ARNALDO JABOR - Um artigo apócrifo por mim mesmo

Toda semana surge um novo artigo apócrifo, com meu nome... Toda hora um idiota me copia e joga na rede. Há vários; em geral sobre mulheres e amor. Um deles diz coisas como: "a mulher tem um cheirinho gostoso, elas sempre encontram um lugarzinho em nosso ombro."

E outro: "adoro celulite... qual é essa de bundinhas duras? Bunda mole é bonito". No dia seguinte, na rua, fui abordado por uma senhora fina que me declarou arquejante de orgulho: "Eu tenho bunda mole!" E saiu andando, em doce euforia.

Sou amado pelo que não escrevi. Há um site em que contei 23 artigos falsos, com meu nome. Não há como escapar; o ladrão tem vielas para fugir com a galinha, mas da internet você não se livra.

Por isso, resolvi escrever um artigo apócrifo de mim mesmo. Se puserem na web, eu direi que não é meu. Vamos a isso.

A mulher precisa do homem impalpável, impossível. Gosto do olhar de onça, parado, quando queremos seduzi-las, mesmo sinceramente, pois elas sabem que a sinceridade é volúvel. Um sorriso de descrédito baila nas lindas bocas quando lhes fazemos galanteios, mas acreditam assim mesmo, porque querem ser amadas, muito mais que 'desejadas'. O amor para elas é um lugar onde se sentem seguras. E todas querem casar.

O termômetro das mulheres é: "estou sendo amada ou não? Será que ele me ama ainda?" A mulher não acredita em nosso amor. Quando tem certeza dele, para de nos amar. Nelson Rodrigues me contou: "Uma mulher me disse: quando um homem me diz 'eu te amo', perco o interesse na hora".

Elas estão sempre um pouco fora da vida social, mesmo quando estão dentro. Podem ser executivas brilhantes , mas seu corpo lateja sob o terninho.

As mulheres têm uma queda pelo canalha. O canalha é mais amado que o bonzinho. Ela sofre com o canalha, mas isso a justifica e engrandece, pois ela tem uma missão amorosa: convencer o canalha que ele a ama, mas não sabe... Mulher não tem critério; pode amar a vida toda um vagabundo que não merece ou deixar de amar instantaneamente um sujeito devoto. Se você for realmente mau, saiba que isso é bom e lhe faz respeitado de forma oblíqua: "Meu marido é um canalha!" - geme a mulher para as amigas, com um tênue sorriso de orgulho. E as amigas suspiram, invejando-a pelo adorável canalha que a maltrata. Como são amados os malandros... O fiel não tem graça. É tedioso, está ali para sempre, enjoado, sem drama. O canalha é aventureiro, malvado, encarna um sonho intangível para a mulher. Todo galã é impalpável.

Por outro lado, é preciso muita atenção para saber se a mulher te ama mesmo. Outra vez, o Nelson, que fez um teste infalível: "Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada, não há amor possível."

Nada mais terrível que a mulher que cessa de te amar. Você vira uma espécie de 'mulher abandonada'. O homem abandonado se efeminiza em lágrimas vãs. A mulher instila medo no coração do homem. Mesmo com as carinhosas, há perigo no ar. A carinhosa total entedia os machos, que ficam claustrofóbicos. O homem só ama profundamente no ciúme. Só o corno conhece o verdadeiro amor. Mas, curiosamente, a mulher nunca é corna, mesmo abandonada, humilhada. A mulher enganada ganha ares de heroína, quase uma santidade. É uma vingadora, até suicida. Mas nunca corna. O homem corno é um palhaço. Ninguém tem pena do corno. O homem só vira homem quando é corneado. A mulher não vira nada nunca. Como no homossexualismo: a lésbica não é veado. O homem é pornográfico; a mulher é amorosa. A pornografia é só para homens.

O maior mistério do mundo é a diferença entre os sexos. Por mais que queiramos, nunca chegaremos lá: o mistério de ter ou não ter pau, o mistério gozoso de dar, o mistério de ver o mundo de dentro de um útero. Há alguns exploradores, os travestis, escafandros que tentam mergulhar fundo neste mar e que voltam de mãos vazias. Nunca saberemos quem é o outro, aquele ser com seios, vagina, aquele ser ali, maternal, bom, terrível quando contrariado; e elas nunca saberão o que é um falo pendurado, um bigodão, um jogo de porrinha, um puteiro visitado.

Se o amor como resposta deixa a desejar, é porque ele aspira secretamente a matar o outro. O amor aspira a abolir a diferença. Se o amor se contentasse com pouco, ele não deixaria tanto a desejar. O amor é uma patética falta de recursos.

Daí, o ódio que os primitivos cultivam contra as mulheres; daí, os boçais assassinos do Islã apedrejando-as até a morte.

As mulheres são sempre várias. Isso não as faz traidoras; nós é que nos achamos "unos". Só os autoconfiantes são traídos. Esta é uma das razões do sucesso das putas. O que buscamos nelas? Os homens pagam para que elas não existam. O amor exige coragem. E o homem é mais covarde.

Elas ventam, chovem, sangram, elas têm inverno, verão, "t.p.m."s, raiam com a manhã ou brilham à noite, elas derrubam homens com terremotos, elas nos fazem apaixonados porque nelas buscamos um sentido que não chega jamais. Elas querem ser decifradas por nós, mas nunca acertamos no alvo, pois não há alvo, nem mosca.

A mulher quer ser possuída em sua abstração, em sua geografia mutante, a mulher quer ser descoberta pelo homem para se conhecer. Querem descobrir a beleza que cabe a nós revelar-lhes. As mulheres não sabem o que querem; o homem acha que sabe. O masculino é o certo; o feminino é insolúvel. A mulher é metafísica; homem é engenharia. A mulher é muito mais exilada das certezas da vida que o homem. Ela é mais profunda que nós. A mulher deseja o impossível - esta é sua grande beleza. Ela vive buscando atingir a plenitude, mesmo que essa "plenitude" seja um "living" bem decorado, um lindo abajur ou o perfeito funcionamento do lar.

Vejam o resultado. Muitas mulheres adoram os artigos que 'não' escrevi. Mas, aposto que este será chamado de machismo politicamente incorreto. 

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Tô focado

Como a matéria do Universo, uma carreira política também se forma do nada. Há casos de vocações políticas claras – líderes comunitários com credenciais indiscutíveis para pleitear cargo eletivo, por exemplo –, mas em muitos outros casos quem pede votos para começar uma carreira política só tem, como credencial, sua vontade – e sua coragem. Daí esse patético desfile de candidatos no horário eleitoral, com poucos segundos para se apresentar ao eleitor, tentando arrancar do nada uma justificativa para querer entrar, ou continuar, na política.

É fácil fazer pouco de candidatos folclóricos que buscam desesperadamente se destacar dos outros com um apelido ou um slogan pitorescos (lembro de um gordinho que só ficava sorrindo para a câmera enquanto aparecia na tela sua razão para estar ali: “Bom filho”) ou, sem nenhum jeito para aquilo, explorando a notoriedade alcançada em outra atividade, como o futebol. Mas não se queixe. O que você está vendo é a democracia no seu estágio primitivo, ainda na forma gasosa que precede a criação. E os folclóricos podem

surpreender. O Tiririca eu não sei, mas o Romário se revelou um bom e ativo congressista.

Numa eleição passada, numa cidade do interior, um candidato fez campanha com uma única frase. Era um fotógrafo que ganhara uma boa reputação na cidade retratando a sociedade local – reuniões de família,formaturas, debutantes, etc – e decidira ser vereador. Seu slogan era “Tô focado”. A frase aparecia em cartazes e banners do candidato e ele a repetia em comícios – “Tô focado! Tô focado!” – querendo dizer que estava concentrado nos problemas da cidade, que os enquadraria, na câmara dos vereadores, como enquadrava seus retratos na câmera fotográfica. Gastou todo o seu dinheiro na campanha, mas perdeu a eleição. E o pior é que depois não faltaram pichadores que percorreram a cidade fazendo pequenas alterações na frase “Tô focado”, entre o “fo” e o “do”, impiedosamente.

Apesar dos desgostos e dos ridículos não existe outra maneira da democracia começar a não ser nesse nível, com o risco de elegermos palhaços e apenas bons filhos. Sempre há a esperança que, no cargo, eles se mostrem bem focados. 

JOÃO UBALDO RIBEIRO - Pais, mães e filhos

Mesmo que o conceito de família, como se tem muito noticiado, não viesse sofrendo mudanças ocasionadas por novos valores, as descobertas da ciência imporiam - e já começaram a impor - alterações jurídicas complicadas, que a gente ainda não sabe direito em que é que vão dar. Agora mesmo, ouvi a observação casual de uma comentarista de tevê, segundo a qual o aluguel de uma boa barriga está em torno de 200 mil reais. É claro que deve haver normas e conceitos aplicáveis a essa locação e as consequências de abdicar do sonho da barriga própria também terão implicações legais.

Por exemplo, o aluguel da barriga envolve somente a obrigação de portar o feto no útero e parir, mais nada? A locadora não tem também de amamentar a criança, ou isso seria classificado como adicional de peito e pago separadamente? É válido o contrato que não garanta à criança esse direito? Incorrerá a locadora no delito de negação de peito, caso a locatária não possa arcar com as despesas extras? O preço da barriga é social e, nos casos de locatárias de baixa renda, deve ser subsidiado pelo Estado? Os custos dos cuidados pré-natais são, como as taxas de condomínio, responsabilidade da locatária? Como distinguir um mal-estar causado pela gravidez de outro, que não tenha a ver com ela? Em caso de defeito no produto final, será sempre possível diferençar um problema originado dos pais biológicos daquele advindo de alguma imprudência ou acidente de responsabilidade da locadora? Haverá seguro compulsório? Cabe indenização, cabe devolução do produto, cabe queixa ao Procon? No caso de a criança vir a ser rejeitada e oferecida para adoção, a locadora tem preferência?

Irmão de barriga será uma das novas categorias, provavelmente com a designação politicamente correta de "irmão couterino". Caberá à lei estabelecer se isso implica algum grau de parentesco, além de definir outros pontos delicados, como, por exemplo, se todos os couterinos terão direito a chamar a dona da barriga de aluguel de "mamãe", detalhe que parece simples, mas logo se vê que não é, quando se levam em conta aspectos psicológicos e de vida social. E até ocorrências triviais talvez necessitem revisão, como no caso de xingamentos, pois poderá haver discussão sobre se ambas as mães, ou somente uma delas, poderão considerar-se injuriadas, difamadas ou caluniadas, quando objeto de alguma ofensa.

Como sabem os leitores das páginas de ciência dos jornais, os avanços nessa área estão longe de limitar-se à hoje quase corriqueira barriga de aluguel. Já é possível "produzir" uma criança com material genético de um ou mais pais e/ou mães. Não sem razão, os cientistas empenhados nesse campo argumentam que, assim, podem substituir genes defeituosos que seriam herdados, por outros, de genitores excluídos desse risco. E esse interesse é suficiente para estimular a pesquisa. Teremos, portanto, mais dia menos dia, a figura de outro "co", no caso o copai ou a comãe.

Pensar nos parentescos possíveis, a partir somente disso aí, já deixa o sujeito zonzo. Dá pena do advogado formado no tempo do "mater certa, pater sempre incertus", quando uma boa ação de investigação de paternidade era uma aventura de suspense e emoção e não essa coisa sensaborona e sem arte, exame de DNA. Daqui a pouco, vai-se ver com problemas de patrimônio e sucessão antes inimagináveis. Haverá meios-irmãos por parte de pai e por parte de mãe, ou por ambos, e a confusão já começará no registro civil. Quando chegar a alguma herança, declarar-se-á um aranzel jurídico indescritível, em que vai ser difícil alguém tomar pé.

Até porque os, digamos, multiparentescos não vão limitar-se a um genitor extra em cada caso. Na verdade, não é absurdo prever-se que material genético de vários "colaboradores", de ambos os sexos, poderão vir a ser utilizados na produção ou "aperfeiçoamento" genético de um embrião humano. Ou seja, é possível que haja um filho de diversos pais e mães, uma obra coletiva, por assim falar. Não deixa de ser uma ideia curiosa e não hão de faltar comitês de amigos que se unam para perpetuar-se como grupo, na figura de um único rebento, que, para acabar de enlouquecer o advogado, usará uma barriga de aluguel. Creio já poder adivinhar que o bebê assim produzido será chamado de "poligênico", sua figura paterna será um álbum e seu Édipo terá um harém. Com toda a certeza, pelo menos uma torcida organizada criará um menino com material genético doado pelos craques do clube - e o menino receberá o nome de Cocktailson, comerá a bola desde os 5 anos de idade e passará oito minutos dedicando seu primeiro gol como profissional à família.

Finalmente, nestes tempos em que essa festinha de suspender impostos a qualquer hora vai ter que acabar e cairemos na real, é alentador ver as primeiras manifestações do que certamente será uma próspera economia, geradora de empregos e oportunidades. Em relação às barrigas de aluguel, o mínimo que se pode antecipar é a institucionalização da profissão de corretor de barriga, que deverá trazer segurança para os interessados, além de alguma ordem para um mercado que, do contrário, poderia ficar à mercê de aproveitadores e monopolistas. E serão eles os primeiros grandes clientes dos cadernos especiais que os jornais, da mesma forma que em relação a carros e imóveis, passarão a publicar, com anúncios e matérias envolvendo desde a cotação do sêmen e do óvulo de primeira até ofertas de excedentes de produção, pontas de estoque, etc. Só não creio que veiculem anúncios de um DNA com características que dificultem seu receptor vir a ser um adulto corrupto. Não há mercado, todo mundo pensa no futuro de seus filhos.

FERREIRA GULLAR - Amar o perdido

O menino, hoje um senhor idoso, não esquece o dia em que sua moeda caiu pela fresta do assoalho e sumiu.

O quintal, relativamente grande, ficava ao lado da casa e ao fundo das casas vizinhas, de muro baixo. Rente ao muro estavam as bananeiras, onde ele e suas irmãs se embrenhavam, brincando de esconde-esconde. Do lado do quintal, havia uma pitangueira e uma mangueira, cujos ramos se estendiam sobre a cerca que limitava com a residência de um coronel do Exército.

O resto do quintal era coberto de mato-burro, um tipo de vegetação que chegava à cintura dele e encobria a irmãzinha menor. Ali, certo dia, descobriu um ninho cheio de ovos da galinha-d'angola que, com seu parceiro, habitava o lugar.

Mas, atravessando um pequeno portão, ao lado da casa, chegava-se a um quintal menor, de terra batida, sem vegetação, limitado, de um lado pela casinhola do banheiro e, de outro, pela varanda que se estendia até a sala de jantar. À esquerda, ficava o muro coberto de um musgo verde brilhante.
Este quintal menor era o domínio de um galo de crista vermelha e penas marrons, que caminhava garboso, exibindo suas esporas e observando com aqueles olhos redondos, especialmente as quatro galinhas que constituíam sua corte.

Além delas, havia ali um frango, de penugem incipiente, que às vezes se atrevia a cantar de galo e era logo reprimido pelo rei do terreiro, que partia para cima dele a bicadas. O menino, que simpatizava com o frango, intervinha na briga e evitava a agressão.

A família era, no total, dez pessoas, o pai, a mãe e sete filhos (entre meninas e meninos) e uma tia da mãe, que cuidava da casa. O pai, comerciante ambulante, um dia apareceu na casa com um animal esquisito, que parecia um bezerro, mas não era, pois, além do mais, tinha o focinho dividido em dois. Era uma anta.

A mãe, ao ver aquele animal estranho no quintal, ficou perplexa. "Que diabo de bicho é esse que você trouxe para nossa casa?", perguntou ela. Ele respondeu que o tomara de um sujeito que lhe devia dinheiro e não pagara. "E você acha que alguém vai comprar um bicho esquisito como esse, de dois focinhos, e que não serve para nada?", ela perguntou.

As crianças da vizinhança subiam no muro para espiar o animal. Os adultos chegavam até o portão, espiavam e saíam rindo e fazendo troça. A mãe deu um ultimato ao marido: ou ela ou a anta. Ele então decidiu levar a anta não se sabe para onde. Quando subiu a rua, puxando-a pelo cabresto, a molecada o seguiu, gritando e rindo, muito excitada.

A casa era grande, tinha vários quartos, todos assoalhados. Assoalhos antigos, de tábuas corridas, debaixo das quais, às vezes, surgiam ratos, que ali se metiam pela fresta de alguma tábua apodrecida. Se saíam, eram perseguidos pelos gatos que habitavam a casa.

Exceto os pais, que dormiam numa cama de casal, todos os demais dormiam em redes armadas nos cantos dos quartos e, nessas redes, se embalavam, às vezes cantarolando, às vezes disputando lugar com um ou outro irmão. Com frequência, algum deles se estatelava no chão e saía chorando a procurar a mãe, para se queixar.

Faz muitos e muitos anos que isso aconteceu, embora a casa ainda exista e os assoalhos de tábuas corridas tenham sido substituídos por piso de cimento. Nem o pai nem a mãe existem mais. As meninas e os meninos cresceram, foram cada um inventar sua própria vida: casaram-se, tiveram filhos e netos e alguns mudaram até mesmo de cidade. Uns poucos continuam na mesma casa, cujo quintal foi vendido para uma família, que ali construiu sua casa.

O menino, que hoje é um senhor idoso, não esquece o dia em que uma moeda sua caiu pela fresta do assoalho e sumiu. Ele não se conformou. Com um pé de cabra, arrancou uma das tábuas que estava quase solta e mergulhou debaixo do assoalho. Teve uma surpresa: foi como se tivesse passado a outro planeta, já que o chão, ali embaixo, era como um talco negro, em que seus pés afundaram até os tornozelos.

Em pânico, conseguiu escapar daquele solo de pó, onde sua pequena moeda se perdera para sempre. Mas, pelo resto da vida, de quando em vez, em sonho, voltava, em prantos, àquele território lunar em busca da pequena moeda para sempre perdida.

DANUZA LEÃO - Bendita loucura

É só aparecer a chance de uma viagem para mais ou menos qualquer lugar que já me alvoroço.

Segundo Luiz Felipe Pondé, só os loucos ainda viajam. Dou total razão a ele, e assumo que sou louca.

É só aparecer a oportunidade de uma viagem para mais ou menos qualquer lugar que já me alvoroço, e só quando começo a tomar as providências, tipo quem vai cuidar do meu gato, como pagar as contas no fim do mês, e mais mil etcs. -e isso é só o principio- percebo a insanidade que é viajar.

Quando chego ao aeroporto e vejo a fila, penso na minha casa e tenho vontade de chorar, mas aí não dá mais para recuar.

Para os loucos, como eu, existe a ilusão de que uma viagem é e será sempre a melhor coisa do mundo -aliás, nunca é-, e quando posso, meu destino é sempre Paris.

Já vou sonhando com o táxi do aeroporto para o hotel, geralmente conduzido por um motorista francês tendo, no assento a seu lado, um cachorro bem grande (em outros tempos, fumando um gauloise). No rádio, bem baixinho, música clássica; bons tempos.

Da última vez o motorista era um asiático que, além de mal falar francês e não conhecer a cidade, passou todo o tempo do trajeto falando no celular, bem alto, numa língua estranha. Foi horrível.

Logo no primeiro dia, fui avisada: "não vá ao Champs Elysées; não dá nem para andar, de tanta gente, e você ainda se arrisca a ser roubada". Fala sério: estar em Paris e não poder ir ao Champs Elysées é um mau sinal. Me privei de ver a avenida mais linda do mundo, mas vi, nos cafés, restaurantes e museus, multidões; as grandes cidades estão cheias demais.

O mundo está ficando sem graça? Está. Então as viagens acabaram? Não, não acabaram, mas têm que ser repensadas. Eu ando repensando as minhas próximas.

Segundo disse Humphrey Bogart a Ingrid Bergman, em "Casablanca", "we will always have Paris"; nós também sempre teremos Paris, mas em termos.

A razão pela qual se viaja é para ver cidades com características próprias, com coisas que só lá se encontram, mas está difícil encontrar lugares especiais, únicos, já que estão todos tão iguais.
A saída? Estou inclinada a pensar que a solução são as pequenas vilas, no interior, ainda não contaminadas pela globalização. Vamos sempre passar por Paris, claro (ouvi dizer que Roma ficou fora de questão, tal a quantidade de turistas), mas existem lugares deliciosos que ainda não foram descobertos, onde se pode ser feliz por alguns dias, longe desse insensato mundo.

Como na Europa os países não têm a dimensão continental do Brasil, a distância entre duas cidades (e até entre dois países) costuma ser pequena, o que facilita o deslocamento. Da última vez, deixei Paris e fui parar em um pequeno vilarejo na Itália com 6.000 habitantes, nada famoso (poderia ter sido na Espanha, na França, ou em Portugal).

Nele, como em quase todos, havia um pequeno palazzo abandonado, uma ruína e um café na praça, onde passei horas observando o vai-vém dos locais; depois, jantei em um restaurante que não está em nenhum guia, onde comi muito bem e bebi o vinho da região, por metade do preço das grandes cidades.
Ótimo, pois como dizem os conhecedores da gastronomia, come-se mal em Paris.

Me senti como num filme de Fellini: os personagens estavam todos lá, era só olhar para reconhecê-los. Foi uma semana tranquila, que virou minha cabeça pelo avesso, com todas as fantasias de praxe: viver numa cidade em que ninguém está conectado, sem ter conhecimento do que está na moda -nem as comidas, nem os vinhos, nem o último iPad com 350 milhões de programas, nem nada, num clima de paz total, como deve ser bom; será isso a felicidade?
Impossível saber, mas talvez a resposta seja sim.

FRANCISCO DAUDT - Livre arbítrio

É duro admitir, mas não estamos com essa bola toda; 
O último milênio foi cruel com nossa vaidade.

Sabe aquele ouro que o Brasil perdeu para a Rússia no vôlei? Fui eu o culpado. Explico: nunca assisto a esportes, mas meu filho queria ver o jogo, e eu lhe fiz companhia. Logo comecei a torcer, e tudo saía ao contrário das minhas mandingas. Resultado foi o que se viu. Nunca mais. Não quero o peso do fracasso brasileiro.

Para eu sentir essa culpa, são necessárias algumas crenças: que eu tenha poderes mágicos de influenciar jogadores em Londres; que eu tenha a vontade para operá-los de forma a que eles deem bons frutos; que minha vontade não foi bastante para produzir os efeitos supostamente desejados.
Em suma: para ter culpa, eu preciso acreditar que tenho arbítrio (significa vontade), e que ele é livre ao meu dispor. O tal livre arbítrio.

Há milênios que nossa espécie se acha grande coisa. Nossos antepassados criam que o raio havia caído porque eles tinham tocado numa pedra. Quando criança, acreditei poder parar a chuva queimando a palha do domingo de ramos (e não é que a chuva parava... às vezes).

Havia uma relação poderosa de causa-efeito entre o que fazíamos e o que acontecia. Há uma criança dentro de nós até hoje (ou um antepassado troglodita, que ambos se parecem), caso contrário não haveria o menor sentido em torcer (pelo menos, não pela TV).

É duro admitir, mas não estamos com essa bola toda. O último milênio foi cruel com nossa vaidade. Copérnico mostrou que não éramos o centro do universo. Freud mostrou que não mandávamos nem em nosso próprio quintal, que forças ocultas nos manipulam (no que foi endossado pelos evolucionistas, com as forças genéticas). Cientistas em geral mostram que é cada vez mais difícil completar a frase "O ser humano é o único animal que..."

No artigo sobre sentimento de culpa, falei que a crença no livre arbítrio, na vontade perfeitamente comandada por um eu soberano, era essencial para que sentíssemos culpa. Neste, questiono, não a existência da vontade, mas o quanto ela é livre. "Mas se a ausência de livre arbítrio for demonstrada, não podemos pôr ninguém na cadeia, pois ninguém será culpado".

Sinto muito, não é por isto que a cadeia existe. Ela é necessária para afastar pessoas perigosas a nosso meio. E para criar mais um constrangimento à vontade, algo que a torne menos livre ainda: cuidado com seus atos, pois eles têm consequências.

Afinal, quais são os cordéis que tornam nossa vontade um bonifrate? Ela é um títere de que, ou de quem?

Começando com o mais básico, o nosso desejo é seu maior manipulador. Compreenda "desejo" como nossa força motora que carrega, desde os instintos mais primitivos, à modelagem que eles sofrem da genética e da criação, da cultura, da moda, do zeitgeist (o espírito do tempo). Ele é um gigantesco software inconsciente, que se mostra na tela da consciência com uma imagem a cada vez. Uma delas é a vontade. Minha vontade de assistir ao jogo foi completamente diferente da de meu filho. Livre arbítrio? rsrsrsrs. Odeio isto e o kkkk, mas, sabe, é o zeitgeist... Lamento muito, mas não peço desculpas.

RUY CASTRO - Frouxos de riso

Os brasileiros estão deixando de se chamar Anacleto, Custódio, Hildebrando, Leopoldo, Olegário. E há quanto tempo não se sabe de um Teófilo, Policarpo, Orlando, Gregório ou Aprígio? Com as mulheres, é a mesma coisa -onde estão as novas Adelaides, Alziras, Celestes, Eunices, Janetes e Zilás que, um dia, foram tão comuns? Certo, ainda há brasileiros que carregam esses nomes tão bonitos, mas talvez sejam os últimos de sua espécie. Temo que, em breve, só os encontremos em cemitérios.

Novos nomes se impuseram, e uma amostra disso está nos plantéis deste ano dos nossos clubes. Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Palmeiras e São Paulo, todos têm um Wellington. Bahia, Fluminense, Palmeiras, Ponte Preta, Portuguesa e Sport, todos têm um Bruno. Coritiba, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio e Sport, todos têm um Mateus, com ou sem th. E Botafogo, Corinthians, Coritiba, Flamengo, Fluminense, Ponte Preta e São Paulo, todos têm um Lucas.

Sem falar nos Diegos, Wallaces e Williams -estes, tão abundantes que precisam ser acoplados a outro nome, como William Matheus e William Barbio, do Vasco, Willian José, do São Paulo, e Willian Arão, do Corinthians, para não confundir. Mesmo um nome insólito como Marlon já rendeu repeteco: há o Marllon do Flamengo e o Marlon do Náutico, nenhum deles brando.

Mas o que mais me intriga são os jogadores com nomes sem equivalente em lugar nenhum, nem nos EUA, de onde seus pais imaginam tê-los tirado: Brinner, Derley, Demerson, Elkeson, Gerley, Jheimy, Klever, Lorran, Luan, Rithely, Roberson, Ruan, Saimon, Uêndel, Wallyson, Welder, Werley, Wescley, Weverton.

Não são apelidos, mas nomes próprios, passados em cartório, registrados em certidões. Aposto que os escrivães têm frouxos de riso às escondidas ao lavrá-los nos livros.

MARTHA MEDEIROS - Preenchimentos

Como toda mulher, também gasto alguns minutos em frente ao espelho com as mãos espalmadas no rosto tentando imaginar como seria se eu puxasse um pouquinho aqui, um pouquinho ali, mas nunca fui além da simulação – ainda não tive coragem de enfrentar o bisturi. Amigas aconselham: não precisa partir para algo radical, faça apenas um preenchimento, ora. Toda mulher moderna e inteligente faz, mas não gosto nadinha da ideia de injetarem no meu rosto coisas assustadoras como polimetilmetacrilato ou ácido hialurônico.

Outro dia, uma moça me explicou como o dermatologista, depois da aplicação, ficou moldando a substância com os dedos até que se assentasse no lugar certo. Quase passei mal. Não deviam contar esses detalhes para mulheres impressionáveis. E, como se não bastasse eu ser de outro século, ainda deparei com as fotos da mãe do Stallone. Aí, ferrou.

Preenchimento estava na minha lista de resoluções para 2012. Também esteve na de 2009, 2010 e 2011. Acaba de ser adiada, mais uma vez, para 2013 ou 2014, dependendo da minha capacidade de evoluir. Enquanto esse dia não chega, vou continuar me preenchendo com material obsoleto como livros, filmes, exposições, teatro. Não irão me deixar mais jovem nem mais bonita, mas ao menos o cérebro não ficará flácido. Como bem lembrou, recentemente, a linda atriz Aline Moraes, “a beleza pode desmoronar quando se abre a boca”.

Mudando de assunto, mas nem tanto, também me abismei com os erros de português que foram detectados nas legendas da propaganda eleitoral na TV, em que se viram preciosidades como “ensentivo”, “disperdiço”, “trofel”, “concurço” e “pulitica”, palavras que não possuem nem de longe o grau de dificuldade de um polimetilmetacrilato. Cheguei a iniciar uma crônica, mês passado, sobre esse assunto: escrever errado todos escrevem, eu erro, tu erras, ele erra. Não depõe contra o caráter de ninguém, mas não se pode relaxar.

É preciso continuar estudando, ler mais, consultar dicionários. Não cheguei a publicar a crônica porque ela foi inspirada nos bilhetes deixados pelo bioquímico que assassinou a mulher e o filho na zona sul de Porto Alegre. Diante de uma tragédia daquela magnitude, não cairia bem falar dos assassinatos gramaticais que ele também praticou. Eram tragédias incomparáveis. Mas a mim doeu tudo.

(Sei lá como se escreve.) Quem de nós, durante um bilhete, um e-mail, um tuíte, não colocou essa frase entre parênteses diante da dúvida sobre como escrever uma palavra difícil ou uma expressão estrangeira? Então, para não encerrar essa crônica com tragédia, e sim com tragicomédia, dê uma espiada no site http://seilacomoseescreve.tumblr.com/page/2 e divirta-se. Rir também rejuvenesce – e não dói.

DRAUZIO VARELLA - Pena de morte

Os rigores da lei cairiam exclusivamente sobre os mais pobres. 
Não é assim até hoje?

Não me sai da cabeça a imagem dos iranianos enforcados em guindastes, que a Folha publicou na "Primeira Página" duas semanas atrás.

Tenho certeza de que se houvesse um plebiscito, a pena de morte seria implantada também no Brasil. Para a maioria dos eleitores, bandido que tira a vida de um ser humano merece o mesmo destino da vítima, sem qualquer comiseração. Os mais radicais incluem nessa categoria os traficantes e os que assaltam à mão armada.

A lei do olho por olho é a saída mágica que a população encontra para acabar com a violência que nos assusta nas ruas e nos aprisiona dentro de casa. É justo manter a sociedade refém de uma minoria? Para que os cidadãos ordeiros possam viver em paz, não seria mais fácil eliminar fisicamente esses poucos que nos infernizam? A morte deles não serviria de exemplo para os que estão em início de carreira?

De fato, há situações em que a pena de morte tem grande poder intimidatório. É o caso da execução de desertores em tempo de guerra, do linchamento em pequenas comunidades ou dos assassinatos brutais que acontecem nas cadeias, condições extrajudiciais em que o direito de defesa sequer entra em cogitação.

Nos três casos citados há um denominador comum: o curto intervalo de tempo existente entre a prática do ato ilícito e a execução da sentença. O desertor enfrenta o pelotão de fuzilamento assim que é localizado, o estuprador que mata a criança na cidadezinha é linchado na hora e o presidiário acusado de delatar um plano de fuga morre no mesmo dia.

Para que a pena de morte tenha caráter educativo, há que ser aplicada de imediato. Quanto mais tempo decorrer entre o crime cometido e a punição do criminoso, menos didática e exemplar ela será.

A urgência para levar a cabo a execução sumária, por sua vez, tem um efeito colateral: é obrigatório fechar os olhos para injustiças eventuais, o que nesses casos significa matar homens e mulheres inocentes.

Como nas sociedades civilizadas a ideia de enforcar alguém é cada vez menos popular e a possibilidade de o Estado tirar a vida da pessoa errada é inaceitável, a pena de morte perdeu adeptos na maioria dos países. Os que ainda a defendem argumentam que bastaria garantir ao acusado amplo de direito de defesa.

É esse direito amplo o ponto crucial da questão, porque são raros os réus confessos, ainda que todas as evidências estejam contra eles. Para assegurar-lhes que não serão sentenciados injustamente, é necessário dispor de tempo, testemunhas, acareações, advogados de defesa, promotores e juízes, para não falar nos custos financeiros.

Veja o caso dos norte-americanos, em que o condenado aguarda anos e anos nos famigerados corredores da morte, até que um dia venham buscá-lo para a cerimônia fúnebre, realizada de forma secreta e envergonhada, como bem lembrou Hélio Schwartsman em sua coluna.

Um castigo administrado dez, 15 anos depois de um crime do qual ninguém mais se recorda, tem impacto zero na redução da criminalidade, como demonstram inúmeros estudos. Nos Estados americanos que aboliram a pena capital, os índices de criminalidade não aumentaram; naqueles que ainda a mantém, eles não são mais baixos.

Agora, analisemos o caso do Brasil. Com um Judiciário desigual e moroso como o nosso, quanto tempo levaria para que todos os prazos e recursos processuais fossem esgotados? Num país com enorme dificuldade para prender os que assaltam os cofres públicos, seria fácil condenar à morte uma pessoa influente, por mais hediondo que fosse o crime?

O assaltante da periferia que praticasse um latrocínio teria acesso a advogados com o mesmo preparo técnico do que o assassino impiedoso bem-nascido?

Não é preciso ser catedrático de direito penal para imaginar que o desenlace fatal levaria muitos anos para ocorrer. Escapariam dele os que tivessem dinheiro para contratar bons criminalistas, capazes de engendrar manobras jurídicas que tornariam os processos intermináveis.

Os rigores da lei cairiam exclusivamente sobre os mais pobres. Não era dessa forma no passado, e não é assim até hoje? Quem tem dinheiro, por acaso chega a cumprir em regime fechado o número de anos a que foi condenado? Em 23 anos frequentando cadeias, nunca vi.

ARNALDO JABOR - A política anda por linhas tortas

No circo da propaganda eleitoral, o desfile de horrores da política brasileira. Será um trem fantasma de caras e bocas e bochechas que traçam um quadro sinistro do Brasil, fragmentado em mil pedaços - o despreparo, a comédia das frases, dos gestos, da juras de amor ao povo, da ostentação de dignidades mancas.

Os candidatos equilibram bolas no nariz como focas amestradas, dão "puns" de talco, dão cambalhotas no ar como babuínos de bunda vermelha, voando em trapézios para a macacada se impressionar e votar neles. Os candidatos têm de comer pastéis de vento, de carne, de palmito, buchada de bode e dizer que gostou, têm de beber cerveja com bicheiros e vagabundos, têm de abraçar gordos fedorentos e aguentar velhinhas sem dente, beijar criancinhas mijadas, têm de ostentar atenção forçada aos papos com idiotas, têm de gargalhar e dar passinhos de "rebolation" quando gostariam de chorar no meio-fio - palhaços de um teatrinho absurdo num país virtual, num grande pagode onde a verdade é mentira e vice versa.

Ninguém quer o candidato real; querem o que ele não é. A política virou um parafuso espanado que não rola mais na porca da vida social, mas todos fingem que só pensam no povo e não em futuras maracutaias.

O Brasil vive um momento de suspense, de duvidas, do "será?". Haverá condenados no mensalão? Dilma vai conseguir governar? Ninguém sabe o que vai acontecer. Só nos resta o mau ou bom agouro, o palpite, a orelha coçando, o cara ou coroa.

A política brasileira anda por sustos. Meu primeiro susto foi em 54.

Estou do lado do rádio e ouço o Repórter Esso: "O presidente Vargas acaba de se suicidar com um tiro no peito!". O mundo quebrou com o peito de Getúlio sangrando, as empregadas correndo e chorando.

Estou no estribo de um bonde, em 61. "O Jânio Quadros renunciou!", grita um sujeito. Gelou-me a alma. Afinal, eu votara pela primeira vez naquele caspento louco (o avô "midiático" do Lula), mais carismático que o careca do general Lott. Eu já sentira arrepios quando ele proibiu biquínis nas praias. Tínhamos posto um louco no Planalto - e não seria o único...

Em 64, dias antes do golpe militar - o comício da Central do Brasil. Serra estava lá, falando, de presidente da UNE. Clima de vitória do 'socialismo' que Jango nos daria (até para fazer 'revolução' precisamos do Governo...). Tochas dos bravos operários da Petrobrás, hinos, Jango discursando, êxtase político: seríamos a pátria do socialismo carnavalesco. Volto para casa, eufórico mas, já no ônibus passando no Flamengo, vejo uma vela acesa em cada janela da classe media, em sinal de luto pelo comício de 'esquerda'. Na noite 'socialista', cada janela era uma estrelinha de direita. "Não vai dar certo essa porra..." - pensei, assustado. Não deu.

Ainda em 64, festa do 'socialismo' no teatro da UNE. 31 de março, onze da noite. Elza Soares, Nora Ney, Grande Otelo comemoram o show da vitória. No dia seguinte, a UNE pegava fogo, apedrejada por meus coleguinhas fascistas da PUC. Na capa da revista O Cruzeiro, um baixinho feio, vestido de verde-oliva me olha. Quem é? É o novo presidente, Castelo Branco. Corre-me o arrepio na alma: minha vida adulta foi determinada por aquele dia. O sonho virou um pesadelo de 20 anos.

Depois, vem o Costa e Silva, sua cara de burro triste e, pior, sua mulher perua brega no poder. Aí, começaram as passeatas, assembleias contra a ditadura. Costa e Silva tinha alguns traços populistas e resolveu dialogar com os líderes do movimento democrático. Uma comissão vai conversar com o presidente. Aí, outro absurdo - os membros da comissão se recusam a vestir paletó e gravata na entrada do palácio: "Não usamos gravatas burguesas!" - e o encontro fracassa. Ninguém lembra disso; só eu, que sou maluco e olho os detalhes.

Tancredo entrou no hospital e arrepiou-me o sorriso deslumbrado dos médicos de Brasília no Fantástico, amparando o presidente como um boneco de ventríloquo; tremeu-me o corpo quando vi que nossa historia fora mudada por um micróbio em seu intestino.

Gelei ao ver o Sarney, homem da ditadura, posando de "oligarca esclarecido" na transição democrática, com seu jaquetão de "teflon", até hoje intocado. Assustei-me com a moratória de 87, aterrorizou-me a inflação de 80% ao mês.

E, depois, vejo a foto do Collor na capa da Veja - com todo mundo dizendo: "Ele é jovem, bonito, macho...", revirando os olhos numa veadagem ideológica. Foi um período tragicômico, com a nação olhando pela fechadura da "Casa da Dinda" para saber do seu destino. Depois o período do "impeachment", dos caras-pintadas.

Durante Itamar, a letargia jeca-tatu, só quebrada pela mudança na economia com o plano Real que FHC fez (que depois foi roubado pelo Lula, claro...) Aí, 1994, o ano da esperança, Brasil tetra na Copa e um intelectual da verdadeira esquerda subindo ao poder. Mas, meu medo histórico logo voltou, quando vi que a Academia em peso odiava FHC por inveja e rancor, criando chavões como "neoliberalismo", "alianças espúrias" (infantis, comparadas com a era Lula). Os radicais de cervejaria ou de estrebaria não deram um escasso crédito de confiança a FHC, que veio com uma nova agenda, para reformar o Estado patrimonialista.

Durante o mandato, o próprio governo FHC cometeu seu erro máximo que até hoje repercute - não explicou didaticamente para a população a revolução estrutural que realizava: estabilização da economia, lei de responsabilidade fiscal, privatizações essenciais, consolidação da dívida interna, saneamento bancário que nos salvou da crise de hoje, telefonia, tudo aquilo que, depois, Lula surripiou como obra sua. Foi arrepiante ver a mentira com 80 por cento de Ibope.

Hoje o que me dá medo é ver que a tentativa de Dilma governar é sabotada por aqueles que achavam que ela seria apenas uma clone, uma 'cover' do Lula, que esquentaria a cadeira para ele sentar em 2014. Hoje estamos vendo a cara verdadeira dos donos peronistas da CUT e dos funcionários mais bem remunerados, os "amigos do povo" que roubam em seu nome.

MARIO VARGAS LLOSA - Julian Assange na sacada

No cubículo da Embaixada do Equador em Londres, onde está refugiado, o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, terá agora tempo de sobra para refletir sobre a extraordinária história de sua vida, que começou como obscuro ladrãozinho da intimidade alheia (é o que faz um hacker, embora o anglicismo procure inocular dignidade a esse ignóbil ofício) no país dos cangurus e terminou se convertendo num ícone contemporâneo, tão famoso quanto os jogadores de futebol ou roqueiros mais da moda - para muitos, um herói da liberdade de expressão -, no centro de um conflito diplomático.

Existe tamanho cipoal de confusões e mentiras a respeito do personagem criado por ele mesmo e por seus partidários e impulsionado pelo jornalismo ávido de escândalos, que há milhões de pessoas no mundo convencidas de que o desgracioso australiano de cabelos brancos amarelados, que apareceu alguns dias atrás em uma sacada da embaixada equatoriana do bairro preferido pelos xeques árabes em Londres, Knightsbridge, para dar lições sobre liberdade de expressão ao presidente Barack Obama, é um perseguido político dos EUA. Ele teria sido salvo in extremis nada menos que pelo presidente Rafael Correa, do Equador - isto é, o governo que, depois de Cuba e Venezuela, perpetrou os piores atropelos contra a imprensa na América Latina, fechando emissoras, jornais, arrastando a tribunais servis jornalistas e diários que se atreveram a denunciar os tráficos e a corrupção de seu regime, e apresentando um lei da mordaça que praticamente selaria o desaparecimento do jornalismo independente no país. Nesse caso, sim, vale o velho refrão: "Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és". Porque o presidente Correa e Assange são farinha do mesmo saco.

Na verdade, o fundador do WikiLeaks hoje não é objeto nem sequer de uma investigação judicial nos EUA, nem Washington fez algum pedido reclamando-o a ninguém para enfrentá-lo num tribunal. O suposto risco de que, se for entregue à Justiça sueca, o governo da Suécia possa enviá-lo aos EUA é, por enquanto, uma presunção desprovida de todo fundamento e não tem outro objetivo, senão cercar o personagem de uma aura de mártir da liberdade que ele certamente não merece.

A Justiça sueca não o reclama por suas façanhas - melhor dizendo, inconfidências - informáticas, mas por acusações de violação e assédio sexual. Assim entendeu a Corte Suprema da Grã-Bretanha e, por isso, decidiu extraditá-lo à Suécia, cujo sistema judiciário, ademais, é, como o britânico, um dos mais independentes e confiáveis do mundo. De maneira que o senhor Assange não é, na verdade, uma vítima da liberdade de expressão, mas um fugitivo que utiliza esse pretexto para não ter de responder às acusações que pesam sobre ele como suposto delinquente sexual.

A popularidade de que goza se deve às centenas de milhares de documentos privados e confidenciais de diversas repartições do governo dos EUA - começando pela diplomacia e terminando pelas Forças Armadas - obtidos por roubo e pirataria, que o WikiLeaks difundiu, apresentando-os como uma proeza da liberdade de expressão que trazia à luz intrigas, conspirações e condutas incompatíveis com a legalidade. Foi realmente assim?

As delações do WikiLeaks contribuíram para arejar certas profundezas delinquentes e criminosas da vida pública americana? Assim afirmam os que odeiam os EUA, "o inimigo da humanidade", e não se conformam de que a democracia liberal, da qual esse país é o principal guardião, tenha vencido a Guerra Fria e não tenham triunfado o comunismo soviético ou maoista. Mas creio que uma avaliação serena e objetiva da informação oceânica que o WikiLeaks difundiu, mostrou, afora uma bisbilhotice miúda, burocrática e pouco substancial, abundante material que justificadamente deve ser mantido dentro de uma reserva confidencial.

Jamais saberemos a maneira como as revelações do WikiLeaks serviram para que se desfizessem as redes de informação laboriosa e arriscadamente montadas pelos países democráticos nas satrapias que amparam o terrorismo internacional da Al-Qaeda e congêneres. Nem quantos agentes e informantes dos serviços de inteligência do Ocidente foram detectados e possivelmente eliminados por efeito dessas publicações. Mas não resta dúvida de que essa foi uma das sinistras consequências do vazamento informativo.

Não é curioso que o WikiLeaks tivesse privilegiado de tal modo revelar os documentos confidenciais dos países livres, onde existem a liberdade de imprensa e uma legalidade digna desse nome, em vez de fazê-lo das ditaduras e governos despóticos que ainda proliferam pelo mundo? É mais fácil ganhar credenciais de combatente pela liberdade exercitando a inconfidência, o contrabando e a pirataria em sociedades abertas, ao amparo de uma legalidade sempre reticente em sancionar os delitos de imprensa para não dar a sensação de restringir ou pôr obstáculo a essa liberdade de crítica que é, de fato, o sustentáculo essencial da democracia, do que infiltrando-se nos segredos dos governos totalitários.

Os partidários do WikiLeaks deveriam se lembrar de que a outra face da liberdade é a legalidade. Sem esta, aquela desaparece pura e simplesmente. A liberdade não é nem pode ser a anarquia e o direito à informação não pode significar que num país desapareçam o privado e a confidencialidade. Isso significaria a paralisia ou a anarquia e nenhum governo poderia, em semelhante contexto, cumprir com seus deveres nem sobreviver.

A liberdade de expressão se complementa, numa sociedade livre, com os tribunais, os Parlamentos, os partidos de oposição e esses são os canais adequados aos quais se podem recorrer se houver indícios de que um governo oculta ou dissimula criminosamente suas iniciativas. Mas atribuir a si esse direito e proceder manu militari para dinamitar a legalidade em nome da liberdade é desnaturar esse conceito e degradá-lo de maneira irresponsável, convertendo-o em libertinagem.

Foi o que fez o WikiLeaks e, pior, eu creio, não em razão de certos princípios ou convicções ideológicas, mas empurrado pela frivolidade e o esnobismo, vetores dominantes da civilização do espetáculo em que vivemos.

O senhor Assange não praticou na instituição que fundou a transparência e lisura totais que exige das sociedades abertas contra as quais se encarniçou. As defecções que o WikiLeaks sofreu se devem, fundamentalmente, a sua resistência em prestar contas a seus colaboradores dos vários milhões de dólares que recebeu, segundo artigo assinado por John F. Burns, no International Herald Tribune de 18/19 de agosto. É um bom indício de como as coisas podem ser complicadas e sutis quando são observadas de perto e não a partir de lugares comuns, estereótipos e clichês.

Nas atuais circunstâncias, não há razão alguma para considerar Julian Assange um cruzado da liberdade de expressão, mas antes um oportunista vivaldino que, graças a seu faro, sentido de oportunidade e habilidades informáticas, montou uma operação escandalosa que lhe deu fama internacional e a falsa sensação de que era todo-poderoso, invulnerável e podia permitir-se todos os excessos. Ele se equivocou e agora é vítima desses últimos. A verdade é que sua peripécia parece ter entrado num beco sem saída e não é impossível que, tão logo amaine a ventania que fez dele uma pessoa famosa, ele seja lembrado, sobretudo, pela involuntária ajuda que prestou, acreditando agir em favor da liberdade, a seus mais encarniçados inimigos.
TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

VÍDEO: 1946 - PASSEIO PELO RIO DE JANEIRO - PRAIAS , CENTRO, JARDIM BOTÂNICO...



AMAR. PARTIR. VOLTAR. - Affonso Romano de Sant'anna

Há uma canção de John Denver que ouvi várias vezes (no YouTube sob o nome de Leaving on a jet plane: http://www.youtube.com/watch?v=BhebvUZ7wGQ). Aí, ele narra que o amante está se despedindo da amada para pegar um avião. Parece coisa normal e bastante atual. Não é de hoje que os amantes se despedem. Mas há algo mais. Ele diz que suas malas estão prontas do lado de fora da porta, o táxi está esperando, buzinando, e ele está chateado de ter que acordar a amada para partir. Então, ternamente, ele canta o estribilho pedindo que a amada o beije, sorria e o abrace como se ele nunca fosse partir. Contudo, infelizmente, o avião o espera e ele não sabe quando vai voltar. Ele odeia fazer isto, mas não tem jeito, tem que ir, o avião etc.

Na outra estrofe, ele lembra quantas vezes teve que abandoná-la, entregou-se a outros amores, mas isso não significou nada, porque em toda parte ele pensava nela e, quando voltar, vai lhe trazer a aliança de casamento. Portanto, que ela o beije uma vez mais, porque ele está tendo que pegar o avião etc. Mas ele voltará, não a deixará mais sozinha, mas agora, de novo, tem que ir, pegar o avião e não sabe quando voltará.
O tema do amante que parte é antigo na poesia das canções. Na Idade Média, o amante partia para a batalha e a princesa ficava na torre do castelo sonhando, esperando. Na bela canção de John Denver o avião substitui o cavalo, a carruagem, o trem e o navio. Modernizou a estória que, milenarmente, é a mesma. Amar. Partir. Voltar. E partir de novo… Como no drama de Romeu e Julieta, muitos se perguntaram: e se eles tivessem se casado? O amor acabaria? Ou: e se ele não tivesse partido?

Há algo corriqueiro e intrigante nesta história: o homem parte, a mulher fica. Era assim na cultura romântica. Era assim na sociedade em que o homem ia à caça e a mulher cuidava da colheita. A mulher sempre estática, passiva. O homem agindo, partindo. O mundo interior versus o mundo exterior. O lar e a batalha. A casa e o mundo dos negócios. Papéis diferentes para a fêmea e o macho. Aliás, a famosa história de Ulisses e Penélope retrata a espera, a viagem e o retorno do herói.

Os tempos mudaram. Mudaram?

As mulheres são executivas, andam com pastas e projetos. Também pegam o avião e deixam seus amados e amantes. E as letras ficaram mais ríspidas, brutais, realistas. Já nos anos 1960, Bob Dylan compôs It aint me babe, na qual despachava a mulher dizendo claramente: “Você está procurando alguém que nunca parta! Não sou eu, baby”.
Nosso cancioneiro está cheio de boêmios que partem e voltam. Vinicius de Moraes, que era não só romântico, mas um macho descarado, fez uma peça de teatro na qual a mulher se chamava Cordélia e o poeta era o Peregrino, que vivia solto por aí. A mulher tinha que ficar ali, igual a um cordeiro para ser sacrificada no altar do amor.

Curioso que na canção de John Denver temos só a voz do amante, daquele que parte. O que a mulher pensa, não sabemos. O que pensam as mulheres? Não estou me lembrando de canções e poemas em que a mulher parte e o homem fica esperando. Como seria esse tema nas canções compostas pelas mulheres depois dos anos 60?

O fato é que, metafísica e psicologicamente, o ser humano é descontínuo.

E há a biologia: o espermatozoide é irriquieto, o óvulo é repousante. Um procura, o outro aguarda. Mas também se diz que a fêmea é que escolhe o macho.
Seja como for, há um poema famoso de Claribel Alegria, no qual Penélope, cansada de esperar, diz a Ulisses que é melhor ele não voltar, porque já deu um jeito na vida. Ou seja, Penélope não é mais aquela.

FRIO NO RIO - Caetano Veloso

O arco-íris foi lindo, mas o desconforto que representa para mim ter que usar muitas camadas de roupa atrapalhou. Meu quarto fica de frente para o Oceano Atlântico, e as invisíveis frestas das janelas deixam entrar um incessante ar gelado. Sinto-me num cinema. 

Lugar onde vou para amar o que vejo e odiar a temperatura. Não sei se é por causa do aquecimento global, mas acho que os invernos cariocas têm começado cada vez mais tarde.

Fala-se muito do calor que se sofre no Rio (na verdade, por apenas um mês e meio ele se aproxima do insuportável, mas isso faz parte do período do ano que passo na Bahia). Meus amigos europeus ou argentinos, canadenses ou ameri- canos em geral dizem sofrer mais frio aqui do que em seus países de origem. Os que vão a Sampa ou Curitiba no nosso inverno então, nem se fala. É que, sendo um país oficialmente tropical, só recentemente começamos a fazer uso de algum tipo de aquecimento em recintos fechados. Na última vez que fui a Curitiba observei que o aeroporto de lá, novo, não tinha aquecimento. Ora, Curitiba tem temperaturas londrinas. Ninguém em Londres passa frio em táxis, shoppings ou aeroportos. De minha parte, passo frio aqui até no verão - às vezes principalmente no verão.

Por que cinemas e restaurantes têm de ser gelados? A gente vai a um lugar para ficar sentado por cerca de duas horas (hoje em dia, quase sempre por mais de duas horas, já que os filmes americanos são indefectivelmente mais longos do que precisam e do que merecem, exceção feita aos de Woody Allen, que continua escrevendo para a velha hora e meia dos filmes dos anos 1940), parado, calado - e a temperatura é sempre ridiculamente baixa. Há algo de muito brega nisso. É como milkshake grosso que não passa pelo canudo: se o cinema não estiver produzindo pneumonias em idosos (sou idoso) o freguês acha que não está sendo bem servido. Deveria haver um limite legal para isso.

Digamos: 24 graus. Para que ficar numa sala com 17 graus de temperatura? E que tristeza ter de levar, no calor, casacos grossos no braço e calçar meias de lã. O mesmo se dá (não com a mesma invariabilidade) em restaurantes. A gente carrega uma tralha de abrigos para aguentar ficar com uns amigos esperando um risoto de cogumelo. O risoto esquenta mais do que pipoca, mas ainda as- sim...

Cresci numa cidade quentíssima. Embora lá faça frio no inverno como não faz em Salvador, Santo Amaro, também diferentemente da capital, é um forno no verão. Mesmo assim, minha mãe dizia para eu não sair à noite sem um pulôver (ela usava a palavra) por causa do sereno - mesmo em janeiro. Aprendi a gostar de frio: em Sampa, Buenos Aires ou Porto Alegre, prefiro estar nas épocas frias. É que há charme na diferença. Mas prefiro o calor.

Quero dizer: nunca moraria em São Francisco, a cidade californiana onde nunca faz calor. Preciso ter o calor como base. Frio é curtição esporádica.
Mas com esses cinemas e restaurantes gélidos (hoje em dia também ônibus e táxis), dificilmente posso continuar de sandálias e camiseta se quiser sair de casa.

Nelson Rodrigues dizia ter certeza de que não se sentia calor quando ele era novo. Quando eu ainda era moderninho, as pessoas se queixavam bem menos de calor. Hoje, se não faz frio já começo a ouvir gente chiando das altas temperaturas. 

Já eu adoro poder levantar da cama e pôr o pé nu no chão nu. Quando não tenho tempo de curtir esse estado (e quase nunca tenho, já que saio quase todos os dias pouco depois de acordar), sinto falta. 

E vejo o frio cada vez mais se intrometendo na primavera. Mas estou na onda da primavera. Vou fazer esse show chamado "Primavera carioca" para o , qual convidei Chico Buarque. Até o ar-condicionado dos cinemas (me esqueci de falar nos teatros e casas de show, mas estes, em geral, não chegam à sibéria dos multiplexes) vai esquentar. 

Convenci Chico a fazer um número de violão. Será uma aparição única e especialíssima. O Trio Preto+1, de Pretinho da Serrinha e Companhia, expressará o calor em sua música. 

A maior parte do tempo estarei sozinho com meu violão, cantando coisas do Rio e outras. 

ALIMENTOS ORGÂNICOS NÃO SÃO MAIS NUTRITIVOS, DIZ ESTUDO.


Alimentos orgânicos, mais caros e supostamente mais saudáveis, tiveram seus benefícios contestados em uma nova pesquisa feita na Universidade Stanford (USA). 

O estudo, publicado no "Annals of Internal Medicine", conclui que não há muitas diferenças entre os alimentos convencionais e orgânicos quanto aos níveis de vitaminas e nutrientes. Mas as opções orgânicas podem fazer seu alto custo compensar por diminuírem a exposição a pesticidas e bactérias resistentes a antibióticos.

Uma equipe de pesquisadores de Stanford revisou mais de 200 estudos que comparavam a saúde de /pessoas que consumiam orgânicos e alimentos convencionais e também os níveis de vitaminas e nutrientes de alimentos como leite, ovos, legumes, grãos e carne.

Não foram encontradas evidências fortes de que os orgânicos são mais nutritivos. Os pesquisadores não viram diferenças significativas quanto à quantidade de vitaminas nos dois tipos de alimento --apenas o fósforo foi encontrado em níveis mais elevados na versão orgânica.

Os pesquisadores também não encontraram diferenças em relação à quantidade de proteínas ou gordura entre o leite convencional e orgânico. Um número limitado de estudos, porém, sugeriu que o leite e o frango orgânicos têm maiores níveis de ômega-3.

As maiores diferenças foram observadas em relação à quantidade de pesticidas e bactérias resistentes a antibióticos nos alimentos. Mais de um terço dos produtos convencionais tinha resíduos de pesticidas detectáveis, em comparação com 7% das amostras de alimentos orgânicos. Frango e carne de porco orgânicos tinha 33% menos chance de ter bactérias resistentes a três ou mais antibióticos que as versões tradicionais.

Uma das autoras da pesquisa, Crystal Smith-Spangler afirmou que é pouco comum que tanto os alimentos convencionais como os orgânicos excedam os limites de pesticidas. Portanto, é difícil saber se uma diferença na quantidade de resíduos teria impacto à saúde, diz.

Mas o pesquisador de Harvard Chensheng Lu, que não esteve envolvido no estudo, afirma que as pessoas deveriam considerar a exposição a pesticidas ao fazer escolhas durante as compras.
Ele diz que mais pesquisas são necessárias para explorar a fundo as diferenças entre os dois tipos de alimentos e seus riscos --por isso, é prematuro concluir que as versões orgânicas não são mais saudáveis, acredita.

A popularidade de produtos orgânicos, que são cultivados sem pesticidas sintéticos, fertilizantes, antibióticos ou hormônios de crescimento, tem aumentado nos EUA. Entre 1997 e 2011, as vendas de alimentos orgânicos nos EUA cresceram de US$ 3,6 bilhões para US$ 24,4 bilhões, e muitos consumidores estão dispostos a pagar mais por esses produtos, que em geral custam o dobro dos alimentos convencionais.
(Folha de S.Paulo)

FRANCISCO DAUDT - É natural


Desconfie do 'a vida é assim mesmo', 
discuta as regras para ver se você 
as cumpre por gosto ou por obrigação.

O pensamento do filósofo Baruch (abençoado, em hebraico = Benedito = Bento) Spinoza sobre a liberdade poderia ser definido assim: "ela consiste em conhecer os cordéis que nos manipulam". Repare que ele não reconhecia a liberdade como coisa de existência verdadeira, mas poderíamos ampliá-la um pouco se aliviássemos, ao conhecê-los, os puxões dos cordéis.
Outro grande, Schopenhauer (bem lembrado por um leitor), disse que podemos até ter vontades, mas não podemos escolher nossos desejos. Tenho escrito sobre a natureza humana para que saibamos como somos manipulados.

O que me lembrou a portuguesa avó Lucia, de uma amiga querida, que a tudo reagia com o mesmo bordão: "É natural", por mais estapafúrdia que a coisa fosse. "Vó, o padre fugiu com a vizinha!" "É natural, pois..."

Ela se defendia dos sustos da vida com o uso sistemático da naturalização. A naturalização não tem nada a ver com constatar as forças da natureza sobre nós. Ela é o processo da formação do senso comum, talvez o cordel mais forte que a cultura usa para mandar em nós.

Minha mãe quis ter oito filhos (teve sete). Por que tantos? "Porque em 1937 era bonito ter família grande, minhas amigas tinham". Era "natural". Tão natural quanto hoje ter dois. Se você quiser mais, o senso comum vai te patrulhar, "que absurdo, você tá louca?". O feminismo naturalizou a tripla jornada de trabalho para a mulher (ganhar dinheiro; gerenciar a casa, marido e filhos). Nascido em 1948, cresci tendo que cumprir uma linha de montagem: escolaridade, formatura (médico, engenheiro ou advogado), casar, ser provedor e ter filhos. Era natural. Eu me perguntei se queria isto? Claro que não. Tinha medo de ir "contra o natural". É a surda ditadura do senso comum. Hoje ela se estende ao "politicamente correto", um meio de formar rebanhos. A coisa está ficando afrodescendente...

Então este é um aviso: você é manipulado, sua inteligência é posta de lado em favor da obediência ao "que todo mundo faz". Ao mesmo tempo, é sedutora a ideia de que há manipuladores, superiores aos manipulados, e que é bom ser um deles. Mas você já é um manipulador/manipulado, todos o somos.
Um general manda na tropa, mas a mulher manda nele. Manipulação existe. Somos todos seus agentes e pacientes. Se eu for menos ativo e passivo dela, a manipulação diminuirá.

Desconfie do "é natural", que "a vida é assim mesmo". Discuta regras ocultas da ficância, do namoro, do casamento, para ver se você as cumpre por gosto ou por obrigação. Escancare-as!

Atenção com o implícito, com a alusão. As regras do senso comum nunca são faladas abertamente, ou saberíamos discuti-las. A patrulha se dá por punições sutis (suspiros, trombas e gelos). Também valem adjetivos reducionistas, "Isto é fascismo! Você é neoliberal!" (quem os usa já está dominado).

Claro, a patrulha também pode ser explícita, matar e espancar gays, porque eles são excessivamente não "naturais", entende? Mas vir dizer que "a diferença é linda" também é outra tentativa de naturalização que eu não aguento.

PEDRO DORIA - Quem tem medo do Face?

O novo livro de Andrew Keen sugere 
que as redes ameaçam 
nossa privacidade. Verdade. 
Mas é ameaça difícil de cumprir...

Andrew Keen esteve no Brasil, semana passada, para divulgar seu novo livro, #vertigemdigital, publicado pela Zahar. Ele é um dos mais conhecidos algozes da internet. Em seu primeiro livro, O Culto do Amador, também publicado pela Zahar, Keen defendia que a cultura contra o trabalho de profissionais que existia na rede poderia causar danos graves à sociedade. Seu inimigo do momento são as redes sociais. A tese que defende é a de que estamos abrindo mão de nossa privacidade sem sequer nos darmos conta das consequências que virão.

Privacidade é daquelas coisas que, intuitivamente, nos parecem importantes. Mas todos temos dificuldade de explicar por quê. Não bastasse, privacidade é coisa fluida. Quando um finlandês pergunta ao outro qual seu salário, ele ouve uma resposta de pronto. Ninguém vê motivo para ser discreto. Numa praia árabe, as áreas entre homens e mulheres são separadas por paredes, e mesmo na ala feminina elas se cobrem todas. Alemães vão à sauna mista nus sem que qualquer conotação sexual exista. Os mesmos alemães se insurgiram quando o Google decidiu publicar, no Street View do seu sistema de mapas, fotos das ruas que incluem, naturalmente, as fachadas das casas. Foto da casa vista da rua, por lá, é coisa privada.

O que é privado e o que é público varia de cultura para cultura, mas em todas existe privacidade. Charles Fried, um jurista de origem tcheca que foi advogado-geral dos EUA durante o governo de Ronald Reagan, tem talvez a melhor definição. Privacidade é o que define nossas relações. Os graus de intimidade que temos com as pessoas. Com aqueles mais próximos de nós, compartilhamos detalhes os mais íntimos. A partir daí, vamos impondo discretas barreiras entre nós e amigos de escola, colegas de trabalho, parceiros de pelada. Nossa capacidade de gerenciar a informação sobre nós que os outros têm define como convivemos em sociedade. Privacidade é importante por isso. Porque, se nossa vida é um livro aberto, nada nos protege do mundo lá fora.

Não é que Keen estivesse errado em sua crítica ao culto do amador, no primeiro livro. Estava certo. Mas, se a ameaça existiu, ela se desfez com o próprio avanço tecnológico. Música não era cobrada, com a loja iTunes da Apple artistas voltaram a receber pela venda de suas obras. Livros eletrônicos revelam uns poucos novos autores profissionais e a massa amadora continua no vácuo, quase nunca sendo lida. Inúmeras revistas tradicionais estão vendendo, e bem, edições eletrônicas para o tablet, caso da americana "New Yorker" e da britânica "The Economist". A ameaça de um mundo no qual produção profissional deixaria de ser remunerada num mar de amadorismo não parece que vai se concretizar.

Não é que Keen esteja errado quando aponta o risco da ausência de privacidade. Seu argumento é bem construído. Como ele próprio diz, estar ausente do Facebook não é uma opção para um número grande de pessoas. Quando todos seus amigos estão na rede social, sua ausência é um afastamento dos laços sociais. Quanto mais jovem o usuário, maior a pressão.

Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook, não é o único no Vale do Silício que repete o mantra: a privacidade acabou, só você que não viu. Só que não é totalmente verdade, e Zuckerberg é a prova disso. Quando decidiu se casar, ninguém soube até o dia em que ele próprio achou por bem tornar público. Busque na internet: de que músicas ele gosta? De que livros? Em que restaurante costuma jantar? Com que amigos bebe cerveja ou vinho quando é sábado?

A maioria dos empresários do Vale do Silício são pessoas reservadas. Talvez seja fácil encontrar suas casas, quase todas em Palo Alto, no Google Maps. Vez por outra sai por aí a foto de um deixando o Whole Foods com uma sacola de verduras frescas. Mas a turma de Hollywood, uns quilômetros ao Sul, parece ser mais evidência de que a privacidade está em risco do que os inventores das novas tecnologias. E, no caso de Hollywood, aquela privacidade está sob ameaça desde que há cinema.

Há riscos sim, e concretos, para nossa privacidade. O mais provável, no entanto, é que privacidade será redefinida. Como? Excelente pergunta.

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