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AS FANTÁSTICAS POSSIBILIDADES DA EVOLUÇÃO HUMANA - Edmir Saint-Clair

 

A evolução é um espetáculo fantástico. e está aí, evidente para quem consegue vê-la em seus interessantes e inesperados detalhes.

A ciência avança trazendo soluções nunca antes imaginadas. As terapias psicológicas, finalmente, alcançaram a efetividade sonhada por seus idealizadores e importantes precursores, trazendo um novo alento à atormentada mente humana.

Se Freud fosse vivo estaria maravilhado com o que as terapias mentais conseguem realizar hoje em dia. O avanço foi fantástico. Terapias como EMDR, Brainspotting e outras similares conseguem interferir e modificar sinapses cerebrais e, consequentemente, comportamentos indesejados que trazem tanto sofrimento ao ser humano.

A evolução trouxe, também, reflexões sobre aplicações práticas do pensamento filosófico para facilitar decisões cotidianas e para entender melhor à natureza humana. Filósofos contemporâneos como o francês Andrè Comte-Sponville, o inglês Alain de Botton e toda uma geração de pensadores estão trazendo a sabedoria milenar do pensamento humano para oferecer soluções para nossas decisões cotidianas. Reforçando essa expansão, está a WEB que nos permite obter informações sobre toda cultura humana produzida até hoje com um simples GOOGAR (pesquisar no Google) no nosso smartphone.

O advento da WEB, que aumenta, a cada dia, exponencialmente a velocidade da comunicação, a troca de informações e a rapidez com que se pode dispor de qualquer conhecimento desejado, catapultou a evolução humana a um nível extraordinário e estamos vivendo o despertar de uma nova era para a humanidade.

Essa evolução alcança todas as áreas; engenharia, medicina, física, química, astronomia e abrange todo conhecimento humano.

A evolução humana não acontece, paulatinamente, dia a dia, como imaginamos. Ela acontece aos soluços, às vezes imperceptível até estar totalmente estabelecida. Outras vezes, vomitadas violentamente por acontecimentos, geralmente, trágicos.

Só uma coisa é mais importante que o conhecimento, a imaginação. E, quanto mais conhecimento a gente tem, mais alto voa a nossa imaginação e é nesse vôo que vislumbramos coisas nunca antes possíveis. E assim, criamos um círculo virtuoso que se autoalimenta.

Quanto mais o cidadão comum estiver ciente de que o seu smartphone o habilita a expandir seu conhecimento o quanto ele quiser, mais brilhante será o futuro.

O conhecimento precisa entrar em moda. A curiosidade precisa ser incentivada. As pesquisas devem ser financiadas e estimuladas. Estudar tem que ter outro sentido, um sentido prazeroso de melhorar, através do conhecimento obtido, nossa qualidade de vida.

Se cada um dedicar 40 minutos de seu tempo para ler com atenção qualquer texto que lhe atraia, a evolução será gigante e ainda mais rápida.

Hoje, essa possibilidade está nas mãos de todos. Literalmente.

– Edmir Saint-Clair

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APENAS UMA FOLHA EM BRANCO SOBRE A MESA - Edmir Saint-Clair

Na minha época de colégio não havia nada mais apavorante do que o professor pedir silêncio, logo no início da aula, e vaticinar:

— Guardem os livros e cadernos e deixem apenas uma folha em branco e a caneta sobre a carteira.

Aquela frase fazia gelar a alma do mais estudioso dos alunos. Imagine dos outros...

O tema da prova, geralmente, era sobre os últimos pontos da matéria que o professor havia ensinado em sala. E a turma passava os 50 minutos seguintes em absoluto silêncio, todos concentrados naquele  teste. A tensão na sala era enorme e, dependendo da severidade e atenção do professor da matéria, colar era o último recurso pelo alto risco que representava. Além disso, os mais aplicados geralmente se negavam a assumir o risco, e colar de quem sabia menos do que você não era vantagem nenhuma.

Lembro, com saudades, de quando achávamos que aquelas provas relâmpago eram o grande problema das nossas vidas.

Mal sabíamos, que dali pra frente as provas relâmpago fariam parte do nosso cotidiano. 

A todo momento, elas aparecem das mais variadas formas e situações e temos de estar sempre com a matéria na ponta da língua. Em algumas provas da vida, não passar pode ser desastroso. E, às vezes, passar também. E o problema desse excesso de possibilidades é que, não existe um professor para nos dizer se erramos ou não. O resultado de uma “prova da vida” pode demorar décadas para se revelar. E os resultados variam da felicidade extrema às tragédias, sem que saibamos direito onde acertamos ou erramos naquelas questões. E, muitas vezes, quando aprendemos a lição já é tarde.

Como é complexo o viver de nós humanos, colocados à prova até por nós mesmos a todo instante.  

Quando chegamos a vida adulta, o único “professor” com quem contamos para corrigir nossas provas diárias, somos nós mesmos. Alguns felizardos descobrem as terapias, nas quais constroem ferramentas que facilitam muito essa tarefa.

E, são tantos os testes pelos quais temos que passar diariamente que, por extinto de sobrevivência,  preferimos nem tomar conhecimento de que estão ocorrendo a todo instante.

Ao nos olharmos no espelho ao acordar,  já passamos pelo primeiro teste do dia, o da autoestima, que determinará  se “vamos ou não estar "de bem" com a nossa própria cara” naquela manhã.  Dizem que nunca conseguimos nos ver como os outros nos veem. Ou nos achamos mais bonitos ou mais feios, mas nunca como os outros nos veem.  Dependendo do dia, podemos nos reprovar de cara já de manhã cedo...E isso não é bom. Reprovado!

A prova seguinte será imprevisível. E com certeza também será relâmpago. Poderá acontecer numa situação no transporte, no trabalho, na família, nos amores ou com qualquer outro louco que pode cruzar o caminho de qualquer um. E, a gente nunca mais terá aqueles 50 minutos em silêncio para pensar sobre  o assunto e lembrar de tudo que aprendemos para só então decidirmos como agir. 

As respostas, na maioria das vezes, tem que ser na bucha. No calor dos momentos, no arfar ofegante e agoniado da vida, com a adrenalina nas alturas dificultando qualquer tentativa de racionalidade.

Ainda bem que nunca ninguém disse que seria fácil.

O fato é que não precisamos tirar 10 em todas as provas, todos os dias, o que precisamos é passar, nem que seja raspando. 

A vida é uma folha em branco em dia de teste.

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LUIZ FERNANDO VERISSIMO – Neparlepá


A frase era usada como um protesto contra os tempos em que tudo é dito e ouvido por todas as idades.

Ne parle pas devant la petite foram as primeiras palavras que a Norinha aprendeu em francês. Ela tinha quatro anos e já sabia algumas palavras em inglês, que ouvia na TV, como yes e lets go., mas as primeiras palavras em francês foram aquelas que sua mãe repetia muito em conversas com seu pai: ne parle pas devant la petite.

Norinha usava seu extenso vocabulário para falar com suas bonecas. “Yes” e “let’s go” e “ne parle pas devant la petite”. E uma vez divertiu um grupo de pessoas que visitavam seus pais parando no meio da sala e gritando:

Ne parle pas devant la petite!

Onde foi que você aprendeu isso, menina?!

Todos acharam muita graça. Menos a mãe da Norinha, que ficou preocupada. A Norinha ouvia tudo. Tinha curiosidade sobre tudo. Em pouco tempos estaria perguntando o que significava aquele neparlepá que sua mãe tanto dizia.

Norinha cresceu, aprendeu que “ne parle pas devant la petite” queria dizer “não fale na frente da criança” e nem precisou perguntar pra mãe o que não era para ela ouvir nas discussões do casal, ou quando a conversa ficava só para adultos. O casamento deles estava se dissolvendo, eles queriam poupar a filha disso. E coisas como sexo e as maldades do mundo não eram para os ouvidos de uma criança.

Vocês esperavam mesmo que eu não fosse notar que o casamento de vocês estava em crise? E que eu acabaria sabendo tudo sobre o que vocês tentavam esconder, não falando na frente da criança?

Naquele tempo era assim, minha filha. Hoje...

Hoje? – disse Norinha. – Eu vou lhe contar como é hoje.

E Norinha contou que, quase que por nostalgia, usara a frase da mãe na sua casa. Ela e o marido estavam comentando os excessos de um programa de televisão na presença dos meninos e ela dissera “ne parle pas devant les petits”. E Julio, o marido, dissera:

Ahn?

Ne parle pas devant les petits. É uma frase em francês que quer dizer...

Eu sei o que quer dizer. Mas ninguém mais usa essa frase, Norinha.

Eu sei. É que...

Há uns 40 anos essa frase não é usada. Nem na França.

Eu só acho que certas coisas o Marquinhos e o Lucas ainda não estão em idade de ouvir.

Eles ouvem na rua. Ouvem na escola. Ouvem em toda parte. É só ligarem a televisão que ouvem tudo.

Mas não ouvem dos pais deles.

E você acha isso certo, ou acha uma hipocrisia?

E Norminha disse para a mãe que concordava com Julio, que era uma hipocrisia. Mas que mesmo assim começara a usar a frase, quase como um protesto contra os tempos em que tudo é dito e tudo é ouvido por todas as idades. Só que a frase tem tido um efeito inesperado. Quando ela pede para o marido “ne parle pas devant les petits”, Lucas, o menor, diz:

Ih... Olha o neparlepá. Lá vem sacanagem.
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A MORBIDEZ DO MOMENTO - Edmir Saint-Clair

A morbidez dos noticiários diários não depende de guerras. É uma característica horrorosa desse momento histórico. Existe porque os assistimos avidamente e damos o retorno financeiro a esse mercado de espetacularização de todos os tipos de crimes, tragédias e sofrimentos humanos, animais e vegetais. Tragédia dá audiência. E precisamos ficar antenados a esse furacão de acontecimentos ininterruptos por todo planeta o tempo todo, sob pena de nos tornarmos defasados em questão de horas.

Mas, será que só acontecem tragédias, crimes e maus feitos?

Será que propagar e assistir um pouco do lado bom, das conquistas e dos bem feitos que, com certeza existem, não seria estimulante? Não alimentaria a esperança?

Sou defensor da ideia de que quanto mais transparentes e documentados os atos e eventos públicos em todos os níveis da vida social, maior controle essa sociedade terá sobre suas mazelas. Mas, retroalimentar a morbidez distribuindo-a compulsoriamente a uma assistência indefesa e sem opções, é alimentar o mal que existe em cada ser humano. É dar ideias para mais desequilibrados copiarem, seja pelo dinheiro ou pelo prazer doentio de se tornar notícia, aparecer na mídia.

Temos um lobo bom e um lobo mau brigando dentro de nós. Vencerá o que for mais bem alimentado. E não é só o indivíduo que alimenta seu próprio lobo, a sociedade como um todo e as redes sociais e de comunicação vitaminam e turbinam o lobo mau com todo tipo de anabolizantes abomináveis possíveis. Não é difícil prever os resultados.

Uma comunicação de massa(mídias eletrônicas) bem planejada, a propaganda(ideias) aliada a uma publicidade  criativa (consumo/comportamento) podem e devem se predispor e trabalhar por uma sociedade mais justa, mais honesta e em paz. Um pool interdisciplinar dessa natureza tem potencial para acelerar mudanças sociais extremamente benéficas, inevitáveis e necessárias com enorme celeridade e profundidade.



AMADURECER - Edmir Saint-Clair


O amadurecimento é o resultado de um aprendizado contínuo e profundo de como conviver com as próprias angústias, ansiedades, incertezas, inseguranças e todo esse conjunto de afetos. Eles definem nosso estar mais profundo. Se nos sentimos de bem ou de mal com a própria vida.

Vivemos uma época de grandes desequilíbrios. A segunda década do século 21 está nos impondo modificações profundas e surpreendentes. Perdemos antigas referências que norteavam nossas ações e, muitos dos valores que nos guiavam, estão obviamente caducos e obsoletos, ficamos desorientados.

Instituições seculares, que sempre estabeleceram os parâmetros para a humanidade, como a Igreja, a Família e o próprio Estado, foram profundamente afetadas em suas estruturas fundamentais e tentam se reinventar a todo custo adequando-se aos novos padrões e demandas que regem as novas leis de mercado, para onde tudo e todos convergem inevitavelmente.

Segundo o filósofo dinamarquês Kierkegaard, o ser humano busca desesperadamente um sentido, um significado para seu viver mundano, que lhe resgate do vazio que trás em si.

Na busca por significados tentamos dar sentido à vida, e esse sentido pode estar em qualquer lugar e pode ser qualquer coisa, desde que consiga nos iludir e nos fazer acreditar que aquilo tenha significado suficiente para aplacar nossa angústia  fundamental.

Quanto mais imaturos somos, mais facilmente aceitamos os significados que os mercados nos impõe, acreditando piamente que aqueles valores são, também, os nossos. E, a esmagadora maioria aceita o que recebem sem qualquer tipo de questionamento durante toda a sua existência. Seja no mercado das crenças e religiões, moda, artes, esportes, costumes,  educação e em todo tipo de exploração econômica envolvendo as necessidades humanas.

Amadurecer é entender esse mecanismo e, principalmente, preencher-se com o prazer que só o autoconhecimento e a experiência dos anos é capaz de ensinar. É reconhecer-se humano, entendo o que acontece consigo e interferindo conscientemente para melhorar-se e ir além do que a própria programação genética lhe designou. É evoluir.

Acima de tudo, amadurecer é aceitar que na maioria das vezes a vida não vai ter significado algum mas, apenas umas poucas vezes, vai fazer todo o resto valer a pena.

- Edmir Saint-Clair

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ACESSE - CONTOS, CRÔNICAS, POESIAS E ETC.


UMA FÁBULA DE ANO NOVO - Edmir Saint-Clair

E, do nada, alguém inventou que naquele dia tudo ia mudar à meia-noite. E convenceu um monte de gente a acreditar e a fazer uma grande festa para comemorar a mudança.

Porque não? Pensaram todos. Verdade ou não, mal não fará.

E acreditaram que quando mais felizes estivessem naquela meia-noite, mais felizes seriam em todos os dias que se seguiriam.

E a festa foi grande!

A noite acabou e o dia nasceu como todos os outros. 

Mas, aquela crença, aquela esperança, mudou aquela noite e num efeito borboleta mudou todos os dias que se seguiram...

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O AMOR À DISTÂNCIA -Moacyr Scliar

Os brasileiros estão ficando cada vez mais móveis. Nascem em uma cidade, estudam em outra cidade, arranjam trabalho (quando arranjam trabalho) numa terceira, numa quarta, numa quinta cidade. Uma situação que repercute nas amizades, na relação com parentes e até na vida dos casais. Não é raro hoje que homem e mulher passem algum tempo, às vezes um longo tempo, separados. No caso de gente jovem, esta situação pode resultar de vestibular: o rapaz vai cursar a faculdade num lugar, a moça em outro. Curiosamente, problemas também surgem quando os dois fazem vestibular para uma mesma faculdade. A Folha de São Paulo publicou uma matéria a respeito, mostrando os conflitos que emergem quando o casalzinho está disputando uma vaga. Um psicoterapeuta foi ouvido a respeito e acabou confessando que ele próprio terminara um relacionamento quando, ao contrário da namorada, passara no vestibular: “Eu não tinha com quem comemorar.”

***
Mesmo quando os dois podem comemorar juntos, a perspectiva de uma separação geográfica não é agradável. Verdade que no passado, quando a comunicação e as viagens eram difíceis, isto era ainda pior. Freqüentemente a paixão dependia da correspondência, do correio. Cartas de amor acabaram fazendo história, e isto foi o que aconteceu com os tristemente famosos amantes do século doze, Abelardo e Heloísa.

Pedro Abelardo era um famoso professor de filosofia e teologia em Paris. Entre seus alunos, estava a bela e brilhante Heloísa, por quem o mestre apaixonou-se perdidamente: 
"... nossa paixão não omite qualquer dos graus do amor e se orna de tudo aquilo que o amor pode inventar de raro." 

Chegaram a ter um filho, casaram secretamente, mas o tio de Heloísa, o cônego Fulbert, era contrário à união e ameaçou os dois. Abelardo levou a amada para uma abadia; pensando que ele tivesse abandonado a sobrinha, Fulbert contratou bandidos que atacaram e emascularam Abelardo. Definitivamente separado de Heloísa, ele tornou-se monge. Os dois mantiveram uma longa correspondência, que até hoje nos impressiona pela intensidade da paixão.

***
Será que o e-mail susbtitui as cartas de amor? Será que Abelardo e Heloísa passariam à História usando a linguagem típica das mensagens eletrônicas, tipo “Naum esqueci de vc”? E onde está o papel, manchado de lágrimas? E a trêmula caligrafia?

Não adianta chorar pelo leite derramado (nem pelo pranto derramado). Vivemos novos tempos e temos de nos adaptar a eles. O importante é que as pessoas continuam se querendo. A tecnologia e os hábitos mudam. O amor, mesmo à distância, continua igual.
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ESTAMOS TODOS NA FILA - Lia Luft

 

Lya Luft  postou nas redes sociais. 

 

“Estamos todos na fila.....

A cada minuto alguém deixa esse mundo pra trás. Não sabemos quantas pessoas estão na nossa frente.

Não dá pra voltar pro “fim da fila”. Não dá pra sair da fila. Nem evitar essa fila.

Então, enquanto esperamos a nossa vez:-

Faça valer a pena cada momento vivido aqui na Terra.

Tenha um propósito.

Motive pessoas !!

Elogie mais, critique menos.

Faça um “ninguém” se sentir um alguém do seu lado.

Faça alguém sorrir.

Faça a diferença.

Faça amor.

Faça as pazes.

Faça com que as pessoas se sintam amadas.

Tenha tempo pra você.

Faça pequenos momentos serem grandes.

Faça tudo que tiver que fazer e vá além.

Viva novas experiências.

Prove novos sabores.

Não tenha arrependimentos por ter tentado além do que devia, por ter valorizado alguém mais do que deveria, por ter feito mais ou menos do que podia.

Tudo está no lugar certo.

As coisas só acontecem quando têm quem acontecer.

Releve.

Não guarde mágoas.

Guarde apenas os aprendizados.

Liberte o rancor.

Transborde o amor.

Doe amor.

Ame, mesmo quem não merece.

Ame, sem querer receber nada em troca.

Ame, pelo simples fato de você vibrar amor e ser amor.

Mas sempre, ame a si mesmo antes de qualquer coisa.” Esteja preparado para partir a qualquer momento. Vc não sabe seu lugar na Fila, então se prepare prá deixar aqui apenas boas lembranças.

Suas mãos vão embora vazias.

Não dá pra levar malas, nem bens...

Se prepare DIARIAMENTE para levar consigo, somente aquilo que tens guardado no coração.”

Lya Luft

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A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

UM CLIQUE E NADA FOI COMO ANTES

 

Um clique e nada foi como antes.
Não estou me referindo a nenhum clique eletrônico. Refiro-me aquele que acontece dentro de nós. Aquele raro momento em que percebemos o instante exato em que uma mudança interior se concretiza.

É o segundo logo após uma mudança definitiva. Aquele ponto em que percebemos que uma mutação interior acabou de acontecer. É um cruzar de braços diferente de como sempre cruzamos antes. Tão diferente, que nos gera surpresa. Não me lembro de tê-lo sentido as inúmeras vezes que já deveriam ter acontecido antes, para quem já viveu várias décadas. Senti isso apenas algumas vezes na vida e nem sempre quando era de se esperar. E nunca como dessa vez.

Talvez, porque hoje tenho mais consciência do agora, do que ocorre exatamente no momento presente,  percepção essa que só conquistamos com o  acúmulo de experiências que só o tempo nos proporciona. Quando a maturidade chega. Dessa vez, me chegou através desse clique e de forma absolutamente clara. No banho, embaixo chuveiro.

O banho é um dos momentos em que mais me ocorrem pensamentos “filosóficos” e transcendentais.  Adoro água, de preferência do mar, mas a do chuveiro, também, é ótima. O banho, para mim, é sempre um momento muito agradável. Desde adolescente... mas, o motivo agora é outro.

Sentindo a água morna batendo na cabeça, escorrendo pelo corpo, nem me lembro sobre o que divagava. Lembro-me apenas de ter mudado de posição embaixo do chuveiro.

 De repente, assumi uma postura corporal diferente, inédita. Nada espetacular ou perceptível para qualquer outra pessoa que estivesse me observando. Se estivesse sendo gravado por uma câmera, nem assim seria perceptível para qualquer outra pessoa, mesmo que me conhecesse muito bem. Mas, para mim, foi tão diferente que me causou grande surpresa. Quase um susto. Um cruzar de braços, um reposicionamento do corpo, que culminou com uma postura geral completamente diferente. Chegou a me soar estranho.  

Naquele momento, senti perfeitamente a concretização interior de uma mudança profunda, definitiva e surpreendente. Algo aconteceu que me fez diferente do que era segundos antes. Gostei do que senti. Achei delicioso mudar. Quero mudar mais, visitar meus outros eus possíveis. 

O acúmulo desses cliques costuma causar maturidade,  sabedoria e a abertura de portais mentais para a percepção de possibilidades infinitas.

- Edmir Saint-Clair

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AS ESQUISITICES DO AMOR - Martha Medeiros

Eu estava quieta, só ouvindo. Éramos eu e mais duas amigas numa mesa de restaurante e uma delas se queixando, pela trigésima vez, do seu namoro caótico, dizendo que não sabia por que ainda estava com aquele sequelado etcetera, etcetera. 

Estava planejando terminar com o cara de novo, e a gente sabia o quanto essa mulher sofria longe dele. Eu estava me divertindo diante desse relato mil vezes já escutado: adoro histórias de amor meio dramáticas. Foi então que a terceira componente da mesa, que é psicanalista, disse a frase definitiva: “Eu, se fosse você, não terminava. Às vezes ficamos mais presas a um amor quando ele termina do que quando nos mantemos na relação”.
Tacada de mestre.

A partir daí, começamos a debater essa inquestionável verdade: em determinadas relações, ficamos muito mais sufocadas pela ausência do homem que amamos do que pela presença dele. Creio que vale para ambos os sexos, aliás. Um namoro ou casamento pode ser questionado dia e noite: será que tem futuro? Será que vou segurar a barra de conviver com alguém tão diferente de mim? Será que passaremos a vida assim, às turras? Óbvio que não há respostas para essas perguntas, elas são feitas pelo simples hábito de querer adivinhar o dia de amanhã, mas a verdade é que mesmo sem certificado de garantia, a relação prossegue, pois, além de dúvidas, existe amor e desejo. E isso ameniza tudo. Os dois estão unidos nesse céu e inferno. Até que um dia, durante uma discussão, um dos dois se altera e termina tudo. Alforria? Nem sempre. Aí é que pode começar a escravidão.

Nossa amiga queixosa, a da relação iôiô, perdia o rumo cada vez que terminava com o namorado. Aí mesmo é que não pensava em outra coisa. Só nele. Não conseguia se desvencilhar, mesmo quando tentava. Todas as suas atitudes ficavam atreladas a esse homem: queria vingar-se dele, ou fugir dele, ou atazana-lo – cada dia uma decisão, mas todas relacionadas a ele. Só quando reatavam (e sempre reatavam) é que ela descansava um pouco desse stress emocional e se reconciliava com ela mesma.

Eu nunca havia analisado o assunto por esse ângulo. Sempre achei que a sensação de asfixia era derivada de uma união claustrofóbica e a sensação de liberdade só era conquistada com o retorno à solteirice. Mas o amor, de fato, possui artimanhas complexas.

Minha amiga finalmente terminou sua relação tumultuada e hoje está vivendo um casamento mais maduro e sereno. Aquele nosso papo foi há alguns anos, mas nunca mais esqueci dessa inversão de sentimentos que explica tanta angústia e tanta neura. Por que temos urgência de abandonar um amor pelo fato de ele não ser fácil? Quem garante que sem esse amor a vida não será infinitamente mais difícil? 

Às vezes é melhor uma rendição do que fugir de um amor que não foi vivido até o fim. Foi isso que nossa amiga psicanalista quis dizer durante o jantar: não antecipe o término do que ainda não acabou, espere a relação chegar até a rapa, e aí sim.
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ARNALDO JABOR - Tenho saudade de mim

Estava a ler o texto de Adauto Novaes (nosso filósofo sem torre de marfim) sobre a preguiça - tema de seu seminário/livro atual. Na realidade, são estudos sobre a lentidão, neste mundo cada vez mais veloz. E, aí, tive saudades da calma, do princípio, meio e fim, tive saudade das "geladeiras brancas e dos telefones pretos", das manhãs, tardes e noites, separadas pela luz que se coloria do rosa ao negro e se apagava aos poucos, tive saudade das mortiças casas de família, até da infelicidade de antigamente - de novela de rádio -, de lágrimas furtivas, dos casais com olhos sem luz, depois de casamentos esperançosos com buquês arrojados para um futuro que ia morrendo aos poucos.

Estou com saudades de tudo. De mim, inclusive. "Saudades" ou "saudade"? Tenho saudade (s) de meu velho professor de português, magrinho, irritadiço e doce, Luis Vianna Filho, que me bradava: "O senhor não tem acento circunflexo!", apontando meu nome que meu avô árabe registrara "Jabôr". E continuava: "Jabor é o certo. A única palavra dissílaba da língua terminada em "or" que tem circunflexo é "redôr", para diferenciar de "redor, em volta de", pois redôr é o pobre-diabo que fica puxando o sal nas salinas, com um rodo".

Lembrei-me dos miseráveis "redôres" de Cabo Frio, lembrei de minha juventude quando achei, por acaso, uma velha fotografia de jornal, em preto e branco, da passeata dos Cem Mil em 1968 na Cinelândia. No meio da multidão da foto, vi emocionado um pequeno rosto granulado - eu mesmo, ali, sentado no chão, ouvindo os discursos de Vladimir Palmeira e (talvez) de Dirceu -, bonito, cabelo longo, hippie guerreiro.

Tive uma nostalgia do passado até com a recente "reprise" de José Dirceu na mídia como poderoso chefão dos soviéticos que, aliás, aproveitaram os últimos escândalos para reciclar o lixo bolchevista de "controlar a Imprensa". (Eles não desistem). Fiquei nostálgico porque Dirceu era também uma sobrevivência do passado em minha vida. E tive uma bruta saudade da utopia. Sempre critiquei o Dirceu porque ele, do passado em preto e branco, tinha querido invadir o presente com uma subversão regressista, que poderia nos jogar de volta a um tempo morto. Muito mais do que os milhões desviados do "mensalão", critiquei-o ideologicamente, porque ele liderava uma tendência, viva ainda hoje, de se "tomar o Estado", "desapropriando" o dinheiro público pelo "bem do povo". Dirceu caiu por uma tentativa que mais uma vez falhou, em nossa esquerda de trapalhões, como foi em 63 ou em 68, no Congresso de Ibiúna.

Mas, mesmo assim, fiquei com saudade de mim mesmo. Tenho saudade de mim ali, com o rosto cheio de esperança na passeata, achando que mudava a história e que o mundo era fácil de mexer.

Como eu gostaria de explicar aos jovens de hoje o que era a infalível "certeza" daquela época remota, o que era a delícia de viver sentindo-se no "bom caminho", na "linha justa", salvando o futuro. Hoje, ninguém sabe o que era o sentimento de harmonia, de totalidade, em um mundo fragmentado e frio. Hoje, os meninos vivem em galáxias de informações, quando não há mais lugar para "A Verdade". 

Os jovens que nascem no grande deserto virtual não sabem que vivíamos num rio que corria para o futuro, em direção a uma felicidade completa, com lógica, com Sentido. Tenho saudade do futuro que hoje se espraia como uma grande enchente suja, sem foz, um deserto sem ponto final. Hoje sabemos que não há mais futuro nem chegada - só caminho.

Tenho saudade do amor da juventude, da minha namorada comunista - nós dois no sofá-cama do "aparelho" clandestino do PCB em Copacabana, o sofá-cama rasgado, com a mola aparecendo, onde nos amávamos antes da reunião da "base" com medo que chegasse o supervisor, um "camarada" com um doce nariz de couve-flor rosado e tristes sapatos pretos com meias brancas, que nos falava, melancólico, do imperialismo norte-americano. Tenho saudades dela, linda, corajosa, no apartamentinho com o cartaz dos girassóis do Van Gogh e uns livros da Academia Soviética, numa prateleira sobre dois tijolos.

Para nós, comunas, até a morte era pequena, como nos ensinava o camarada de nariz rosado: "O marxismo supera a morte, pois uma vez dissolvido no social, o indivíduo perde a ilusão de existir como pessoa. Ele só existe como espécie. E não morre!" E eu, marxista feliz, sonhava com a vida eterna...

Tenho saudade das madrugadas cheias de esperança, as madrugadas políticas, a boemia de esquerda, soldados de uma guerra imaginária. Meu Deus, como eu era importante, como me senti útil quando ajudei um pouco a luta armada, quando levei no meu fusca um casal de feridos sangrando no banco de trás, até um "aparelho", quando o líder da célula pegou o volante e eu fui ao lado, de olhos fechados para não saber onde estávamos - se bem que espreitei pela fresta das pálpebras e vi o casal mancando em direção a um prédio.

 Tenho saudades dessa trágica solidariedade, mas tremi nesse dia, pois comecei a entender que não havia apenas um deserto à nossa frente, mas uma avalanche de obstáculos imensos e que íamos acordar de um sonho para um pesadelo. Entendi que éramos fracos demais para moldar a realidade e que a vontade não bastava, pois as coisas comandavam os homens e a vida tem um curso próprio e misterioso. Entendi que ser político e lutar pelo futuro exige vagar e respeito pela insânia do mundo e que a tragédia é parte essencial da vida e que tentar saneá-la pode levar-nos a massacres piores. Entendi que luta política se faz com humildade e que só a democracia é revolucionária no Brasil. Fora isso, é o desastre. Mas, tenho saudade da mistura de poesia com revolução que era nossa vida, tenho saudade desse narcisismo onipotente e inocente, tenho saudade da esperança e da ilusão. 

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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