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TRAIÇÃO: CONTAR OU NÃO CONTAR? - Antônio Roberto

Há uma grande diferença entre 
falar a verdade e ser verdadeiro.

Apesar de mentirmos sempre, condenamos quem mente e nós não ficamos de fora. Quem mente sente muita culpa e, em geral, a mentira está ligada ao medo de perder.

Muitas vezes nos encontramos em situações constrangedoras em que falar a verdade pode ser destrutivo, outras vezes a verdade é necessária. Ser verdadeiro envolve, às vezes, uma mentira, muitas vezes mentimos para proteger alguém, para não sermos responsáveis por algo que vá destruir, por exemplo, um relacionamento, neste momento a pessoa está pensando mais nas conseqüências que esta verdade poderá trazer. Ser verdadeiro é ter percepção quando se deve dizer ou não a verdade, há pessoas que não suportariam uma verdade, ou seja, a realidade.

A relatividade da verdade é algo em que devemos sempre levar em conta. Há pessoas que destroem mais dizendo a verdade do que omitindo ou mentindo. Ser verdadeiro é quando a pessoa coloca os valores éticos acima da moral. O moralista nunca mente, mas, em compensação, é falso consigo mesmo, é claro que tem consciência de seus limites e, por isto mesmo, julga a todos. Na medida em que critico alguém , condeno ou julgo, passo uma imagem de que sou uma pessoa muito correta e que jamais teria aquela conduta, isto nos leva a correr muitos riscos.

Mas, para que sejamos verdadeiros, temos que percorrer um grande caminho. Precisamos combater a nossa vaidade de deter um certo poder ao contar para o outro algo que ninguém contou, dá uma ilusão de que temos poder. A humildade é uma grande qualidade da pessoa verdadeira, ela não precisa do aplauso de ninguém e nem de corresponder a um movimento de grupos, família ou colegas. É interessante como muitas vezes ao dizer a verdade estamos fazendo uma intriga, jogando uns contra os outros. A verdade pode ser usada como vingança, delação, ciúme, inveja.

Mas, já se falando de ser verdadeiro, estamos em consonância com uma realidade mais madura e reflexiva e principalmente responsável. È de minha inteira responsabilidade o resultado de qualquer atitude que tomo na vida. Em geral, a verdade dói muito, por isso precisamos de enfeitá-la, adorná-la, atribuindo-lhe virtude e valores. Portando devemos procurar falar a verdade, mas sempre sendo verdadeiros com a realidade e com nossos valores éticos.
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EVITE SER TRAÍDO - Arnaldo Jabor

Você homem da atualidade, vem se surpreendendo diuturnamente com o “nível” intelectual, cultural e, principalmente, “liberal” de sua mulher, namorada etc.
As vezes sequer sabe como agir, e lá no fundinho tem aquele medo de ser traído – ou nos termos usuais – “corneado”. Saiba de uma coisa…

Esse risco é iminente, a probabilidade disso acontecer é muito grande, e só cabe a você, e a ninguém mais evitar que isso aconteça – ou então – assumir seu “chifre” em alto e bom som. Você deve estar perguntando porque eu gastaria meu precioso tempo falando sobre isso. Entretanto, a aflição masculina diante da traição vem me chamando a atenção já há tempos.

Mas o que seria uma “mulher moderna”? A principio seria aquela que se ama acima de tudo, que não perde (e nem tem) tempo com/para futilidades, é aquela que trabalha porque acha que o trabalho engrandece, que é independente sentimentalmente dos outros, que é corajosa, companheira, confidente, amante…
É aquela que as vezes tem uma crise súbita de ciúmes mas que não tem vergonha nenhuma em admitir que está errada e correr pros seus braços… É aquela que consegue ao mesmo tempo ser forte e meiga, arrumada e linda… Enfim, a mulher moderna é aquela que não tem medo de nada nem de ninguém, olha a vida de frente, fala o que pensa e o que sente, doa a quem doer… Assim, após um processo “investigatório” junto a essas “mulheres modernas” pude constatar o pior.

VOCÊ SERÁ (OU É???) “corno”, ao menos que:

- Nunca deixe uma “mulher moderna” insegura. Antigamente elas choravam. Hoje, elas simplesmente traem, sem dó nem piedade.

- Não ache que ela tem poderes “adivinhatórios”. Ela tem de saber da sua boca – o quanto você gosta dela. Qualquer dúvida neste sentido poderá levar às conseqüências expostas acima.

- Não ache que é normal sair com os amigos (seja pra beber, pra jogar futebol…) mais do que duas vezes por semana, três vezes então é assinar atestado de “chifrudo”. As “mulheres modernas” dificilmente andam implicando com isso, entretanto elas são categoricamente “cheias de amor pra dar” e precisam da “presença masculina”. Se não for a sua meu amigo…Bem…

- Quando disser que vai ligar, ligue, senão o risco dela ligar pra aquele ex bom de cama é grandessíssimo.

- Satisfaça-a sexualmente. Mas não finja satisfaze-la. As “mulheres modernas” têm um pique absurdo com relação ao sexo e, principalmente dos 20 aos 38 anos, elas pensam – e querem – fazer sexo TODOS OS DIAS (pasmem, mas é a pura verdade)… Bom, nem precisa dizer que se não for com você…

- Lhe dê atenção. Mas principalmente faça com que ela perceba isso. Garanhões mau (ou bem) intencionados sempre existem, e estes quando querem são peritos em levar uma mulher às nuvens. Então, leve-a você, afinal, ela é sua ou não é????

- Nem pense em provocar “ciuminhos” vãos. Como pude constatar, mulher insegura é uma máquina colocadora de chifres.

- Em hipótese alguma deixe-a desconfiar do fato de você estar saindocom outra. Essa mera suposição da parte delas dá ensejo ao um “chifre” tão estrondoso que quando você acordar, meu amigo, já existirá alguém MUITO MAIS “comedor” do que você…só que o prato principal, bem…dessa vez é a SUA mulher.

- Sabe aquele bonitão que, você sabe, sairia com a sua mulher a qualquer hora. Bem… de repente a recíproca também pode ser verdadeira. Basta ela, só por um segundo, achar que você merece…Quando você reparar… já foi.

- Tente estar menos “cansado”. A “mulher moderna” também trabalhou o dia inteiro e, provavelmente, ainda tem fôlego para – como diziam os homens de antigamente – “dar uma”, para depois, virar do lado e simplesmente dormir.

- Volte a fazer coisas do começo da relação. Se quando começaram a sair viviam se cruzando em “baladas”, “se pegando” em lugares inusitados, trocavam e-mails ou telefonemas picantes, a chance dela gostar disso é muito grande, e a de sentir falta disso então é imensa. A “mulher moderna” não pode sentir falta dessas isas…senão…

Bem amigos, aplica-se, finalmente, o tão famoso jargão “quem não dá assistência, abre concorrência e perde a preferência”. Deste modo, se você está ao lado de uma mulher de quem realmente gosta e tem plena consciência de que, atualmente o mercado não está pra peixe (falemos de qualidade), pense bem antes de dar alguma dessas “mancadas”… proteja-a, ame-a, e, principalmente, faça-a saber disso. Ela vai pensar milhões de vezes antes de dar bola pra aquele `bonitão´ que vive enchendo-a de olhares… e vai continuar, sem dúvidas, olhando só pra você!!!”

A PROCURA - André Albuquerque

Ao abrir os olhos percebi que era dia, na verdade bem cedo, mais ou menos entre cinco e seis da manhã. Desconfiei disso pois a rua era silenciosa e as lojas não haviam erguido as portas. Senti que chovia e a chuva molhava o meu rosto que repousava sobre o paralelepípedo molhado. Meu rosto formigava, aliás todo o meu corpo formigava. Além da chuva que caia gelada em minhas costas, podia sentir também a presença de outra substância, esta, mais viscosa e quente que a outra, brotando pelo orifício feito em minha têmpora. Não sentia dor, mas sim uma enorme aflição por não conseguir me mover. Em um esforço sobre-humano girei os olhos para ver o que acontecia à minha volta. Conseguia perceber então a grande quantidade de sangue que se misturava à massa cinzenta que se espalhava ao meu redor. Em um reflexo primitivo quis ingenuamente catar toda aquela gosma e tapar o buraco feito em minha cabeça. Aos poucos, podia ouvir alguns passos a minha volta, falatórios, sirenes e de repente um saco preto sobre meu corpo, mas ainda podia ouvi-los do lado de fora.

Não me lembro o que aconteceu, tão pouco o meu nome ou endereço, a última coisa gravada em minha retina foi aquele garoto que me olhava assustado e corria pra bem longe. As vozes vindas de fora falavam que ouviram quatro tiros vindos desse lugar que me encontro.

Conseguia ver somente alguns detalhes sobre minha pessoa, via por exemplo que segurava com a mão esquerda uma maleta, que deixava escapar uma papelada sobre o chão molhado, a abotoadura que se prendia a camisa social sob o paletó preto e a generosa aliança de ouro em meu dedo anelar. Sentia também um volume sob meu peito como se tivesse caído sobre uma pedra ou coisa assim. Um pouco acima da minha cabeça, mais precisamente sobre minha massa encefálica, boiava um óculos de grau com as lentes quebradas. Não conseguia ver a parte posterior do meu corpo, mas podia sentir que segurava alguma coisa metálica com a outra mão. E misturando-se àquela papelada uma foto em desfoque me chamou atenção, nesta, uma jovem mulher beijava um homem na boca. Lentamente algumas lembranças começaram a surgir em preto e branco, flashes me fizeram acreditar que pudesse ser aquele homem.

Então alguns detalhes dessa mulher começaram a surgir em minha mente, assim como seu cheiro, o belo sorriso, os lábios quentes em meus ouvidos, o toque de sua pele. Repentinamente vi sua imagem esguia correndo em desalinho sob a chuva, os postes iluminando o asfalto molhado, o pânico estampado em seu olhar e aquele homem sem rosto seguindo seus passos bem de perto. Era como se eu montasse um quebra-cabeça incompleto e contra o relógio, mas pude ter a certeza de conhecer aquela mulher e entender que corria perigo. Reparei também, um pouco abaixo dos meus olhos, um cartão de visitas respingado de sangue, nele, o logotipo sob a forma de lupa me fez lembrar daquele homem atrás da mesa. Ainda posso ver aquele homem gordo à minha frente, seu óculos escuro a esconder propositalmente o olhar, a gravata em desalinho, os pés cruzados sobre a mesa e nas mãos aquele envelope de papel pardo o qual me entregava. Naquela hora tive uma vontade súbita de mata-lo, sei que tentava separar-me de minha mulher, sim, minha mulher, posso sentir isso agora. Lembro-me do dia que a conheci naquela casa noturna, seu olhar predatório por detrás do copo de Vodka me abateu como uma presa fácil. Lembro-me de ter aberto o envelope e visto aquela foto, a foto na qual a beijava na boca, porém o ódio invadiu meu peito repentinamente.

Precisava de uma arma pra acabar com a vida daquele sujeito, uma arma compacta que coubesse na manga do paletó, de preferência automática para disparar um tiro após o outro. Estranhamente senti minha perna vibrando e além das vibrações ouvia um alarme ecoando pelo bolso da calça, estava na hora do remédio, posso lembrar agora. Tomava regularmente um antidepressivo, o celular me avisava diariamente. Paroxetina 50mg, o suficiente para deixar um homem broxa. Foi o primeiro tiro que levei, direto em minha honra. A insegurança me fazia vasculhar suas coisas, a mensagem em seu celular naquele dia me deixou confuso, lembro-me do tom ameaçador daquele texto ainda nublado em minha mente, “vou te matar de todas as formas”, é só do que me lembro.

Mas qual seria o motivo da ameaça, algum segredo sobre o passado que a deixava vulnerável? Aquele homem gordo por detrás da mesa me cobrou caro pelo envelope e provavelmente a extorquia por isso.

De repente uma onda de frio começava a varrer meu corpo, lá da ponta dos pés ela se propagava lentamente afogando aos poucos qualquer esperança de vida. Ironicamente, lembrei-me da sensação da impotência e dos momentos ao lado daquela mulher, seu corpo quente procurando o prazer sobre o meu corpo inerte, a paralisia dos meus desejos, a angústia infinita em seu olhar e o barulho do silêncio que atravessava a noite. Inesperadamente, algumas lembranças começaram a brotar na minha cabeça vindas lá da infância. Posso ver agora em meu colo aquela bolinha branca de pelo suja de sangue dando seus últimos suspiros, o animal de estimação que tanto amava agonizava à minha frente. Minhas mãos de criança igualmente sujas de sangue cavavam a pequena sepultura no quintal de casa, enquanto às lágrimas se misturavam a cada punhado de terra retirado, cerimônia de uma só testemunha, segredo que mantive até hoje. Preferi assim à vê-lo ir embora, pelo menos saberia sempre onde encontra-lo.

Aos poucos, as coisas começavam a fazer sentido, a imagem daquele homem sem rosto ficava nítida à minha frente, a última peça do quebra-cabeça havia se encaixado, a minha própria fisionomia na pele do assassino. Depois de receber a prova da traição das mãos do homem que contratei, decidi segui-la bem de perto, acabar de vez com tudo aquilo e com quatro tiros selei nosso destino, três direto em seu peito e um bem na minha cabeça. Logo depois pude ver a imagem daquele garoto que me olhava assustado e corria pra bem longe, imagem da criança que fui um dia, criança essa que deixei enterrada também, junto ao medo de vê-la novamente. Sei que agora é noite ou bem cedo, desconfio disso, pois as luzes começaram a se apagar, meu corpo parecia escoar para dentro dos bueiros com as águas da chuva e seu corpo sob o meu era duro como pedra. Não sei se retiraram aquele saco preto que nos cobria pois agora tudo estava definitivamente escuro, mas você estava ali no meu colo como aquele bichinho de estimação que tanto amava. E como naquele dia, preferi que fosse assim à vê-la indo embora para sempre, pelo menos sei que apesar de toda inércia de meu corpo, pude proporcionar o último suspiro de sua vida.

TRAIÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL - Luiz Felipe Pondé

Antes, eram as esferas celestes, agora, 
são as esferas sociais as culpadas por roubarmos os outros

 Olha que pérola para começar sua semana: "Esta é a grande tolice do mundo, a de que quando vai mal nossa fortuna -muitas vezes como resultado de nosso próprio comportamento-, culpamos pelos nossos desastres o Sol, a Luz e as estrelas, como se fôssemos vilões por fatalidade, tolos por compulsão celeste, safados, ladrões e traidores por predominância das esferas, bêbados, mentirosos e adúlteros por obediência forçada a influências planetárias". William Shakespeare, "Rei Lear", ato 1, cena 2 (tradução de Barbara Heliodora).

Os psicólogos sociais deveriam ler mais Shakespeare e menos estas cartilhas fanáticas que dizem que o "ser humano é uma construção social", e não um ser livre responsável por suas escolhas, já que seriam vítimas sociais. Os fanáticos culpam a sociedade, assim como na época de Shakespeare os mentirosos culpavam o Sol e a Lua.

Não quero dizer que não sejamos influenciados pela sociedade, assim como somos pelo peso de nossos corpos, mas a liberdade nunca se deu no vácuo de limites sociais, biológicos e psíquicos. Só os mentirosos, do passado e do presente, negam que sejamos responsáveis por nossas escolhas.

Mas antes, um pouco de contexto para você entender o que eu quero dizer.

Outro dia, dois sujeitos tentaram assaltar a padaria da esquina da minha casa. Um dos donos pegou um dos bandidos. Dei parabéns para ele. Mas há quem discorde. Muita gente acha que ladrão que rouba mulheres e homens indo para o trabalho rouba porque é vítima social. Tadinho dele...

Isso é papo-furado, mas alguns acham que esse papo-furado é ciência, mais exatamente, psicologia social. Nada tenho contra a psicologia, ao contrário, ela é um dos meus amores -ao lado da filosofia, da literatura e do cinema. Mas a psicologia social, contra quem nada tenho a priori, às vezes exagera na dose.

O primeiro exagero é o modo como a psicologia social tenta ser a única a dizer a verdade sobre o ser humano, contaminando os alunos. Afora os órgãos de classe. Claro, a psicologia social feita desta forma é pura patrulha ideológica do tipo: "Você acredita no Foucault? Não?! Fogueira para você!".

Mas até aí, este pecado de fazer Bullying com quem discorda de você é uma prática comum na universidade (principalmente por parte daqueles que se julgam do lado do "bem"), não é um pecado único do clero fanático desta forma de psicologia social. Digo "desta forma" porque existem outras formas mais interessantes e pretendo fazer indicação de uma delas abaixo.

Sumariamente, a forma de psicologia social da qual discordo é a seguinte: o sujeito é "construído" socialmente, logo, quem faz besteira ou erra na vida (comete crimes ou é infeliz e incapaz) o faz porque é vítima social. Se prestar atenção na citação acima, verá que esta "construção social do sujeito" está exatamente no lugar do que Shakespeare diz quando se refere às "esferas celestes" como responsáveis por nossos atos.

Antes, eram as esferas celestes, agora, são as esferas sociais as culpadas por roubarmos os outros, ou não trabalharmos ou sermos infelizes. Se eu roubo você, você é que é culpado, e não eu, coitado de mim, sua real vítima. Teorias como estas deveriam ser jogadas na lata de lixo, se não pela falsidade delas, pelo menos pelo seu ridículo.

Todos (principalmente os profissionais da área) deveriam ler Theodore Dalrymple e seu magnífico "Life at The Bottom, The Worldview that Makes the Underclass", editora Ivan R. Dee, Chicago (a vida de baixo, a visão de mundo da classe baixa), em vez do blá-blá-blá de sempre de que somos construídos socialmente e, portanto, não responsáveis por nossos atos.

Dalrymple, psiquiatra inglês que atuou por décadas em hospitais dos bairros miseráveis de Londres e na África, descreve como a teoria da construção do sujeito como vítimas sociais faz das pessoas preguiçosas, perversas e mentirosas sobre a motivação de seus atos. Lendo-o, vemos que existe vida inteligente entre aqueles que atuam em psicologia social, para além da vitimização social que faz de nós todos uns retardados morais.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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