MARTHA MEDEIROS - Tudo indo

Acompanhei as matérias sobre Londres feitas pelos jornalistas que Zero Hora enviou à capital britânica para cobrir a Olimpíada, e me chamou a atenção um relato feito pelo meu amigo Tulio Milman, que descreveu o fascínio de perder-se pelas ruas de uma cidade estrangeira. Não é a primeira vez que vejo uma pessoa inteligente sair em defesa da desorientação, o que me deixa inquieta, pois me considero uma viajante audaz, mas, pelo visto, sem muito tutano: nunca gostei de me perder.

Claro que possuo o hábito de flanar pelos bairros, que entro em praças e parques que não conheço, que viro à esquerda numa rua sem saber onde ela vai dar, mas tenho uma boa ideia sobre as possibilidades que a redondeza oferece e posso apostar que a caminhada vai resultar proveitosa, mesmo sem destino determinado. Se não resulta, me sinto uma songamonga.

Uma vez me perdi além do tolerável nas ruelas de Veneza e, sinceramente, a experiência não me trouxe nada além de cansaço e desassossego – fui parar onde os doges perderam as botas.

O fato é que todos nós estamos caminhando para algum lugar, mesmo sem saber para onde. Há os que têm um propósito, sabem aonde querem chegar: se não possuem um mapa, possuem ao menos um desejo, e desejos costumam ser guias confiáveis. Já fiz parte do primeiro grupo, mas, de repente, me percebo instalada no segundo: não tenho a menor noção de para onde estou indo, e admito que isso embaralha meu senso de direção – mas tampouco quero voltar para o ponto de partida.

Isso me faz lembrar pessoas que, quando você pergunta se está tudo bem, respondem: “Tudo indo”. Tudo indo pra onde? Ribanceira abaixo? De mal a pior? Seguidamente cruzo com uma moça com quem simpatizo, e, a cada vez que pergunto a ela se está tudo bem, ela me responde “tudo indo” com um jeito de quem vai cair em prantos.

Há um ano que está tudo indo pra ela. E eu fico torcendo para que esteja tudo indo às mil maravilhas, que esteja tudo indo de vento em popa, que esteja indo melhor do que o esperado. Mas não é nada disso que sugere seu olhar sorumbático.

Todos nós estamos indo, que é melhor do que estarmos parados. Estamos indo rumo a novas eleições, indo rumo à primavera, indo rumo a pessoas que ainda não conhecemos, indo rumo a dias melhores, a dias piores e, encaremos: indo rumo ao fim dos dias, se me permite ser uma desmancha-prazeres. É duro, mas a outra opção é estacionar, não ir a lugar algum. Prefiro ir, seja para onde for.

Se eu continuar sem inspiração como hoje, o único rumo que vou tomar é o do departamento de RH para acertar minhas contas. Como você pode comprovar, aqui, nesta coluna, tudo indo. No momento em que escrevo, sem ideia sobre as possibilidades que a redondeza oferece e sem saber se a caminhada vai resultar proveitosa, mas indo. Espero que chegue logo a parte divertida, Tulio.

ROSELY SAYÃO - Amor não é biscoito

Em época de vínculos frágeis, os pais tentam assegurar 
o afeto do filho dando a ele tudo o que ele quer.

Como tem sido difícil para muitas mães ensinar aos filhos a importância da boa alimentação. Há pouco tempo para preparar a comida em casa, para estar com os filhos nos horários das refeições, para fazer o lanche que levarão à escola etc.

No mundo da velocidade, ensinar a criança a comer e a conviver com a família em torno da mesa tem sido tarefa quase impossível.

Precisamos reconhecer: a oferta de porcarias deliciosas dirigidas às crianças está muito grande. E esses alimentos são muito, muito sedutores. Lanches dos mais variados tipos, biscoitos coloridos com ou sem recheio, salgadinhos crocantes de todos os formatos e cores, frituras mil, chocolates, refrigerantes e muitos, muitos doces.

Temos tentado resolver essa questão principalmente porque a saúde infantil tem reclamado. Sobrepeso e obesidade, hipertensão, taxas altas de colesterol, doenças do aparelho digestivo e distúrbios alimentares -problemas antes restritos ao mundo adulto- agora marcam presença na vida de muitas crianças.

Em função desse panorama, vários Estados brasileiros já elaboraram leis para obrigar cantinas escolares a vender exclusivamente alimentos saudáveis e proibir a comercialização de itens gordurosos e industrializados, por exemplo.

Muitas escolas também já começam a oferecer alguns recursos para colaborar com o enfrentamento do problema: contratam nutricionistas, oferecem lanches balanceados, orientam pais e professores, realizam atividades culinárias com as turmas e abordam o tema da alimentação com seus alunos.
A questão é difícil tanto para as famílias quanto para as escolas. Afinal, como ajudar a criança a aprender a comer bem? Vamos tentar localizar alguns focos dessa questão.

O relacionamento entre pais e filhos mudou muito nas últimas décadas. Uma dessas mudanças foi radical: os pais têm receio, hoje, de perder o amor de seus filhos. Antes era o oposto: os filhos obedeciam por medo de perder o amor dos pais.

Dá para entender essa virada: em um mundo de relacionamentos afetivos extremamente frágeis, precisamos ter a garantia da permanência de alguns vínculos. Numa época em que o prefixo "ex" se multiplica na frente de palavras como marido, sogra, cunhado etc., nada como tentar assegurar que o bom relacionamento com os filhos permanecerá.

O problema é que isso tem se concretizado de maneiras equivocadas. Uma delas é a atitude de muitos pais de tentar dar ao filho tudo o que ele quer.

E o que a criança quer comer? Aquilo que achamos gostoso e que oferecemos a ela justamente por esse motivo. Vamos falar a verdade: queremos que as crianças se alimentem bem por questões de saúde, não é verdade? Mas elas logo percebem que o que lhe oferecemos porque consideramos gostoso não coincide com o que queremos que comam porque faz bem.
A mãe de uma garota de menos de dois anos me disse que estava bem difícil fazer a filha almoçar, porque ela só queria biscoito.

Perguntei à essa mãe como a criança descobrira os tais biscoitos e ela me respondeu que ela mesma é que havia introduzido esse alimento em casa. "Por que eu deveria privar minha filha de comer coisas gostosas? Eu só não sabia que ela iria gostar tanto a ponto de passar a recusar as refeições."
E devo dizer: essa mãe permite que a sua filha substitua o almoço e o jantar por biscoitos. "Vou deixar que ela chore de fome?", perguntou ela.

A maior parte das dificuldades alimentares de uma criança tem, portanto, origem no tipo de relação que seus pais estabelecem com ela e também com as escolhas que nós, adultos, fazemos do que consideramos gostoso. 
É ou não é?

CONSELHOS QUE SEMPRE DÃO ERRADO 3 - Ana Carolina Prado

Imagine a cena: você está sozinho em casa e, quando olha para o chão, vê uma tarântula como essa da foto andando em sua direção. Para piorar, você tem pavor de aranhas. O que faria? 

Muitas pessoas recomendariam que você tentasse ver o bicho como algo não tão assustador e tentasse minimizar o medo que ele lhe provoca – essa é uma abordagem muito usada por psicólogos para ajudar pacientes com fobias, na verdade.

Mas um estudo da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), a ser publicado em breve na revista científica Psychological Science, sugere que o melhor a fazer é justamente o oposto disso. Segundo ele, assumir e se deixar livre para descrever suas emoções é que pode diminuir o medo e a ansiedade.

Para chegar a essa conclusão, pesquisadores pediram a 88 voluntários com fobia de aranhas que tentassem chegar o mais próximo possível de uma tarântula (grandona e vivona) que estava dentro de uma caixa ao ar livre, até mesmo tocando-a se conseguissem (ninguém foi forçado a fazer isso; os pesquisadores não eram sádicos nem nada do tipo).

Então esses voluntários foram divididos em quatro grupos e sentaram-se diante de outra tarântula que também estava dentro de uma caixa, mas dessa vez todos estavam em um local fechado. Os indivíduos do primeiro grupo tiveram que descrever as emoções que estavam vivenciando e classificar livremente suas reações para com a tarântula. Por exemplo, podiam dizer algo como “estou paralisado de terror com essa arranha horrorosa, imensa e assustadora”.

Em um segundo grupo, eles podiam se expressar, desde que usassem palavras mais neutras que não fizessem nenhuma referência ao medo ou nojo que estavam sentindo. Também deviam falar de modo a fazer parecer que a experiência não era tão assustadora assim. Então, deviam dizer coisas como “essa aranhazinha não pode me machucar, não estou com medo dela”.

Como explicou a líder do estudo no Medical Xpress, a professora de psicologia da UCLA Michelle Craske, “essa é a abordagem mais comum usada para ajudar pessoas a confrontar coisas que elas temem”. 

Normalmente, tenta-se ajudar os outros a pensarem diferente sobre aquela experiência emocional, mudando a forma como enxergam o objeto de seu medo. Isso, aliás, é o diferencial a respeito da pesquisa. “No primeiro grupo, não houve nenhuma tentativa de mudar a experiência. Apenas quisemos que eles descrevessem o que estavam sentido”, completa Craske.

Em um terceiro grupo, os voluntários tiveram que apenas dizer algo irrelevante sobre a experiência e, no quarto grupo, não puderam dizer nada.

Todos eles passaram novamente por esse teste uma semana depois, mas dessa vez em um ambiente ao ar livre. Então os pesquisadores mediram quão perto cada um conseguiu chegar da aranha, quão estressados estavam e que respostas psicológicas deram, focando particularmente na quantidade de suor em suas mãos – um bom indicativo de medo, segundo Craske.

Qual dos quatro grupos você acha que mostrou menos pavor após uma semana?

O estudo concluiu que foi o primeiro. Os seus integrantes foram capazes de se aproximar muito mais da tarântula do que os dos outros, especialmente em relação ao terceiro grupo (o que teve de comentar coisas nada a ver), e as suas mãos estavam suando significativamente menos do que os participantes de todos os outros.

“As diferenças foram grandes e os resultados são ainda mais significativos quando consideramos o pouco tempo envolvido [só uma semana]. Com um tratamento mais completo, os efeitos podem ser ainda maiores”, disse a autora. Ela confirmou que se expor aos próprios medos é uma medida eficiente para vencê-los, mas disse ter se surpreendido com o fato de que permitir que a pessoa se expresse com um mínimo de intervenção tenha funcionado tão bem.

Legal, mas por que o primeiro grupo se saiu melhor?

Ela explica: “Quando os aracnofóbicos dizem ‘Eu estou apavorado com essa aranha horrível’, eles não estão aprendendo algo novo, estão apenas dizendo exatamente o que estavam sentindo. Em vez de apenas sentir, eles estão dizendo isso. Por alguma razão que não entendemos completamente, essa transição é o suficiente para fazer a diferença”.

Os cientistas também analisaram as palavras utilizadas. Aqueles que usaram um número maior de palavras negativas se saíram melhor, tanto em termos de quão perto estavam dispostos a chegar da tarântula quanto à sua resposta no suor da pele. Em outras palavras, descrevendo a tarântula como aterrorizante realmente provou ser algo bom e ajudou a reduzir o medo.

Está aí outra surpresa, já que as terapias de exposição normalmente tentam levar a pessoa a pensar que aquilo não é tão ruim. E essa é uma crença popular. O professor Matthew Lieberman, coautor do estudo, diz: “Nós já publicamos uma série de estudos em que perguntávamos: ‘O que você acha que faria com que se sentisse pior: olhar para uma imagem perturbadora silenciosamente ou fazer isso tendo que escolher uma palavra negativa para descrevê-la?’”. 

Quase todo mundo disse que seria pior ter de olhar para a imagem e focar no negativo por escolher uma palavra negativa. “Elas acreditam que isso possa fazer com que nossas emoções negativas fiquem mais intensas. Bem, isso foi exatamente o que pedimos às pessoas para fazer no primeiro grupo, e deu certo. Nossa intuição aqui está errada“, completa.

Faz sentido. Como ele explica, ao verbalizar os sentimentos em uma situação de medo e ansiedade, as pessoas admitem que estão com medo, mas estão ali. Elas não estão tentando afastar a sensação e dizer que ela não é tão ruim.

Os bons resultados desse estudo agora animam os pesquisadores a estudar como essa abordagem pode ajudar as pessoas que sofreram traumas como estupro e violência doméstica, além de soldados com estresse pós-traumático.

“Eu acredito que isso possa trazer benefícios reais para as pessoas. “Há uma região no cérebro, o córtex pré-frontal ventrolateral direito, que parece estar envolvido em rotular os nossos sentimentos e reações, mas também está associado com a regulação de nossas respostas emocionais“, disse Lieberman. 

“Essa região do cérebro que está envolvida em simplesmente declarar como estamos nos sentindo parece silenciar nossas respostas emocionais, pelo menos em certas circunstâncias“. A razão disso ainda precisa ser estudada.

PRODUTIVIDADE E REDES SOCIAIS - Silvio Meira

Baixa produtividade não é por causa das redes sociais, 
mas porque as pessoas não veem sentido no que fazem.

Há dois anos, publiquei uma longa série (dez textos, no link bit.ly/HSMesa) sobre o que deveriam ser estratégias de (ou para) redes sociais nos (ou de) negócios.

Em tempos corridos, dois anos é muito e, de lá para cá, mudou quase tudo no universo social corporativo, a ponto de qualquer máquina de busca apontar milhares de links para "estratégias de mídias sociais". Tantas que é muito fácil se perder logo no começo da busca por uma, efetiva, para seu negócio.

Na série do blog sobre estratégias de redes sociais para negócios (que, não por acaso, virou um negócio, a Sodet.biz) o nível mais sofisticado da hierarquia de competência social era a empresa ser uma rede social de fato. Toda conversa (corporativa) seria social, naturalmente viral e os processos de negócio, internos e externos, realizados em comunidades nas redes sociais, inclusive -e principalmente- as criadas ou lideradas pelo negócio.

Atingir esse nível, ou mesmo uns dois ou três abaixo, não é fácil. Pode levar anos, até porque redesenhar processos organizacionais para torná-los sociais vai, na maior parte dos casos, entrar em choque com a máquina (antissocial) da corporação. Uma disputa entre comando e controle, quase sempre muito bem estabelecidos, e conectividade e interação para construção coletiva.

O resultado é conhecido: empresas lançando uma estratégia "social" enquanto proíbem o uso de redes sociais pelos colaboradores no local de trabalho, alegando que o "social" que promovem (para os outros) interfere na "produtividade" (dos seus). Pense...

Pode até ser que redes sociais tenham um impacto negativo em negócios onde as pessoas estão mais interessadas nas fotos e nas fofocas do fim de semana do que nas metas da semana, mês ou ano. Aí, é provável que o trabalho não tenha significado. Talvez as pessoas sejam apenas parte de um processo, que não se sabe para onde vai nem se chega em algum lugar, qualquer lugar.

Acontece que um número cada vez maior de estudos começa a mostrar que o uso competente de redes sociais pode aumentar -e não diminuir- a produtividade do trabalho nas empresas (veja bit.ly/OVGQrX). E aí?

Aí que a "estratégia social" da maior parte das empresas é de dar pena. Em quase todas, é só um "goste de mim" numa rede social. Como se social fosse unidirecional, por sinal. Noutras, tenta-se capturar o público (em tempos de comunidade...) para espalhar "virais", como se o topo das tendências no Twitter salvasse o negócio.

Ainda são poucos e raros os casos em que há uma tentativa sincera e articulada de usar métodos, processos, arquiteturas e sistemas sociais para agregar valor real aos clientes e aos consumidores, inclusive os potenciais.

E isso pode ser mais simples do que parece. Pergunte-se qual deveria ser a estratégia social do seu negócio e a resposta nunca estará muito longe destes 5Cs: criar conexões entre colaboradores, clientes e consumidores.

Criar conexões entre colaboradores, clientes e consumidores, todos como cidadãos de primeira classe, na rede, é ajudar a criar e a evoluir ambientes em que você, seu negócio e seus produtos fazem parte, com seus acertos e erros, vantagens e problemas, assim como na vida real.

Redes sociais verdadeiras diminuem assimetria de informação, e isso, na prática, aproxima pessoas. Ou, de forma mais ampla, todo tipo de agente, inclusive no mercado. Mais conectividade, para mais interação e consequente criação coletiva de conhecimento, aproxima tudo e todos, para melhor ou para pior.

Se sua oferta de valor, para seu mercado, é verdadeira, conecte-se a tudo e a todos, inclusive internamente, eliminando as restrições de acesso às redes sociais em sua empresa.

E se a produtividade por aí é baixa, não é por causa das redes sociais, mas porque as pessoas não veem sentido no que estão fazendo e seu negócio irá para o grande cemitério dos CNPJ em breve, com ou sem redes sociais. Depois não diga que a gente não avisou...

FERNANDO BRANT - Amigos que se foram antes da hora‏.

A amizade e o amor são combustíveis essenciais para uma vida boa. Quando a morte nos leva os que amamos, um vazio se instala em nossa alma e fica ali, presença constante até que nos chegue o último suspiro. Toda perda é uma dor sem medida. Lembro-me agora, quando a noite cai em minha cidade, de três entes queridos que se foram muito cedo, todos ligados à minha profissão de compositor. Quarenta e cinco anos se passaram daquele momento primeiro em que, diante de uma melodia arrepiante de Milton Nascimento, me dispus a casar minhas modestas palavras com aquela beleza. Daí nasceu nossa primeira canção, que abriu para ele o mundo e para mim uma profissão.

Essa primeira parceria teve, para impulsionar sua trajetória de sucesso, as mãos afetuosas de um cantor brasileiro que iluminou minha adolescência, Agostinho dos Santos. Foi ele quem inscreveu nossa música, sem que o Milton soubesse, no Festival Internacional da Canção do Rio de Janeiro, em outubro de 1967. O menino que eu era se viu, de repente, em meio aos aplausos do público do Maracanãzinho. Foi meu alegre ponto de partida. Uns quatro anos mais tarde, meu amigo cantor encontrou seu destino final em um voo entre o Brasil e a França. Quanta tristeza, meu Deus, ao vê-lo partir tão cedo.

Pouco mais de 10 anos se passaram. A cantora que nos abraçara e nos interpretava com talento, sentimento e alma, voz divina e humana, que nos entendia como ninguém, que espalhou nosso canto pelo Brasil e pelo planeta, foi-se, novíssima, num acidente de percurso. Elis, cuja exposição, Elis vive, acabei de visitar no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, continua sendo aquela voz que é a voz de todos nós. Os vídeos de sua vida artística emocionam até hoje os que a conheceram e espanta de prazer as novas gerações, que só agora ficaram sabendo de sua genialidade. Êta Elis que nos faz falta.

Outro que foi precocemente foi meu companheiro de música, conversa, cerveja e futebol. O brasileiro Gonzaguinha, amigo que guardo no peito com amor e dor. Que bom perceber que suas músicas continuam acalentando os corações de nossa gente. Quantas vezes acordo pela manhã e ainda espero por sua visita, com sua Variant preta. Aboletávamos em uma mesinha que tínhamos na cozinha e ali ficávamos por horas discutindo arte e política do país e do mundo. Sua trajetória de vida e canções, sua integridade absoluta vão poder ser conhecidas e reconhecidas por quem for ver o filme sobre ele e seu pai, que deve estrear nos cinemas ainda este ano.

Quarenta anos sem Agostinho, 30 sem Elis e 20 sem o amigo que virara mineiro e parente. A vida continua, a música continua, mas esses amigos tenho guardados no peito, debaixo de sete chaves, dentro do coração.

ROBERTO SHINYASHI – Sentido à vida

Frequentemente me pergunto:
O que cada um de nós está fazendo neste planeta?
Se a vida for somente aproveitar o máximo possível as horas, este filme é muito bobo.
Tenho certeza de que existe um sentido melhor em tudo o que vivemos.
Para mim, nossa vinda ao planeta Terra tem basicamente 2 motivos:
- evoluir espiritualmente e aprender a amar melhor.
Todos os nossos bens em verdade não são nossos. Somos apenas as nossas almas.
E devemos aproveitar todas as oportunidades que a vida nos dá para nos aprimorarmos como pessoas.
Portanto, lembre sempre que os seus fracassos são sempre os melhores professores, e é nos momentos difíceis que as pessoas precisam encontrar uma razão para seguir em frente.
As nossas ações, especialmente quando temos de nos superar, fazem de nós pessoas melhores.
Somos pessoas especiais. Ninguém veio a este planeta com a missão de juntar dinheiro e comer do bom e do melhor.

Ganhar dinheiro e alimentar-se faz parte da vida, mas não pode ser a razão da vida.

Tenho certeza de que pessoas com Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Nelson Mandela, Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Betinho e tantas outras anônimas que lutaram e lutam para melhorar a vida dos mais fracos e mais pobres, não estavam motivadas pela idéia de ganhar dinheiro.
O que move estas pessoas guerreiras a trabalhar diariamente, a não desistir nunca?
A resposta é uma só: a consciência de ter uma missão nesta vida.

Quando você tem consciência de que através do seu trabalho você está realizando a sua missão, ou seja, dando vazão a sua verdadeira vocação, você descobre uma força extra, capaz de levá-lo ao cume da montanha mais alta do planeta.
Infelizmente, muita gente se perde nesta viagem e distorce o sentido da sua existência, pensando que acumular bens materiais é o objetivo da vida.
E quando se chega no final do caminho percebe que só vai poder levar daqui o bem que fez às pessoas.
Se você tem estado angustiado sem motivo, está aí um aviso para parar e refletir sobre o seu estilo de viver.
Escute a sua alma. Ela tem a orientação sobre qual caminho seguir.
Tudo na vida é um convite para o avanço e a conquista dos valores da harmonia e do Bem.

ARNALDO JABOR - Um artigo apócrifo por mim mesmo

Toda semana surge um novo artigo apócrifo, com meu nome... Toda hora um idiota me copia e joga na rede. Há vários; em geral sobre mulheres e amor. Um deles diz coisas como: "a mulher tem um cheirinho gostoso, elas sempre encontram um lugarzinho em nosso ombro."

E outro: "adoro celulite... qual é essa de bundinhas duras? Bunda mole é bonito". No dia seguinte, na rua, fui abordado por uma senhora fina que me declarou arquejante de orgulho: "Eu tenho bunda mole!" E saiu andando, em doce euforia.

Sou amado pelo que não escrevi. Há um site em que contei 23 artigos falsos, com meu nome. Não há como escapar; o ladrão tem vielas para fugir com a galinha, mas da internet você não se livra.

Por isso, resolvi escrever um artigo apócrifo de mim mesmo. Se puserem na web, eu direi que não é meu. Vamos a isso.

A mulher precisa do homem impalpável, impossível. Gosto do olhar de onça, parado, quando queremos seduzi-las, mesmo sinceramente, pois elas sabem que a sinceridade é volúvel. Um sorriso de descrédito baila nas lindas bocas quando lhes fazemos galanteios, mas acreditam assim mesmo, porque querem ser amadas, muito mais que 'desejadas'. O amor para elas é um lugar onde se sentem seguras. E todas querem casar.

O termômetro das mulheres é: "estou sendo amada ou não? Será que ele me ama ainda?" A mulher não acredita em nosso amor. Quando tem certeza dele, para de nos amar. Nelson Rodrigues me contou: "Uma mulher me disse: quando um homem me diz 'eu te amo', perco o interesse na hora".

Elas estão sempre um pouco fora da vida social, mesmo quando estão dentro. Podem ser executivas brilhantes , mas seu corpo lateja sob o terninho.

As mulheres têm uma queda pelo canalha. O canalha é mais amado que o bonzinho. Ela sofre com o canalha, mas isso a justifica e engrandece, pois ela tem uma missão amorosa: convencer o canalha que ele a ama, mas não sabe... Mulher não tem critério; pode amar a vida toda um vagabundo que não merece ou deixar de amar instantaneamente um sujeito devoto. Se você for realmente mau, saiba que isso é bom e lhe faz respeitado de forma oblíqua: "Meu marido é um canalha!" - geme a mulher para as amigas, com um tênue sorriso de orgulho. E as amigas suspiram, invejando-a pelo adorável canalha que a maltrata. Como são amados os malandros... O fiel não tem graça. É tedioso, está ali para sempre, enjoado, sem drama. O canalha é aventureiro, malvado, encarna um sonho intangível para a mulher. Todo galã é impalpável.

Por outro lado, é preciso muita atenção para saber se a mulher te ama mesmo. Outra vez, o Nelson, que fez um teste infalível: "Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada, não há amor possível."

Nada mais terrível que a mulher que cessa de te amar. Você vira uma espécie de 'mulher abandonada'. O homem abandonado se efeminiza em lágrimas vãs. A mulher instila medo no coração do homem. Mesmo com as carinhosas, há perigo no ar. A carinhosa total entedia os machos, que ficam claustrofóbicos. O homem só ama profundamente no ciúme. Só o corno conhece o verdadeiro amor. Mas, curiosamente, a mulher nunca é corna, mesmo abandonada, humilhada. A mulher enganada ganha ares de heroína, quase uma santidade. É uma vingadora, até suicida. Mas nunca corna. O homem corno é um palhaço. Ninguém tem pena do corno. O homem só vira homem quando é corneado. A mulher não vira nada nunca. Como no homossexualismo: a lésbica não é veado. O homem é pornográfico; a mulher é amorosa. A pornografia é só para homens.

O maior mistério do mundo é a diferença entre os sexos. Por mais que queiramos, nunca chegaremos lá: o mistério de ter ou não ter pau, o mistério gozoso de dar, o mistério de ver o mundo de dentro de um útero. Há alguns exploradores, os travestis, escafandros que tentam mergulhar fundo neste mar e que voltam de mãos vazias. Nunca saberemos quem é o outro, aquele ser com seios, vagina, aquele ser ali, maternal, bom, terrível quando contrariado; e elas nunca saberão o que é um falo pendurado, um bigodão, um jogo de porrinha, um puteiro visitado.

Se o amor como resposta deixa a desejar, é porque ele aspira secretamente a matar o outro. O amor aspira a abolir a diferença. Se o amor se contentasse com pouco, ele não deixaria tanto a desejar. O amor é uma patética falta de recursos.

Daí, o ódio que os primitivos cultivam contra as mulheres; daí, os boçais assassinos do Islã apedrejando-as até a morte.

As mulheres são sempre várias. Isso não as faz traidoras; nós é que nos achamos "unos". Só os autoconfiantes são traídos. Esta é uma das razões do sucesso das putas. O que buscamos nelas? Os homens pagam para que elas não existam. O amor exige coragem. E o homem é mais covarde.

Elas ventam, chovem, sangram, elas têm inverno, verão, "t.p.m."s, raiam com a manhã ou brilham à noite, elas derrubam homens com terremotos, elas nos fazem apaixonados porque nelas buscamos um sentido que não chega jamais. Elas querem ser decifradas por nós, mas nunca acertamos no alvo, pois não há alvo, nem mosca.

A mulher quer ser possuída em sua abstração, em sua geografia mutante, a mulher quer ser descoberta pelo homem para se conhecer. Querem descobrir a beleza que cabe a nós revelar-lhes. As mulheres não sabem o que querem; o homem acha que sabe. O masculino é o certo; o feminino é insolúvel. A mulher é metafísica; homem é engenharia. A mulher é muito mais exilada das certezas da vida que o homem. Ela é mais profunda que nós. A mulher deseja o impossível - esta é sua grande beleza. Ela vive buscando atingir a plenitude, mesmo que essa "plenitude" seja um "living" bem decorado, um lindo abajur ou o perfeito funcionamento do lar.

Vejam o resultado. Muitas mulheres adoram os artigos que 'não' escrevi. Mas, aposto que este será chamado de machismo politicamente incorreto. 

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Tô focado

Como a matéria do Universo, uma carreira política também se forma do nada. Há casos de vocações políticas claras – líderes comunitários com credenciais indiscutíveis para pleitear cargo eletivo, por exemplo –, mas em muitos outros casos quem pede votos para começar uma carreira política só tem, como credencial, sua vontade – e sua coragem. Daí esse patético desfile de candidatos no horário eleitoral, com poucos segundos para se apresentar ao eleitor, tentando arrancar do nada uma justificativa para querer entrar, ou continuar, na política.

É fácil fazer pouco de candidatos folclóricos que buscam desesperadamente se destacar dos outros com um apelido ou um slogan pitorescos (lembro de um gordinho que só ficava sorrindo para a câmera enquanto aparecia na tela sua razão para estar ali: “Bom filho”) ou, sem nenhum jeito para aquilo, explorando a notoriedade alcançada em outra atividade, como o futebol. Mas não se queixe. O que você está vendo é a democracia no seu estágio primitivo, ainda na forma gasosa que precede a criação. E os folclóricos podem

surpreender. O Tiririca eu não sei, mas o Romário se revelou um bom e ativo congressista.

Numa eleição passada, numa cidade do interior, um candidato fez campanha com uma única frase. Era um fotógrafo que ganhara uma boa reputação na cidade retratando a sociedade local – reuniões de família,formaturas, debutantes, etc – e decidira ser vereador. Seu slogan era “Tô focado”. A frase aparecia em cartazes e banners do candidato e ele a repetia em comícios – “Tô focado! Tô focado!” – querendo dizer que estava concentrado nos problemas da cidade, que os enquadraria, na câmara dos vereadores, como enquadrava seus retratos na câmera fotográfica. Gastou todo o seu dinheiro na campanha, mas perdeu a eleição. E o pior é que depois não faltaram pichadores que percorreram a cidade fazendo pequenas alterações na frase “Tô focado”, entre o “fo” e o “do”, impiedosamente.

Apesar dos desgostos e dos ridículos não existe outra maneira da democracia começar a não ser nesse nível, com o risco de elegermos palhaços e apenas bons filhos. Sempre há a esperança que, no cargo, eles se mostrem bem focados. 

JOÃO UBALDO RIBEIRO - Pais, mães e filhos

Mesmo que o conceito de família, como se tem muito noticiado, não viesse sofrendo mudanças ocasionadas por novos valores, as descobertas da ciência imporiam - e já começaram a impor - alterações jurídicas complicadas, que a gente ainda não sabe direito em que é que vão dar. Agora mesmo, ouvi a observação casual de uma comentarista de tevê, segundo a qual o aluguel de uma boa barriga está em torno de 200 mil reais. É claro que deve haver normas e conceitos aplicáveis a essa locação e as consequências de abdicar do sonho da barriga própria também terão implicações legais.

Por exemplo, o aluguel da barriga envolve somente a obrigação de portar o feto no útero e parir, mais nada? A locadora não tem também de amamentar a criança, ou isso seria classificado como adicional de peito e pago separadamente? É válido o contrato que não garanta à criança esse direito? Incorrerá a locadora no delito de negação de peito, caso a locatária não possa arcar com as despesas extras? O preço da barriga é social e, nos casos de locatárias de baixa renda, deve ser subsidiado pelo Estado? Os custos dos cuidados pré-natais são, como as taxas de condomínio, responsabilidade da locatária? Como distinguir um mal-estar causado pela gravidez de outro, que não tenha a ver com ela? Em caso de defeito no produto final, será sempre possível diferençar um problema originado dos pais biológicos daquele advindo de alguma imprudência ou acidente de responsabilidade da locadora? Haverá seguro compulsório? Cabe indenização, cabe devolução do produto, cabe queixa ao Procon? No caso de a criança vir a ser rejeitada e oferecida para adoção, a locadora tem preferência?

Irmão de barriga será uma das novas categorias, provavelmente com a designação politicamente correta de "irmão couterino". Caberá à lei estabelecer se isso implica algum grau de parentesco, além de definir outros pontos delicados, como, por exemplo, se todos os couterinos terão direito a chamar a dona da barriga de aluguel de "mamãe", detalhe que parece simples, mas logo se vê que não é, quando se levam em conta aspectos psicológicos e de vida social. E até ocorrências triviais talvez necessitem revisão, como no caso de xingamentos, pois poderá haver discussão sobre se ambas as mães, ou somente uma delas, poderão considerar-se injuriadas, difamadas ou caluniadas, quando objeto de alguma ofensa.

Como sabem os leitores das páginas de ciência dos jornais, os avanços nessa área estão longe de limitar-se à hoje quase corriqueira barriga de aluguel. Já é possível "produzir" uma criança com material genético de um ou mais pais e/ou mães. Não sem razão, os cientistas empenhados nesse campo argumentam que, assim, podem substituir genes defeituosos que seriam herdados, por outros, de genitores excluídos desse risco. E esse interesse é suficiente para estimular a pesquisa. Teremos, portanto, mais dia menos dia, a figura de outro "co", no caso o copai ou a comãe.

Pensar nos parentescos possíveis, a partir somente disso aí, já deixa o sujeito zonzo. Dá pena do advogado formado no tempo do "mater certa, pater sempre incertus", quando uma boa ação de investigação de paternidade era uma aventura de suspense e emoção e não essa coisa sensaborona e sem arte, exame de DNA. Daqui a pouco, vai-se ver com problemas de patrimônio e sucessão antes inimagináveis. Haverá meios-irmãos por parte de pai e por parte de mãe, ou por ambos, e a confusão já começará no registro civil. Quando chegar a alguma herança, declarar-se-á um aranzel jurídico indescritível, em que vai ser difícil alguém tomar pé.

Até porque os, digamos, multiparentescos não vão limitar-se a um genitor extra em cada caso. Na verdade, não é absurdo prever-se que material genético de vários "colaboradores", de ambos os sexos, poderão vir a ser utilizados na produção ou "aperfeiçoamento" genético de um embrião humano. Ou seja, é possível que haja um filho de diversos pais e mães, uma obra coletiva, por assim falar. Não deixa de ser uma ideia curiosa e não hão de faltar comitês de amigos que se unam para perpetuar-se como grupo, na figura de um único rebento, que, para acabar de enlouquecer o advogado, usará uma barriga de aluguel. Creio já poder adivinhar que o bebê assim produzido será chamado de "poligênico", sua figura paterna será um álbum e seu Édipo terá um harém. Com toda a certeza, pelo menos uma torcida organizada criará um menino com material genético doado pelos craques do clube - e o menino receberá o nome de Cocktailson, comerá a bola desde os 5 anos de idade e passará oito minutos dedicando seu primeiro gol como profissional à família.

Finalmente, nestes tempos em que essa festinha de suspender impostos a qualquer hora vai ter que acabar e cairemos na real, é alentador ver as primeiras manifestações do que certamente será uma próspera economia, geradora de empregos e oportunidades. Em relação às barrigas de aluguel, o mínimo que se pode antecipar é a institucionalização da profissão de corretor de barriga, que deverá trazer segurança para os interessados, além de alguma ordem para um mercado que, do contrário, poderia ficar à mercê de aproveitadores e monopolistas. E serão eles os primeiros grandes clientes dos cadernos especiais que os jornais, da mesma forma que em relação a carros e imóveis, passarão a publicar, com anúncios e matérias envolvendo desde a cotação do sêmen e do óvulo de primeira até ofertas de excedentes de produção, pontas de estoque, etc. Só não creio que veiculem anúncios de um DNA com características que dificultem seu receptor vir a ser um adulto corrupto. Não há mercado, todo mundo pensa no futuro de seus filhos.

FERREIRA GULLAR - Amar o perdido

O menino, hoje um senhor idoso, não esquece o dia em que sua moeda caiu pela fresta do assoalho e sumiu.

O quintal, relativamente grande, ficava ao lado da casa e ao fundo das casas vizinhas, de muro baixo. Rente ao muro estavam as bananeiras, onde ele e suas irmãs se embrenhavam, brincando de esconde-esconde. Do lado do quintal, havia uma pitangueira e uma mangueira, cujos ramos se estendiam sobre a cerca que limitava com a residência de um coronel do Exército.

O resto do quintal era coberto de mato-burro, um tipo de vegetação que chegava à cintura dele e encobria a irmãzinha menor. Ali, certo dia, descobriu um ninho cheio de ovos da galinha-d'angola que, com seu parceiro, habitava o lugar.

Mas, atravessando um pequeno portão, ao lado da casa, chegava-se a um quintal menor, de terra batida, sem vegetação, limitado, de um lado pela casinhola do banheiro e, de outro, pela varanda que se estendia até a sala de jantar. À esquerda, ficava o muro coberto de um musgo verde brilhante.
Este quintal menor era o domínio de um galo de crista vermelha e penas marrons, que caminhava garboso, exibindo suas esporas e observando com aqueles olhos redondos, especialmente as quatro galinhas que constituíam sua corte.

Além delas, havia ali um frango, de penugem incipiente, que às vezes se atrevia a cantar de galo e era logo reprimido pelo rei do terreiro, que partia para cima dele a bicadas. O menino, que simpatizava com o frango, intervinha na briga e evitava a agressão.

A família era, no total, dez pessoas, o pai, a mãe e sete filhos (entre meninas e meninos) e uma tia da mãe, que cuidava da casa. O pai, comerciante ambulante, um dia apareceu na casa com um animal esquisito, que parecia um bezerro, mas não era, pois, além do mais, tinha o focinho dividido em dois. Era uma anta.

A mãe, ao ver aquele animal estranho no quintal, ficou perplexa. "Que diabo de bicho é esse que você trouxe para nossa casa?", perguntou ela. Ele respondeu que o tomara de um sujeito que lhe devia dinheiro e não pagara. "E você acha que alguém vai comprar um bicho esquisito como esse, de dois focinhos, e que não serve para nada?", ela perguntou.

As crianças da vizinhança subiam no muro para espiar o animal. Os adultos chegavam até o portão, espiavam e saíam rindo e fazendo troça. A mãe deu um ultimato ao marido: ou ela ou a anta. Ele então decidiu levar a anta não se sabe para onde. Quando subiu a rua, puxando-a pelo cabresto, a molecada o seguiu, gritando e rindo, muito excitada.

A casa era grande, tinha vários quartos, todos assoalhados. Assoalhos antigos, de tábuas corridas, debaixo das quais, às vezes, surgiam ratos, que ali se metiam pela fresta de alguma tábua apodrecida. Se saíam, eram perseguidos pelos gatos que habitavam a casa.

Exceto os pais, que dormiam numa cama de casal, todos os demais dormiam em redes armadas nos cantos dos quartos e, nessas redes, se embalavam, às vezes cantarolando, às vezes disputando lugar com um ou outro irmão. Com frequência, algum deles se estatelava no chão e saía chorando a procurar a mãe, para se queixar.

Faz muitos e muitos anos que isso aconteceu, embora a casa ainda exista e os assoalhos de tábuas corridas tenham sido substituídos por piso de cimento. Nem o pai nem a mãe existem mais. As meninas e os meninos cresceram, foram cada um inventar sua própria vida: casaram-se, tiveram filhos e netos e alguns mudaram até mesmo de cidade. Uns poucos continuam na mesma casa, cujo quintal foi vendido para uma família, que ali construiu sua casa.

O menino, que hoje é um senhor idoso, não esquece o dia em que uma moeda sua caiu pela fresta do assoalho e sumiu. Ele não se conformou. Com um pé de cabra, arrancou uma das tábuas que estava quase solta e mergulhou debaixo do assoalho. Teve uma surpresa: foi como se tivesse passado a outro planeta, já que o chão, ali embaixo, era como um talco negro, em que seus pés afundaram até os tornozelos.

Em pânico, conseguiu escapar daquele solo de pó, onde sua pequena moeda se perdera para sempre. Mas, pelo resto da vida, de quando em vez, em sonho, voltava, em prantos, àquele território lunar em busca da pequena moeda para sempre perdida.

DANUZA LEÃO - Bendita loucura

É só aparecer a chance de uma viagem para mais ou menos qualquer lugar que já me alvoroço.

Segundo Luiz Felipe Pondé, só os loucos ainda viajam. Dou total razão a ele, e assumo que sou louca.

É só aparecer a oportunidade de uma viagem para mais ou menos qualquer lugar que já me alvoroço, e só quando começo a tomar as providências, tipo quem vai cuidar do meu gato, como pagar as contas no fim do mês, e mais mil etcs. -e isso é só o principio- percebo a insanidade que é viajar.

Quando chego ao aeroporto e vejo a fila, penso na minha casa e tenho vontade de chorar, mas aí não dá mais para recuar.

Para os loucos, como eu, existe a ilusão de que uma viagem é e será sempre a melhor coisa do mundo -aliás, nunca é-, e quando posso, meu destino é sempre Paris.

Já vou sonhando com o táxi do aeroporto para o hotel, geralmente conduzido por um motorista francês tendo, no assento a seu lado, um cachorro bem grande (em outros tempos, fumando um gauloise). No rádio, bem baixinho, música clássica; bons tempos.

Da última vez o motorista era um asiático que, além de mal falar francês e não conhecer a cidade, passou todo o tempo do trajeto falando no celular, bem alto, numa língua estranha. Foi horrível.

Logo no primeiro dia, fui avisada: "não vá ao Champs Elysées; não dá nem para andar, de tanta gente, e você ainda se arrisca a ser roubada". Fala sério: estar em Paris e não poder ir ao Champs Elysées é um mau sinal. Me privei de ver a avenida mais linda do mundo, mas vi, nos cafés, restaurantes e museus, multidões; as grandes cidades estão cheias demais.

O mundo está ficando sem graça? Está. Então as viagens acabaram? Não, não acabaram, mas têm que ser repensadas. Eu ando repensando as minhas próximas.

Segundo disse Humphrey Bogart a Ingrid Bergman, em "Casablanca", "we will always have Paris"; nós também sempre teremos Paris, mas em termos.

A razão pela qual se viaja é para ver cidades com características próprias, com coisas que só lá se encontram, mas está difícil encontrar lugares especiais, únicos, já que estão todos tão iguais.
A saída? Estou inclinada a pensar que a solução são as pequenas vilas, no interior, ainda não contaminadas pela globalização. Vamos sempre passar por Paris, claro (ouvi dizer que Roma ficou fora de questão, tal a quantidade de turistas), mas existem lugares deliciosos que ainda não foram descobertos, onde se pode ser feliz por alguns dias, longe desse insensato mundo.

Como na Europa os países não têm a dimensão continental do Brasil, a distância entre duas cidades (e até entre dois países) costuma ser pequena, o que facilita o deslocamento. Da última vez, deixei Paris e fui parar em um pequeno vilarejo na Itália com 6.000 habitantes, nada famoso (poderia ter sido na Espanha, na França, ou em Portugal).

Nele, como em quase todos, havia um pequeno palazzo abandonado, uma ruína e um café na praça, onde passei horas observando o vai-vém dos locais; depois, jantei em um restaurante que não está em nenhum guia, onde comi muito bem e bebi o vinho da região, por metade do preço das grandes cidades.
Ótimo, pois como dizem os conhecedores da gastronomia, come-se mal em Paris.

Me senti como num filme de Fellini: os personagens estavam todos lá, era só olhar para reconhecê-los. Foi uma semana tranquila, que virou minha cabeça pelo avesso, com todas as fantasias de praxe: viver numa cidade em que ninguém está conectado, sem ter conhecimento do que está na moda -nem as comidas, nem os vinhos, nem o último iPad com 350 milhões de programas, nem nada, num clima de paz total, como deve ser bom; será isso a felicidade?
Impossível saber, mas talvez a resposta seja sim.

FRANCISCO DAUDT - Livre arbítrio

É duro admitir, mas não estamos com essa bola toda; 
O último milênio foi cruel com nossa vaidade.

Sabe aquele ouro que o Brasil perdeu para a Rússia no vôlei? Fui eu o culpado. Explico: nunca assisto a esportes, mas meu filho queria ver o jogo, e eu lhe fiz companhia. Logo comecei a torcer, e tudo saía ao contrário das minhas mandingas. Resultado foi o que se viu. Nunca mais. Não quero o peso do fracasso brasileiro.

Para eu sentir essa culpa, são necessárias algumas crenças: que eu tenha poderes mágicos de influenciar jogadores em Londres; que eu tenha a vontade para operá-los de forma a que eles deem bons frutos; que minha vontade não foi bastante para produzir os efeitos supostamente desejados.
Em suma: para ter culpa, eu preciso acreditar que tenho arbítrio (significa vontade), e que ele é livre ao meu dispor. O tal livre arbítrio.

Há milênios que nossa espécie se acha grande coisa. Nossos antepassados criam que o raio havia caído porque eles tinham tocado numa pedra. Quando criança, acreditei poder parar a chuva queimando a palha do domingo de ramos (e não é que a chuva parava... às vezes).

Havia uma relação poderosa de causa-efeito entre o que fazíamos e o que acontecia. Há uma criança dentro de nós até hoje (ou um antepassado troglodita, que ambos se parecem), caso contrário não haveria o menor sentido em torcer (pelo menos, não pela TV).

É duro admitir, mas não estamos com essa bola toda. O último milênio foi cruel com nossa vaidade. Copérnico mostrou que não éramos o centro do universo. Freud mostrou que não mandávamos nem em nosso próprio quintal, que forças ocultas nos manipulam (no que foi endossado pelos evolucionistas, com as forças genéticas). Cientistas em geral mostram que é cada vez mais difícil completar a frase "O ser humano é o único animal que..."

No artigo sobre sentimento de culpa, falei que a crença no livre arbítrio, na vontade perfeitamente comandada por um eu soberano, era essencial para que sentíssemos culpa. Neste, questiono, não a existência da vontade, mas o quanto ela é livre. "Mas se a ausência de livre arbítrio for demonstrada, não podemos pôr ninguém na cadeia, pois ninguém será culpado".

Sinto muito, não é por isto que a cadeia existe. Ela é necessária para afastar pessoas perigosas a nosso meio. E para criar mais um constrangimento à vontade, algo que a torne menos livre ainda: cuidado com seus atos, pois eles têm consequências.

Afinal, quais são os cordéis que tornam nossa vontade um bonifrate? Ela é um títere de que, ou de quem?

Começando com o mais básico, o nosso desejo é seu maior manipulador. Compreenda "desejo" como nossa força motora que carrega, desde os instintos mais primitivos, à modelagem que eles sofrem da genética e da criação, da cultura, da moda, do zeitgeist (o espírito do tempo). Ele é um gigantesco software inconsciente, que se mostra na tela da consciência com uma imagem a cada vez. Uma delas é a vontade. Minha vontade de assistir ao jogo foi completamente diferente da de meu filho. Livre arbítrio? rsrsrsrs. Odeio isto e o kkkk, mas, sabe, é o zeitgeist... Lamento muito, mas não peço desculpas.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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