CAETANO VELOSO - Cordial

Aprendi, em conversas com amigos compositores, que, no cabo de guerra entre 
a liberdade de expressão e o direito à privacidade, muito cuidado é pouco

Tenho um coração libertário. Sou o típico coroa que foi jovem nos anos 60. Recebi anteontem o e-mail de um cara de quem gosto muito — e que é jornalista — com proposta de entrevista por escrito sobre a questão das biografias. Para refrescar minha memória, ele anexou um trecho de fala minha em 2007. Ali eu me coloco claramente contra a exigência de autorização prévia por parte de biografados. E pergunto: “Vão queimar os livros?” Achei aquilo minha cara. Todos que me conhecem sabem que essa é minha tendência. 

Na casa de Gil, ao fim de uma reunião com a turma da classe, eu disse, faz poucos meses, que “quem está na chuva é para se molhar” e “biografias não podem ser todas chapa-branca”. Então por que me somo a meus colegas mais cautelosos da associação Procure Saber, que submetem a liberação das obras biográficas à autorização dos biografados?

Mudei muito pouco nesse meio-tempo. Mas as pequenas mudanças podem ter resultados gritantes. Aprendi, em conversas com amigos compositores, que, no cabo de guerra entre a liberdade de expressão e o direito à privacidade, muito cuidado é pouco. E que, se queremos que o Brasil avance nessa área, o simplismo não nos ajudará. 

O modo como a imprensa tem tratado o tema é despropositado. De repente, Chico, Milton, Djavan, Gil, Erasmo e eu somos chamados de censores porque nos aproximamos da posição de Roberto Carlos, querendo responder ao movimento liderado pela Anel (Associação Nacional dos Editores de Livros), que criou uma Adin (ação direta de inconstitucionalidade) contra os artigos 20 e 21 do Código Civil, que protegem a intimidade de figuras públicas. Repórter da “Folha” cita trechos de algo dito por Paula Lavigne em outro contexto para responder a sua carta de leitor. Logo a “Folha”, que processou, por parodiá-la, o blog Falha de S.Paulo.

A sede com que os jornais foram ao pote terminou dando ao leitor a impressão de que meus colegas e eu desencadeamos uma ação, quando o que aconteceu foi que nos vimos no meio de uma ação deflagrada por editoras, à qual vimos que precisávamos responder com, no mínimo, um apelo à discussão. Censor, eu? Nem morta! Na verdade a avalanche de pitos, reprimendas e agressões só me estimula a combatividade.

Tenho dito a meus amigos que os autores de biografias não podem ser desrespeitados em seus direitos de informar e enriquecer a imagem que podemos ter da nossa sociedade. Pesquisam, trabalham e ganham bem menos do que nós (mas não nos esqueçamos das possibilidades do audiovisual). Não me sinto atraído pelo excesso de zelo com a vida privada e muito menos pela ideia de meus descendentes ficarem com a tarefa de manter meu nome “limpo”. Isso lhes oferece uma motivação de segunda classe para suas vidas.

Também neguinho pode vir a ter um neto que seja muito careta e queira fazer dele o burguês respeitável que ele não foi nem quis ser. Mas diante dos editoriais candentes, das palavras pesadas e, sobretudo, das grosserias dirigidas a Paula Lavigne, minha empresária, ex-mulher e mãe de dois dos meus três filhos maravilhosos, tendo a ressaltar o que meu mestre Jorge Mautner sintetizou tão bem nos versos “Liberdade é bonita mas não é infinita /Me acredite: liberdade é a consciência do limite”. Mautner é pelo extremo zelo com a intimidade.

Autores americanos foram convocados para repisar a ferida do sub-vira-lata. Nada mais útil à campanha. (Americanos são vira-latas mas têm uma história revolucionária com a qual não nos demos o direito de competir.) Sou sim a favor de podermos ter biografias não autorizadas de Sarney ou Roberto Marinho. Mas as delicadezas do sofrimento de Gloria Perez e o perigo de proliferação de escândalos são tópicos sobre os quais o leitor deve refletir. A atitude de Roberto foi útil para nos trazer até aqui: creio que os termos do Código Civil merecem ser mudados, mas entre a chapa-branca e o risco marrom devem valer considerações como as de Francisco Bosco. 

Ex-roqueiros bolsonaros e matérias do GLOBO tipo olha-os-baderneiros para esconder a força que a luta dos professores ganhou na cidade me tiram a vontade de crer em opções fora da esquerda entalada. Me empobrecem. Ficaremos todos mais ricos se virmos que o direito à intimidade deve complicar o de livre expressão. E se avançarmos sem barretadas aos americanos. 

Ouve-se aqui minha voz individual. Quiçá perguntem: ué, os jornais deram espaço, pediram entrevistas: Tá chiando de quê? Pois é. Meu ritmo. Roberto, Chico, Milton e os outros estão mais firmes: nunca defenderam nada diferente. Esperei o Procure Saber buscar seu timbre, olhei em volta e deixei pra falar aqui.

CHICO BUARQUE - Penso eu

Pensei que o Roberto Carlos tivesse o direito 
de preservar sua vida pessoal. 
Parece que não.

Pensei que o Roberto Carlos tivesse o direito de preservar sua vida pessoal. Parece que não. Também me disseram que sua biografia é a sincera homenagem de um fã. Lamento pelo autor, que diz ter empenhado 15 anos de sua vida em pesquisas e entrevistas com não sei quantas pessoas, inclusive eu. Só que ele nunca me entrevistou.

O texto de Mário Magalhães sobre o assunto das biografias me sensibilizou. Penso apenas que ele forçou a mão ao sugerir que a lei vigente protege torturadores, assassinos e bandidos em geral. Ele dá como exemplo o Cabo Anselmo, de quem no entanto já foi publicada uma biografia. A história de Consuelo, mulher e vítima do Cabo Anselmo, também está num livro escrito pelo próprio irmão. Por outro lado, graças à lei que a associação de editores quer modificar, Gloria Perez conseguiu recolher das livrarias rapidamente o livro do assassino de sua filha. 

Da excelente biografia de Carlos Marighella, por Mário Magalhães, ninguém pode dizer que é chapa-branca. Se fosse infamante ou mentirosa, ou mesmo se trouxesse na capa uma imagem degradante do Marighella, poderia ser igualmente embargada, como aliás acontece em qualquer lugar do mundo. Como Mário Magalhães, sou autor da Companhia das Letras e ainda me considero amigo do seu editor Luiz Schwarcz. 

Mas também estive perto do Garrincha, conheci algumas de suas filhas em Roma. Li que os herdeiros do Garrincha conseguiram uma alta indenização da Companhia das Letras. Não sei quanto foi, mas acho justo.

O biógrafo de Roberto Carlos escreveu anteriormente um livro chamado “Eu não sou cachorro não”. A fim de divulgar seu lançamento, um repórter do “Jornal do Brasil” me procurou para repercutir, como se diz, uma declaração a mim atribuída. Eu teria criticado Caetano e Gil, então no exílio, por denegrirem a imagem do país no exterior. Era impossível eu ter feito tal declaração. O repórter do “JB”, que era também prefaciador do livro, disse que a matéria fora colhida no jornal “Última Hora”, numa edição de 1971. Procurei saber, e a declaração tinha sido de fato publicada numa coluna chamada Escrache. As fontes do biógrafo e pesquisador eram a “Última Hora”, na época ligada aos porões da ditadura, e uma coluna cafajeste chamada Escrache. Que eu fizesse tal declaração, em pleno governo Médici, em entrevista exclusiva para tal coluna de tal jornal, talvez merecesse ser visto com alguma reserva pelo biógrafo e pesquisador. Talvez ele pudesse me consultar a respeito previamente e tirar suas conclusões. Mas só me procuraram quando o livro estava lançado. Se eu processasse o autor e mandasse recolher o livro, diriam que minha honra tem um preço e que virei censor.

Nos anos 70 a TV Globo me proibiu. Foi além da Censura, proibiu por conta própria imagens minhas e qualquer menção ao meu nome. Amanhã a TV Globo pode querer me homenagear. Buscará nos arquivos as minhas imagens mais bonitas. Escolherá as melhores cantoras para cantar minhas músicas. Vai precisar da minha autorização. Se eu não der, serei eu o censor.

FERNANDA TORRES - Gregório

Domingos de Oliveira me pagou um grande elogio outro dia. Ele disse que a minha geração inventou um novo tipo de mulher, algo jamais visto nos 70 anos de vida dele: a cinquentona gostosérrima. Tenho 48, estou a caminho.

Citei Dina Sfat, Norma Bengell e todas aquelas deusas da safra dele. Tentei argumentar, mas o Domingos bateu o pé e garantiu que o fenômeno era recente. Aceitei o gabo sem concordar. Já cheguei à idade de querer ser reconhecida não pelo intelecto, mas pelas curvas.

A dieta balanceada, a falta de excessos, o pilates, a ioga, os cremes, os ácidos, o lifting e o laser, o arsenal de madame de que se pode dispor para adiar os efeitos devastadores do tempo, talvez expliquem a sobrevida das que nasceram na década de 60.

No seriado Tapas e Beijos, Andréa Beltrão e eu gozamos da companhia de dois atores dez anos mais jovens do que nós duas, os irresistíveis Vladimir Brichta e Fábio Assunção. Débora Bloch acaba de emplacar um par romântico com o vampiro de Gabriel Braga Nunes. Gabriel eu vi criança, na casa do pai dele, Celso Nunes, grande parceiro de teatro dos meus pais.

Eu já estava satisfeita com a minha situação quando, em um comercial para a internet, me vi sentada em um sofá ao lado do Gregório Duvivier. Seríamos supostamente casados. Ri do par e perguntei, por curiosidade, o ano de seu nascimento. “Oitenta?”, arrisquei, já achando absurdo. “E seis”, ele respondeu. “Oitenta e seis.” Quando Gregório veio ao mundo, eu já estava na estrada havia 21 anos, estrelava Selva de Pedra e recebia a Palma de Ouro em Cannes.

O Gregório não tem idade, é difícil defini-la. Apesar do humor característico, neutro, sofisticado, ele é capaz de se adaptar aos mais diversos estilos, como o mais clássico dos atores. Eu me surpreendi ao vê-lo no musical Como Vencer na Vida sem Fazer Força, em que executava com rigor de Broadway sua rotina em cena, sem demonstrar suor ou afetação.

É muito raro divertir-se gravando comercial. Os roteiros são amarrados, deve-se enaltecer a funcionalidade do produto e o tamanho das falas raramente cabe nos segundos de exibição. Pois eu gostei de passar a tarde com o Gregório.

Compusemos cinco tipos, um casal de hippies, outro de mergulhadores, dois velhos, dois punks, duas crianças de escola, além de nós mesmos. O Gregório ficou com o pesado, coube a ele a explanação técnica e a mim, a mímica. No início do dia, vestido de septuagenário, avisou que não faria vozes. Não importava a fantasia, o tom era o mesmo, o que acentuava a comicidade da ação. Gregório é como Luiz Fernando Guimarães, um ator que sabe que não deve nunca dar 100%.

No dia seguinte ao da gravação, recebi o link de uma propaganda que o Gregório fez para o livro do Paulo Leminski Vida, com as biografias de Cruz e Souza, Bashô (poeta japonês), Jesus e Trotsky. A peça é uma obra-prima sobre um divulgador que desconhece que o autor de Vida está morto há mais de vinte anos. Vale a pena conferir.

De quebra, o moço lança um livro de poesias pela Cia. das Letras até o fim do ano.

Enquanto você dormia peguei
Uma caneta e liguei os pontos
Sardentos das suas costas…

É que ele estudou no Lycée Français.

KARINA ARRUDA - Decidi me apaixonar

O trem de pouso já havia abaixado e pela janela vi crescendo as casas cobertas pela neve e o vento movimentando o ar pálido. No desembarque, aeroporto lotado como se fossem as nossas festas de final de ano. Mas era em Genebra, onde muita gente ia e vinha com malas enormes, skis empacotados e vestidos com casacos fofinhos e roupas em camadas acumuladas uma por cima da outra, indumentária para quem vai enfrentar as temperaturas negativas ou buscar emoções nas congeladas montanhas das estações suíças. Gente animada, falante, ansiosa. E eu. Chegando do verão no Brasil.

Não sou do frio, não gosto de chocolate e enjoo fácil de queijo. Mesmo dos mais saborosos. Não fosse a saudade apertada do marido que estava me esperando no desembarque, diria “o que estou fazendo aqui?”. Ora, aqui é a minha casa. E embora reconheça algumas características maravilhosas do país que me recebeu há quase dois anos, confesso, com uma dose de lamento, que ainda é difícil pousar e voltar.

Era. Porque hoje não vou falar da saudade do que deixei. Agora decidi me apaixonar.

Para provar o meu empenho, não vou mais reclamar (muito) dos preços altos de quase tudo, da frieza das pessoas, da culinária acanhada, do preconceito sutil, dos impostos e seguros pagos para coisas inimagináveis, de algumas burocracias bobas (porém eficientes), das multas levadas pela vigilância implacável, do frio, do frio, do frio. Vou me abrir com determinação para viver o que amigos me disseram, com base nas suas experiências, e que me fariam amar este que agora é o meu lugar.

Para quem quiser me acompanhar: a primeira sugestão que recebi foi a de apreciar as mudanças causadas pelas estações muito bem definidas, e assistir com mais reverência as flores brotarem na primavera, o calor mudar as cores no verão, o outono ilustrar com mil pantones a vegetação e entender que o inverno, embora muito longo, tem a chance também de mudar o estilo da nossa diversão. Aproveitaram e me mostraram um ponto de vista singular: que a Suíça apresenta os panoramas do ângulo de cima, pois em quase todas as estradas e atrações a natureza é apreciada com metros calibrados de altitude, o que faz o ato de enxergar as coisas do alto ser realmente algo divino. 

Observaram que a falta de sol durante uma parte expressiva do ano provoca um efeito interessante: uma vontade maior de estar ao ar livre. Por isso a estrutura e as informações para a prática de esportes outdoor é excelente e a oferta de atividades das mais diversas é impressionante e acessível a todos os tipos de públicos e em qualquer período do ano. Também mencionaram a solidariedade de um sistema econômico e de seguridade social que ampara a todos, minimiza as diferenças aparentes entre pobres e ricos e tiraniza as demonstrações de riqueza e a ostentação, influenciando hábitos de vida mais simples e tornando as possíveis exigências de status menos opressoras. Disseram que o silêncio é apaixonante, como uma vez já concordei aqui.

Não se esqueceram da educação suíça, onde as escolas oferecem um ensino tão superior e qualificado que aqui escola particular, com exceção das opções bilíngues, é muitas vezes a alternativa para quem não passa de ano na rede pública. Assim como um outro aspecto da educação que se reflete na gentileza nas relações, revelando um povo cortês e amável na rotina do dia a dia. 

Lembraram que a Suíça valoriza a família e as crianças, com um calendário escolar que possibilita férias para se aproveitar as temporadas nas diferentes estações do ano, e propicia atividades inclusivas, além de numerosos e cinematográficos parques nas áreas urbanas. A pontualidade também surgiu com o seu encanto. É um charme e uma demonstração de respeito ao tempo do outro. Ponto.

Estou certa de que há muitas outras coisas que vou notar e que ainda vão me contar. É só manter esse exercício de aprender a enaltecer coisas novas e concentrar nosso prazer naquilo que a nossa consciência se habituou a não perceber e valorizar. A falta que nos faz aquilo que já amamos é uma armadilha que pode escurecer nossos horizontes e subtrair o deslumbramento de tudo o que temos a chance de descobrir. E esse é o meu plano: não deixar a chama apagar. Porque sim, agora descobri que já tenho motivos para me apaixonar.

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO -A Cigana Búlgara

A família era tão grande que, quando contaram ao dr. Parreira que seu sobrinho Geraldo tinha viajado para a Europa, ele precisou ser lembrado:
qual dos sobrinhos era, mesmo, o Geraldo?

― O Geraldinho da Nena. Largou tudo e foi para a Europa.


O dr. Parreira sorriu. Desde pequeno o Geraldinho, filho único de mãe devotada e pai rico, fazia tudo o que queria. Lembrava-se dele criança, comendo espaguete com as mãos e limpando as mãos na toalha. E a Nena, mãe de Geraldinho, como se não fosse com ela. O dr. Parreira ainda chamara a atenção da irmã: ― Olhe o que seu filho está fazendo. ― Deixa o coitadinho se divertir. Na adolescência, Geraldinho se metera em algumas encrencas. Uma vez até tinham recorrido ao dr. Parreira, o tio mais velho e mais bem relacionado, para livrá-lo do castigo. Uma aventura amorosa que acabara mal.


Mas não era má pessoa. Apenas um vagabundo mimado. E, na opinião de todos, o mais simpático da família. Geraldo anunciara em casa que estava indo para a Europa e, apesar do choro da mãe, convencera o pai a financiar a viagem, e seu sustento na Europa até "conseguir alguma coisa". Vez que outra, o dr. Parreira tinha notícias do Geraldo. ("Quem?" "O Geraldinho da Nena. O que foi pra Europa.") Geraldinho estava lavando pratos em Londres. Geraldinho estava ensinando surfe em Paris. ("Surfe em Paris?!") Geraldinho estava colhendo morangos na Suíça. Geraldinho tinha conhecido uma moça. 


Geraldinho estava namorando firme com a moça. E, finalmente, a única notícia que interessou ao dr. Parreira, pelo menos por dois minutos: a moça era cigana, de uma tribo búlgara. Depois: Geraldinho brigou com a moça. (Todos sacudiram a cabeça, afetuosamente. "O velho Geraldinho de sempre."). Depois? Geraldinho desapareceu.


― Como, desapareceu? ― Há dois meses não têm notícias dele. A Nena está desesperada. Pediram ajuda ao dr. Parreira, que, como o mais velho, assumira o papel de patriarca da família depois da morte do pai, o Parreirão. Mas, antes que o dr. Parreira entrasse em contato com o Itamaraty, chegou a notícia terrível. Geraldinho estava num hospital em Berna. Tinha sido castrado e só choramingava, pedindo a mãe. Nena e o marido, Alcides, embarcaram imediatamente para a Suíça. Ao chegarem ao aeroporto de Zurique pegaram um táxi e descobriram tarde demais que era um táxi falso, que os levou para um galpão fora da cidade onde o Alcides também foi castrado e a Nena marcada na testa com um ferro em brasa com as três iniciais (soube-se depois) da frase, em búlgaro, "Mãe da besta". 


Dois primos mais velhos do Geraldinho também embarcaram para a Suíça e também foram seqüestrados, no caminho para Berna. Não foram castrados, mas até prefeririam isto ao que passaram nas mãos de um bigodudo enorme chamado Ragud, que os outros incentivavam com frases em búlgaro (soube-se depois) como "Agora a posição do touro apressado, Ragud!" O dr. Parreira convocou uma reunião da família para decidir o que fazer. Não seria prudente mandar outros familiares à Suíça, onde evidentemente todos corriam perigo. 


O consulado brasileiro daria a assistência necessária aos hospitalizados e as autoridades suíças investigariam os atentados. Enquanto isso, alguém saberia dizer o que o Geraldinho tinha aprontado com a cigana búlgara? Ninguém sabia. Mas alguém lembrou que os ciganos búlgaros eram famosos por serem vingativos. ― O melhor ― disse o dr. Parreira ― é ninguém da família chegar perto da Europa, até que esta coisa passe. Mas quando a "coisa" passaria? Poucos dias depois da reunião da família em que tinham concluído que pelo menos no Brasil ninguém corria perigo, o dr. Parreira foi acordado no meio da noite com a notícia de que uma das suas fábricas estava em chamas. 


Fora invadida por um grupo, que escrevera uma frase em búlgaro numa parede antes de começar o incêndio. A frase era (soube-se depois): "Todos pagarão, até a terceira geração." Até a terceira geração! As crianças não vão mais à escola e a família contratou segurança armada para 24 horas, e mesmo assim entraram na casa da coitada da dona Zizica, viúva do Parreirão e mãe do dr. Parreira, e escreveram uma palavra em búlgaro no seu lençol que ninguém teve coragem de traduzir para a velha ― e tudo por culpa do Geraldinho, seu neto favorito. 


Todas as empresas da família têm recebido ameaças constantes, explosões são freqüentes nas suas instalações e a falência próxima do grupo é inevitável. Mas a vingança dos búlgaros não cessará. Continuará até a terceira geração. Preso em casa, atrás de barricadas, com medo até de chegar na janela, o dr. Parreira amaldiçoa a irmã pelo que fez, ou pelo que não fez, com o Geraldinho. Um único tapa na mão, um único "Não!", e tudo aquilo teria sido evitado. 


Mas Geraldinho podia comer espaguete com as mãos sem apanhar e o resultado estava ali. Todos sofriam pelo que ele tinha aprontado com a moça, fosse o que fosse. Provavelmente o mesmo que fazia com todas as moças que conhecia, nada grave: namoros inconseqüentes, promessas e mentiras simpáticas ― só que nenhuma das moças era uma cigana búlgara. 


E chegou a notícia de que um grupo invadira o cemitério e pintara insultos em búlgaro no túmulo do Parreira pai. No túmulo do velho Parreirão!

MUITAS MULHERES NÃO CHEGAM AO ORGASMO. OS HOMENS TÊM CULPA NISSO?

Para ginecologistas, sociedade não estimula a mulher a conhecer sua sexualidade como acontece com o homem. "A menina é policiada, o menino é reconhecido como macho", diz Amaury Mendes. Eles também falam das reações do corpo feminino ao orgasmo, de forma que até seria possível saber quando ela finge

A reclamação é comum aos ouvidos de Carolina Ambrogini: meses ou anos em um relacionamento sem nunca ter atingido o orgasmo durante a relação sexual. “Tem pacientes mais velhas que me procuram, mas acho que é coisa das mulheres mais novas, por volta dos 25, 30 anos. Já tiveram experiências e à medida que não conseguem, pensam se têm algum problema. Já as mais velhas se resolveram, amadureceram e passaram a ter [orgamos] ou desistiram e pronto”, diz a ginecologista e coordenadora do Projeto Afrodite, do Departamento de Ginecologia da Unifesp.

Para Amaury Mendes, professor e médico do ambulatório de sexologia da UFRJ, a mulher não tem os mesmos incentivos que o homem durante a juventude para explorar sua sexualidade. “Por mais evoluída que seja uma família, existe desde cedo um desestímulo no caso das garotas. A menina que tiver uma atitude muito livre sexualmente vai ser policiada, e o menino sabe que se ele for assim vai ser reconhecido como macho. Isto tem uma influência no comportamento desta menina, não digo que seja exclusivamente por isso, mas causa uma confusão na cabeça da mulher, um desconhecimento”, afirma o especialista.

“É uma falta de conhecimento, de intimidade, com o próprio corpo. Faz com que ela tenha essa dificuldade de ter sensações prazerosas. Para que aconteça a excitação é preciso sair um pouco do mundo concreto, se deixar levar por essas sensações, fantasias. A culpa, se é que podemos chamar assim, é mais da mulher, acredito eu”, diz Carolina.

A ginecologista afirma ainda que a inibição, citada por Amaury, faz com que muitas mulheres não consigam se masturbar.

Amaury fala em questões “biopsicossociais”: “Pode ter um problema metabólico, disfunção hormonal, algo que atrapalha a percepção e sensibilidade; pode ser psicológico, ela não se sente bem com o corpo, se sente feia; e pode ser social, coisa da criação. Quando falamos de entrega, desejo e orgasmo, a mulher é muito mais complexa do que o homem. Se ela tiver um companheiro interessante e interessado, as coisas caminham”.

O QUE O HOMEM PODE FAZER? PERGUNTAR

Se você, homem, se apressou em colocar a culpa logo na “sociedade” e tirar o corpo fora, é aconselhável não cruzar os braços e esperar a companheira consultar uma especialista. “O que ele pode fazer é perguntar. Às vezes a mulher tem dificuldade de falar, de perguntar se está bom, se está gostoso. Outra coisa é investir nas preliminares. A parcela de culpa do homem nisso é que ele quer ir logo para a penetração. Ele precisa de mais investimento no sexo oral, em outras coisas que facilitam o orgasmo feminino”, diz Carolina.

A coordenadora do Projeto Afrodite revela que algumas pacientes que a procuram dizer que conseguem atingir o orgasmo sozinhas, mas não com os parceiros por conta de uma “dificuldade de entrega, de confiança”: “O orgasmo é a perda de controle, mulheres controladoras se deixam levar por essa coisa de perda”. “Tem que ter esse descontrole. É um desequilíbrio de sentimentos. Os franceses chamam de ‘la douce mort’ (a doce morte, em tradução literal)”, diz Mendes.

Amaury acredita que a perda de controle neste momento, “deixar de ter o comportamento padrão, gritar, ferir os costumes morais de alguns caras de gerações anteriores” pode ser visto como algo “perigoso” pelas mulheres. “O comportamento padrão é embasado em protocolos familiares de que não pode ter sexo oral, sexo anal. Tem casais que até hoje o sexo é protocolar, quase que reproduzido”, completa.

FINGIR OU NÃO FINGIR? COMO IDENTIFICAR

“A gente se depara com esses dilemas. A mulher diz que sempre fingiu e agora não sabe como vai falar para ele”, conta Carolina. Questionada se há maneiras do homem identificar isso para abrir um diálogo entre o casal, ela ri, mas dá algumas orientações: “Se ela está pouco lubrificada, pode significar que não está muito excitada, e ele pode ter uma ideia por aí. Depois do orgasmo dá uma sensação de relaxamento, pode ser que ela continue ‘pilhada’, insatisfeita porque não conseguiu. Tem homem que consegue saber, mas é difícil. Uma pessoa pode fingir bem, como a Meg Ryan”.

Ao mencionar a atriz norte-americana, Carolina faz referência a uma cena clássica do cinema. Em “Harry & Sally – Feitos um Para o Outro”, o personagem de Billy Crystal diz que nenhum mulher jamais fingiu um orgasmo com ele. Meg, sentada à sua frente, questiona como ele sabe disso. “Porque eu sei”, ele rebate. Para provar seu ponto, Meg passa a simular (clique para assistir) que está tendo um orgasmo, no meio de uma cafeteria.

Parar para pensar no meio de uma relação sexual se a companheira está fingindo não é a tarefa mais simples, mas caso interesse, Amaury passa outros detalhes das reações do corpo feminino ao orgasmo. “A vagina sua, tem uma secreção bem tensa que até escorre pela perna, toda a musculatura do corpo se contrai, aparecem pequenas manchinhas vermelhas no tórax e no rosto, tem também uma película de suor frio nessas regiões, o coração dispara, a respiração fica ofegante, e o momento de recuperação depois disso. E se ela for convenientemente estimulada, não vai ter o período de latência que o homem tem.”

Mas, ao invés do casal brincar de caras e bocas na hora do sexo, Carolina Ambrogini sugere algo mais simples: a conversa. “Todo mundo quer mostrar segurança, mas ninguém nasce sabendo fazer sexo. As pessoas aprendem com a experiência. As mulheres querem passar a ideia de que o cara vai leva-las para rua, e os caras querem acreditar nisso. A gente insiste bastante no estímulo ao dialogo.”

JOÃO UBALDO RIBEIRO - Vocês pensam que é moleza

Assim como pimenta no uropígio do próximo é refresco (alieno culo piper refrigerium, no sábio dizer de Terêncio, ou Sêneca, ou Juvenal, ou alguém assim — ninguém vai checar), o trabalho alheio parece sempre mais fácil que o nosso. Há muitos e muitos anos, o famoso cronista José Carlos Oliveira, talvez o mais lido do seu tempo, de vez em quando levava a máquina de escrever para o bar. Lá pedia seu drinque e escrevia sua crônica. Um dia, um visitante deslumbrado foi apresentado a ele e comentou, emocionado:

— Se eu escrevesse assim como o senhor, nunca mais trabalhava!

Pois é. Não é trabalho. Nada do que o escritor faz é trabalho, notadamente miudezas, como frases. Todo dia alguém pede uma frasezinha ao escritor. É somente uma frasezinha de duas ou três linhas, coisa para no máximo uns cinco minutos, entre bolar a frase, escrevê-la e enviá-la por e-mail a quem a pediu. Na verdade, como sabe todo aquele que moureja no teclado, a frasezinha é muito mais difícil do que um texto longo. Tanto assim que o camarada que bola um slogan, ou seja, uma frasezinha, costuma ser muito bem pago e com justiça, porque é um trabalho penoso e estressante, em que pouca gente tem sucesso. Mas escritor escreve frases ótimas, inclusive slogans, à menor solicitação e, se o freguês não gostar, ainda o acusa de má vontade, incompetência ou ambas. E cobrar pela frasezinha, nem pensar. Fico imaginando o diálogo entre um escritor e um diretor de criação de uma grande agência.

— Quanto já deve ter rendido aquele slogan ótimo que você criou para a Brazilian Monkey Business Development Corporation? — pergunta o escritor. — É um conglomerado muito grande, deve ter sido uma baba.

— A esta altura, não dá para calcular, deve estar em vários milhões de dólares.

— Vários milhões? Interessante.

— Interessante por quê?

— É que eu também crio frases. Praticamente todo dia eu crio uma frase, a demanda é muito maior do que você pensa.

— E quanto costumam pagar?

— Em dinheiro ou em símbolos?

— Como assim, símbolos?

— É que quase não há pagamento em dinheiro, costuma ser simbólico. Uma vez eu me queixei de que o supermercado não aceitava símbolos como pagamento e morreram de rir, acharam uma grande frase, mais uma grande frase minha. E me fizeram um pagamento simbólico, é claro.

— É sempre assim?

— Geralmente. Uma vez ou outra, é mais substancial. No sábado mesmo, um camarada veio aqui ao boteco, agradecer pela frase que eu fiz para ele, e estava tão satisfeito que me pagou dois chopes. E acho que pagaria até mais, mas, naquela hora, tinha um compromisso com os patrocinadores do evento. Com minha frase, o dinheiro do patrocínio agora ia sair, me agradeceu muito por ajudar a cultura. São essas coisas que fazem o sujeito amar sua profissão.

Antigamente, quando dava alguma sorte, o escritor ganhava uns trocados de direitos autorais. Ainda ganha, mas está ficando difícil, não apenas porque há um movimento para acabar com essa excrescência de direito autoral, como, por exemplo, todos os meus livros estão disponíveis para serem baixados da internet, em dezenas ou centenas de sites de tudo quanto é canto, em todo tipo de versão, inclusive de áudio, com resumos, sinopses, material para quem quer saber sobre o livro sem ter que o ler e assim por diante. Para esses casos, não sou consultado ou comunicado e muito menos sou pago, nem mesmo em símbolos. Chope, então, esqueçam, sai muito caro.

Há quem se condoa dessas tristes vicissitudes e proponha saídas para a sobrevivência do escritor. Como já tive oportunidade de comentar aqui, uma das propostas mais em evidência é a adaptação do escritor aos novos tempos, através de capacitação profissional em áreas do entretenimento, da cultura e do lazer. Tocar um instrumento musical, cantar de forma pelo menos aceitável, dançar, declamar, assoviar, sapatear, cozinhar e dar receitas, guiar turnês em locais históricos, servir de escort para senhoras que apreciem as belas letras e assim por diante. Há toda uma gama de habilidades que podem ser adquiridas e que se tornam cada vez mais indispensáveis ao escritor, é preciso manter um olho na modernidade e na pós-modernidade, o que lá seja isso.

Tenho pensado em cantar, porque me permite pedir a colaboração da baianada. Peço a Ivete Sangalo e a Daniela Mercury para ajudarem o conterrâneo menos favorecido e tenho certeza de que elas me darão a mão, enquanto eu abro uma noite de autógrafos interpretando músicas de Caetano e Gil, sem que eles recebam um vintém de direitos autorais, pois também têm que se modernizar. A sapatear a idade não ajuda, mas toquei tarol no saudoso Bloco do Jacu em Salvador e posso animar uma batucada, sei marchinhas de cor e acho que posso oferecer meus dotes de puxador a outro bloco de carnaval, em troca da venda de meus livros aos participantes, a preços de ocasião.

Nas próximas semanas, escrever-lhes-ei da Alemanha. Vou à feira do livro de Frankfurt, que desta vez homenageia o nosso país. Depois vou a Berlim, acho que só volto no fim do mês. Prometo fazer o melhor possível para não envergonhar o Brasil e para aprender técnicas de última geração, que ajudem na manutenção de nossa literatura. Sonhar todos podem e quem sabe se não serei o primeiro escritor a mercadejar seus livros no Municipal, enquanto entoa uma ária de Wagner?

CULT VÍDEO - DEPUTADO GAGO NO JÔ - É de chorar de rir!



LUIS FERNANDO VERISSIMO - As desencaminhadoras

Sir Francis Bacon deu um conselho curioso aos que estudavam a natureza. Disse que deveriam suspeitar de tudo que suas mentes adotassem com muita satisfação. Era uma maneira de prevenir contra a ilusão de que qualquer descoberta humana fosse completa, ou tivesse completamente dispensado a vontade de Deus.

No momento (século 17) em que crescia a ideia quase herética de que existia um livro da natureza tão cheio de mensagens cifradas de Deus para os homens quanto a Bíblia, Bacon aconselhava a ciência a não desprezar o que diziam os mitos e as escrituras. A vontade de Deus se manifestava de várias formas, algumas eram apenas mais poéticas do que as outras.

A primeira “mensagem” assim identificada do livro secular da natureza foi o magnetismo, que os gregos e romanos já conheciam e os chineses já usavam na navegação, mas que só começou a ser estudado a fundo pelo inglês William Gilbert, contemporâneo de Francis Bacon na corte da rainha Elizabeth I, de quem era médico.

O magnetismo era a prototípica evidência de uma força invisível na natureza, a primeira alternativa à pura intenção de Deus por trás de tudo. Gilbert, que chamava a força magnética de “alma” da Terra, deduziu que todo o planeta era uma pedra magnética e que os imãs eram filhos da Terra, com quem ela compartilhava seu poder. E recorreu à linguagem poética, no caso erótica, para descrever a origem do ferro e da sua misteriosa propriedade, no ventre profundo do globo, igual a “o sangue e o sêmen na geração dos animais”.

Na linguagem poética dos mitos, o poder da Mãe Terra sobre o destino dos homens é anterior às descobertas de Gilbert. São muitas as forças femininas que norteiam a vida dos homens e os atraem para o conhecimento, o sucesso ou a ruína – ou tentam.

Desde Eva, culpada por termos trocado o paraíso eterno pelo saber, o sexo e a morte, passando pela Esfinge com suas charadas didáticas e por todas as musas inspiradoras, sereias tentadoras e ninfas sedutoras, e todas as gerações e gerações de companheiras de fé ou desencaminhadoras fatais que nos mantiveram no rumo ou nos desencaminharam, são todas filhas da grande mãe magnética, nos guiando pelo mundo.

Albert Einstein contava que ao ganhar uma bússola, quando era menino, teve a primeira sensação de uma força misteriosa por trás de tudo, e o primeiro ímpeto de desvendá-la. Mais do que ninguém, Einstein podia dizer que substituíra Deus pela Natureza na explicação do mundo, mas ele nunca abandonou sua devoção quase religiosa a um determinismo harmônico do Universo, cedendo a Deus, ou a que outro nome se quisesse dar ao indesvendável, esse último mistério, só alcançável pela metáfora.

Mas Einstein não seguiu o conselho de Francis Bacon de desconfiar do que o satisfazia. Satisfez-se tanto com suas certezas que passou os últimos anos da vida buscando uma teoria unificada da gravidade e do eletromagnetismo que refutasse a teoria quântica que as ameaçava, e tornava a matéria e seu comportamento inexplicáveis em qualquer linguagem, científica ou a poética. Pois aceitá-la seria aceitar um universo regido pelo acaso, ou pela estupidez. Ou tornado absolutamente obscuro por um Deus ciumento.

NU - Manuel Bandeira


Quando estás vestida,
Ninguém imagina
Os mundos que escondes
Sob as tuas roupas.

(Assim, quando é dia,
Não temos noção
Dos astros que luzem
No profundo céu.

Mas a noite é nua,
E, nua na noite,
Palpitam teus mundos
E os mundos da noite.

Brilham teus joelhos,
Brilha o teu umbigo,
Brilha toda a tua
Lira abdominal.

Teus exíguos
- Como na rijeza
Do tronco robusto
Dois frutos pequenos -

Brilham.) Ah, teus seios!
Teus duros mamilos!
Teu dorso! Teus flancos!
Ah, tuas espáduas!

Se nua, teus olhos
Ficam nus também:
Teu olhar, mais longe,
Mais lento, mais líquido.

Então, dentro deles,
Bóio, nado, salto
Baixo num mergulho
Perpendicular.

Baixo até o mais fundo
De teu ser, lá onde
Me sorri tu'alma
Nua, nua, nua...

PARA ONDE VAMOS? - Ferreira Gullar

O mercado é um campo de batalha:quem não dispõe de armas e munição em quantidade, não sobrevive.

Que o sonho da sociedade comunista, onde todos seriam iguais em direitos e propriedades, acabou, não é novidade para ninguém. É verdade que, apesar disso, há quem ainda insista em defender uma opção ideológica alimentada por aquele mesmo sonho.

Não obstante, na prática social, tudo indica que os valores de esquerda foram assimilados por uma boa parte dos políticos que já não lhes atribuem propósitos revolucionários. Do meu ponto de vista, isso é um avanço, já que defende o fim das desigualdades como o caminho inevitável da sociedade humana.

De qualquer modo, o projeto da sociedade comunista se desfez. Tudo bem. E o capitalismo? Para onde vai o capitalismo? É difícil dizer para onde ele vai, mas, no meu modo de ver, ele vai mal.

Não me refiro apenas à recente crise iniciada em 2008, porque muito antes dela, mesmo nos Estados Unidos, o mais rico país capitalista do mundo, o problema da desigualdade social jamais se resolveu.

Não me refiro à eliminação definitiva da pobreza. Isso parece fora de cogitação. Se não se encontra lá o mesmo nível de pobreza que encontramos em países menos desenvolvidos, nada justifica um tal grau de exploração do trabalho humano num país que produz a riqueza que ali se produz.

Não há nenhuma novidade em dizer-se que o capitalismo é o regime da exploração. E isso independe do empresário capitalista, que pode ser um feroz explorador ou um patrão generoso. Independe, porque a exploração é inerente ao sistema, voltado para o lucro máximo. E veja bem, como isso é a essência do sistema, quem descuida disso vai à falência. Ao contrário do que Marx dizia, a luta de classes não se dá entre trabalhadores e patrões, mas, sim, entre os patrões: é um tentando engolir o outro.

Não estou dizendo nenhuma novidade. Todos os dias nascem milhares de empresas, a maioria das quais vai à falência, derrotadas pelas outras. O mercado é de fato um campo de batalha, uma zona de guerra: quem não dispõe de armas e munição em quantidade necessária e com a suficiência exigida não sobrevive. É a lei da selva, que determina a sobrevivência do mais apto; a seleção natural a que se referia Charles Darwin.

Para vencer essa guerra, o recurso fundamental é o lucro máximo, o que pode ser sinônimo de maior exploração, seja do trabalhador, seja do consumidor. Claro que não é tão simples assim, porque, hoje em dia, os trabalhadores também dispõem de meios para se defender. Não obstante, na Coreia do Sul, hoje um dos países capitalistas mais florescentes, a quantidade de trabalhadores que se suicida é espantosa. A pergunta a fazer é: por que se matam? Certamente porque não são felizes naquele paraíso capitalista.

E não é porque todo o empresário capitalista seja por definição explorador e cruel. Nada disso. Na verdade, ele (a empresa) está voltado para tirar cada vez mais vantagem dos negócios que faz, e isso não apenas resulta em explorar os empregados --fazer com que o trabalhador produza mais ao menor custo possível-- como pode provocar desastres como a bolha imobiliária norte-americana, que levou a economia do país ao desastre, arrastando consigo o sistema bancário e o empresariado europeus.

Os estudiosos do assunto garantem que, a certa altura do processo, era possível antever o que inevitavelmente ocorreria, mas a aspiração ao lucro e tudo o mais que isso envolve não permitem parar. Não por acaso, as crises do capitalismo são cíclicas.

E o mais louco de tudo isso é que o capitalista individualmente pode acumular bilhões de dólares em sua conta bancária. Mas de que lhe serve tanto dinheiro? Quem necessita de bilhões de dólares para viver?

Ninguém precisa. Por isso, Bill Gates doou sua fortuna a uma entidade beneficente que trata de crianças com Aids e, depois disso, ele mesmo abandonou a direção de sua empresa para ir dirigir aquela entidade beneficente. 

Em seguida, convenceu outros capitalistas a fazerem o mesmo. É que ganhar dinheiro por ganhar dinheiro, a partir de certo ponto, perde o sentido.

O que o capitalismo tem de bom é que ele estimula a produção de riqueza e isso pode ajudar a melhorar a vida das pessoas, mas desde que não se perca a noção de que o sentido da vida é o outro.

TÃO ÓBVIO - Martha Medeiros

Sempre tive mais tendência a simplificar do que complicar, mas agora isso se intensificou a ponto de eu começar a flertar com o budismo. Lendo alguns livros e assistindo palestras, tenho percebido como o caminho para ser feliz é óbvio eu mesma já fui acusada de escrever sobre coisas óbvias, e não tenho como me defender contra isso: escrevo obviedades, sem dúvida. 

Porém me pergunto, intrigada: por que as obviedades andam tão necessárias?

É que normalmente o óbvio fica soterrado sob camadas e mais camadas de auto boicotes: as pessoas se irritam por besteiras, fazem escolhas idiotas, brigam no trânsito, não se abrem sobre o que sentem, desperdiçam energia à toa, desrespeitam o coletivo e são refratárias a tudo que seja simples e fácil, já que a dor, a culpa e o ódio faz parecer que elas têm uma vida mais profunda.

Felicidade é algo que todos desejam e ao mesmo tempo renegam, já que não saberiam lidar com algo que lhes deixaria tão soltos e leves. Com péssimo ibope junto aos intelectuais, a felicidade (que nada tem a ver com bobice, mas com paz de espírito) ficou associada à superficialidade, enquanto que o sofrimento produz arte e filosofia.

Sob esse aspecto, óbvio que ser um deprimido é mais charmoso.

Pena que isso seja um estereótipo. Ora, filosofia busca a consciência, que é chave para a felicidade, e a arte faz um bem danado a mentes atormentadas, que através dela conseguem realizar catarses e se conectar com um mundo que lhes parece hostil. Ou seja, não importa quem ou de que forma, todos querem viver melhor, sem esquecer que esse “melhor” tem sentidos diversos para uns e para outros. Seja qual for o significado de “melhor” pra você, ele é a sua perseguição. Só que alguns escolhem vias cheias de obstáculos e acabam não aproveitando a viagem.

O bem-estar vem de onde? Óbvio: da convivência com amigos, de relações saudáveis, de não permitir que frustrações e ressentimentos virem a tônica da vida, de não reagir com exagero diante de insignificâncias, da valorização das miudezas grandiosas do cotidiano, de sentir-se disponível para o novo e o diferente a fim de enriquecer a própria existência, mantendo uma espiritualidade básica que envolva a generosidade, a compaixão, a tolerância (não é obrigatório ter religião pra isso). Mais: de aceitar as mudanças, de trocar de perspectiva quando se estiver obcecado com algo, de buscar a evolução da mente.

Inventei a pólvora? Estou dizendo alguma coisa que você já não esteja careca de saber? É tudo tão evidente, tão incontestável, que dá até sono. O que você ainda está fazendo lendo essa página? Acorde e vá pra rua.

Aí você sai e cruza com centenas de outros cidadãos para quem o óbvio é uma teoria sem aplicação prática, e que continuam encrencando-se de forma absurda, a fim de voltarem para casa estressados e sentindo-se vítimas do próprio destino. 

Charmosos, sem dúvida. Resta saber a que custo pessoal.

ARNALDO JABOR - Além da linha vermelha

Cresce a paranoia. A Al-Qaeda já domina rebeldes sírios. No Quênia, explodiu o shopping. Surgem ataques espontâneos, individuais, no Ocidente. Nigéria, Somália, Sudão, a polícia da Casa Branca mata uma mulher ao volante. O terror cresce sob os olhos impotentes dos "cães infiéis" - nós.

Os atentados, desde o 11 de setembro, foram parte de um processo que começa com o fim da Segunda Guerra. Foram uma novidade imensa na história: os Estados Unidos nunca tinham sido atacados em casa. Em todas as guerras, eles atuaram de fora. O atentado de Oklahoma foi cometido por um americano. O ataque a Pearl Harbour foi no Havaí. Essa vulnerabilidade foi uma perda de virgindade. Mudou o conceito de poder, o conceito de segurança.

Nem em filme do James Bond alguém pensou nisso. Todo mundo viu a população de Nova York correndo pela rua. Aquilo era o "Godzilla". De certo modo, a realização de um secreto desejo deles, porque os americanos têm esse "bode" de fazer filme-catástrofe, numa relação de amor-ódio com o próprio país. Nos atentados de hoje, o cinema perde. A realidade é muito mais ficcional. A guerra de nações está acabando. É a guerra da teocracia contra a tecnologia.

Na religião islâmica, a morte é um prêmio. Quando havia degola na Argélia, eles chegavam ao detalhe de decapitar os inimigos com uma faca rombuda, porque quanto mais o cara gritava, mais se enobrecia o degolador perante Alá. O terrorista também quer ascensão social: um fugaz poder com bombas no corpo, sucesso "post-mortem" e subida aos céus, para comer as mil virgens, as "huris", dançando de odaliscas. É um "hype" no Oriente. A maior ferida americana é que os miseráveis "mendigos", ignorantes, barbados e imundos chegaram a um nível de competência e imaginação "midiática" com que nunca Hollywood sonhou. O grande orgulho americano da eficiência foi perdido para "macacos suicidas".

A partir daí, todo mundo virou cientista político. Surgiram multidões de analistas de bom senso tentando fazer a tragédia absurda caber num discurso coerente, racional (inclusive eu...). Mas o terror não cabe na razão. Os conceitos operacionais para entender o que está havendo são insuficientes. Osama quebrou o discurso racional. Todos os nossos gestos, palavras, bravatas vêm de um arquivo morto, de um repertório que ficou subitamente antigo. Foram atingidos: o ateísmo, o iluminismo, a arquitetura, a paz burguesa, o turismo, a sensação de invulnerabilidade, o consumo. Os comentários buscam uma restauração do senso comum e são a nostalgia pela volta do bem-estar, do sossego. Enquanto estamos nervosos, o que apavora é que todos os terroristas afegãos, talibãs, fanáticos em geral têm um rosto calmo, o olhar iluminado de certezas, a tranquilidade da loucura. Os jihadistas xiitas ou sunitas não têm as angústias da liberdade nem do progresso. Não querem ser modernos; querem ser eternos. Os talibãs vivem na eternidade. Finalmente, a globalização criou uma democratização da desgraça. De uma forma repugnante, a verdade do mundo apareceu. Quem ganha? Ninguém. Esta guerra sem rosto nunca terá derrota ou vitória. Nietzsche escreveu: "Ao combater uma monstruosidade, temos de ter cuidado para não virarmos monstros". Ou já viramos ou vamos virar. A beleza do "homem revoltado" morreu e pode estar pintando um grande tempo de conformismo deprimido. Ficaremos mais minimalistas, afirmando singularidades. Como disse Baudrillard: "O universal acabou; só resta o singular contra o mundial".

Mudou a ideia de "finalidade", de "projeto", o doce aroma do sucesso a qualquer preço, o "happy end", o princípio, o meio e o fim, a vontade de esquecer a morte, que não mais estará num leito burguês com extrema-unção e família chorando, a morte será um cachorro pelas ruas, atacando de repente. Mudou a busca de plenitude, a realização de todos os desejos, sobe a fé, caem a esperança e a caridade, muda o sonho de "solução". Mudou a ideia de "futuro redentor" - será o fim do "Fim da História". Mudou o ideal detergente de um mundo branco, asséptico, sem fraturas, higiênico, a harmonia doce do lar, a decoração de interiores, a alvura dos lençóis, os pecados veniais, as deliciosas perversões irresponsáveis e indolores, pois as coisas vão doer mais. As coisas estão mais graves, as crises mais profundas, mas a superficialidade vai aumentar. Acabou a oportunista e enobrecedora contemplação caridosa da miséria, que chegou violenta, nas asas da estupidez religiosa. Cada vez mais, aumentam o charme arrogante dos ricos e famosos, a tecnologia sem Deus, as lágrimas mentirosas, a busca da perfeição física, do corpo sem órgãos, do orgasmo total. Acabou o mito de James Bond, que criou o ideal de eu dos "baby boomers", seus ternos impecáveis, o sexo sem envolvimento, as mil mulheres comidas, a licença para matar, o amor sem risco. Ninguém sabe o que fazer da arte, da beleza, até mesmo da elegantíssima vivência do desespero crítico, acabam o mal-estar abstrato, a náusea romântica, a infelicidade vaga, a delícia das grandes dores de amor, o difuso sentimento ocidental de superioridade, a aparente tolerância e a falsa generosidade, acaba a fleuma, a displicência chique ou mesmo a deliciosa sensação da canalhice.

Acaba o drama e volta a tragédia; perdeu sentido até o "absurdo" como literatura, o surrealismo virou piada naturalista e apareceu o novo indivíduo esfacelado por bombas, coberto de pizzas sangrentas. Acaba o "outro" como figura existencial-virtual, pois surgiu o horrendo "outro", sujo e mortífero, suicidando-se às gargalhadas; volta a marcha a ré para o ano 1000, acaba a esperança de achar Deus entre as galáxias, pois Deus já está entre nós armado até os dentes. O Islã está nos expondo ao ridículo. A maior potência do mundo lutando contra os Flintstones.

ZUENIR VENTURA - UM IDOSO NA FILA DO DETRAN

"O senhor aqui é idoso", gritava a senhora para o guarda, no meio da confusão na porta do Detran da Avenida Presidente Vargas, apontando com o dedo o tal "senhor". Como ninguém protestasse, o policial abriu o caminho para que o velhinho enfim passasse à frente de todo mundo para buscar a sua carteira.


Olhei em volta e procurei com os olhos 0 velhinho, mas nada. De repente, percebi que o "idoso" que a dama solidária queria proteger do empurra-empurra não era outro senão eu.

Até hoje não me refiz do choque, eu que já tinha me acostumado a vários e traumáticos ritos de passagem para a maturidade: dos 40, quando em crise se entra pela primeira vez nos "entra"; dos 50, quando, deprimido, salte que jamais vai se fazer outros 50 (a gente acha que pode chegar aos 80, mas aos 100?); e dos 60, quando um eufemismo diz que a gente entrou na "terceira idade". Nunca passou pela minha cabeça que houvesse uma outra passagem, um outro marco, aos 65 anos. E, muito menos, nunca achei que viesse a ser chamado, tão cedo, de "idoso", ainda mais numa fila do Detran.

Na hora, tive vontade de pedir à tal senhora que falasse mais baixo. Na verdade, tive vontade mesmo foi de lhe dizer: "idoso é o senhor seu pai. O que mais irritava era a ausência total de hesitação ou dúvida. Como é que ela tinha tanta certeza? Que ousadia! Quem lhe garantia que eu tinha 65 anos, se nem pediu pra ver minha identidade? E 0 guarda paspalhão, por que não criou um caso, exigindo prova e documentos? Será que era tão evidente assim? Como além de idoso eu era um recém-operado, acabei aceitando ser colocado pela porta adentro. Mas confesso que furei a fila sonhando com a massa gritando, revoltada: "esse coroa tá furando a fila! Ele não é idoso! Manda ele lá pro fim!" Mas que nada, nem um pio.

O silêncio de aprovação aumentava o sentimento de que eu era ao mesmo tempo privilegiado e vítima — do tempo. Me lembrei da manhã em que acordei fazendo 60 anos: "Isso é uma sacanagem comigo", me disse, "eu não mereço." Há poucos dias, ao revelar minha idade, uma jovem universitária reagira assim: "Mas ninguém lhe dá isso." Respondi que, em matéria de idade, o triste é que ninguém precisa dar para você ter. De qualquer maneira, era um gentil consolo da linda jovem. Ali na porta do Detran, nem isso, nenhuma alma caridosa para me "dar" um pouco menos.

Subi e a mocinha da mesa de informações apontou para os balcões 15 e 16, onde havia um cartaz avisando: "Gestantes, deficientes físicos e pessoas idosas." Hesitei um pouco e ela, já impaciente, perguntou: "O senhor não tem mais de 65 anos? Não é idoso?"

— Não, sou gestante — tive vontade de responder, mas percebi que não carregava nenhum sinal aparente de que tinha amamentado ou estava prestes a amamentar alguém. Saí resmungando: "não tenho mais, tenho só 65 anos."

O ridículo, a partir de uma certa idade, é como você fica avaro em matéria de tempo: briga por causa de um mês, de um dia. "Você nasceu no dia 14, eu sou do dia 15", já ouvi essa discussão.

Enquanto espero ser chamado, vou tentando me lembrar quem me faz companhia nesse triste transe. Ai, se não me falha a memória — e essa é a segunda coisa que mais falha nessa idade —, me lembro que Fernando Henrique, Maluf e Chico Anysio estariam sentados ali comigo. 

Por associação de idéias, ou de idades, vou recordando também que só no jornalismo, entre companheiros de geração, há um respeitável time dos que não entram mais em fila do Detran, ou estão quase não entrando: Ziraldo, Dines, Gullar, Evandro Carlos, Milton Coelho, Janio de Freitas (Lemos, Cony, Barreto, Armando e Figueiró já andam de graça em ônibus há um bom tempo). Sei que devo estar cometendo injustiça com um ou com outro — de ano, meses ou dias —, e eles vão ficar bravos. Mas não perdem por esperar: é questão de tempo.


Ah, sim, onde é que eu estava mesmo? "No Detran", diz uma voz. Ah, sim. "E o atendimento?" Ah, sim, está mais civilizado, há mais ordem e limpeza. Mas mesmo sem entrar em fila passa-se um dia para renovar a carteira. Pelo menos alguma coisa se renova nessa idade.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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