VOCÊ CONSEGUE SENTIR E EXPRESSAR GRATIDÃO? - Solange Bittencourt Quintanilha


A gratidão é um dos sentimentos mais nobres que existe. Ser grato é abrir o coração e deixar fluir este sentimento que envolve a nossa alma. Ser grato é reconhecer um benefício que recebemos e que nada nos custou, embora seja algo tão caro e tão relevante. Para ser grato é preciso ter sensibilidade, humildade, enfim, é preciso ter amor. É uma das habilidades mais poderosas na arte de estabelecer bons relacionamentos. Quando uma pessoa ajuda às outras sem esperar nenhuma recompensa, assim o faz em gratidão pelo que recebeu e recebe a cada dia. Na verdade, a gratidão gera bonitos sentimentos e forma uma corrente do bem. Não há quem não se sinta muito bem, feliz mesmo, quando constata que a sua ajuda foi devidamente reconhecida pela pessoa que a recebeu.
Por que será então que encontramos tantas ingratidões? Uma pessoa ingrata não consegue retribuir o bem que lhe fizeram, não vê e não reconhece quem lhe estendeu a mão. Ela esquece com muita facilidade as coisas boas que fizeram por ela, mas lembra das ruins. A ingratidão gera sentimentos como: decepção, raiva, mágoa, tristeza... Quando só enxergamos o mal, acabamos acusando as demais pessoas, e esquecemos que muitas vezes colhemos aquilo que plantamos.
Encontramos algumas situações que colaboram para a dificuldade das pessoas que não conseguem ser gratas às coisas que recebem.
-Todos nós deveríamos ser “treinados” desde a infância a ter um comportamento grato. Quando ensinamos uma criança a dizer “obrigado” para as pessoas que lhe servem, ou lhe ajudam, estamos lhe ensinando a ser grata (o). Isso faz parte da educação, mas nem sempre recebemos ou soubemos dar esse ensinamento.
- Infelizmente muitas pessoas pensam que agradecer, é como se declarar inferior, é como confessar que precisou de outrem e que isso seria um sinal de fraqueza, carência e dependência. Querem acreditar que não precisam e não dependem de ninguém.
- Outros, preocupam-se permanentemente consigo mesmos, vivem no “seu mundo” particular, no qual reinam intensamente seus desejos e vontades. Às vezes, são até simpáticos e capazes de fazer algumas amizades, mas, não se libertam jamais de seus interesses pessoais, que colocam acima de tudo e de todos. Provocam ressentimentos difíceis de serem esquecidos ou perdoados pelos que estão ao seu redor.
- Alguns não aceitam conselhos, não ouvem ninguém, acham que sabem tudo e são teimosos. Fingem aceitar o que dizem, mas na verdade não prestam atenção, porque acreditam que só eles sabem o que é bom para eles e que ninguém tem nada a dar para eles. Na verdade, nem enxergam algo de bom que alguém queira lhe dar ou até o tenha dado.
A verdade, é que as pessoas que vivem dessa forma, no fundo, sofrem por carências (de amor, paz, sabedoria...), inseguranças, tristeza, falta de confiança nos outros... Elas sentem e agem assim, não por maldade, mas porque há vazios significativos, há incapacidades, que não as permitem enxergar um mundo melhor, pessoas boas e confiáveis ao seu redor, capazes de amá-las. Não conseguem ter uma vida menos prejudicial a elas e aos que a cercam. Só conseguem ver o lado negativo das coisas e das pessoas, mesmo naquelas que as ajudaram. A vida delas fica muito comprometida, porque as pessoas se afastam, não querem ter convivência, e muitas vezes elas perdem seus companheiros (as), amigas...

O que se pode fazer para propiciar um bom entendimento, uma compreensão, e melhorar as relações? Seria muito bom que essas pessoas procurassem ajuda para tentar se livrar desses problemas e pudessem construir melhores relações. As pessoas ficam muito felizes quando são reconhecidas e fica muito mais fácil se relacionar com os outros. Uma coisa que poderá ajudar, é termos a consciência de que não devemos criar muitas expectativas em relação às pessoas ao nosso redor, sejam familiares, amigos ou relacionamentos amorosos. Todos nós, seres humanos, temos dificuldades emocionais, dos mais variados tipos, e, portanto deveríamos ser mais tolerantes. Muitas pessoas vão aparecer nas nossas vidas e nos decepcionar, faz parte. Mas nós teremos que aprender a lidar com cada uma “delas”, e não deixar que elas destruam a nossa capacidade de amar e de acreditar no amor verdadeiro. Da mesma maneira que nós também vamos frustrar e decepcionar outras pessoas, e elas irão precisar aprender a lidar com isso.

Um ponto importante para ser falado também, é o quanto é comum se juntar automaticamente ingratidão com rejeição. A falta de agradecimento de uma pessoa, não significa falta de amor, e sim dificuldade em lidar com a gratidão. É claro que a ingratidão dói na maioria das vezes, mas se estivermos atentos com o que todos nós sentimos, com nossas limitações também e com o que temos capacidade de fazer, fica mais fácil de lidar. Não é porque alguém tem muita gratidão, que vai então ficar esperando que o outro tenha também. Como foi dito acima, cada um é cada um com suas qualidades e defeitos, com suas possibilidades e dificuldades...
O desejo de mudar, de buscar conhecer as próprias dificuldades para vencê-las, é uma decisão de cada um. Os conflitos existem, mas todos podem ser trabalhados em busca de uma vida mais leve.

Quando conseguimos nos incluir num grupo, como uma equipe, onde cada um tem a sua participação numa vitória, isso é muito gratificante. Um bom exemplo é num jogo de futebol: “É quando o jogador que faz o gol tem a consciência de que o colega que colocou à bola nos seus pés, é também merecedor dos aplausos”. Vamos dar o melhor que pudermos, ser generosos quando conseguirmos, pelo simples prazer de dar, sem esperar a volta.

Todos nós queremos e precisamos ser bem aceitos. O que precisamos fazer para que isso ocorra, é sermos, dentro das nossas possibilidades, o melhor que podemos ser, e ter a importante consciência que a vida é uma troca, uma via de mão dupla.
 Solange Bittencourt Quintanilha - Psicóloga Clínica, Psicóloga Médico-Hospitalar, Psicanalista, Psicóloga Motivacional

MIGUEL FALABELLA – Velhas resoluções ainda no prazo de validade

Hoje estou desatando da memória as imagens de amor. As minhas, as nossas imagens de amor, porque as coisas são como são: no momento em que escrevo e no momento em que você lê, abrimos esses arquivos de imagens geradas a partir do amor, que são - vamos admiti-lo antes que seja tarde - os nossos arquivos prediletos.

Tudo o que realmente nos interessa está arquivado ali. Na câmara escura das nossas recordações. Imagens que vamos recolhendo vida afora. Elas têm nome e uma história para contar, cada uma delas. E nostalgia nada mais é do que a saudade da emoção vivida, num determinado momento que passou veloz. Emoções e emoções e ainda tanta emoção a ser vivida!
Muito além dos indivíduos, além das particularidades. E todas essas químicas se processando no nosso corpo, pois há quem diga que amor nada mais é do que uma sensação provocada, para evitar a loucura da espécie e perpetuar o predador. Uma ilusão passageira, uma descarga de substâncias certas no sistema. Lubrificação. Cuidados com a máquina.
Seja lá o que for, andei tomando resoluções práticas para a existência.
Porque nunca mais nesta vida quero ter saudade de beijo.
Nunca mais a nostalgia daquele mundo de línguas dançando balé no céu das nossas bocas.
Nunca mais!
E juro que nunca mais nesta vida quero tentar entender o amor.
Quero deixar que ele passe por mim, como um pé de vento que sopra folhas e poeira num arranjo aprumado.
Eu fico ali, no meio do redemoinho, só achando tudo muito bom.
Depois, o amor se vai e a gente continua a tocar a existência.
Assim é que deve ser.
Nunca mais nesta vida quero gente se indo. Já está de bom tamanho.
Coração da gente vai absorvendo os golpes: que são muitos e de todos os lados, sempre.
Com quase todo mundo é assim.
De repente, as pessoas começam a ir embora, por morte matada e morrida,
por desamor, por tristeza, por ansiedade, por medos diversos, seu coração vai recebendo as pancadas e uma hora dá vontade de dar um berro, sair vomitando as mágoas todas que a gente foi engolindo.
Nunca mais gente partindo sem motivo aparente, sem dar nome aos bois ou uma denúncia vazia. Nesta vida, nunca mais!
E nunca mais, nesta breve passagem, a palavra não dita, o gesto parado no ar, dissolvido antes do afago. Nunca mais a dose nossa de orgulho besta,
a solidão das noites perdidas por amor desenganado, o coração parado, à espreita. Isso, não. Quanto mais o tempo passa, mais a urgência da felicidade ilusória e da química do bem-estar, essas coisas todas que se operam em nossos íntimos.
Nunca mais.
Nunca mais um dia atirado ao nada, nunca mais o verbo que não se completa, todas as palavras que não foram ditas - verdades -, todas elas,
uma após a outra, formando frases, pensamentos, sentimentos, amor costurando o texto, que é linha que não refuga de jeito nenhum.
Nunca mais!
O coração se magoando todo o dia, a gente engolindo sapos e lagartos e se esquecendo de que é capaz de mudar cada uma das histórias, reescrever o livro das nossas vidas.
Uma hora mais cedo e a cena teria sido outra ou o que teria acontecido
se você não tivesse ido àquele lugar, àquela noite, quando o universo conspirava contra nós, ou a nosso favor?
Quem é que vai nos explicar?
Ninguém. Ou alguém

DANUZA LEÃO - Lucidez

LUCIDEZ; mas afinal, o que significa exatamente essa palavra?

Para certas definições, o dicionário não resolve -não completamente; é mais um problema de percepção, de compreensão, de sensibilidade, de lucidez mesmo.
Uma pessoa lúcida é aquela que procura nunca enganar a si mesma, mesmo que a verdade lhe traga sofrimentos.

Ela consegue captar o que está se passando e se nega a ter qualquer tipo de ilusão. Se alguém faz um elogio, ela procura, antes de acreditar ou agradecer, saber se não há algum motivo para tanta gentileza, porque costuma haver sempre uma razão oculta para tudo que se fala. Como já disse alguém, "as palavras foram feitas para ocultar os pensamentos".

Grandes amizades, freqüentemente, acontecem por interesse. Vejamos: quantas vezes não se fica muito próximo de alguém porque esse alguém nos ouve, quando precisamos, com toda a paciência do mundo? Com paciência e com tempo -coisas raras nos dias de hoje.

E aquela amiga que tem uma casa de campo e com isso todos os fins de semana, aqueles em que não se tem absolutamente nada para fazer, estão garantidos? E aquele casal que convida você para o teatro e jantar fora depois, e até para ir junto numa viagem?
Para alguns, viajar só é apenas inconcebível.
Existem todos os tipos de interesse, que aliás ajudam muito a fortalecer um sentimento, seja ele de amizade ou até de amor. Falemos claramente, com toda a lucidez, de um deles: o dinheiro.

Amor verdadeiro, aquele de verdade, existe mesmo? Claro que sim.

Mas se o homem tiver condições de proporcionar certos confortos do tipo "o motorista te pega", que fica muito melhor, lá isso fica. Reconhecer isso é lucidez, mas será que adianta ser lúcida e constatar a perda de todas -ou quase todas- as ilusões?

Tudo bem, as ilusões existem e fazem parte da vida, mas quantas vezes você quebrou a cara porque se iludiu? Vamos lá, tenha a coragem de olhar para trás e ir lembrando.
Aquele cara -lembra?- que disse que te amava e fez com que você quase jogasse tudo para o alto acreditando no amor eterno. Foi honesta com o marido, contou tudo, e ele continuou -e continua- casado.
Se tivesse sido lúcida naquele momento, teria percebido que era tudo mentira e não teria sofrido tanto. E aquela sociedade que você fez, em que você e sua sócia iam ganhar rios de dinheiro e serem, as duas, donas do mundo? Você entrou com o dinheiro e ela com a experiência, e no final você ficou com a experiência, sem o dinheiro e sem a amiga, quem haveria de dizer; aliás, se dissessem, você não teria acreditado.

Mas tem pior: é quando uma pessoa de quem você gosta muito, e a quem daria a camisa do corpo, começa a te tratar melhor para conseguir alguma coisa a mais do que o estabelecido.

Ser mais carinhoso, mais gentil, mais adorável para levar alguma vantagem, isso não se faz. E quem tem a desvantagem de ser lúcida percebe e sofre.
Aliás, nem sofrer sofre mais, porque desde o primeiro momento já vê tudo.
Os muito jovens têm uma grande vantagem: a falta total de lucidez, que só vem com o tempo. E quanto mais ele passa, mais descrente você fica, porque percebe o que está acontecendo antes mesmo do outro. Só acredita em tudo e se ilude quem ainda não conhece suficientemente a vida.
Quem é lúcido não se surpreende com as coisas que o ser humano é capaz de fazer -as mais grandiosas e também as mais baixas; porque, sendo tão lúcido, sabe que também é capaz de todas elas. Quase todas.

FRANCISCO DAUDT - Natureza Humana: Sentimento de Culpa

Que nós nascemos com a capacidade de sentir culpa, é certo. Até cães vêm com este programa. É velha a expressão “cara de cachorro que quebrou a panela”. De fato, depois de um óbvio “malfeito”, lá vem ele com a cabeça baixa e as orelhas murchas a tentar nos lamber, a nos pedir perdão. O sentimento de culpa mistura vergonha com arrependimento, e supõe uma certa integridade moral de quem o tem. É sabido que os psicopatas passam-lhe ao largo, apesar de a ele não serem indiferentes. Ao contrário, desafiam-no. 

Lembro-me bem que as regras da Igreja católica para categorizar algo como pecado incluíam pleno conhecimento da transgressão, livre arbítrio para fazê-la e um momento de “dane-se, vou fazer”. Se nós fossemos bem atentos ao catecismo, (e soubéssemos nossa taxa de livre arbítrio) não seríamos tão assíduos ao confessionário. Mas à instituição, não interessava nem um pouco a discussão dos meios, pois ela lucrava e prosperava com a culpa: o bobalhão acreditava no seu livre arbítrio, desconsiderava sua explosão hormonal da adolescência e considerava-se criminoso por ter-se masturbado, ou mesmo por pensamentos contra a castidade. Confessava seu crime. O padre, pelo ato da absolvição e pela penitência imposta, endossava que havia crime de fato, e lá ia o jovem, livre para pecar outra vez.
 
Ouvi dizer que a Igreja não considera mais a masturbação como pecado mortal. Numa festa do colégio jesuíta em que me formei, apresentei esta questão ao nosso antigo padre prefeito: “E aqueles que morreram em pecado antes da mudança da lei? Queimam no inferno assim mesmo?” Ele, que não tinha cacife intelectual para uma resposta teológica, e pressionado pela gargalhada dos colegas, disse-me que eu já havia bebido vinho bastante.

Fato é que, como instrumento de dominação, a nossa espécie não inventou arma melhor. A Igreja usa e abusa dela, e se mantém por dois mil anos. Você pode fazer com que uma pessoa se ajoelhe, submissa, sob a mira de um revólver. Mas, se ela tiver oportunidade, revidará. Uma vez sentindo-se culpada, a pessoa implora para se ajoelhar diante de você! Imbatível!

A coisa ficou séria quando a esquerda descobriu que podia fazer os trabalhadores prósperos se sentirem culpados de sua riqueza. Em nome deste grave pecado (a prosperidade, que vem de “explorar humildes”), jogam, sobre quem ganha seu dinheiro honestamente, impostos escorchantes, camuflados ou não (os camuflados tiram dos humildes, que ironia). São penitências atuais. É secundário se os impostos forem para perpetuar seu esquema de poder, em vez de reverterem para segurança, saúde e educação. O importante é dominar. O mesmo vale para as compensações exigidas pelas minorias massacradas por nossos ancestrais, sejam elas quilombolas ou índios. Você vai ver, a grande defesa do mensalão será que ele não foi em proveito próprio, mas na busca de uma sociedade mais igualitária, para ressarcir os coitadinhos. E o pior: há multidões que acreditam nesta culpa, pois, coitadas, têm “certa integridade a defender”.

WALCYR CARRASCO - A nova onda conservadora

Muita gente, diante dos discursos e posturas da deputada Myrian Rios (PSD-RJ), acha que ela é simplesmente obtusa. Discordo. A trajetória da deputada prova que burra não é. De atriz sem talento, que posou nua, tornou-se paladina da moral e dos bons costumes. Não é uma trajetória incomum. Mulheres que exibem a sensualidade muitas vezes vivem o que chamo de síndrome de Maria Madalena. Arrependem-se do passado, tornam-se defensoras dos mais rançosos princípios morais e de uma pretensa espiritualidade. É um duplo efeito da lei da gravidade: enquanto o peito cai, o espírito se eleva. Exemplo disso foi Elvira Pagã, vedete do teatro rebolado, primeira a usar biquíni na praia: na maturidade dedicou-se a pintar quadros esotéricos. Já vi acontecer muitas vezes com diabinhas menos famosas. De tão universal, botei a personagem na novela Gabriela, exibida no ano passado pela Globo. "Dorotéia", interpretada pela atriz Laura Cardoso, não existia no romance original de Jorge Amado. Mas tinha a ver com seu universo. Era a vigilante da moral e dos bons costumes na Ilhéus dos anos 1920. Fiscalizava o comportamento das sinhás e suas filhas e denunciava qualquer transgressão. No final, descobriu-se que na juventude fora prostituta e dançava nua nos cabarés. Magnificamente interpretada por Laura, "Dorotéia" tornou-se ícone na internet, com seus comentários moralizantes.

Conheci Myrian Rios rapidamente quando era casada com o cantor Roberto Carlos. Usava uma microssaia espantosamente curta. Mais tarde se tornou missionária e elegeu-se deputada com o apoio evangélico. Faz pouco, teve sancionada pelo governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, a lei que estabelece o "programa de resgate de valores morais, sociais, éticos e espirituais". Ninguém sabe exatamente do que se trata esse programa. Mesmo porque a espiritualidade não é regida pelo Estado. Como Sérgio Cabral não se elegeu papa, nem é bispo evangélico ou babalorixá, nem sequer imagino o que pretenda fazer quanto à lei que sancionou. Myrian Rios foi criticada nas redes sociais. Nem é a primeira vez: no passado, insinuou que os homossexuais seriam pedófilos, provocando revolta generalizada. Mas sinto que não está sozinha nessa cruzada moralista. Uma onda conservadora assola o país. Com freqüência, o discurso moral ocupa o lugar do político. Na eleição para a prefeitura em São Paulo, o então candidato e atual prefeito, Fernando Haddad (PT), foi acusado pelo candidato José Serra (PSDB) de tentar distribuir um "kit gay" quando Ministro da Educação. Aliás, em 2010, o "kit gay"deixou de ser distribuído após pressão da bancada evangélica.

O que leva uma pessoa a achar que tem o direito de dizer como outra deve pensar e viver?

Há outras evidências: agressões e assassinatos de homossexuais são freqüentes; surgiu um movimento contra a legalização da prostituição, proposta pelo deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ). Como se estar a favor da legalização equivalesse a defender a prostituição em si. E não somente desejar que as prostitutas tenham direitos como outros trabalhadores.

Pessoalmente, sempre fui muito próximo dos evangélicos. Meu falecido tio Domingos, irmão de minha mãe, foi pastor presbiteriano. Tive um primo missionário na África. Como cristão, aprendi a conviver com quem tem idéias diferentes das minhas. Só não acredito em impor o que a gente pensa ou agredir quem vive de forma diversa. Ultimamente surgiu o evangélico radical.

Fundamentalista, que branda princípios supostamente retirados da Bíblia. Embora a doutrina cristã possa ser resumida em "Amai ao próximo como a ti mesmo". Historicamente, o cristianismo implica abandono do "olho por olho, dente por dente" do Antigo Testamento e propõe uma sociedade mais tolerante. Mas os novos fundamentalistas querem punir, proibir. Políticos não evangélicos - incluindo os que estão em cargos de poder - obedecem, para manter coalizões. O filme Os deuses malditos, de Luchino Visconti (1969), mostra a ascensão do nazismo por meio da manipulação de uma família.

Mostra os pequenos e grandes fatos que conduziram a Alemanha naquela direção. Agora, sinto um cheiro ruim de autoritarismo no ar. Há um recuo com relação a conquistas que implicavam na convivência entre os diferentes - a base da democracia, afinal. Quando uma lei pela moral e pelos bons costumes é sancionada, a agressão foi à sociedade. A deputada Myrian Rios é a ponta de um iceberg. Eu me pergunto: o que leva uma pessoa a achar que tem o direito de dizer como outra deve pensar e viver?

A CAPACIDADE DE SE ENCANTAR - Martha Medeiros


Muita gente diz que adora viajar, mas depois que volta só recorda das coisas que deram errado. Sendo viajar um convite ao imprevisto, lógico que algumas coisas darão errado, faz parte do pacote.

Desde coisas ingratas, como a perda de uma conexão ou ter a mala extraviada, até xaropices menos relevantes, como ficar na última fila da plateia do musical ou um garçom mal-humorado não entender o seu pedido. Ainda assim, abra bem os olhos e veja onde você está: em Fernando de Noronha, em Paris, em Honolulu, em Mykonos. Poderia ser pior, não poderia?

Outro dia uma amiga que já deu a volta ao mundo uma dezena de vezes comentou que lamentava ver alguns viajantes tão blasés diante de situações que costumam maravilhar a todos.

São os que fazem um safári na Namíbia e estão mais preocupados com os mosquitos do que em admirar a paisagem, ou que estão à beira do mar numa praia da Tailândia e não se conformam de ter esquecido no hotel a nécessaire com os medicamentos, ou que não saboreiam um prato espetacular porque estão ocupados calculando quanto terão que deixar de gorjeta.

Não saboreiam nada, aliás. Estão diante das geleiras da Patagônia e não refletem sobre a imponência da natureza, estão sentados num café em Milão e não percebem a elegância dos transeuntes, entram numa gôndola em Veneza e passam o trajeto brigando contra a máquina fotográfica que emperrou, visitam Ouro Preto e não se emocionam com o tesouro da arquitetura barroca – mas se queixam das ladeiras, claro.

Vão à Provence e torcem o nariz para o cheiro dos queijos, olham para o céu estrelado do Atacama sofrendo com o excesso de silêncio, vão para Trancoso e reclamam de não ter onde usar salto alto, vão para a Índia sem informação alguma e aí estranham o gosto esquisito daquele hambúrguer: ué, não é carne de vaca, bem? Aliás, viajar sem estar minimamente informado sobre o destino escolhido é bem parecido com não ir.

Estão assistindo a um show de música no Central Park, mas não tiram o olho do iPad. Vão ao Rio, mas têm medo de ir à Lapa. Estão em Buenos Aires, mas nem pensar em prestigiar o tango – “programa de velho!” São os que olham tudo de cima, julgando, depreciando, como se o fato de se entregar ao local visitado fosse uma espécie de servilismo – típico daqueles que têm vergonha de serem turistas.

É muito bacana passar um longo tempo numa cidade estrangeira e adquirir hábitos comuns aos nativos para se sentir mais próximo da cultura local, mas quem pode fazer essas imersões com frequência? Na maior parte das vezes, somos turistas mesmo: estamos com um pé lá e outro cá. Então, estando lá, que nos rendamos ao inesperado, ao sublime, ao belo. Nada adianta levar o corpo pra passear se a alma não sai de casa.

FERREIRA GULLAR - Com saudade e com afeto



Não alcançava o nível das crônicas que o Rubem Braga escrevia 
e que fizeram dele um mestre do gênero.

Conheci Rubem Braga na revista "Manchete", em 1955, quando lá trabalhei como redator. Aliás, ali conheci muita gente, a começar por Otto Lara Resende, seu diretor, que me chamou para lá, onde trabalhavam Armando Nogueira, Darwin Brandão, Borjalo e, depois, Janio de Freitas e Amilcar de Castro.

Não por acaso, logo se tornou a melhor revista do Brasil. Rubem, como Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino, era colaborador, escrevia uma crônica por semana.

Fui para lá por indicação de Millôr Fernandes, meu companheiro de praia em Ipanema, ao saber que tinha sido demitido de "O Cruzeiro".

Como não havia vaga de redator, Otto me pôs provisoriamente como revisor, mas, para Adolpho Bloch, dono da revista, eu não era mais do que isso. Tanto assim que, quando Otto me passou a redator, criou-se um problema: "Ele não é redator, Otto, é revisor!". E Otto: "Não fala besteira, Adolpho, Gullar é um poeta, escreve muito bem".

Ele se calou, mas não se convenceu. Acontece, porém, que Rubem Braga, por alguma razão, não mandou a crônica da semana e Otto me pediu que a escrevesse em lugar dele. Aí entra Adolpho na Redação: "Otto, esse Rubem é um gênio. Viu que bela crônica escreveu nesta semana?". Armando e Borjalo logo se aproximaram para ouvir os elogios.

E Otto: "Quer dizer que a crônica do Rubem desta semana é uma maravilha?". "Pode dizer a ele que adorei!"."Acontece, Adolpho -disse Otto- que o autor dessa crônica não é Rubem Braga, é o Gullar."

Adolpho amarelou: - Você está de gozação comigo!

- Então pergunta ao pessoal aí.

- É verdade, Adolpho, quem escreveu a crônica foi o Gullar -garantiu Armando.

- Vocês estão querendo me sacanear! -alegou Adolpho, saindo da Redação, com um gesto obsceno.

- Aqui pra vocês, oh!

Mas não me tornei logo amigo de Rubem Braga, que pertencia à turma do uísque e eu à do chope. Naquela época, eu morava num quarto de pensão, no Catete, com Oliveira Bastos e Carlinhos Oliveira, que era espírito-santense como Rubem, e seu fã. Embora nunca tivesse grana para completar o aluguel do quarto, passava as noites tomando uísque com ele, Tom Jobim e Fernando Sabino. Viria a ser também um ótimo cronista.

Estive algumas vezes na cobertura de Rubem, ali na Barão da Torre. Numa dessas vezes, foi para encontrar com o poeta Pablo Neruda, que passava pelo Rio. Ao final do encontro, convidei-o a assistir à peça "Dr. Getúlio, Sua Vida, Sua Glória", do Dias Gomes e minha, no Teatro Opinião. Ele foi em companhia de Rubem, que o ajudou no esclarecimento de certos detalhes da peça.

No final, ele aplaudiu de pé e foi me agradecer o convite: "Agora, conheço melhor o Brasil", exagerou ele. Pouco tempo depois, embora não mexesse com teatro, escreveu uma peça, não sei se levado pelo entusiasmo daquela noite.

Outro convite do Rubem foi para encontrar com Gabriel García Márquez. A conversa estava animada, quando chegou um convidado que só me conhecia de nome.

- Você é o poeta Ferreira Gullar?

- Às vezes -respondi eu, para a risadaria geral. García Márquez quis saber o motivo dos risos e eu então lhe expliquei: - Respondi "às vezes" porque meu nome mesmo não é Ferreira Gullar, mas José de Ribamar Ferreira e, também, porque não sou poeta 24 horas por dia. Só às vezes.

Ele gostou da minha tirada, tanto que, pouco depois, ao falar a um jornal mexicano, a contou, mas atribuindo-a a Jorge Luis Borges.

Quem me informou disso foi Leon Hirszman, que também esteve na casa de Rubem naquela noite. Estava desapontado. Entendi: a tirada era boa demais para ser atribuída a um desconhecido.

Adolpho, ao elogiar a crônica que escrevi com o nome do Rubem Braga, estava mais uma vez equivocado. Era apenas interessante, não alcançava o nível das crônicas que o Rubem escrevia e fizeram dele um mestre do gênero na imprensa brasileira.

Agora, ao falar dele aqui, quando se comemora seu centenário de nascimento, lembro-me de uma linda crônica sua que começa assim: "Vieram alguns amigos. Um trouxe bebida, outros trouxeram bocas. Um trouxe cigarros, outro apenas um pulmão. Um deitou-se na rede e outro telefonava. E Joaquina, de mão no queixo, olhando o céu, era quem mais fazia: fazia olhos azuis".

HELENA KOLODY - O Sentido Secreto da Vida


Há um sentido profundo
Na superficialidade das coisas,
Uma ordem inalterável
No caos aparente dos mundos.

Vibra um trabalho silencioso e incessante
Dentro da imobilidade das plantas:
No crescer das raízes,
No desabrochar das flores,
No sazonar das frutas.

Há um aperfeiçoamento invisível
Dentro do silêncio de nosso Eu:
Nos sentimentos que florescem,
Nas idéias que voam,
Nas mágoas que sangram.

Uma folha morta
Não cai inutilmente.
A lágrima não rola em vão.
Uma invisível mão misericordiosa
Suaviza a queda da folha,
Enxuga o pranto da face.

ARNALDO JABOR – Alguém para amar



Na hora de cantar todo mundo enche o peito nas boates, nos bares, levanta os braços, sorri e dispara: “eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também”.

No entanto, passado o efeito do whisky com energético e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração “tribalista” se dirigem aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição. A maioria não quer ser de ninguém, mas quer que alguém seja seu.

Estes, desconhecem a delícia de assistir a um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado, roçando os pés sob as cobertas e a troca de cumplicidade, carinho e amor. Namorar é algo que vai muito além das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ela, é telefonar só para dizer bom dia, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter alguém para amar…

FERNANDA TORRES - Sisifo

Sou mulher, irmã e amiga de cineasta. A proximidade me fez conviver com os meandros do lançamento de uma película, em que os riscos são grandes e as chances de se danar, quase certas. Os blockbusters americanos pautam o calendário, e os filmes brasileiros se espremem nas datas que sobram, sempre pressionados pelos gigantes. O grande divisor de águas do segundo semestre de 2012 é Amanhecer. Os vampiros sugaram 1213 das 2000 e poucas salas de exibição do Brasil, perfazendo a assombrosa média de 1769 pessoas por sala no primeiro fim de semana. Para se ter uma ideia, um filme médio costuma ir para a rua com 100 cópias e é considerado um êxito se cumprir o mínimo de 1000 pessoas por cópia entre sexta e domingo.

Até que a Sorte Nos Separe entrou na briga com audaciosas 415 salas, encontrou uma brecha antes de a vampirada pousar, apostando em dois feriados longos entre os meses de outubro e novembro. O delicioso Hassum fez bonito e deve chegar a 3 milhões de espectadores. O belíssimo Gonzaga se valeu da mesma estratégia e deve bater em mais de 1 milhão e meio de bilhetes vendidos. Os Penetras, que acompanho de perto, escolheu a baixa da draculândia, quando as 1213 salas ocupadas sofrem uma queda, abrindo espaço para que os peixes-pilotos nacionais matem a fome. A esperança é persistir nas férias sem ser atropelado pelo Batmóvel ou pelo martelo do Thor.

A matemática é justa. Erra-se tanto se o filme abre demais e diminui a frequência por sala quanto se abre de menos e manda o público de volta para casa.

O cinema é um cassino. Quanto mais cópias se põem na rua, mais cara se torna a campanha publicitária. O investimento arriscado em mídia é o primeiro a retornar para o bolso do distribuidor. O produtor só saberá o que é lucro depois de pagar por esse aporte. É crucial romper a barreira de 1 milhão de espectadores.

Mas 1 milhão é gente pra chuchu. Woody Allen e Almodóvar rendem, em média, de 200000 a 400000 ingressos. Argo, excelente filme de Ben Affleck, provável concorrente ao Oscar, atraiu, até agora, tímidos 160000 cinéfilos. A diferença é que os filmes estrangeiros já chegam pagos aos trópicos. Allen fecha suas contas em mais de uma praça. Aqui, com raras exceções, só contamos com o mercado interno. Um filme mais sensível, ou cabeçudo, que chegue ao mesmo resultado do brilhante A Pele que Habito é considerado fracasso.

Sempre me pareceu curioso que a estante dedicada aos filmes brasileiros nas locadoras não seja separada por gêneros. O cinema nacional é um gênero em si, no qual comédias, dramas sociais e políticos, documentários e histórias infantis são colocados no mesmo saco. Não à toa, sempre existe uma corrente predominante. Nos anos 70, foi a pornochanchada, no renascimento, o favela movie e, hoje, as comédias urbanas são as que se mostram economicamente viáveis.

Seria bom assistir a terror, dramas burgueses à moda argentina, suspense, aventura e filmes-denúncia em português. Nosso país é complexo o suficiente para inspirar todo tipo de trama. A premência do resultado inibe o risco artístico, apresentamos sempre mais do mesmo até que alguma exceção mude o rumo do mercado. Deus e o Diabo fez isso, e também Dona Flor, Xica da Silva, Carlota Joaquina, Central do Brasil, Cidade de Deus, Carandiru, Tropa de Elite e Se Eu Fosse Você.

Um realizador demora de dois a sete anos, se tiver sorte, para carregar seu revólver com uma única bala na agulha. O destino de sua obra estará selado nas primeiras 72 horas. Caso não atinja o alvo na mosca, o filme sairá de cartaz na semana seguinte. E, mesmo que ele tenha êxito, um bom resultado não garante o futuro.

É a profissão que mais se assemelha ao mito de Sísifo, do homem condenado a empurrar uma gigantesca pedra até o alto de uma montanha para, uma vez lá, vê-la rolar ladeira abaixo, pronta para ser arrastada outra vez.

Por isso, a pergunta inocente: “Qual o seu próximo projeto?”, ouvida por dez entre dez diretores nas pré-estreias de seus longas, muitas vezes me soa trágica.

MARCIA TIBURI - O que é sensibilidade?

Chamamos sensibilidade ao conjunto de nossos sentimentos e sensações e ao modo como os experimentamos.

Nossa sensibilidade pode ser mais bruta ou mais elaborada. Podemos, entretanto, dizer que alguém não tem sensibilidade. Neste caso, nos referimos às pessoas que denominamos de “frias” e que, em geral, pensamos ser aquelas que fazem um uso mais assíduo da razão. Usamos a metáfora da frieza em oposição à outra bem conhecida, a que se refere ao calor dos sentimentos. Assim expressamos que os sentimentos aproximam, enquanto a razão afasta; eles aconchegam, enquanto ela põe limites. O sentimento é, por sua vez, o mais íntimo de cada um, algo que não se pode comunicar, por isso, os artistas procuram “expressões” para eles. O esforço de compreensão dos sentimentos é sempre poético e intuitivo.

A clássica oposição entre razão e sensibilidade, que culminou na filosofia e na literatura dos séculos XVIII e XIX, é o fruto da necessidade de sistematização das faculdades humanas, mas também obedece a um fator antropológico que coloca a razão como hierarquicamente superior aos demais atributos e capacidades humanos.

A sensibilidade envolve também a questão das sensações. Sensação é a informação que os sentidos recebem do mundo exterior ao corpo. Os gregos usavam a palavra Aisthesis para significar a sensação em geral ou a capacidade de perceber. Depois, e ao longo da tradição filosófica, tais informações seriam trabalhadas pela razão capaz de recolher os dados confusos e elaborar conceitos e juízos a partir deles. Platão pensava que a sensação era uma capacidade humana insuficiente para o alcance da verdade. Baumgarten usará o termo dos gregos para fundar no século XVIII a disciplina chamada “Estética” que se ocupará, segundo ele, do conhecimento dos sentidos.

Sensações são o que podemos conhecer por meio de nossos sentidos, ou seja, o que sabemos, em última instância, por meio de nosso corpo. Por isso, podemos pensar que o corpo inteiro, e não apenas os tradicionais cinco sentidos, é um lugar de conhecimento. Todavia, podemos não prestar atenção ao que informam os sentidos, em outras palavras, ao que diz o nosso corpo. Por exemplo, não costumamos prestar atenção ao que ocorre conosco quando dançamos. Sensibilidade é também a capacidade de perceber e interpretar as nossas sensações.

Os filósofos antigos já procuravam explicações para o mistério da sensação tão importante também para os modernos e até hoje, para nós. As sensações, como os sentimentos, também foram desvalorizadas. É com os filósofos que tem a razão como instrumento de trabalho na compreensão do mundo que temos a fundamentação do preconceito contra a sensibilidade. O trabalho do conceito com o qual se ocuparam resultou em falta de atenção à produção da sensibilidade. Mas nem todos foram desatentos a isso: Rousseau, no século XVIII falava que era preciso formar o homem sensível para que ele pudesse ser racional. É preciso, neste ponto, saber da importância da “educação artística” que mais do que um treinamento para as artes deve ser um trabalho na formação da sensibilidade baseada na atenção aos sentidos, aos sentimentos e ao corpo. 

Tal posição é a que devemos defender hoje: a sensibilidade é uma categoria do conhecimento e uma categoria política. Ela é a base, a via de acesso ao mundo externo ao nosso corpo, o modo como se estabelece nossa relação com as coisas, justamente por ser um modo como experimentamos nosso corpo e os demais corpos. É o modo como olhamos para as coisas, como ouvimos, mas também como as pensamos.

O que melhor resume a sensibilidade é que ela é uma capacidade de ter atenção às coisas, o modo como nos dispomos ao que não somos e não conhecemos. O uso da razão, a produção do pensamento, depende desse gesto inicial de disposição, que envolve silêncio, a boa passividade e a escuta. O esforço de cada um, de todos os seres que sentem e usam a razão (sejam profissionais das artes, da filosofia, ou não), deve ser o de reunir, estabelecer pontes, reintegrar as capacidades. Toda nossa relação com a natureza e com o outro – além da relação com nosso próprio corpo, nosso próprio eu - depende deste esforço de integração do que está separado. 

LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO - Dois na cama


Nos anos 30, reagindo a uma onda de protestos contra a “licenciosidade” nos filmes de Hollywood, a indústria cinematográfica americana criou um código determinando o que o público podia e não podia ver na tela. Nudez nem pensar, beijo de boca aberta esquece, sexo só sugerido e assim mesmo dentro de certos limites específicos. Homem e mulher, mesmo casados, não podiam aparecer na mesma cama. Durante os anos de vigência do código puritano, cama de casal, e tudo que ela implicava, era proibida, a não ser que fosse ocupada por uma só pessoa.

Com uma exceção, como sacou o Ruy Castro numa das suas colunas recentes na Folha: o Gordo e o Magro. Há várias cenas nos filmes do Gordo e o Magro em que os dois dormem juntos na mesma cama de casal – isso quando o sono não é interrompido por um fantasma ou uma briga pelo cobertor. E ninguém, que se saiba, jamais protestou contra os dois homens numa cama só. Talvez porque a ideia do Gordo e o Magro fazendo sexo não tenha ocorrido nem à mente mais suja ou mais puritana. Ou talvez se concedesse a uma dupla humorística, cujo fato de ser inseparável fazia parte da sua graça, uma licença que outros casais da tela não tinham.

O curioso é que justamente nessa fase em que o puritanismo reinou, alerta contra qualquer alusão sexual, por menos explícita que fosse, ninguém prestava atenção, por exemplo, no estranho relacionamento do Batman com o Robin. Nunca se soube se os dois dormiam juntos, mas essa seria uma especulação natural numa época tão fixada em sexo e seus subterfúgios. Mas só se começou a fazer este tipo de interpretação – o Zorro e o Tonto representando o colonialismo branco e a submissão do índio, mas certamente dormindo agarradinhos no frio das planícies – tempos depois, quando o ridículo código já tinha acabado, e as camas de casais podiam ser ocupadas por três ou quatro de sexos diferentes.

Mas entende-se. O puritanismo é uma espécie de inocência. Concentra-se tanto no rabo do vizinho que não vê mais nada. 

O QUE VOCÊ GOSTARIA DE VER SE TIVESSE APENAS 3 DIAS DE VISÃO? - HELEN KELLER

Helen Keller, cega e surda desde bebê, 
dá a sua resposta neste belo ensaio.

Várias vezes pensei que seria uma benção se todo ser humano, de repente, ficasse cego e surdo por alguns dias no princípio da vida adulta. As trevas o fariam apreciar mais a visão e o silêncio lhe ensinaria as alegrias do som.

De vez em quando testo meus amigos que enxergam para descobrir o que eles vêem. Há pouco tempo perguntei a uma amiga que voltava de um longo passeio pelo bosque o que ela observara. "Nada de especial", foi à resposta.

Como é possível, pensei, caminhar durante uma hora pelos bosques e não ver nada digno de nota? Eu, que não posso ver, apenas pelo tacto encontro centenas de objetos que me interessam. Sinto a delicada simetria de uma folha. Passo as mãos pela casca lisa de uma bétula ou pelo tronco áspero de um pinheiro.

Na primavera, toco os galhos das árvores na esperança de encontrar um botão, o primeiro sinal da natureza despertando após o sono do inverno. Por vezes, quando tenho muita sorte, pouso suavemente a mão numa arvorezinha e sinto o palpitar feliz de um pássaro cantando.

Às vezes meu coração anseia por ver tudo isso. Se consigo ter tanto prazer com um simples toque, quanta beleza poderia ser revelada pela visão! E imaginei o que mais gostaria de ver se pudesse enxergar, digamos por apenas três dias.

Eu dividiria esse período em três partes. No primeiro dia gostaria de ver as pessoas cuja bondade e companhias fizeram minha vida valer a pena. Não sei o que é olhar dentro do coração de um amigo pelas "janelas da alma", os olhos. 

Só consigo "ver" as linhas de um rosto por meio das pontas dos dedos. Posso perceber o riso, a tristeza e muitas outras emoções. Conheço meus amigos pelo que toco em seus rostos.

Como deve ser mais fácil e muito mais satisfatório para você, que pode ver, perceber num instante as qualidades essenciais de outra pessoa ao observar as sutilezas de sua expressão, o tremor de um músculo, a agitação das mãos. 

Mas será que já lhe ocorreu usar a visão para perscrutar a natureza íntima de um amigo? Será que a maioria de vocês que enxergam não se limita a ver por alto as feições externas de uma fisionomia e se dar por satisfeita?

Por exemplo, você seria capaz de descrever com precisão o rosto de cinco bons amigos? Como experiência, perguntei a alguns maridos qual a exata cor dos olhos de suas mulheres e muitos deles confessaram, encabulados, que não sabiam.

Ah, tudo que eu veria se tivesse o dom da visão por apenas três dias!

O primeiro dia seria muito ocupado. Eu reuniria todos os meus amigos queridos e olharia seus rostos por muito tempo, imprimindo em minha mente as provas exteriores da beleza que existe dentro deles. 

Também fixaria os olhos no rosto de um bebê, para poder ter a visão da beleza ansiosa e inocente que precede a consciência individual dos conflitos que a vida apresenta. 

Gostaria de ver os livros que já foram lidos para mim e que me revelaram os meandros mais profundos da vida humana. E gostaria de olhar nos olhos fiéis e confiantes de meus cães, o pequeno scottie terrier e o vigoroso dinamarquês.

À tarde daria um longo passeio pela floresta, intoxicando meus olhos com belezas da natureza. E rezaria pela glória de um pôr-do-sol colorido. Creio que nessa noite não conseguiria dormir.

No dia seguinte eu me levantaria ao amanhecer para assistir ao empolgante milagre da noite se transformando em dia. Contemplaria assombrado o magnífico panorama de luz com que o Sol desperta a Terra adormecida.

Esse dia eu dedicaria a uma breve visão do mundo, passado e presente. Como gostaria de ver o desfile do progresso do homem, visitaria os museus. Ali meus olhos veriam a história condensada da Terra -- os animais e as raças dos homens em seu ambiente natural; gigantescas carcaças de dinossauros e mastodontes que vagavam pelo planeta antes da chegada do homem, que, com sua baixa estatura e seu cérebro poderoso, dominaria o reino animal.
Minha parada seguinte seria o Museu de Artes.

Conheço bem, pelas minhas mãos, os deuses e as deusas esculpidos da antiga terra do Nilo. Já senti pelo tacto as cópias dos frisos do Paternon e a beleza rítmica do ataque dos guerreiros atenienses. As feições nodosas e barbadas de Homero me são caras, pois também ele conheceu a cegueira.

Assim, nesse meu segundo dia, tentaria sondar a alma do homem por meio de sua arte. Veria então o que conheci pelo tato. Mais maravilhoso ainda, todo o magnífico mundo da pintura me seria apresentado. Mas eu poderia ter apenas uma impressão superficial. Dizem os pintores que, para se apreciar a arte, real e profundamente, é preciso educar o olhar. É preciso, pela experiência, avaliar o mérito das linhas, da composição, da forma e da cor. Se eu tivesse a visão, ficaria muito feliz por me entregar a um estudo tão fascinante.

À noite de meu segundo dia seria passada no teatro ou no cinema. Como gostaria de ver a figura fascinante de Hamlet ou o tempestuoso Falstaff no colorido cenário elisabetano! Não posso desfrutar da beleza do movimento rítmico senão numa esfera restrita ao toque de minhas mãos. Só posso imaginar vagamente a graça de uma bailarina, como Pavlova, embora conheça algo do prazer do ritmo, pois muitas vezes sinto o compasso da música vibrando através do piso.

Imagino que o movimento cadenciado seja um dos espetáculos mais agradáveis do mundo. Entendi algo sobre isso, deslizando os dedos pelas linhas de um mármore esculpido; se essa graça estática pode ser tão encantadora, deve ser mesmo muito mais forte a emoção de ver a graça em movimento.

Na manhã seguinte, ávida por conhecer novos deleites, novas revelações de beleza, mais uma vez receberia a aurora. Hoje, o terceiro dia, passarei no mundo do trabalho, nos ambientes dos homens que tratam do negócio da vida. A cidade é o meu destino.

Primeiro, paro numa esquina movimentada, apenas olhando para as pessoas, tentando, por sua aparência, entender algo sobre seu dia-a-dia. Vejo sorrisos e fico feliz. Vejo uma séria determinação e me orgulho. Vejo o sofrimento e me compadeço.

Caminhando pela 5ª Avenida, em Nova York, deixo meu olhar vagar, sem se fixar em nenhum objeto em especial, vendo apenas um caleidoscópio fervilhando de cores. Tenho certeza de que o colorido dos vestidos das mulheres movendo-se na multidão deve ser uma cena espetacular, da qual eu nunca me cansaria. Mas talvez, se pudesse enxergar, eu seria como a maioria das mulheres – interessadas demais na moda para dar atenção ao esplendor das cores em meio à massa.

Da 5ª Avenida dou uma volta pela cidade – vou aos bairros pobres, às fábricas, aos parques onde as crianças brincam. Viajo pelo mundo visitando os bairros estrangeiros. E meus olhos estão sempre bem abertos tanto para as cenas de felicidade quanto para as de tristeza, de modo que eu possa descobrir como as pessoas vivem e trabalham, e compreendê-las melhor.

Meu terceiro dia de visão está chegando ao fim. Talvez haja muitas atividades a que devesse dedicar as poucas horas restantes, mas acho que na noite desse último dia vou voltar depressa a um teatro e ver uma peça cômica, para poder apreciar as implicações da comédia no espírito humano.

À meia-noite, uma escuridão permanente outra vez se cerraria sobre mim. Claro, nesses três curtos dias eu não teria visto tudo que queria ver. Só quando as trevas descessem de novo é que me daria conta do quanto eu deixei de apreciar.

Talvez este resumo não se adapte ao programa que você faria se soubesse que estava prestes a perder a visão. Mas sei que, se encarasse esse destino, usaria seus olhos como nunca usara antes. Tudo quanto visse lhe pareceria novo. Seus olhos tocariam e abraçariam cada objeto que surgisse em seu campo visual.

Então, finalmente, você veria de verdade, e um novo mundo de beleza se abriria para você.

Eu, que sou cega, posso dar uma sugestão àqueles que vêem: usem seus olhos como se amanhã fossem perder a visão. E o mesmo se aplica aos outros sentidos.

Ouça a música das vozes, o canto dos pássaros, os possantes acordes de uma orquestra, como se amanhã fossem ficar surdos. 

Toquem cada objeto como se amanhã perdessem o tato. Sintam o perfume das flores, saboreiem cada bocado, como se amanhã não mais sentissem aromas nem gostos. 

Usem ao máximo todos os sentidos; goze de todas as facetas do prazer e da beleza que o mundo lhes revela pelos vários meios de contacto fornecidos pela natureza. 

Mas, de todos os sentidos, estou certa de que a visão deve ser o mais delicioso. 

FRANCISCO DAUDT - Natureza Humana: Palavra e Pensamento

<Meio da madrugada. Minha filha, bebê, choraminga pela babá-eletrônica. Acordou com fome. Meu ritual de todas as noites, pego a mamadeira e vou com ela até a porta de seu quarto. No que giro a maçaneta, ela para de choramingar. Fiquei pasmo, pois ali havia se dado nossa primeira comunicação por símbolos. Seu choro era um chamado, o ruído da maçaneta, uma resposta. Ela não precisava continuar chamando, por isto parou. Símbolo é algo que serve de referência para outras coisas ou idéias. 

“Ora, isto é apenas reflexo condicionado, coisa de que qualquer cão é capaz, vide Pavlov”. Sim, mas o condicionamento de reflexos é apenas outra maneira de se descrever nossa capacidade de formar símbolos. Ainda que rudimentar, seja nos cães, seja na minha filha de meses, o programa mental que junta acontecimentos a sons ou imagens a partir de memórias, fazendo que um signifique muitos, está em nossos cérebros.

Está cada vez mais difícil completar a frase “o ser humano é o único animal que…” Pensamos hoje que é a quantidade, e não a qualidade, o fator determinante de nossa complexidade.

Mas a quantidade é assombrosa quando nos diz respeito. Volto à minha pequena, lembrando a primeira palavra que disse. Era um verbo no passado. Vendo que a água do copo parara de verter, anunciou: “Cabô”. Ali estavam representados conceitos amplos, como o de finitude, limites, volumes, desapontamento etc. De forma rudimentar, claro, mas as portas estavam abertas para que a complexidade de sua expressão, de seu pensamento, nunca mais parasse de aumentar, vida afora.

Disse que os ingleses tiveram uma sorte enorme com a invasão normanda, que lhes trouxe o latim para enriquecer o tosco anglo-saxão que falavam. Vendo a extraordinária série “Downton Abbey”, percebi que o roteirista quase só pôs derivados do latim na fala dos personagens, quer os do andar de cima, quer da criadagem. Para ilustrar o ganho de complexidade, pego o uso de “enter” no lugar de “come in”. Este tem uso restrito, prático. Aquele contém desde a permissão para abrir a porta e avançar, até nossas “entradas e bandeiras”, o partilhar da intimidade, o acolhimento, as conquistas territoriais.

Lembrei de um cartaz: “Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê”. E me lembrei da diferença entre o olho que sabe e o olho que vê. Um burro olhando para um palácio usa o olho que vê. Um arquiteto culto usa o olho que sabe, e assim percebe as cornijas, as ameias, os capitéis, as gárgulas, os frontões, a história, a época, a mitologia, as batalhas, as armas de defesa (a começar pelo próprio castelo, que não é uma moradia qualquer), a economia, as castas, a política, um mundo de informações contido naquelas pedras empilhadas.

O que só pôde ser percebido porque aquele “Cabô” da primeira infância veio conversando com o mundo, enriquecendo-se com os livros, os dicionários, as línguas estrangeiras, os meios de comunicação. Com a santa internet, aquela que nos dá o Google e as enciclopédias. Assim, a capacidade de simbolizar do “Cabô” não se acaba jamais.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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