LYA LUFT - O Rio das Perdas

A equipe de psicólogos de um grande hospital
me pediu uma palestra sobre perdas.

Perdas de quê? Dinheiro, saúde, emprego, amor, juventude, beleza… perda da alienação quando se aproxima a morte, nossa ou de alguém próximo, desconstruindo tudo o que parecia sólido em nós?
Qualquer perda. Pois, no trabalho deles, lidavam com isso o dia todo.
O que podia eu dizer a esses competentes profissionais que diariamente enfrentam os dramas que afluem a um hospital, aquele rio de perdas que se enfia por todos os cantos, atrás de cada porta ou biombo atingindo alguém com todo o direito de chorar?
Então procurei ser simples: falar das naturais dificuldades em lidar com qualquer perda - também fora do contexto hospital, saúde, vida e morte.

Primeiro, não queremos perder.
É lógico não querer perder. Aliás, nem deveríamos ter de perder nada: saúde, pessoas, posição, dignidade ou confiança. Mas uma constante alternância de ganhos e perdas forma em parte a nossa humanidade ameaçada. Nós somos também isso.

Segundo, perder dói mesmo.
Não há como não sofrer. É tolice dizer "não sofra, não chore". Também o luto e a dor são importantes - desde que não nos paralisem demasiado por demasiado tempo.

Terceiro, precisamos de recursos internos para enfrentar a dor.
O apoio dos outros é relativo e passageiro. A força decisiva terá de vir do nosso interior, onde se depositou a bagagem da nossa vida. Lidar com a perda vai depender do que encontramos ali: se nesse lugar crescem árvores sólidas, teremos onde nos agarrar. Se houver apenas plantinhas rasteiras, estaremos mal. Por isso, aliás, a tragédia faz emergir forças insuspeitadas em algumas pessoas, e para outras aparece como uma injustiça pessoal ou uma traição da vida.
Uma doença grave, um insulto à dignidade ou o esvaziamento da nossa confiança deixam-nos encurralados. Já não vemos sentido em nada, e isso será mais difícil se até ali corremos desnorteados no tempo em que, sem refletir nem apreciar, ainda possuíamos isso que agora perdemos.
Não acho que seja preciso alta filosofia nem devoção ardente, nem acredito em muita teorização sobre o sentido da existência.
Mas creio numa expressão algo fora de moda, que no meu caso não tem conotação religiosa: vida interior. Que é o espaço da ética, dos afetos, da humildade e da coragem, da visão da nossa transcendência. Somos parte de um misterioso ciclo vital que é o da própria natureza, e nos confere sentido. Dentro dele, mesmo sendo insignificantes, temos grandeza. Mesmo sendo muito jovens, podemos ser maduros.
Por tudo isso, que não compreendemos mas podemos sentir, a vida vale a pena - também quando o mundo parece desabar sobre nós ou arrancar-nos das mãos aquela última pequena e pálida esperança.

FERREIRA GULLAR - Amar o perdido

 
O menino, hoje um senhor idoso, não esquece o dia 
em que sua moeda caiu pela fresta do assoalho e sumiu.
O quintal, relativamente grande, ficava ao lado da casa e ao fundo das casas vizinhas, de muro baixo. Rente ao muro estavam as bananeiras, onde ele e suas irmãs se embrenhavam, brincando de esconde-esconde. Do lado do quintal, havia uma pitangueira e uma mangueira, cujos ramos se estendiam sobre a cerca que limitava com a residência de um coronel do Exército.
O resto do quintal era coberto de mato-burro, um tipo de vegetação que chegava à cintura dele e encobria a irmãzinha menor. Ali, certo dia, descobriu um ninho cheio de ovos da galinha-d'angola que, com seu parceiro, habitava o lugar.
Mas, atravessando um pequeno portão, ao lado da casa, chegava-se a um quintal menor, de terra batida, sem vegetação, limitado, de um lado pela casinhola do banheiro e, de outro, pela varanda que se estendia até a sala de jantar. À esquerda, ficava o muro coberto de um musgo verde brilhante.
Este quintal menor era o domínio de um galo de crista vermelha e penas marrons, que caminhava garboso, exibindo suas esporas e observando com aqueles olhos redondos, especialmente as quatro galinhas que constituíam sua corte.
Além delas, havia ali um frango, de penugem incipiente, que às vezes se atrevia a cantar de galo e era logo reprimido pelo rei do terreiro, que partia para cima dele a bicadas. O menino, que simpatizava com o frango, intervinha na briga e evitava a agressão.
A família era, no total, dez pessoas, o pai, a mãe e sete filhos (entre meninas e meninos) e uma tia da mãe, que cuidava da casa. O pai, comerciante ambulante, um dia apareceu na casa com um animal esquisito, que parecia um bezerro, mas não era, pois, além do mais, tinha o focinho dividido em dois. Era uma anta.
A mãe, ao ver aquele animal estranho no quintal, ficou perplexa. "Que diabo de bicho é esse que você trouxe para nossa casa?", perguntou ela. Ele respondeu que o tomara de um sujeito que lhe devia dinheiro e não pagara. "E você acha que alguém vai comprar um bicho esquisito como esse, de dois focinhos, e que não serve para nada?", ela perguntou.
As crianças da vizinhança subiam no muro para espiar o animal. Os adultos chegavam até o portão, espiavam e saíam rindo e fazendo troça. A mãe deu um ultimato ao marido: ou ela ou a anta. Ele então decidiu levar a anta não se sabe para onde. Quando subiu a rua, puxando-a pelo cabresto, a molecada o seguiu, gritando e rindo, muito excitada.
A casa era grande, tinha vários quartos, todos assoalhados. Assoalhos antigos, de tábuas corridas, debaixo das quais, às vezes, surgiam ratos, que ali se metiam pela fresta de alguma tábua apodrecida. Se saíam, eram perseguidos pelos gatos que habitavam a casa.
Exceto os pais, que dormiam numa cama de casal, todos os demais dormiam em redes armadas nos cantos dos quartos e, nessas redes, se embalavam, às vezes cantarolando, às vezes disputando lugar com um ou outro irmão. Com frequência, algum deles se estatelava no chão e saía chorando a procurar a mãe, para se queixar.
Faz muitos e muitos anos que isso aconteceu, embora a casa ainda exista e os assoalhos de tábuas corridas tenham sido substituídos por piso de cimento. Nem o pai nem a mãe existem mais. As meninas e os meninos cresceram, foram cada um inventar sua própria vida: casaram-se, tiveram filhos e netos e alguns mudaram até mesmo de cidade. Uns poucos continuam na mesma casa, cujo quintal foi vendido para uma família, que ali construiu sua casa.
O menino, que hoje é um senhor idoso, não esquece o dia em que uma moeda sua caiu pela fresta do assoalho e sumiu. Ele não se conformou. Com um pé de cabra, arrancou uma das tábuas que estava quase solta e mergulhou debaixo do assoalho. Teve uma surpresa: foi como se tivesse passado a outro planeta, já que o chão, ali embaixo, era como um talco negro, em que seus pés afundaram até os tornozelos.
Em pânico, conseguiu escapar daquele solo de pó, onde sua pequena moeda se perdera para sempre. Mas, pelo resto da vida, de quando em vez, em sonho, voltava, em prantos, àquele território lunar em busca da pequena moeda para sempre perdida.

MARCIA TIBURI - Asas

Cigarro aceso é tempo para pensar. Coisa que não deixo que me roubem no meio desse caminho de palavras espalhadas pelo chão. Na bolsa, espaço para estrelas sem destino. Já me roubaram tudo, a ampulheta que controla o futuro, meu corpo, cílios postiços, meus olhos piscando. Sigo de salto alto no pé direito, descalço é o esquerdo. Me doem as costas, as coxas, a unha. Um soco rasgou-me a maçã, sujando de sangue a blusa de malha. Ficou a segunda pele mais fácil de lavar. Meus seios ardem como queimados. Deve ter sido o susto. Às vezes, chegam exigindo dinheiro. Nunca é o sexo, cujo perigo eles conhecem. Esta noite, só o que queriam era olhar-me sem olhos.

O que me dói, no entanto, é a falta de Agnes.

Agnes era a solidão que me faltava. Uma conquista verdadeira, como disse a ela quando nosso guarda-chuva foi devorado pelo vento e pude tocar em seus braços miúdos, as costas tesas, aqueles cabelos de luz. Eu a esperava na saída da fábrica no fim da madrugada, acompanhava-a pela rua, carregávamos juntas os dias, as noites, todos os segredos. De sua língua, surgia ora um gosto, ora um desgosto. Eu só escutava.

Agnes dizia que meus pensamentos vinham de nuvens contadas. Me pedia um dinheiro qualquer para comprar pão, falando dos filhos, do marido, do pai doente. O salário não dava para o mínimo. Eu acudia com meu pouco, que era muito pouco, menos, coisa nenhuma. Ela agradecia escondendo o que sabia. Não ficava bem andar ao meu lado.

Perguntou-me uma única vez se eu fazia programa. Eu só faço tricô, menti. E essa voz tão forte, e essa barba que cresce, e esses pés enormes? Sentia-me a vovó da Chapeuzinho explicando-lhe que meu corpo era todo, era inteiro, um casal completo a ocupar um mesmo lugar no espaço. Pedia-me que eu mostrasse, mas eu tinha vergonha de ficar nu diante daquela falta de maldade. Uma dia ela veria apenas as asas, dizia, prometendo o mundo. Ela silenciava tentando ouvir o som dos pássaros a despertar a cidade. Andava comigo até o portão e seguia uns cinquenta metros adiante, desaparecendo na entrada do arvoredo.

Esperei na porta da fábrica por dias. Ela nunca mais apareceu. Roubaram-me um pouco a cada dia, o que eu tinha e o que não tinha. Me roubaram também Agnes. Me pergunto o que farei agora, quando as margens dessa rua se tornam tão estreitas. Tive a ideia de subir no morro. Voarei para bem longe. Agnes verá as asas. Saberá, como eu sei, que tudo vai ficar bem.

DANUZA LEÃO - Certa pobreza

A pobreza urbana é agressiva; 
são mulheres com uma criança no colo, duas pela mão.

Outro dia tive que ir ao centro da cidade, onde não ia havia anos. Conheci esse centro quando ainda era criança e tinha chegado do Espirito Santo para viver no Rio. Na zona sul não havia lojas, ainda não existiam as butiques, e uma vez por semana ia com minha mãe ao centro.

Era onde se faziam compras, desde as mais banais, até as mais importantes, que na época era um par de sapatos ou o tecido para fazer um vestido. Não existiam vestidos prontos, e cada família tinha sua costureira. Comprava-se o figurino (revista de moda), a costureira dizia de quantos metros precisava, fazia-se uma prova, e um dia chegava um embrulho de papel cor de rosa, fechado com alfinetes -o durex ainda não tinha sido inventado-, trazendo o vestido.

Era uma emoção ir ao centro, onde havia um comércio que me parecia o luxo dos luxos. Havia até lojas que vendiam casacos de pele, e imagino que fazia frio no Rio para usar peles -devia fazer-, pois as vitrines das lojas Canadá e Sibéria mostravam as mais lindas.

Depois das compras, um lanche na Colombo, e a volta para casa de bonde. Era um dia completo, de total felicidade. Foi lá que pela primeira vez tomei um sundae e comi uma coxinha de galinha; em Vitória não existiam essas coisas chiques.

O mundo mudou, há anos não ia ao centro, mas tive que ir, semana passada. Passei pelas mesmas ruas e me deu uma tristeza tão grande que era melhor não ter ido.

Fui parar no largo da Carioca; é um largo, como diz a palavra, onde hoje as lojas são barraquinhas, e havia uma que, para animar, tocava um som bem alto. Das músicas, nem vou falar. Mas o que me impressionou mesmo foi a quantidade de pessoas que circulava por ali. Eram muitas e todas, absolutamente todas, muito pobres.

Em qualquer bairro do Rio existe gente pobre, mas não tantas assim, nem tão pobres. Era uma miséria absoluta, que se via nas roupas, nos sapatos -a maioria com uma sandália havaiana já bem usada- e nos rostos. Muitas lanchonetes pela rua, e numa delas o cartaz: "Arroz, feijão e batata frita por R$ 10,50".

Fiquei pensando nos pobres do Nordeste, que se veem na televisão e em alguns filmes brasileiros; eles moram em casebres com chão de terra batida, sempre muito bem varrido. E têm uma dignidade; não sei bem de onde ela vem, mas ela existe. Talvez por terem um pedacinho de chão só deles, talvez.

A pobreza urbana é agressiva; são mulheres com uma criança no colo, duas pela mão, levadas pelas mães porque não têm com quem ficar, adolescentes de short e camiseta que devem ser a única roupa que têm. Ninguém pedia esmola, todos estavam ali fazendo alguma coisa, trabalhando, encarando um bico qualquer, talvez de ambulante, talvez de ajudante de camelô.

E notei que apesar dessa miséria tão evidente, tão dramática -essas pessoas não pertenciam, seguramente, à tão falada classe C-, quase todas as mulheres, e as crianças que iam junto, tinham as unhas dos pés pintadas de esmalte colorido.

E me ocorreu que talvez seja esta a única fantasia a que têm direito.

MÁRIO QUINTANA - Presença

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...

É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...

Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...

Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te. 

ELIANE BRUM - A rainha má

Neste conto de fadas para mulheres adultas, uma ruga vale uma alma.

Branca de Neve e o Caçador (Rupert Sanders, 2012), deveria se chamar “Ravenna, a rainha má”. Interpretada pela maravilhosa Charlize Theron, a mãe-madrasta-bruxa da princesa é o mais interessante do filme, assim como as questões tão atuais que ela nos traz. E a bela Charlize faz uma rainha inesquecível. Para não envelhecer, essa vilã dos contos de fadas ultrapassa todos os limites e quebra todos os interditos. Uma mulher da era a.CP (antes da cirurgia plástica), Ravenna suga a alma, a juventude e a beleza das adolescentes e devora corações puros, que arranca com suas unhas, enquanto chafurda na amargura.
O filme, para quem não sabe e não viu, busca resgatar o conteúdo terrorífico das origens dos contos de fadas. Tudo o que hoje se conhece com esse nome foi um dia histórias para adultos, nas quais canibalismo e incesto eram ingredientes garantidos. Mantidas vivas pela tradição oral dos camponeses medievais, as histórias eram contadas para entreter, mas não só. Os contos nasceram e permaneceram como uma forma de lidar com os riscos da vida real, num tempo em que os lobos uivavam no lado de fora e também no lado de dentro, menos contidos pela cultura do que hoje.
Depois, a partir do final do século 17, com Charles Perrault, culminando no século 19, com os Irmãos Grimm, os contos foram compilados, escritos e depurados como histórias para crianças. Nós, que nascemos no século XX, fomos alimentados por versões muito mais suaves e palatáveis a uma época sensível, em que os pequenos são vistos como o receptáculo tanto da inocência quanto do futuro. E, portanto, precisam ser protegidos dos males do mundo e de seus semelhantes, assim como convencidos de que sua “natureza” é boa e pura. Ainda que conheçamos, por experiência própria, que o pior também nos habita desde muito, muito cedo. E seria melhor para todos – e também para a vida em sociedade – poder olhar para ele de frente.
Branca de Neve registra algumas variações ao longo dos séculos, até chegar ao clássico da Disney, de 1937, que se tornou referência para a maioria de nós. Mas nada tão radical quanto uma versão de sua colega Bela Adormecida, por exemplo, na qual a princesa é abusada pelo príncipe e abandonada grávida. Muito menos como Chapeuzinho Vermelho, que talvez seja o conto que revela com maior clareza a mudança de sensibilidade através dos tempos.

Em uma das versões mais antigas, o lobo oferece à menina a carne da avó fatiada numa bandeja como iguaria e o sangue da avó como vinho. Depois de banquetear-se, Chapeuzinho é convidada a tirar a roupa. A cada peça que a menina arranca em seu strip-tease, o Lobo grita, todo animado: “Atire-a no fogo!”. Em seguida, a Chapeuzinho sem chapéu nem calcinha deita-se nua na cama com o Lobo peludo. E é “devorada”. Nem Lars Von Trier faria melhor. Os camponeses medievais terminavam a história ali. O final feliz veio muito, muito depois.
No caso de Branca de Neve e o Caçador, os realizadores do filme usaram os mais avançados recursos da tecnologia para construir imagens belíssimas na tentativa de recuperar algo da atmosfera sombria. Mas não se arriscaram a chegar sequer perto da violência de sentidos dos tataravôs dos contos modernos, talvez porque o projeto tenha sido pensado como uma franquia. O filme não perdeu, porém, a oportunidade de atualizar as questões que fizeram a história sobreviver por tantos séculos e alimentar o imaginário de tantos filhos de épocas diversas. E essa é a sua força.
Que questões são essas? A relação entre mãe e filha, com a violência simbólica transposta em atos concretos, já que a mãe-madrasta passa toda a história tentando matar a filha-enteada que vai suplantá-la em juventude e beleza. O olhar de desejo do pai-caçador, que a faz descobrir-se mulher na floresta “negra”, para onde foge da mãe. Os vários desafios que enfrenta qualquer menina, seja a Branca de Neve ou uma adolescente de hoje, para se tornar mulher. E que passam, necessariamente, por se diferenciar da mãe. Quem quiser pensar mais sobre isso – e vale muito a pena pensar mais sobre isso – pode procurar o excelente Fadas no divã (Artmed, 2006), dos psicanalistas Diana e Mario Corso – um livro fundamental para todos, um pouco mais para mães e pais.
Em Branca de Neve e o Caçador, os desafios enfrentados pela princesa para virar mulher (e continuar viva) ganham soluções um pouco diferentes das versões anteriores – e bem provocativas. Mas, só dessa vez, vou deixar Branca de Neve do outro lado do espelho e me concentrar no reflexo da rainha má. Charlize Theron é uma mãe-bruxa obcecada pela juventude e pela beleza. Para ela, nenhum ato é horrendo demais se, ao final, ela ganhar uns anos a mais com pele de pêssego. Assinalada por várias vidas de horror – já que a bruxaria e o coração das mais jovens garantiu-lhe uma existência prolongada –, ela não admite ter nenhuma marca do vivido. Toda a violência sofrida e praticada, as mágoas, as decepções e as traições estão dentro dela. Mas no corpo, naquilo que se oferece ao olhar do outro, ela é uma mulher sem marcas.
No filme, a rainha má assim é por ter sofrido no passado o abuso de homens que, nas suas palavras, sugaram tudo dela e, quando ela começou a envelhecer e a perder a beleza, a trocaram por uma mais jovem. Roteiro prosaico de nossos dias, mas tanto na vida real como na ficção soa inconsistente. Uma desculpa meio esfarrapada para justificar tanta destruição – e autodestruição. Nestes momentos, em que evoca a suposta sina das mulheres e a suposta voracidade dos homens, a rainha nos constrange com sua superficialidade de almanaque. Mas não deixa de ser interessante observar que supostamente também seria para o desejo dos homens que as mulheres do nosso tempo se submetem ao inimaginável na tentativa de permanecerem jovens e belas. Será?
Um dos momentos mais interessantes do filme se dá no encontro de Branca de Neve com uma comunidade de mulheres que, para se manterem a salvo da sanha da rainha, fazem marcas no próprio rosto. Até as crianças têm a face assinalada por cicatrizes sem história. Numa concepção de beleza em que as marcas da vida estragam o rosto, essas mulheres só podiam sobreviver se arruinassem a beleza – e, com ela, o interesse da rainha. É, portanto, no olhar da rainha que está o desprezo pelo corpo assinalado pela passagem do tempo – e não (apenas) no olhar dos homens. É só ao incorporar a recusa em envelhecer que a rainha se torna de fato um objeto.
Alguma semelhança com nossa época? Me parece que toda. O terror só é terror se houver estranhamento. Estranha-se aquilo que, no fundo, é familiar. O terror é o conhecido que fingimos desconhecido, é nosso estranho íntimo. Se fosse totalmente estranho, não captaria nossa atenção. É preciso ser um estranho que ecoa no que estranhamos em nós. Ou um estranho que reconhecemos em nós, mesmo sem jamais admitirmos conscientemente. Para isso serviram desde sempre os contos de fadas, ao nos dar a possibilidade de lidar com nossos fantasmas e medos através dos personagens, nossos outros arquetípicos. Nesse sentido, a rainha má é um conto de fadas para mulheres adultas.
É fácil escandalizar-se com a louca obcecada pela juventude que persegue as mais jovens, prontas a desbancá-la em beleza, como uma serial killer gótica. Mas é menos fácil escandalizar-se com o número cada vez maior de mulheres sem nenhum problema de saúde ou deformação que se submetem a uma cirurgia na tentativa, ao final sempre ilusória, de eliminar as marcas da passagem do tempo.
Para nós tornou-se corriqueiro, mas para alguém de outra cultura ou de outro tempo, soaria como um filme de terror ser apagada por uma anestesia e ser cortada por um bisturi. Sangue, gordura, fluidos. Tira um naco de um lugar para botar em outro, implanta um corpo estranho em formato de bola no peito, estica a pele do rosto com fio de ouro. Arrisca-se a morrer, apenas para submeter-se ao padrão estético do momento ou apagar rugas que voltarão mais cedo do que tarde. Conforme o lugar de onde se olha para essas cenas, hoje banalizadas, é um filme dos mais aterrorizantes.
A diferença, com a rainha má, é que ela deu um jeito de que as outras paguem o preço de sua incapacidade de suportar o envelhecer. Mas só até certo ponto. Porque nem mesmo a sua mágica é suficiente para eliminar as marcas dentro dela, não há feitiço capaz de apagar o vivido. E, povoada por memórias que sangram sem a chance de virar cicatrizes, ela naufraga em desgosto, a tal ponto que se torna difícil compreender por que, afinal, ela quer tanto ser jovem e ser bela, se continua tão desgraçadamente infeliz com sua existência.
Como o belo corpo e o belo rosto da rainha má, parece-me que os corpos e os rostos flagelados de hoje são mais para serem olhados do que tocados. Cortados, manipulados e emendados pelo bisturi do cirurgião, em geral um homem, este corpo não é feito para se fundir com nenhum outro. É mais um objeto que se oferece como imagem, apenas. Porque o toque sempre deixará uma marca. O toque é sempre um risco. E, como para a rainha má, para muitas mulheres é melhor não se arriscar a ser alcançada por um outro que verá além do que é dado para ver, verá também as marcas que não podem ser apagadas. E fará outras marcas, que também não poderão ser eliminadas. Viver, afinal, é ser marcado e marcar.
O corpo e o rosto da rainha má não são para ninguém – nem para si mesma, como ela parece se iludir. O espelho mágico, aquele que olha e olha para além do que está na sua frente, é um dos grandes achados dessa versão. Ao ser invocado, ele desprega-se da parede e materializa-se como uma entidade masculina. Em vez de refletir a imagem externa da rainha, porém, ou lhe mostrar o mundo além do castelo, o espelho dá voz à sua imagem interior, ao avesso da rainha, ao lado de dentro. Vocaliza seus medos mais profundos e, de certo modo, a autoriza a praticar seus crimes, mas é apenas um eco.
É um diálogo consigo mesma – e não com um outro o que acontece nesse momento. A rainha má, desesperada por beleza e juventude, movida por um desejo que ela diz ser do mundo masculino e não dela, não é refletida nem mesmo pelo espelho. E, sem o olhar de um outro que nos reconheça, não há como se saber. É assim que ela se perde, porque não há quem a encontre.
É no medo de se perder no outro que a rainha se perde de fato. E, ao tentar matar Branca de Neve, na cena clássica da maçã envenenada, a mãe-madrasta vai desferindo conselhos à filha-enteada. “Você sempre se perde quando se deixa levar pelo amor”. E então, totalmente perdida, grita como uma louca que não se escuta: “Você tem sorte de morrer antes de envelhecer”.
E fracassa. É claro que fracassa. Nós todos conhecemos o final.

COMO PRESERVAR SEU RELACIONAMENTO - Solange Bittencourt Quintanilha

O amor é um sentimento que temos por uma pessoa, cuja presença provoca em nós a agradável sensação de aconchego, serenidade, paz e alegria.
Amar é querer ter o outro por perto, é sentir o coração batendo forte, é desejar o que for melhor para a pessoa amada.
Para viver um grande amor, é necessário que ambos desejem a felicidade juntos, tenham real desejo de amar e de se entregar plenamente.

Falar de amor
É transmitir em palavras, gestos ou sentimentos, o que está dentro de cada um de nós; é expressar sem restrição ou vergonha, o que de mais belo vai na alma e no coração, para que o outro saiba desse sentimento.
Falar de amor, é deixar o poeta que existe dentro de cada um de nós cantar a alegria da presença, a saudade da ausência, a vontade de estar perto, de abraçar, de adormecer juntos.....
Não basta amar, tem que dizer eu te amo.

Medo de se entregar
Para lidar com o medo da entrega ao amor, a pessoa precisa buscar conhecer e entender o que se passa no seu interior, buscando ajuda.
Pessoas mais inseguras e com sentimento de desvalia, não conseguem se entregar a uma relação, porque estão todo o tempo tentando ter certezas. O medo de sofrer parece assombrar, impedindo de enxergar as boas possibilidades de viver um amor.
Outros, por decepções antigas, têm receio de se machucar de novo, e acabam deixando que os fantasmas do passado bloqueiem quaisquer tentativas de buscas para o surgimento do amor.
O amor é uma chance, não é garantia, nem certeza.

Dificuldades na relação
Os problemas não surgem todos de repente, nem nascem grandes. Na verdade, o que existe é a soma de muitas pequenas dificuldades que se acumulam no dia-a-dia.
As pessoas passam por cima delas sem lhes dar a devida atenção e sem procurar resolvê-las, achando que depois vão superá-las muito bem ou que o tempo vai apagar tudo.
Terrível engano! Nada some ou se apaga, pois tudo o que pensamos, sentimos e vivemos, está dentro de nós. As pequenas desavenças, mágoas... vão ficando como pequenos ‘nós” no princípio, e vão se tornando obstáculos que vão obstruindo ou até destruindo as relações.

O poder do diálogo
Mágoas e insatisfações de ambos devem ser discutidas e corrigidas.
É fundamental para o casal, cultivar diálogos francos sobre suas concordâncias e divergências, sobre suas alegrias e dores, sobre os problemas e soluções e sobre o amor que os une.
Uma das formas mais poderosas de proteger o amor, numa relação saudável, é permitir que os desejos, as fraquezas, os anseios, as perdas, as conquistas, as potencialidades , limitações, as inseguranças, sejam conhecidos pelo parceiro(a), de modo que ambos possam cuidar para que o outro não se sinta ameaçado.
Se um membro do casal tem por hábito pensar que , se o parceiro(a) o ama, vai entendê-lo, sem que precise expressar o que está sentindo, vai se decepcionar muito e gerar um conflito.
Um não está dentro do outro para adivinhar os pensamentos e sentimentos.
Quando esses casais em crises me procuram no consultório, trazem muitos sofrimentos, porque não estão sabendo lidar com os impasses, mesmo havendo ainda amor entre eles.
Eles vêm muito desesperançados, mas eles começam a ter um novo olhar, uma nova esperança, quando
Juntos, criamos outros caminhos e possibilidades.

Confiança
A confiança é aquela sensação que temos que sempre contaremos com o nosso amor, aconteça o que acontecer. É quando acreditamos que mesmo que a pessoa nos aponte algo que a incomoda, temos a certeza de que lhe somos tão queridos que ela só quer ajudar, e por isso, se abre e se expõe.
Quando você confia em alguém, você se sente livre para mostrar suas inseguranças, fragilidades, e pedir ajuda.

Quando o amor vence
Nos casais enamorados e unidos, encontramos amor, afeto, desejo, apoio, amizade, cumplicidade, gentileza, ternura, consideração e delicadeza.
Os elogios também são muito importantes.
Para que o amor floresça é necessário que ambos tenham coragem, vontade, entrega, compreensão e disponibilidade. Isso implica uma relação franca com muito carinho para que ambos entrem em total sintonia.
Permita-se amar e mergulhe nesse amor valorizando as qualidades e aceitando os defeitos do seu amor.

O segredo de uma união feliz e duradoura, é simples: oferecer ao outro aquela atenção que você gostaria de receber e o que você sabe que faria ele feliz.

O segredo de uma união feliz e duradoura, é simples: oferecer ao outro aquela atenção que você gostaria de receber e ter a sensibilidade para perceber o que faz o outro feliz.

MARTHA MEDEIROS - Narrar-se

Quem escreve está sempre se delatando, de forma direta ou
camuflada. E como temos inquietações parecidas, os leitores
se identificam: ‘Parece que você lê meus pensamentos”

Sou fã de psicanálise, de livros de psicanálise, de filmes sobre psicanálise e não pretendo desgrudar o olho da nova série do GNT, Sessão de Terapia, dirigida por Selton Mello. Algum voyeurismo nisso? Total. Quem não gostaria de ter acesso ao raio-x emocional dos outros? Somos todos bem resolvidos na hora de falar sobre nós mesmos num bar, num almoço em família, até escrevendo crônicas. Mas, em colóquio secreto e confidencial com um terapeuta, nossas fraquezas é que protagonizam a conversa.

Por 50 minutos, despejamos nossas dúvidas, traumas, desejos, sem temer passar por egocêntricos. É a hora de abrir-se profundamente para uma pessoa que não está ali para condenar ou absolver, e sim para estimular que você escute atentamente a si mesmo e assim consiga exorcizar seus fantasmas e viver de forma mais desestressada. Alguns pacientes desaparecem do consultório logo após o início das sessões não estão preparados para esse enfrentamento.

Outros levam anos até receber alta. E há os que nem quando recebem vão embora, tal é o prazer de se autoconhecer, um processo que não termina nunca. Desconfio que será o meu caso. Minha psicanalista um dia terá que correr comigo e colocar um rottweiler na recepção para impedir que eu volte. Já estou bolando umas neuroses bem cabeludas para o caso de ela tentar me dispensar.

Analisar-se é aprender a narrar a si mesmo. Parece fácil, mas muitas pessoas não conseguem falar de si, não sabem dizer o que sentem. Para mim não é tão difícil, já que escrever ajuda muito no exercício de expor-se. Quem escreve está sempre se delatando, seja de forma direta ou camuflada. E como temos inquietações parecidas, os leitores se identificam: “Parece que você lê meus pensamentos”. Não raro, eles levam textos de seus autores preferidos para as consultas com o analista, a fim de que aqueles escritos ajudem a elaborar sua própria narrativa.

Meus pensamentos também são provocados por diversos outros escritores, e ainda por músicos, jornalistas, cineastas. Esse intercâmbio de palavras e sentimentos ajuda de maneira significativa na nossa própria narração interna. Escutando o outro, lendo o outro, se emocionando com o outro, vamos escrevendo vários capítulos da nossa própria história e tornando-nos cada vez mais íntimos do personagem principal – você sabe quem.

Selton Mello, em entrevista, disse que para algumas pessoas o programa pode parecer chato, pois é todo baseado no diálogo entre terapeuta e paciente, e isso é algo incomum na televisão, que vive de muita ação e gritaria. De minha parte, terá audiência cativa até o último episódio, pois, mesmo não vivenciando os problemas específicos que a série apresenta, todos nós aprendemos com os dramas que acontecem na porta ao lado, é um bem-vindo convite a valorizar o humano que há em cada um. A introspecção não costuma atingir muitos pontos no ibope, mas é a partir dela que se constrói uma vida que merece ser contada.

SEM HEBE, UM VAZIO ENORME - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO

Ao encontrá-la num restaurante ou bar ou fosse o que fosse, 
vinha um selinho e um afago.

Ficou o vazio. Não há ninguém no lugar dela. Desde que foi eleita rainha do rádio, 60 anos atrás, e era morena de sobrancelhas grossas como as de Malu Mader (o que a envaidecia, vejam só, quando alguém dizia isso), Hebe reinou no Brasil. Absoluta, pode-se dizer. Nenhuma outra mulher da mídia teve um lugar como o dela no coração do público. Amada pelo povo, estudada pelos intelectuais mais sérios e respeitados como Sergio Micelli, que escreveu A Noite da Madrinha para entendê-la sociologicamente. Hebe não precisava de explicações. Fenômeno natural, era nossa amiga, irmã, mãe, namorada, amante, ídolo.

Havia quem a criticasse, a chamasse de brega, cafona. Quantas vezes ouvi isso? Como você pode gostar da Hebe? Eu gostava, milhões gostavam. Até quem dizia que não gostava gostava, por maior que seja o paradoxo. Não gostando, era só se aproximar dela para gostar. Poucas vezes vi uma pessoa com tal capacidade de seduzir. Porque tudo nela era autêntico, natural, solto, Hebe jamais representou. Foi grande o suficiente para ser relax, mesmo quando a vida à colocou duramente à prova, e a colocou inúmeras vezes.

Nos aproximamos nos anos 80, quando eu escrevia para o Shopping News, semanário que era distribuído gratuitamente aos domingos e atingia 500 mil pessoas. Hebe vinha sendo criticada violentamente por ser amiga do Maluf, certamente o contrário dela, um dos personagens menos amados deste Brasil. Defendi o direito dela ser amiga de quem quisesse, era um direito democrático. Nós escolhemos de quem gostamos e com quem queremos nos relacionar, independentemente dos outros, da opinião alheia.

Recebi um telefonema dela, convidou-me para jantar e tudo começou. A crônica, ampliada e emoldurada, estava na parede de sua casa. Nunca vi pessoa mais fiel. A cada livro, ela me buscava para seu programa. Fiquei admirado. Era só aparecer na Hebe e a venda de livros crescia. A madrinha tinha poder. Vez ou outra chegavam flores em casa. Ao encontrá-la num restaurante ou bar ou fosse o que fosse, vinha um selinho e um afago. Fui um dos "gracinhas" dela. Não foi uma, foram várias as festas em sua casa no Sumaré ou no Morumbi (foram duas as casas ali).

Certa vez, Andrea Carta, editor da Vogue, produziu uma revista inteira dedicada a ela. Devassamos sua casa, seus álbuns, realizamos um dos mais completos levantamentos da vida dessa mulher que por 60 anos foi ícone, símbolo. Ela abriu os cofres de joias, uma de suas paixões. Penetramos numa infinidade de closets onde havia centenas e centenas de vestidos, os mais esfuziantes. Tudo regado a vinho branco e a inumeráveis caipiroscas. Hebe era a rainha do brilho. O brilho das joias, dos vestidos, dos cabelos loiros, do sorriso eternamente entregue às pessoas, mesmo quando a dor a aguilhoava.

Em 1996, quando fui para o Hospital Albert Einstein para uma cirurgia de aneurisma, ela ligou cedo, 9 da manhã, para Marcia, minha mulher. "Ele está entrando no centro cirúrgico", Marcia informou. Três horas depois, nova ligação. A uma da tarde, outro chamado. Hebe estava ficando nervosa. Cinco, seis, nada ainda. "É grave assim?", ela perguntou. "É delicada e demorada", foi a resposta. Oito da noite, nove. Ao saber que eu continuava na mesa, Hebe não se conteve em lágrimas: "Puta que o pariu, meu Deus!", uma explosão autêntica, misturando palavrão ao sagrado, com temor e naturalidade. Contei isso em meu livro Veia Bailarina.

Seu programa sempre refletiu suas escolhas e idiossincrasias. Levava gente de quem gostava. As mudanças do mundo, da mídia, da sociedade, fizeram o Ibope cair. Poderia ter se aposentado, mas isso significaria sua morte. Mudou de canal para tentar mudar também. Nos últimos meses de sua vida, ficou sem receber os salários, uma indignidade. Silvio Santos teve o gesto de afeto, acolheu-a, deu-lhe um novo contrato. Hebe deve ter morrido em paz. Assinar um contrato significava vida. Porém, esta tem seus caminhos. Agora, fica o vácuo. Mulheres que com sua morte provocaram comoção nacional me lembro de três: Ruth Cardoso, Elis Regina e Hebe Camargo.

Ninguém que está aí e que tenta substituí-la tem o carisma, a força, o talento para ser Hebe. Ou, melhor, a nova Hebe. Uma outra Hebe. São pálidas imitações. Imagino neste momento, particularmente, a dor de algumas pessoas. A do filho Marcelo e a de Rosinha Goldfarb, Lolita Rodrigues, Regina, sua eterna produtora, e a do fotógrafo Petrônio Cinque, que a seguiu e a fotografou por décadas, documentando momento a momento uma vida inteira.

ARNALDO JABOR - 'Avenida Brasil' está acabando...

Que saudades vou ter do Leleco, do Tufão, das peruas do subúrbio, gritadeiras e barraqueiras, que saudades da dupla de atrizes geniais apaixonadas pelo ódio, Carminha e Rita (não esqueço dos rugidos de fera de Adriana Esteves, desde o dia em que ela ‘comeu’ literalmente o Tufão pela primeira vez, como se fosse um bicho devorando-o com a boca), da Ivana, da grande Zezé e Janaina e principalmente do Max, o nosso Maxwell, o famoso malandro-agulha, finalmente retratado na TV ('malandro-agulha', sabe-o Joaquim F. dos Santos, é aquele que "toma no buraco, mas não perde a linha...").

Essa novela é um buraco novo na teledramaturgia. Partiram para fazer uma novela ‘para’ a classe C e tudo acabou virando uma novela da classe C para o País todo. Não é uma trama feita ‘para’ o subúrbio; é o subúrbio e seus personagens que fizeram a novela, criando uma espécie de realismo crítico em que os heróis não são mais comandados pela ideologia dos autores, como objetos de um folhetim ‘social’, como fazia a velha ‘arte engajada’. A chamada arte social de filmes e livros tratava de excluídos ou de suburbanos como um conceito geral e sua intenção era ‘conscientizá-los’ sobre sua ‘alienação’, como os autores decidiam.

Aqui, não. O subúrbio finalmente apareceu na TV, sem folclore e sem ideologias. Eu fui criado no Rocha, na antiga rua Guimarães, atual Alm. Ary Parreiras e sei do que falo. Claro que não é só aquela ilha de solidariedade que a novela mostra, mas tem, sim, um clima brasileiro vivo, uma doçura na precariedade de seus moradores que não há na zona sul. Aqui, os heróis são sujeitos da ação. E o resultado foi incrível, porque descobrimos maravilhados que o universo C é muito mais rico em revelações de comportamento sobre a vida brasileira do que a mortiça ZS, sem vizinhos, sem fofocas. Nelson Rodrigues dizia que "a novela mata nossa fome por mentiras", mas essa novela matou nossa fome de verdades.

Avenida Brasil parte do melodrama, claro. Ou melhor, de uma rede de melodramas interligados como uma grande paródia do próprio melodrama, uma paródia dessa tradição desprezada, mas tão rica na história do teatro. Ao final do século 19, as novas propostas estéticas que surgiam, entre elas o naturalismo, acabaram negando muitas das formas superutilizadas do melodrama, que foram consideradas antinaturais. Isso disseminou um valor negativo a tudo que fosse considerado melodramático, que se tornou sinônimo de interpretações e enredos exagerados, antinaturais. Aliás, a música comentário que sublinha dramaticamente a ação, muito usada nos melodramas, foi muito bem utilizada nessa novela, indo de momentos bregas a homenagens a Bernard Herman e até a acordes minimalistas.

Em geral, as novelas têm um núcleo principal cercado de coadjuvantes por todo lado; essa, não. Todos são importantes, todos têm uma psicologia original compondo um vasto painel de personalidades; não há tipos – todos são personagens. Por exemplo, o Adauto, que começou como um bobão lateral, acabou crescendo para um cara com ecos até ‘shakespearianos’ do bufão ou do louco que comenta a ação dos principais, assim como as empregadas também cumprem o papel de ironizar o que vai acontecendo na trama central.

Outra coisa legal no Avenida Brasil é que a narrativa, o 'raconto', não é pré-fabricada desde o início. Deu-me a impressão de que os acontecimentos dramáticos iam puxando outros, como se João Emanuel gostasse de se meter em encrencas insolúveis para depois resolvê-las. Isso gerou também um clima solto e improvisado, cheio de ‘cacos’ em que atores como Marcos Caruso, Eliane Giardini e José de Abreu se esbaldaram, criando em muitos momentos um ambiente de ‘cinema verdade’, com todo mundo falando ao mesmo tempo, sem a alternância antiga da pergunta e resposta.

Esse tipo de estrutura é semelhante aos recentes seriados americanos que estão criando uma nova forma de arte, diferentemente dos filmes que estão até meio arcaicos ou recorrendo a truques visuais, 3D, porrada, historinhas para idiotas.

Um filme almeja sempre um sentido final, uma conclusão qualquer, em duas ou três horas. Um seriado ou uma novela como essa participam de uma nova forma de arte dramática: a vida real em sua casa, acessível imediatamente como o Facebook ou um Instagram – a cara do nosso tempo, sem finais claros, sem tendências fechadas, sem conclusões.

Durante meses ou anos (Sopranos, Lost, Mad Men), a gente se afeiçoa às personagens, como se vivêssemos lá dentro, como se fôssemos parte da família. A direção de Amora Mautner, José Villamarin e seus codiretores é excepcional porque, com uma trama tão rica, que mistura desde a chanchada até momentos trágicos, eles puderam usar recursos de cinema e fotografia que vão de filmes de suspense até ecos de Tarantino.

Esta produção da TV coloca ‘lixão’ de um lado e zona sul do outro, mas nunca faz denúncias sociais ou mostra contradições de um maniqueísmo fácil. E justamente essa recusa ou ausência de ‘mensagens’ torna a obra extremamente, não direi 'política', mas enriquecedora do imaginário brasileiro, incluindo conceitos e comportamentos esquecidos ou ignorados pela dramaturgia nacional. Merece um sério estudo antropológico que a antropóloga Ivana podia fazer...

Esta novela é parte importante da cultura brasileira atual, para longe dos esnobismos estetizantes. Vejo que aqui e no mundo audiovisual nasce uma nova arte de massas, um barroquismo digital e pós pós que não busca mais a realização de um sentido, mas uma convivência entre ficção e realidade. Há vários anos a gente analisava a ‘importância’ de uma obra de arte, para além de sua aura poética. Buscávamos alguma coisa que ajudasse a ‘mudar’ contradições e desse mais harmonia e sentido para a vida social. E agora?

Bem, essa novela foi vista por cerca de 80 milhões de pessoas durante meses e isso a torna não apenas uma ficção sobre nós. Ela faz parte de nossa realidade.

LUIS FERNANDO VERÍSSIMO - O silêncio

A substituição da máquina de escrever pelo computador não afetou muito o que se escreve. Quer dizer, existe toda uma geração de escritores que nunca viram um tabulador (que, confesso, eu nunca soube bem para o que servia) e uma literatura pontocom que já tem até os seus mitos, mas mesmo num processador de texto de último tipo ainda é a mesma velha história, a mesma luta por amor e glória botando uma palavra depois da outra com um mínimo de coerência, como no tempo da pena de ganso.
O novo vocabulário da comunicação entre micreiros, feito de abreviações esotéricas e ícones, pode ser um desafio para os não iniciados, mas o que se escreve com ele não mudou. Mudaram, isto sim, os entornos da literatura.
Por exemplo: não existem mais originais. Os velhos manuscritos corrigidos, com as impressões digitais, por assim dizer, do escritor, hoje são coisas do passado: com o computador só existe versão final. O processo da criação foi engolido, não sobram vestígios. Só se vê a sala do parto depois que enxugaram o sangue e guardaram os ferros.
Nos jornais, o efeito do computador foi muito maior do que o fim da lauda rabiscada e da prova de paquê. O computador restabeleceu o que não existia nas redações desde — bem, desde as penas de ganso. O silêncio.
Um dia alguém ainda vai escrever um tratado sobre as consequências para o jornalismo mundial da substituição do metralhar das máquinas de escrever pelo leve clicar dos teclados dos micros, que transformou as redações, de fábricas em claustros.
A desnecessidade do grito para se fazer ouvir e a perda da identificação do seu ofício com um barulhento trabalho braçal mudou o caráter do jornalista. Se para melhor ou para pior, é discutível.
Defendo, sem muita convicção, a tese de que a mudança da máquina de escrever para o computador também determinou uma migração da esquerda para a direita nas redações brasileiras. Se hoje não vale mais a velha máxima de que jornalista era de esquerda até o nível de redator chefe e de direita daí para cima, a culpa é da informatização. A nova direita é filha do silêncio.
Mas é no futuro que a troca do bom preto no branco pelo impulso eletrônico e o texto virtual fará a maior confusão.
A internet está cheia de textos apócrifos, inclusive alguns atribuídos a mim pelos quais recebo xingamentos (e tento explicar que não são meus) e elogios (que aceito, resignado), contra os quais nada pode ser feito e que, desconfio, sobreviverão enquanto tudo que os pobres autores deixarem feito por meios obsoletos virará cinza e será esquecido. Nossa posteridade será eletrônica e, do jeito que vai, será fatalmente de outro.

CONTARDO CALLIGARIs - De volta para o passado

Os remorsos são injustos: esquecemos as razões 
que nos fizeram decidir nas circunstâncias passadas.

Adoraria que fosse possível viajar no tempo e voltar para épocas anteriores de minha vida. Ingenuamente, imagino que, em vários momentos do passado, eu teria me beneficiado de algo que sei só agora. Quem melhor do que eu aos 50 ou 60 anos para aconselhar uma versão mais jovem de mim, a de dez, 20, 30 anos atrás?

Hoje, enfim, meço as consequências de algumas escolhas antigas. Sei (ou imagino) que teria sido melhor me separar logo daquela pessoa e nunca me afastar de outra, que era insubstituível e que eu perdi; sei (ou imagino) que poderia ter evitado riscos inúteis e me exposto a outros dos quais fugi; sei (ou imagino) que deveria ter insistido quando desisti e desistido quando insisti. E, para quem pode viajar no tempo, nunca é tarde para salvar Inês.

Voltar ao passado para nos dar conselhos em momentos cruciais parece ser uma maneira racional de endireitar nossa vida, a única que leve em conta as consequências confirmadas de nossos atos.

Mas um ditado italiano ("del senno di poi son piene le fosse" -da sabedoria do depois as valas estão cheias) sugere que esse saber das consequências, além de chegar atrasado, talvez seja inútil.

Concordo: as escolhas da gente são quase sempre as melhores, se não as únicas possíveis na hora em que tivemos que decidir. E os remorsos são quase sempre fajutos: quando reavaliamos e censuramos nossas decisões passadas à luz de suas consequências presentes, estamos esquecendo as razões que nos fizeram decidir naquele momento e naquelas circunstâncias. Mesmo assim, a vontade é grande de voltar atrás e alterar o passado.

Quando era mais jovem, depois de qualquer crise (embate, briga, acidente), revivia mil vezes o que acabava de acontecer, corrigindo ou aperfeiçoando imaginariamente minha reação (o que eu "deveria ter feito").
Hoje, mais velho, quando volto a lugares do passado, sempre os encontro assombrados, como se minha história ainda estivesse por lá, suspensa, na espera de uma solução alternativa à que se realizou na época.
Me dei conta disso quando, pela primeira vez, morreu alguém que tinha sido minha companheira. O luto foi violento, igual ao que seria se minha história com ela nunca tivesse acabado.

Como podia ser? Se passaram tantos anos sem eu pensar nela... Por que esta dor agora? Era como se, com a morte dela, acabassem as chances de dar àquela história um desfecho outro, como se só com a morte dela o passado se tornasse realmente passado.

Seja como for, por ser um fã das viagens no tempo, não podia perder "Looper - Assassinos do Futuro", de Rian Johnson, que estreou na sexta passada. No filme, daqui a 30 anos, as viagens no tempo serão possíveis e proibidas. A máfia instalará seus assassinos, os "loopers", no passado (ou seja, numa época mais permissiva); e para esses assassinos ela despachará as pessoas que deseja eliminar, para que sejam mortas.

Um dia, um assassino descobre que o condenado, que ele recebe do futuro, é a versão mais velha dele mesmo. Será que o jovem "looper" vai querer poupar sua própria vida? Não é óbvio: afinal, matar a nós mesmos daqui a 30 anos é parecido com fumar e comer toucinho.

Esse cara, 30 anos mais velho do que eu, será que ainda sou eu? E será que alguém aos 20 ou aos 30 escutaria o que sua versão de 60 anos tentasse lhe dizer? Ou será que, para mim aos 20, eu seria hoje apenas mais um velho chato qualquer? Questão antiga: fora nossa identidade jurídica, que permanece igual, será que, ao longo da vida, somos a mesma pessoa?

Nesse fim de semana, no festival de cinema do Rio, assisti a "Camille Outra Vez", de Noémie Lvovsky, título original "Camille Redouble" (não sei quando o filme será distribuído no Brasil, mas conto com o cinema Reserva Cultural, que, em São Paulo, para quem aprecia cinema francês, é uma dádiva).

No filme, Eric e Camille ficaram juntos a vida toda. Mas Eric acaba de deixar Camille por uma mulher mais jovem (e talvez menos beberrona). No Réveillon, Camille desmaia e acorda aos 16 anos. Ela reencontra seus pais, as amigas da escola e, sobretudo, Eric, pois é bem naquela época que eles se encontraram.

Claro, Camille quer mudar o curso de sua vida (não namorar Eric) para evitar a dor futura da separação. Mas o fato é que muitos amores são como a vida: eles valem a dor que seu desfecho triste nos dará eventualmente um dia.

NELSON MOTTA - O remédio como doença

Nos velhos romances de ficção científica uma das grandes fantasias era a criação de drogas sintéticas para tudo, não só para hibernar durante meses em viagens espaciais, mas para aprender, esquecer, lembrar, garantindo a satisfação instantânea das necessidades e vontades do freguês. Como os ficcionistas ainda não conheciam as teorias e patologias das dependências químicas, não imaginavam que esse futurismo farmacológico levaria a uma sociedade de drogados.

O futuro chegou com o relatório da Junta Internacional de Fiscalização a Entorpecentes da ONU: o uso abusivo de remédios tarja preta cresce rapidamente no mundo todo, e o número de viciados em medicamentos já supera o de usuários de cocaína, heroína e ecstasy juntos. Só nos Estados Unidos são mais de 6 milhões de dependentes de analgésicos, tranquilizantes, anfetaminas e antidepressivos. Michael Jackson é a sua mais famosa vítima.

Não sentir dor, olvidar memórias sofridas, controlar a ansiedade, a depressão, o medo, buscar por todos os meios o bem estar, a alegria, o prazer, ou simplesmente dormir, são anseios ancestrais da humanidade que a química moderna tornou acessíveis, ou quase, a todos. Hoje as farmácias virtuais vendem remédios roubados ou falsificados para qualquer um, como se fossem vitaminas. Em muitos países, receitas médicas são moeda corrente, fora de qualquer controle.

Os remédios viraram uma doença da sociedade moderna. A mesma droga que cura, em excesso, mata. No Brasil, os dados são nebulosos, mas pela quantidade assombrosa de farmácias espalhadas pelo País desconfia-se que por aqui a coisa esteja preta como uma tarja. Mais do que a repressão quase impossível, faltam educação e informação pública e privada sobre o uso e abuso de remédios, que está fazendo mais vítimas do que as drogas ilegais.

Mas nem tudo está perdido para os velhos leitores de ficção científica. Para eles, a melhor surpresa, que nem os autores mais visionários profetizaram, é a pílula da potência sexual. Alguns até imaginavam futuras drogas eróticas e afrodisíacas, mas ninguém pensava nesse pequeno, ou grande, detalhe básico.

FERNANDA TORRES – Orgia

Apesar da voracidade e do cheiro de bolha inflacionária, 
comemorei a boa fase da arte no Brasil.

A travessia africana de Carl G. Jung, narrada no livro "Memórias, Sonhos, Reflexões", termina com um exótico embate diplomático no Sudão profundo. Partindo de Mombaça, no Quênia, em direção à nascente do Nilo, a expedição cruza as terras altas dos Massais até atingir o território "dos pretos mais pretos que já conheci", segundo as palavras do psicanalista.

Cansados, os viajantes se preparam para dormir, quando são surpreendidos por uma dezena de guerreiros armados de lanças. Com medo de um ataque, Jung e os outros trocam oferendas e veem o grupo se retirar. Já na vigília, o suíço escuta uma violenta algazarra do lado de fora da barraca.

São os guerreiros que retornam acompanhados do restante da tribo. Animados, erguem uma imensa fogueira e se dividem em dois círculos, o das mulheres por dentro e o dos homens por fora, e se põem a dançar freneticamente em torno do fogo.

Aliviados com a recepção amigável, os europeus assistem pasmos à cerimônia imemorial que se estende pela madrugada. Jung comunga do transe nativo, grita, rebola, bebe e roda o chicote, até que, vencido pelo cansaço, sugere, com tato, uma retirada ao chefe. Mas o cacique responde que não, que eles querem dançar mais, e manda acelerar o batuque. Outra hora de catarse e nada do suado festejo ter fim.

Desesperado de sono, Jung, entre o sério e o jocoso, ordena com voz de lobo mau que a balbúrdia termine. E arrisca estalar o chicote, em uma exibição de força digna de um babuíno enraivecido. Surpresos com a atitude do estranho, os africanos estancam. Jung receia tê-los ofendido, mas uma gargalhada geral reverbera na selva e os faz retomar o incontrolável rito. Já sem humor, o branco repete enfático a sua pantomima de insatisfação. O líder, finalmente, entende o recado e comanda a debandada.

O som longínquo da orgia ressoa até a tarde do dia seguinte.

Lembrei-me do causo ao adentrar a Art Rio, feira de arte contemporânea que aconteceu no Rio de Janeiro em meados de setembro.

Sempre gostei de passar as tardes em museus, de ir aos ateliês dos amigos, às galerias e bienais, mas
jamais havia estado em uma feira de arte. Ao contrário dos exemplos anteriores, todos filtrados por um olhar, seja o do curador, do galerista ou do próprio artista, na feira, cabe a você separar o que é arte do que é excesso.

O domingão de sol com as crianças, somado ao calor abafado e à extensão da mostra, proporcionaram uma visão distorcida do evento. Os estandes, com divisórias repletas de desenhos, esculturas, pinturas, instalações e vídeos, todos à venda, pareciam uma feira de adoção de animais em surto coletivo semelhante ao dos sudaneses de Jung.

As sessões privadas para colecionadores, razão primeira da iniciativa, devem ter causado outra impressão. O real forte e a falta de dinheiro no Primeiro Mundo merecem ser capitalizados, temos que compensar o exílio do "Abaporu", mas em meio a tanto de tudo: tanta gente, tanta obra, tanta expressão por metro quadrado, Di Cavalcanti, Mourão, Koons e Barrão se equivaliam pelos cantos.

A instalação do Ernesto Neto na Estação da Leopoldina, onde passei com a família antes de me dirigir ao mercado -um intestino rugoso que digere visitantes a dez metros de altura- essa sim, me trouxe contemplação. A feira, não, a feira me deu angústia.

Dentre todas as manifestações artísticas, as artes plásticas são as que melhor se adaptaram aos valores atuais, tão ligados à economia e às massas. O teatro, a literatura, o cinema e a música ainda permanecem órfãos do século 20.

Com vantajosa liquidez, as artes plásticas se transformaram em um fenômeno popular comparável à culinária, à moda e à decoração. O luxo para todos. E fez isso sem perder o caráter íntimo de seus artistas. Mesmo amontoados, Moore, Hirst, Tarsila e Varejão resistiam sendo Moore, Hirst, Tarsila e Varejão.
Apesar da voracidade e do cheiro de bolha inflacionária da quermesse dominical, comemorei a boa fase da arte no Brasil. Mas tive vontade de rodar o chicote e gritar: "Comprem tudo de uma vez e, pelo amor de Deus, levem essas pobres obras para casa!".

VEJA O QUE A INTERNET ESCONDE DE VOCÊ

O Google manipula os resultados das buscas. 
O Facebook decide quem é seu amigo e descarta pessoas sem avisar. 
E, para cada site que você pode acessar, há 400 outros invisíveis. 
Prepare-se para conhecer o lado oculto da Internet.

Para cada site que você pode visitar, existem pelo menos 400 outros que não consegue acessar. Eles existem, estão lá, mas são invisíveis. Estão presos num buraco negro digital maior do que a própria internet. A cada vez que você interage com um amigo nas redes sociais, vários outros são ignorados e têm as mensagens enterradas num enorme cemitério online. E, quando você faz uma pesquisa no Google, não recebe os resultados de fato - e sim uma versão maquiada, previamente modificada de acordo com critérios secretos. Sim, tudo isso é verdade - e não é nenhuma grande conspiração. Acontece todos os dias sem que você perceba. Pegue seu chapéu de Indiana Jones e vamos explorar a web perdida.

Primeira parada: Facebook. Quando você acessa a sua conta, a primeira tela que aparece é a do chamado Feed de notícias - aquela lista com os últimos comentários e links postados pelos seus amigos. Essa página é editada pelo Facebook, e só inclui as mensagens das pessoas com as quais você mais interage. Você pode anular essa edição - basta clicar no link "Mais recentes" e o Facebook mostrará, em ordem cronológica, todas as mensagens de todos os seus contatos. O problema é que isso lotará o seu feed de lixo, com grande quantidade de atualizações irrelevantes (o que interessa se aquele seu ex-colega que você não vê há anos trocou de namorada ou está saindo de férias?). Conclusão: a edição de conteúdo feita pelos robôs do Facebook é boa para você. Exceto quando não é.

O escritor americano Eli Pariser apoia o partido Democrata, de Barack Obama, mas também tem amigos que votam no partido Republicano. De um dia para o outro, Pariser notou que os republicanos sumiram do seu Facebook. Ele estranhou e foi fuçar na configuração do site, achando que tivesse feito algo errado. Que nada: os robôs é que tinham decidido que ele não precisava ter amigos de direita. O Facebook tomou uma decisão político-ideológica e a impôs ao usuário. "A personalização da internet reforça os estereótipos e as crenças que a pessoa já tem", explica Viktor Mayer-Schoenberger, pesquisador de internet da Universidade de Oxford.

Em outros casos, os robôs do Facebook podem causar conflitos familiares. Foi o que aconteceu com o analista de sistemas Rodolfo Marques. Seu irmão, Diogo, é músico e postou um clipe no Facebook. Mas Rodolfo nem ficou sabendo - só porque, como ele não costumava falar com Diogo pela internet, os robôs deduziram que não se tratava de uma pessoa importante. "Achei que ele não tinha gostado do vídeo", conta Diogo.

O Google também manipula o que você vê na internet: cada pessoa pode receber um resultado diferente para a mesma pesquisa. O buscador usa critérios como o histórico das páginas que a pessoa visitou, o lugar onde ela está e até o navegador que utiliza. Ao todo, o Google aplica mais de 100 variáveis (elas são mantidas em segredo para que outros buscadores não as copiem) para personalizar os resultados.

E isso tem consequências profundas. Numa experiência feita pela Universidade de Londres, os cientistas criaram 3 personagens fictícios, que foram batizados de Immanuel Kant, Friedrich Nietzsche e Michel Foucault - 3 dos maiores filósofos de todos os tempos. Cada personagem usava o Google para fazer pesquisas sobre os próprios livros. A intenção era induzir o site a traçar um perfil psicológico de cada um deles. Deu certo. Depois de alguns dias, o Google começou a gerar resultados completamente diferentes para as mesmas buscas. E isso acontece com todo mundo, todos os dias. A SUPER refez a experiência e obteve resultados parecidos (veja no infográfico).

"Os usuários podem desabilitar a personalização", defende-se Kumiko Hidaka, gerente global do Facebook. O Google também permite isso (veja em abr.io/1IMA como fazer). Mas o que os sites de busca escondem do usuário é só uma parte do problema. Outro, talvez ainda maior, é o que nem eles mesmos conseguem ver.

No fundo da web
Quando você faz uma busca no Google, ele não sai percorrendo a internet inteira à procura da informação que você quer. Seria muito demorado. O Google consulta seu Índex, um acervo com cópias de 46 bilhões de páginas da internet.

É uma enormidade. Mas é muito menos do que realmente existe por aí. Nada do que é postado no Facebook, que tem 750 milhões de usuários e é a maior rede social de todos os tempos, aparece nos resultados do Google. Estima-se que o Google e os demais buscadores só consigam acessar 0,2% de toda a informação realmente contida na rede. Todas as demais páginas, que ninguém sabe exatamente quantas são e onde estão, formam a chamada deep web - a web profunda. Esses sites ocultos ficam escondidos por vários motivos. Se uma página exigir assinatura e for protegida com senha (como sites de jornais e revistas), os robôs rastreadores do Google não conseguem entrar nela, e não a copiam para o Índex. O Facebook bloqueia a entrada dos robôs do Google, pois não quer que seu conteúdo apareça no buscador (o que poderia roubar audiência do Facebook). Também há bases de dados online que não estão em HTML - linguagem que o Google entende.

Se o Google conseguir desbravar a web profunda, a vida vai ficar muito diferente. Não haverá mais sites especializados em busca de hotéis, imóveis, passagens aéreas etc. Você não precisará entrar na página da Receita para saber se liberaram a restituição de imposto - bastará digitar seu CPF no Google - nem acessar o site do plano de saúde para procurar um médico. Tudo isso, e todo o resto, estará no próprio Google.

Ele já tem uma equipe de pesquisadores tentando explorar essa internet perdida. O time é liderado por Alon Halevy, cientista da computação da Universidade de Washington. "Nós desenvolvemos softwares que conseguem encontrar as informações de maneira mais inteligente", diz Halevy. Como? Uma das principais táticas dos robôs do Google é o chute.

Sim, chute. Quando encontra um banco de dados que não entende, o robô começa a procurar vários termos: "apartamento", "conversível" e "lycra", por exemplo. Se a palavra "apartamento" estiver presente, é porque aquele site contém informações sobre imóveis. Se "conversível" funcionar, é porque se trata de uma tabela com preços de carros. E por aí vai. Sabendo do que se trata, o Google consegue adicionar as informações a seu Índex - e colocá-las ao alcance de todo mundo.

O problema é que as informações estão espalhadas pela web de maneira caótica, e achá-las é como descobrir uma agulha num palheiro. "Precisamos de um rastreador mais eficiente", explica a brasileira Juliana Freire, professora da Universidade de Utah. Ela é a criadora do DeepPeep, um projeto que pretende tornar acessíveis todos os bancos de dados da internet.

Com tanta informação perdida ou oculta, a internet ainda está longe de alcançar todo o seu potencial. Ela pode, precisa e vai ficar muito melhor. Enquanto não fica, crie o hábito de ir além dos seus sites preferidos e reserve um tempinho para explorar os cantos da internet que você não conhece. Se Nietzsche, Foucault e Kant estivessem vivos, eles certamente fariam isso.
por André Gravatá

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.
Livros de Edmir Saint-Clair

Escolha o tema:

- Mônica El Bayeh (1) 100 DIAS QUE MUDARAM O MUNDO (1) 45 LIÇÕES QUE A VIDA ME ENSINOU (1) 48 FRASES GENIAIS (1) 5 CHAVES PARA FREAR AS RELAÇÕES TÓXICAS NA FAMÍLIA (1) 5 MITOS SOBRE O CÉREBRO QUE ATÉ OS NEUROCIENTISTAS ACREDITAM (1) A ALMA ESTÁ NA CABEÇA (1) A FUNÇÃO SOCIAL DA CULPA (1) A GREVE DAS PALAVRAS (1) A LUCIDEZ PERIGOSA (1) A PANDEMIA VISTA DE 2050 (1) A PARÁBOLA BUDISTA (1) A PÍLULA DA INTELIGÊNCIA (1) A PRÁTICA DA BOA AMIZADE (1) A PREOCUPAÇÃO EXCESSIVA COM A APARÊNCIA FÍSICA (1) A QUALIDADE DO SEU FUTURO - Edmir Silveira (1) A SOMBRA DAS CHUTEIRAS IMORTAIS (1) A Tua Ponte (1) A vergonha pode ser o início da sabedoria (1) AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA (5) Amigos (4) amizade (2) ANA CAROLINA DECLAMA TEXTO DE ELISA LUCINDA (1) ANDRÉ COMTE-SPONVILLE (3) ANTONIO CÍCERO (2) ANTÓNIO DAMÁSIO (3) ANTÔNIO MARIA (2) ANTONIO PRATA (2) antropologia (3) APENAS UMA FOLHA EM BRANCO SOBRE A MESA (1) APOLOGIA DE PLATÃO SOBRE SÓCRATES (1) ARISTÓTELES (2) ARNALDO ANTUNES (2) ARNALDO BLOCH (1) Arnaldo Jabor (36) ARTHUR DA TÁVOLA (12) ARTHUR DAPIEVE (1) ARTHUR RIMBAUD (2) ARTHUR SCHOPENHAUER (5) ARTUR DA TÁVOLA (9) ARTUR XEXÉO (6) ASHLEY MONTAGU (1) AUGUSTO CURY (4) AUTOCONHECIMENTO (2) BARÃO DE ITARARÉ (3) BARUCH SPINOZA (3) BBC (9) BBC Future (4) BERNARD SHAW (2) BERTRAND RUSSELL (1) BISCOITO GLOBO (1) BRAINSPOTTING (1) BRUNA LOMBARDI (2) CACÁ DIEGUES (1) CAETANO VELOSO (10) caio fernando abreu (5) CARL JUNG (1) Carl Sagan (1) CARLOS CASTAÑEDA - EXPERIÊNCIAS DE ESTRANHAMENTO (1) CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (23) CARLOS EDUARDO NOVAES (1) CARLOS HEITOR CONY (3) CARTA DE GEORGE ORWELL EXPLICANDO O LIVRO 1984 (1) CECÍLIA MEIRELES (5) CELSO LAFER - Violência (1) CÉREBRO (17) CHARLES BAUDELAIRE (4) CHARLES BUKOWSKI (3) Charles Chaplin (4) Charles Darwin (2) CHÂTEAU DE VERSAILLES (1) CHICO ANYSIO (3) Christian Ingo Lenz Dunker (9) CIÊNCIA E RELIGIÕES (1) CIÊNCIAS (20) CIENTISTA RUSSO REVELA O QUE OCORRE CONOSCO APÓS A MORTE (1) cinema (6) CLARICE LISPECTOR (17) CLÁUDIA LAITANO (3) CLAUDIA PENTEADO (8) Coletâneas Cult Carioca (1) COMO A INTERNET ESTÁ MUDANDO AS AMIZADES (1) COMO A MÚSICA PODE ESTIMULAR A CRIATIVIDADE (1) COMO A PERCEPÇÃO DO TEMPO MUDA DE ACORDO COM A LÍNGUA (1) COMO A PERDA DE UM DOS PAIS PODE AFETAR A SUA SAÚDE MENTAL (1) COMO A SOLIDÃO ALIMENTA O AUTORITARISMO (1) COMO COMEÇAR DO ZERO EM QUALQUER IDADE (1) COMPORTAMENTO (528) Conexão Roberto D'Avila - STEVENS REHEN - IMPERDÍVEL - ALTISSIMO NIVEL DE CONHECIMENTO (1) CONHEÇA 10 PESSOAS QUE QUASE FICARAM FAMOSAS (1) conhecimento (6) CONTARDO CALLIGARIS (17) CONVERSAS NECESSÁRIAS (1) CORA CORALINA (3) CORA RÓNAI (6) CORTES DIRETO AO PONTO (32) Cristiane Segatto (8) CRÔNICAS (992) Crônicas. (172) CRUZ E SOUSA (1) CULT MOVIE (5) CULT MUSIC (10) CULT VÍDEO (21) DALAI LAMA (5) DALTON TREVISAN (1) Dante Alighieri (1) DANUZA LEÃO (30) DE ONDE VÊM OS NOMES DAS NOTAS MUSICAIS? (1) DEEPAK CHOPRA (3) DENTRO DE MIM (1) DRAUZIO VARELLA (11) E. E. CUMMINGS (3) EDGAR MORIN (2) Edmir Saint-Clair (78) EDUARDO GALEANO (3) ELIANE BRUM (25) ELISA LUCINDA (4) EM QUE MOMENTO NOS TORNAMOS NÓS MESMOS (1) Emerson (1) EMILY DICKINSON (1) Emmanuel Kant (1) Empatia (3) entrevista (11) EPICURO (3) Epiteto (1) Erasmo de Roterdam (1) ERÓTICA É A ALMA (1) Eu Cantarei de Amor Tão Docemente (1) Eu carrego você comigo (2) Fábio Porchat (8) FABRÍCIO CARPINEJAR (5) FEDERICO GARCIA LORCA (2) FERNANDA TORRES (23) FERNANDA YOUNG (6) Fernando Pessoa (13) FERNANDO SABINO (4) FERREIRA GULLAR (24) FILHOS (5) filosofia (217) filósofo (10) FILÓSOFOS (7) Flávio Gikovate (25) FLORBELA ESPANCA (8) FRANCISCO DAUDT (25) FRANZ KAFKA (4) FRASES (39) Frases e Pensamentos (8) FREUD (4) Friedrich Nietzsche (2) Friedrich Wilhelm Nietzsche (1) FRITJOF CAPRA (2) GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ (2) GEMÄLDEGALERIE - Berlin - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) GERALDO CARNEIRO (1) Gilles Deleuze (2) HANNAH ARENDT (1) HELEN KELLER (1) HELOISA SEIXAS (10) Heloísa Seixas (1) Henry David Thoreau (1) HERMANN HESSE (10) HILDA HILST (1) IMMANUEL KANT (1) INTELIGENCIA (2) intimidade (6) IRMÃ SELMA (1) Isaac Asimov. (1) ISABEL CLEMENTE (2) IVAN MARTINS (22) JEAN JACQUES ROUSSEAU (1) JEAN PAUL SARTRE (1) JEAN-JACQUES ROUSSEAU (3) Jean-Paul Sartre (2) JEAN-YVES LELOUP - SEMEANDO A CONSCIÊNCIA (1) Jô Soares (4) JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1) JOÃO UBALDO RIBEIRO (14) JOHN NAUGHTON (1) JORGE AMADO (1) JORGE FORBES (1) jornalista (3) JOSÉ PADILHA (2) JOSE ROBERTO DE TOLEDO (1) JOSÉ SARAMAGO (8) JULIO CORTÁZAR (2) KAHLIL GIBRAN (3) Kant (2) KETUT LIYER (1) Khalil Gibran (5) Klaus Manhart (2) KRISHNAMURTI (1) Lao-Tzu (1) LE-SHANA TOVÁ TIKATEVU VE-TECHATEMU - Nilton Bonder (1) LEANDRO KARNAL (3) LEDA NAGLE (2) LÊDO IVO (2) LETÍCIA THOMPSON (2) literatura (69) literatura brasileira (23) LUIGI PIRANDELLO (2) LUIS FERNANDO VERISSIMO (15) LUIS FERNANDO VERÍSSIMO (7) LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO (13) LUIS VAZ DE CAMÕES (2) LUIZ FERNANDO VERISSIMO (6) LYA LUFT (33) LYGIA FAGUNDES TELLES (1) MADHAI (4) Mahatma Gandhi (5) Maiakowski (1) MANOEL CARLOS (11) MANOEL DE BARROS (1) MANUEL BANDEIRA (4) MAPA INTERATIVO PERMITE VIAJAR NO TEMPO E VER 'SUA CIDADE' HÁ 600 MILHÕES DE ANOS (1) Marcel Camargo (12) MARCELO RUBENS PAIVA (7) MARCIA TIBURI (12) MARÍLIA GABRIELA entrevista RAFINHA BASTOS (1) MARINA COLASANTI (6) MÁRIO LAGO (1) Mário Prata (3) MÁRIO QUINTANA (15) MÁRIO SÉRGIO CORTELLA (4) MARIO VARGAS LLOSA (1) MARK GUNGOR (1) martha medeiros (92) MARTIN LUTHER KING JR (1) MARTINHO DA VILA (1) MELATONINA: O HORMÔNIO DO SONO E DA JUVENTUDE (1) MIA COUTO (14) MIA COUTO: “O PORTUGUÊS DO BRASIL VAI DOMINAR” (1) MICHEL FOUCAULT (1) MIGUEL ESTEVES CARDOSO (4) MIGUEL FALABELLA (14) Miguel Torga (2) MILAN KUNDERA (1) MILLÔR FERNANDES (3) MOACYR SCLIAR (12) MÔNICA EL BAYEH (4) Monja Cohen (1) MUSÉE D'ORSAY - PARIS - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) MUSEU NACIONAL REINA SOFIA - Madrid - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) MUSEU VAN GOGH - Amsterdam - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) NÃO DEVEMOS TER MEDO DA EVOLUÇÃO – Edmir Silveira (1) NARCISISMO COLETIVO (1) Natasha Romanzoti (3) NÉLIDA PIÑON (1) NELSON MANDELA (1) NELSON MOTTA (28) NELSON RODRIGUES (3) NEUROCIÊNCIA (143) NILTON BONDER (1) NOAM CHOMSKY (2) NOITE DE NATAL (1) O BRASIL AINDA NÃO DESCOBRIU O CABRAL TODO (1) O CLIQUE (1) O MITO DA CAVERNA DE PLATÃO: A DUALIDADE DA NOSSA REALIDADE (1) O MITO DO AMOR MATERNO – Maria Lucia Homem (1) O Monge Ocidental (2) O MUNDO DA GENTE MORRE ANTES DA GENTE (1) O MUNDO SECRETO DO INCONSCIENTE (1) O PENSAMENTO DE CARL SAGAN (1) O PODER DO "TERCEIRO MOMENTO" (1) O PODER TERAPÊUTICO DA ESTRADA - Martha Medeiros (1) O QUE A VIDA ENSINA DEPOIS DOS 40 (1) O QUE É A TÃO FALADA MEDITAÇÃO “MINDFULNESS” (1) O QUE É A TERAPIA EMDR? – Ignez Limeira (1) O QUE É BOM ESCLARECER AO COMEÇAR UM RELACIONAMENTO AMOROSO (1) O QUE É CIENTÍFICO? - Rubem Alves (1) O que é liberdade (1) O QUE É MAIS IMPORTANTE: SER OU TER? (1) O QUE É MENTE (1) O QUE É MODERNIDADE LÍQUIDA (1) O QUE É O AMOR PLATÔNICO? (1) O QUE É O PENSAMENTO ABSTRATO (1) O QUE É OBJETIVISMO (1) O QUE É SER “BOM DE CAMA”? (1) O QUE É SER INTELIGENTE (1) O QUE É SER LIVRE? (1) O QUE É SER PAPA? - Luiz Paulo Horta (1) O QUE É SERENIDADE? (1) O QUE É UM PSICOPATA (1) O QUE É UMA COMPULSÃO? - Solange Bittencourt Quintanilha (1) O QUE FAZ O AMOR ACABAR (1) O que se passa na cama (1) O ROUBO QUE NUNCA ACONTECEU (2) O Sentido Secreto da Vida (2) OBRIGADO POR INSISTIR - Martha Medeiros (1) OCTAVIO PAZ (2) OLAVO BILAC (1) ORGASMO AJUDA A PREVENIR DOENÇAS FÍSICAS E MENTAIS (1) ORIGEM DA CONSCIÊNCIA (1) Os canalhas nos ensinam mais (2) OS EFEITOS DE UM ÚNICO DIA DE SOL NA SUA PELE (1) OS HOMENS OCOS (1) OS HOMENS VÃO MATAR-SE UNS AOS OUTROS (1) OTTO LARA RESENDE (1) OUTROS FORMATOS DE FAMÍLIA (1) PABLO NERUDA (22) PABLO PICASSO (2) PALACIO DE VERSAILLES - França - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) Pandemia (2) PAULO COELHO (6) PAULO MENDES CAMPOS (2) PEDRO BIAL (4) PENSADORES FAMOSOS (1) pensamentos (59) PERFIL DE UM AGRESSOR PSICOLÓGICO: 21 CARACTERÍSTICAS COMUNS (1) PERMISSÃO PARA SER INFELIZ - Eliane Brum com a psicóloga Rita de Cássia de Araújo Almeida (1) poemas (8) poesia (281) POESIAS (59) poeta (76) poetas (18) POR QUE A CULPA AUMENTA O PRAZER? (1) POR QUE COMETEMOS ATOS FALHOS (1) POR QUE GOSTAMOS DE MÚSICAS TRISTES? (1) porto alegre (6) PÓS-PANDEMIA (1) PRECISA-SE (1) PREGUIÇA: AS DIFERENÇAS ENTRE A BOA E A RUIM (1) PROCRASTINAÇÃO (1) PROPORÇÕES (1) PSICANALISE (5) PSICOLOGIA (432) psiquiatria (8) QUAL O SENTIDO DA VIDA? (1) QUANDO A SUA MENTE TRABALHA CONTRA VOCÊ (1) QUANDO FALAR É AGREDIR (1) QUANDO MENTIMOS MAIS? (1) QUANDO O AMOR ACABA (1) QUEM FOI EPICURO ? (1) QUEM FOI GALILEU GALILEI? (1) Quem foi John Locke (1) QUEM FOI TALES DE MILETO? (1) QUEM FOI THOMAS HOBBES? (1) QUEM INVENTOU O ESPELHO (1) Raul Seixas (2) Raul Seixas é ATROPELADO por uma onda durante uma ressaca no Leblon (1) RECEITA DE DOMINGO (1) RECOMEÇAR (3) RECOMECE - Bráulio Bessa (1) Reflexão (3) REFLEXÃO DE BERT HELLINGER (1) REGINA NAVARRO LINS (1) REJUVENESCIMENTO - O DILEMA DE DORIAN GRAY (1) RELACIONAMENTO (5) RENÉ DESCARTES (1) REZAR E AMAR (1) Rick Ricardo (5) RIJKSMUSEUM - Amsterdam - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) RIO DE JANEIRO (10) RITA LEE (5) Robert Epstein (1) ROBERT KURZ (1) ROBERTO D'ÁVILA ENTREVISTA FLÁVIO GIKOVATE (1) ROBERTO DaMATTA (8) Roberto Freire (1) ROBERTO POMPEU DE TOLEDO (1) RUBEM ALVES (26) RUBEM BRAGA (1) RUTH DE AQUINO (16) RUTH DE AQUINO - O que você revela sobre você no Facebook (1) Ruy Castro (10) SAINDO DA DEPRESSÃO (1) SÁNDOR FERENCZI (1) SÁNDOR MÁRAI (3) SÃO DEMASIADO POBRES OS NOSSOS RICOS (1) SAÚDE MENTAL (2) Scott O. Lilienfeld (2) século 20 (3) SÊNECA (7) SENSAÇÃO DE DÉJÀ VU (1) SER FELIZ É UM DEVER (2) SER MUITO INTELIGENTE: O LADO RUIM DO QUAL NÃO SE FALA (1) SER OU ESTAR? - Suzana Herculano-Houzel (1) Ser Pai (1) SER PASSIVO PODE SER PREJUDICIAL À SAÚDE (1) SER REJEITADO TORNA VOCÊ MAIS CRIATIVO (1) SERÁ QUE SUA FOME É EMOCIONAL? (1) SEXO É COLA (1) SEXO TÂNTRICO (1) SEXUALIDADE (2) Shakespeare. O bardo (1) Sidarta Ribeiro (4) SIGMUND FREUD (4) SIMONE DE BEAUVOIR (1) Simone Weil (1) SINCERICÍDIO: OS RISCOS DE SE TORNAR UM KAMIKAZE DA VERDADE (1) SÓ DE SACANAGEM (2) SÓ ELAS ENTENDERÃO (1) SOCIOLOGIA (10) SÓCRATES (2) SOFRER POR ANTECIPAÇÃO (2) Solange Bittencourt Quintanilha (13) SOLITÁRIOS PRAZERES (1) STANISLAW PONTE PRETA (5) Stephen Kanitz (1) Steve Ayan (1) STEVE JOBS (5) SUAS IDEIAS SÃO SUAS? (1) SUPER TPM: UM TRANSTORNO DIFÍCIL DE SER DIAGNOSTICADO (1) Super YES (1) Suzana Herculano-Houzel (10) T.S. ELIOT (2) TALES DE MILETO (2) TATE BRITAIN MUSEUM (GALLERY) (1) TERAPIA (4) THE METROPOLITAN MUSEUM OF ART (1) THE NATIONAL GALLERY OF LONDON - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) THIAGO DE MELLO (2) TODA CRIANÇA É UM MAGO - Augusto Branco (1) Tom Jobim (2) TOM JOBIM declamando Poema da Necessidade DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (1) TONY BELLOTTO (3) Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (2) TRUQUE DO PANO: PROTEJA O CACHORRO DO BARULHO FEITO PELOS FOGOS DE ARTIFÍCIO (1) UM CACHORRO PRETO CHAMADO DEPRESSÃO (1) UM ENCONTRO COM LACAN (1) UM VÍRUS CHAMADO MEDO (1) UMA REFLEXÃO FABULOSA (1) UNIÃO EUROPEIA INVESTE EM PROGRAMA PARA PREVER O FUTURO (1) ÚNICO SER HUMANO DA HISTÓRIA A SER ATINGIDO POR UM METEORITO (1) velhice (2) Viagem ao passado (2) VICTOR HUGO (4) VÍDEO - O NASCIMENTO DE UM GOLFINHO (1) VÍDEO - PALESTRA - MEDO X CRIATIVIDADE (1) VÍDEO ENTREVISTA (2) VÍDEO PALESTRA (14) Vinícius de Moraes (3) VIVIANE MOSÉ (4) VLADIMIR MAIAKOVSKI (2) W. B. YEATS (1) W. H. Auden (2) WALCYR CARRASCO (4) WALT WHITMAN (4) Walter Kaufmann (1) Way Herbert (1) Wilhelm Reich (2) WILLIAM FAULKNER (1) William Shakespeare (4) WILSON SIMONAL e SARAH VAUGHAN (1)

RACISMO AQUI NÃO!

RACISMO AQUI NÃO!