doces. Se for diabético, tenho de ter a capacidade de abrir mão deles. Se quero namorar uma determinada moça, nada me impede de fazê-lo, desde que eu me preocupe em não magoá-la à toa.

Não acho acertado considerar mais livres as pessoas que não ligam para si mesmas e para os outros. Elas são mais irresponsáveis e até autodestrutivas. Se um homem sabe que o álcool lhe faz mal e continua bebendo, ele não é mais livre. É mais fraco.

Nos séculos passados, o ser humano vivia por normas exageradamente rígidas e alguns psicólogos acabaram concluindo que a verdadeira liberdade consistia em jogar fora essa camisa de força, guiando-nos a partir de nossos desejos. A ideia é boa, mas – na prática – é inviável. A vida em grupo exige que se preste atenção também aos outros.

O amor e a solidariedade que sentimos naturalmente dentro de nós pedem isso. Não posso magoar as pessoas que amo sem sofrer. Nesse caso, antes de satisfazer a vontade, tenho de refletir muito, avaliando e pensando nas consequências.

Acredito que ainda seja adequada a definição que expressei há cerca de dez anos. Liberdade não é realizar todas as vontades. Não é ser desta ou daquela maneira.

Liberdade é a sensação íntima de prazer que deriva da coerência entre o que pensamos e a forma como atuamos. Sou livre, se sou capaz de agir de modo coerente com o que penso. Algumas vezes respeito a vontade; outras, as normas morais.

Em cada situação eu tomo decisões, válidas apenas para aquele momento. Sei dizer “sim”, sei dizer “não”. Tudo depende da importância do desejo e da permanente preocupação de equilibrar os meus direitos e os direitos das demais pessoas. Aceitar certos limites para as nossas vontades é sinal de maturidade, não de resignação e conformismo. É sinal de força, não de fraqueza.

CONFIAR UM NO OUTRO É ESSENCIAL PARA UM AMOR MADURO - Flávio Gikovate

Amar implica depender, estar na mão da outra pessoa. Por isso, amar alguém que não nos transmite confiança é ser irresponsável para consigo mesmo.

Poucos são os casais que vivem em concórdia, num relacionamento que crie condições para que ambos cresçam emocional e intelectualmente. Mas, porque existem alguns casais que vivem em harmonia, devemos nos empenhar para também fazermos parte dessa minoria privilegiada.

Hoje quero me dedicar a um aspecto essencial das boas relações amorosas que é o desenvolvimento da confiança recíproca.

Amar implica depender, estar na mão de outra pessoa. Ela tem, mais do que ninguém, o poder de nos fazer sofrer. Basta querer nos magoar que conseguirá isso, com uma simples palavra ou gesto. Se quiser nos fazer sentir insegurança, não terá problema algum.
Fica mais do que evidente que, quando uma pessoa ama alguém que não se empenha em despertar a sensação de confiança e de lealdade, ela irá padecer muito. Irá se sentir permanentemente ameaçada, terá ciúme de tudo e de todos.

Amar alguém que não nos passa confiança é, pois, uma irresponsabilidade para consigo mesmo. É uma ousadia, uma ingenuidade e uma grande demonstração de imaturidade emocional – ou sinal de que se tem satisfação com o sofrimento.

Em geral, as pessoas se colocam nessa condição em virtude de terem se encantado com alguém que, de fato, não dá sinais de confiabilidade. Aceitam essa atitude egoísta do amado imaginando que seja uma fase, um período doloroso que irá passar com o tempo. Fazem tudo para demonstrar o seu amor, para cativar o outro e esperam que isso faça com que, finalmente, ele se renda, e também se entregue de corpo e alma à relação afetiva.

Acaba se compondo uma espécie de desafio, em que aquele que não é confiável percebe que recebe mais atenções e carinho exatamente por agir dessa forma. Com isso se perpetua a situação e me parece bobagem achar que o futuro será diferente do presente. Afinal de contas, aquele que não se entrega ao amor, acaba sendo altamente recompensado por isso e não terá nenhuma tendência para alterar sua atitude.

Quando a “mágica” do encantamento amoroso não vem acompanhada da “mágica” da confiança, a pessoa está posta numa situação muito difícil, na qual o sofrimento e insegurança serão as emoções mais constantes.

E essa “mágica” da confiança de onde ela vem? De vários fatores, sendo que o primeiro deles depende do comportamento da pessoa amada.

Não é possível confiarmos numa pessoa que mente, a não ser que queiramos nos iludir e tentemos achar desculpas para não perder o encantamento por ela.
Não é possível confiarmos em pessoas cujo comportamento não está de acordo com suas palavras e suas afirmações. Aliás, quando o discurso não combina com as atitudes, penso que devemos tomar essas últimas como expressão da verdadeira natureza da pessoa.

Não é possível confiarmos em pessoas que mudam de opinião com a mesma velocidade com que mudamos de roupa. É evidente que todos nós, ao longo dos anos, atualizamos nossos pontos de vista. Porém, acreditar em certos conceitos num dia – na frente de certas pessoas – e defender conceitos opostos no outro – diante de outras pessoas – significa que não se tem opinião firme sobre nada e que se quer apenas estar de bem com todo mundo. Amar uma pessoa assim é, do ponto de vista da autopreservação, uma temeridade.

A capacidade de confiar depende também de como funciona o mundo interior daquele que ama e não apenas da forma de ser e de agir do amado.

Não são raras as pessoas que não conseguem desenvolver a sensação de confiança em virtude de uma autoestima muito baixa. Desconfiam da capacidade que têm de despertar e conservar o amor da outra pessoa; se sentem inseguras, acham que a qualquer momento podem ser trocadas por criaturas mais atraentes e ricas de encantos. E, o que é mais grave, se sentem assim mesmo quando recebem sinais constantes, coerentes e persistentes de lealdade por parte da pessoa amada. Nesses casos, não há o que essa criatura possa fazer para atenuar o desconforto daquelas, cuja única saída é um sério mergulho interior em busca de resgatar a autoestima e a autoconfiança perdidas em algum lugar do passado.

Finalmente, para uma pessoa desenvolver a capacidade de confiar é necessário que ela seja uma criatura confiável.

Costumamos avaliar as outras pessoas tomando por base nossa própria maneira de ser. Se nos sabemos mentirosos, capazes de deslealdade e de desrespeito aos outros, como ter certeza de que as outras pessoas não farão o mesmo conosco?

Só aquele que tem firmeza interior, que tem confiança em si mesmo no sentido de respeitar as regras de conduta nas quais acredita, pode imaginar que existam pessoas em condições de agir da mesma forma.

Se a felicidade sentimental depende do estabelecimento da confiança recíproca, ela será, pois, um privilégio das pessoas íntegras e de caráter.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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