MARTHA MEDEIROS - Anjos

Fala-se muito em Deus, mas pouco em anjos. Acredito neles, nos zelosos guardadores, não sentados em nuvens tocando trombeta, mas aqui, no plano terreno. Um pode ser o anjo do outro. Você pode ser meu anjo, e eu o seu.

Vou compartilhar uma história que aconteceu no final de fevereiro. Recebi um convite para integrar a equipe de uma instituição britânica liderada pelo filósofo e escritor Alain de Botton, a The School of Life, que está introduzindo atividades no Brasil. Topei. No entanto, meu inglês é precário.

Consigo viajar sem pagar micos, me comunico em hotéis e restaurantes, mas não tenho fluência para manter uma conversa digna com um estrangeiro. E isso será fundamental no novo desafio profissional que me surgiu. Preciso aprender inglês pra ontem. Como? De preferência, estudando fora, fazendo um curso de imersão. Até então, isso nunca tinha passado de um sonho da juventude.

Dias depois de a The School of Life me procurar, recebi outro convite: lançar meus livros em Torres. Passei quase três horas autografando para veranistas e moradores da cidade. Quando a livraria estava fechando a porta, um homem insistiu em entrar. Um turista. Ele pediu minha dedicatória, a última da noite, e me entregou seu cartão. Era, simplesmente, um renomado gestor de cursos de inglês no Exterior. O procurei na semana seguinte e, para encurtar a história, estou matriculada em uma das escolas mais sérias da Inglaterra, já tenho um flat alugado e estou com toda a burocracia resolvida. De quebra, fiz um novo amigo.

Esse tipo de história é recorrente na minha vida. Qualquer questão que se apresente, a solução cai do céu em dias, às vezes em horas, através de alguém que não conheço. O exemplo que dei é elitista, mas já aconteceram coisas bem mais prosaicas e milagrosas – nunca me apertei. Sempre um anjo apareceu do nada.

Pode-se chamar isso de ter sorte, ou uma boa estrela. Dá no mesmo. Estamos falando de receptividade e de doação. Você tem um anjo porque também já foi o anjo de alguém. E se tudo não passar de baboseira, que seja. Num mundo rude como o nosso, há que se flertar com o esotérico.

No momento em que você me lê, já estou em Londres. Amanhã começam minhas aulas e não vai ser moleza: serão seis horas por dia, afora os temas de casa e alguns compromissos com a The School of Life, a entidade que deu início a essa minha movimentação. Por isso, ficarei ausente do jornal durante todo o mês de julho. Prometo retornar em agosto mais inspirada e, se os anjos ajudarem, reencontrar vocês com saudades. Até breve.

WALCYR CARRASCO - A nova onda conservadora

Muita gente, diante dos discursos e posturas da deputada Myrian Rios (PSD-RJ), acha que ela é simplesmente obtusa. Discordo. A trajetória da deputada prova que burra não é. De atriz sem talento, que posou nua, tornou-se paladina da moral e dos bons costumes. Não é uma trajetória incomum. Mulheres que exibem a sensualidade muitas vezes vivem o que chamo de síndrome de Maria Madalena. Arrependem-se do passado, tornam-se defensoras dos mais rançosos princípios morais e de uma pretensa espiritualidade. É um duplo efeito da lei da gravidade: enquanto o peito cai, o espírito se eleva. 

Exemplo disso foi Elvira Pagã, vedete do teatro rebolado, primeira a usar biquíni na praia: na maturidade dedicou-se a pintar quadros esotéricos. Já vi acontecer muitas vezes com diabinhas menos famosas. De tão universal, botei a personagem na novela Gabriela, exibida no ano passado pela Globo. "Dorotéia", interpretada pela atriz Laura Cardoso, não existia no romance original de Jorge Amado. Mas tinha a ver com seu universo. 

Era a vigilante da moral e dos bons costumes na Ilhéus dos anos 1920. Fiscalizava o comportamento das sinhás e suas filhas e denunciava qualquer transgressão. No final, descobriu-se que na juventude fora prostituta e dançava nua nos cabarés. Magnificamente interpretada por Laura, "Dorotéia" tornou-se ícone na internet, com seus comentários moralizantes.

Conheci Myrian Rios rapidamente quando era casada com o cantor Roberto Carlos. Usava uma microssaia espantosamente curta. Mais tarde se tornou missionária e elegeu-se deputada com o apoio evangélico. Faz pouco, teve sancionada pelo governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, a lei que estabelece o "programa de resgate de valores morais, sociais, éticos e espirituais". Ninguém sabe exatamente do que se trata esse programa. Mesmo porque a espiritualidade não é regida pelo Estado. Como Sérgio Cabral não se elegeu papa, nem é bispo evangélico ou babalorixá, nem sequer imagino o que pretenda fazer quanto à lei que sancionou. 

Myrian Rios foi criticada nas redes sociais. Nem é a primeira vez: no passado, insinuou que os homossexuais seriam pedófilos, provocando revolta generalizada. Mas sinto que não está sozinha nessa cruzada moralista. Uma onda conservadora assola o país. Com freqüência, o discurso moral ocupa o lugar do político. Na eleição para a prefeitura em São Paulo, o então candidato e atual prefeito, Fernando Haddad (PT), foi acusado pelo candidato José Serra (PSDB) de tentar distribuir um "kit gay" quando Ministro da Educação. Aliás, em 2010, o "kit gay"deixou de ser distribuído após pressão da bancada evangélica.

O que leva uma pessoa a achar que tem o direito de dizer como outra deve pensar e viver?

Há outras evidências: agressões e assassinatos de homossexuais são freqüentes; surgiu um movimento contra a legalização da prostituição, proposta pelo deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ). Como se estar a favor da legalização equivalesse a defender a prostituição em si. E não somente desejar que as prostitutas tenham direitos como outros trabalhadores.

Pessoalmente, sempre fui muito próximo dos evangélicos. Meu falecido tio Domingos, irmão de minha mãe, foi pastor presbiteriano. Tive um primo missionário na África. Como cristão, aprendi a conviver com quem tem idéias diferentes das minhas. Só não acredito em impor o que a gente pensa ou agredir quem vive de forma diversa. Ultimamente surgiu o evangélico radical. Fundamentalista, que branda princípios supostamente retirados da Bíblia.

Embora a doutrina cristã possa ser resumida em "Amai ao próximo como a ti mesmo". Historicamente, o cristianismo implica abandono do "olho por olho, dente por dente" do Antigo Testamento e propõe uma sociedade mais tolerante. Mas os novos fundamentalistas querem punir, proibir. Políticos não evangélicos - incluindo os que estão em cargos de poder - obedecem, para manter coalizões. O filme Os deuses malditos, de Luchino Visconti (1969), mostra a ascensão do nazismo por meio da manipulação de uma família.

Mostra os pequenos e grandes fatos que conduziram a Alemanha naquela direção. Agora, sinto um cheiro ruim de autoritarismo no ar. Há um recuo com relação a conquistas que implicavam na convivência entre os diferentes - a base da democracia, afinal. Quando uma lei pela moral e pelos bons costumes é sancionada, a agressão foi à sociedade. A deputada Myrian Rios é a ponta de um iceberg. Eu me pergunto: o que leva uma pessoa a achar que tem o direito de dizer como outra deve pensar e viver?

PECADO MORTAL - Fernanda Torres

O revelador encontro que Sérgio Cabral 
travou com o papa 
daria uma pantomima medieval

Voltei de viagem. Como é bom voltar de viagem.

Trocaram as maçanetas da casa na minha ausência. As antigas rangiam, saíam na mão, pulavam longe, ejetadas num simples abrir de porta. Com essas, passeio pelos cômodos, entro e saio só para testar o engenho. A humanidade caminhou muito, basta comparar as maçanetas de hoje com as de outrora.

Três milhões de peregrinos lotavam a praia da Copacabana para ver o Santo Padre e eu agradecida às maçanetas. Deus perdoa. É a carne.

No estrangeiro, ouvi relatos sobre as barricadas do Leblon. Terminei de ler "Os Miseráveis" pouco antes de embarcar, a palavra barricada me remeteu ao pivete Gavroche, a Marius e Javert; mas eu desconhecia o rosto dos incendiários do Leblon.

Cabral abusou do direito de ir e vir de helicóptero, da intimidade com o setor privado, houve descontrole da polícia nos enfrentamentos com os manifestantes, além de acasos e tragédias que levaram à vigília eterna de sua residência. Como se não bastasse, o desaparecimento do pedreiro Amarildo veio agravar o quadro de rejeição.

Mas foi sob o comando de Cabral que José Mariano Beltrame implantou uma estratégia de reocupação de vastas áreas dominadas pelo tráfico no Rio de Janeiro. Algo impensável, desde os tempos de Brizola. A atitude lhe valeu uma reeleição folgada.

A assumida arrogância pela esmagadora vitória, somada aos desvios já citados, contribuiu para o caos armado do Leblon. Mas surpreende que "Fora Cabral" vire jargão nas reivindicações da capital paulista.

Há décadas, a riqueza exponencial tornou São Paulo indiferente às mazelas políticas da Guanabara. E elas não foram poucas. Jamais presenciei um "Fora Garotinho", "Rosinha" ou "Brizola" no planalto paulista. O que acontece na Bahia, em Pernambuco, Minas e Goiás tem mais relevância para São Paulo do que as agruras da faixa de Gaza do vizinho.

De repente, "Fora Cabral" vira slogan na garoa. Quem carrega o andor? É impressão minha ou houve uma mudança radical no perfil das manifestações?

As novas mídias viabilizaram a insurreição súbita das massas. Agora, a política ajusta os métodos, criando partidos de Anonymous a serviço, precisa saber de quem. Está difícil distinguir o que é espontâneo do que é orquestrado.

Na primeira vez que vi na televisão o nome de Sérgio Cabral surgir ao lado do de Geraldo Alckmin, esperei pelo esquadrão anti-Haddad, mas ele não apareceu. Estranhei. Ninguém vai pedir o pescoço do prefeito?

Ainda presa ao apartidarismo das passeatas de julho, achei que o repúdio amplo, geral e irrestrito continuaria vigorando. No lugar de Renan Calheiros, um senador da República nacionalmente chamuscado, reluzia, agora, o nome de Sérgio Cabral. E Haddad, que, se não me engano, figurou nas primeiras revoltas, estava com a cabeça a salvo.

Quem afia a guilhotina?

Sérgio Cabral foi o melhor governador que o Rio elegeu em décadas --o que não é muito, quando se pensa nos anteriores, mas foi um avanço. Hoje, um ano antes de encerrar o segundo mandato, enfrenta a danação bíblica pela soberba e a usura.

O revelador encontro que travou com o papa daria uma pantomima medieval. A Virtude e o Poder, algo assim.

O voto de simplicidade de Francisco se opõe à idolatria do dinheiro, pregada nos quatro cantos do planeta, inclusive no Vaticano. Há santos na Cúria, afirma o papa, e prova que há, sendo.

Francisco foi eleito em meio a tormentas internas e externas da igreja, em uma Europa em recessão desde 2008. Como poucos, soube, através de ações práticas, traçar uma conduta moral para os que detêm o poder em tempos de crise.

Aqui, e especialmente na Guanabara, vivia-se a euforia da promessa do capital. Trocávamos as maçanetas, os carros, as geladeiras, construíamos estádios. A percepção do retrocesso econômico aconteceu antes do previsto na população e flagrou os governantes ajoelhados aos pés do bezerro de ouro.

Cabral é a Cúria que Francisco pretende reformar. Mesmo ungido, o governador deverá arder nesse inferno por, pelo menos, mais um ano, ou até que outro venha assumir o papel de Judas. Enquanto isso, Garotinho sobe nas pesquisas de intenção de voto.


A política é um pecado mortal.

MARTHA MEDEIROS - Nós que temos filhos

Por uma infelicidade tremenda, fui ler os comentários de um site sobre o acontecido em Santa Maria e dei com uma criatura funesta que falou coisas impublicáveis. Um só. Um único demente entre tantos solidários, e pensei: precisa mais que um para lamentarmos a falta de compaixão? Porque essa foi a palavra que me invadiu desde as primeiras horas de um domingo ensolarado lá fora e nublado aqui dentro: compaixão.

Qualquer pessoa que tenha um filho ou uma filha não tem como não se colocar no lugar dos pais, dos avós, dos tios daquela garotada que saiu no sábado à noite para se divertir e que foi vítima do destino – poderíamos também chamar de descaso, insensatez, irresponsabilidade –, mas é cedo para diagnósticos precisos. Destino é uma palavra mais abrangente.

Tenho duas filhas que comumente saem à noite, dançam, se divertem em lugares fechados, e eu não faço vistorias prévias, não peço laudos, não investigo, simplesmente confio que elas estarão em segurança. Quem pode garantir? Alguém deveria, mas o destino não se responsabiliza. Nunca se responsabilizou.

Sei de dois irmãos e de um casal de namorados que tinham relações com amigos meus e que estão entre as vítimas. De íntimo, eu não conhecia ninguém. Isso me afasta da tragédia? Nada nos afasta dessa tragédia, a não ser que não tenhamos compaixão. Essa palavra não me sai da cabeça. Um mundo individualista como o nosso precisa abraçar esse conceito, esse sentimento: compaixão. Se colocar no lugar do outro. Dói, mas é necessário.

Quem não tem filhos sofre. Quem tem se arrebenta. Não é algo que se explique. Nenhum racionalismo conforta. É um soco que nos tira o ar e nos faz lembrar o que tanto buscamos esquecer: que somos todos vulneráveis diante da fragilidade da vida.

CONTARDO CALLIGARIS - Hedonistas?

De onde vem a ideia dominante, de que a renúncia 
ao prazer sempre ganha pontos?

O papa Francisco, quando era o cardeal Jorge Bergoglio, de Buenos Aires, conversava de religião com o amigo rabino Abraham Skorka. Os diálogos estão agora num livro, que, no Brasil, acaba de sair, "Sobre o Céu e a Terra" (editora Paralela).

Os dois religiosos tratam de matérias escabrosas --as quais não são apenas contracepção, células-tronco, divórcio, aborto e casamento gay, mas também as questões que desafiam a fé de qualquer um: por que a presença do mal no mundo? Deus é apenas uma resposta fantasiosa a nosso mal-estar psíquico? A religião foi inventada para servir de ópio dos povos?

Como ambos são decididos a parecerem simpáticos e razoáveis, o texto é agradável e um pouco previsível. Não que eu esperasse grandes viradas teológicas: de qualquer forma, um livro para o grande público não seria o lugar para isso. Mas esperava mais ousadia no pensamento.

Alguém dirá que ousadia não é coisa para papa --citação de Francisco na orelha do próprio livro: "A verdade religiosa não muda, mas se desenvolve e vai crescendo".

Sinto muito, a igreja tem uma história (muitas vezes sangrenta) de mudanças. Só para dar uma ideia, nos 2.000 anos desde que os apóstolos se reuniram em Jerusalém:

-- Faz só 1.700 anos que acreditamos que o Pai e o Filho teriam a mesma natureza;

-- Faz menos de 1.600 que acreditamos na maternidade divina de Maria, e por volta de 1.400 que acreditamos na perpétua virgindade da mesma;

-- Faz apenas um pouco mais de 800 anos que o celibato se tornou obrigatório para o clero, e menos ainda que confissão e comunhão se tornaram obrigatórias uma vez por ano, na Páscoa;

-- Faz por volta de 600 anos que a gente inventou o Purgatório;

-- E é só desde 1870 que o papa é dogmaticamente infalível.

À vista dessa história de reviravoltas, em que cada um pode se tornar herético (o que, hoje, no máximo, vale uma excomunhão sem grande interesse, mas, no passado, acarretou consequências fatais para muitos), ninguém sabe as surpresas que nos reserva a igreja de amanhã.

Quanto a mim, espero há tempos a reabilitação dos cátaros, que são minha seita preferida (exterminada no século 12). Eles tinham a melhor solução teológica ao problema do mal na Terra e da estupidez dos homens: basta pensar que o mundo seja criação do diabo, e não de Deus.

Enfim, entre os muitos assuntos ao redor dos quais papa Francisco e o rabino Skorka concordam, um capturou minha atenção. Francisco diz "nesta civilização consumista, hedonista, narcisista...", e o rabino Skorka, "...em uma concepção hedonista da vida, egocêntrica, ególatra".

Embora o papa e o rabino não desprezem todos os prazeres terrenos (isso significaria desprezar a criação --pecado gravíssimo), ambos parecem convergir com um clichê dos críticos culturais contemporâneos, considerando que "hedonismo" é palavrão: a procura do prazer como bem único ou supremo parece ser o que eles menos gostam na nossa época. No Rio, aliás, Francisco mencionou o prazer entre os "ídolos" que nossa época colocaria no lugar de Deus. Algumas notas.

1) A correlação entre hedonismo e egoísmo é, no mínimo, problemática. Exemplo. Quem é mais egoísta? Alguém que se priva de toucinho na sexta-feira para ganhar o Paraíso? Ou alguém que transa quanto mais puder, sempre achando que o que ele mais gosta é ver sua parceira ou seu parceiro gozar?

2) Uma cultura que, de maneira quase unânime, não para de lamentar seu "hedonismo", só pode ser radicalmente anti-hedonista, ou seja, oposta ao prazer como bem. É fácil constatar que inclusive os que acreditam na existência de uma alma imortal sentem a finitude da vida; agora, é espantoso que, mesmo assim, o prazer continue tendo, para nós, uma conotação moral negativa. E a renúncia ao prazer (seja ela para satisfazer a Deus ou ao médico higienista), uma conotação moral positiva.

3) Nos três grandes monoteísmos, o prazer é facilmente culpado ("não se cansem de pedir perdão", encorajou papa Francisco). Alguém dirá que isso acontece sobretudo no cristianismo porque Deus se manifestou pelo sofrimento e não pelo prazer de seu filho. Essa é uma visão teológica à qual não sei contribuir. Mas a questão cultural correspondente é: o que fez o sucesso de uma religião que se fundou na ideia da paixão necessária do filho de Deus e, por consequência, na ideia de que o sofrimento e a renúncia ao prazer, de alguma forma, ganham pontos?

4) Só para lembrar: não era assim entre os pagãos, nem entre os libertinos dos séculos 16, 17 e 18.

FERREIRA GULLAR - Uma questão de bom senso

Todo mundo sabe que, dos que se viciam em drogas, 
poucos conseguem largar o vício

Falando francamente, o que você prefere, a segurança ou a insegurança, o previsível ou o imprevisível? Em suma, quer acordar de manhã certo de que as coisas vão caminhar normalmente ou prefere estremecer ao pensar no que fará, neste dia, o seu filho drogado?

Acho muito difícil que alguém prefira viver no desespero, temendo o que pode ocorrer nesse dia que começa. Estou certo de que todo mundo quer viver tranquilo, certo de que as coisas vão transcorrer dentro do previsível.

Mas quem se droga comporta-se, inevitavelmente, fora do previsível, ou não é? Já imaginou a apreensão em que vivem os pais de um filho drogado? Começa que ele já não vai à escola e, se vai, arma sempre alguma encrenca por lá. Se já trabalha, abandona o emprego e começa a roubar o dinheiro da família para comprar drogas.

Se isso se torna inviável, entra para o tráfico, passa a vender drogas ou torna-se assaltante, porque tem de conseguir dinheiro para comprá-las, seja de que modo for. Daí a pouco, não apenas assalta e rouba como também mata. Os pais já não reconhecem nele o filho que criaram com tanto carinho. Pelo contrário, o temem, porque, drogado, ele é capaz de tudo.

E mesmo assim há quem seja a favor da liberação das drogas. Conheço muito bem o argumento que usam para justificá-la: como a repressão não acabou com o tráfico e o consumo, a liberação pode ser a solução do problema. Um argumento simplista, que não se sustenta, pois é o mesmo que propor o fim da repressão à criminalidade em geral. O argumento seria o mesmo: por que insistir em combater o crime, se isso se faz há séculos e não se acabou com ele?

Fora isso, pergunto: se não é proibida a venda de cigarros e bebidas, por que há tráfico dessas mercadorias? E pedras preciosas, é proibido vendê-las? Não e, no entanto, existe tráfico de pedras preciosas. E ainda assim os defensores da liberação das drogas acham que com isso acabariam com o problema. Claro, Fernandinho Beira-Mar certamente passaria a pagar imposto de renda, ISS, ICMS e tudo o mais. Esse pessoal parece estar de gozação.

Todo mundo sabe que, dos que se viciam em drogas, poucos conseguem largar o vício. E, se largam, é por entender que estavam sendo destruídos por ele, uma vez que perdem toda e qualquer capacidade de refletir e escolher; são verdadeiros robôs que a droga monitora.

Qual a saída, então? No meu modo de ver, a saída é uma campanha educativa, em larga escala, em âmbito nacional e internacional, para mostrar às crianças e aos adolescentes que as drogas só destroem as pessoas.

E isso não é difícil de demonstrar porque os exemplos estão aí aos milhares e à vista de quem quiser ver. Os traficantes sabem muito bem disso, tanto que hoje têm agentes dentro das escolas para aliciar meninos de oito, dez anos de idade.

Confesso que tenho dificuldade de entender a tese da descriminalização das drogas. Todas as semanas, a polícia apreende, nas estradas, em casas de subúrbio, em armazéns clandestinos, toneladas de maconha e de cocaína. É preciso muitos drogados para consumir essa quantidade de drogas.

Junto às drogas, apreendem, muitas vezes, verdadeiros arsenais de armas modernas de grosso calibre. É preciso muito dinheiro e muita gente envolvida para que o tráfico tenha alcançado tal amplitude e tal nível de eficiência. Como acreditar que tudo isso desaparecerá, de repente, bastando tornar a venda de drogas comércio legal? Sem falar nos novos tipos sofisticados de cocaína e maconha, que estão diversificando o mercado.

A verdade é que o tráfico existe e cresce porque cresce o número de pessoas que consomem drogas. Como se sabe, não pode haver produção e venda de mercadoria que ninguém compra. Se se reduzir o número de consumidores, o tráfico se reduzirá inevitavelmente. E a maneira de fazer isso é esclarecer os jovens do desastre que elas significam.

O resultado maior não será junto aos viciados crônicos, que tampouco devem ser abandonados à sua má sorte. Virá certamente do esclarecimento dos mais jovens, dos que ainda não foram cooptados pelo vício. A eles devem ser mostrado que as drogas destroem inevitavelmente os que a elas se entregam.

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Se eu fosse Deus

Eu gostaria de ser Deus não para consertar o mundo ou melhorar a humanidade, mas, confesso, para um fim menos nobre: conseguir mulher.

Posso imaginar como seria ter ao meu dispor todos os recursos de Deus para impressionar uma mulher. A começar pelo seu espanto ao saber da minha identidade. (Ela: “Você quer dizer Deus, Deus mesmo?! O Cara?!” Eu: “É”. Ela: “O Todo-Poderoso?!” Eu, para mostrar, além de tudo, simplicidade: “Sim, mas pode me chamar de Todo”.)

Eu não a convidaria para jantar, apenas. Mandaria um anjo fulgurante convidá-la para jantar comigo, no meu apartamento celestial ou no restaurante da sua predileção. Onde já começaria a mostrar os meus poderes, pedindo mineral sem gás e transformando-a não apenas em vinho, mas num Chateau Petrus 82.

Conversaríamos sobre banalidades:

Ela: “Deve dar trabalho, ser Deus.”

Eu, modestamente: “No começo, foi difícil. Tive que fazer tudo sozinho, do nada. Desde então, só dou retoques”.

Depois do jantar Eu a convidaria para ir ver o eclipse da Lua do meu terraço à beira-mar.

— Mas hoje não tem eclipse da Lua!

— Quer apostar?

Quando ficássemos mais íntimos, e ela mais crítica, Eu faria tudo que ela pedisse.

— Terremoto...Precisa ter?

— Está bem. Não vai mais ter terremoto.

— Dá para acabar com a má fase do São Paulo?

— Vamos ver o que se pode fazer.

Eu não lhe mandaria bilhetes amorosos, mandaria tábuas gravadas amorosas, entregues por profetas barbudos, junto com flores — todos os dias.

Presentes de pedras preciosas? Por que ser sovina e não lhe dar, logo, uma mina de diamantes?

E se, com tudo isso, Eu não a conquistasse, me restaria um último recurso: refazer-me completamente, do barro. Seguindo as suas instruções.

— Sem barba. Outro nariz. Mais alto...

RUY CASTRO - Reduzido a um clique

A notícia é alarmante: "Amazon se prepara para vender livros físicos no Brasil". O alarme não se limita à iminente entrada da Amazon no mercado brasileiro de livros - algo que lembrará o passeio de um brontossauro pela Colombo. A ameaça começa pela expressão "livros físicos". É o que, a partir de agora, o diferenciará dos livros digitais.

Pelos últimos mil anos, dos manuscritos aos incunábulos e aos impressos a laser, os livros têm sido chamados de livros. Nunca precisaram de adjetivos para distingui-los dos astrolábios, das guilhotinas ou das cenouras. Quando se dizia "livro", todos entendiam um objeto de peso e volume, composto de folhas encadernadas, protegidas por papelão ou couro, nas quais se gravavam a tinta palavras ou imagens.

Há 200 anos, os livros deixaram de ser privilégio das bibliotecas públicas ou particulares e passaram a ser vendidos em lojas especializadas, chamadas livrarias. Desde sempre, as livrarias se caracterizaram por estantes altas, vendedores atenciosos, uma atmosfera de paz e a ocasional presença de um gato. Foi nelas que leitores e escritores aprenderam a se encontrar e trocar ideias, gerando uma emulação com a qual a cultura teve muito a ganhar.

A Amazon dispensa tudo isso. Ela vende livros "físicos", mas a partir de um endereço imaterial - nada físico -, acessível apenas pela internet. Dispensa as livrarias. Se você se interessar por um livro (certamente recomendado por uma lista de best-sellers), basta o número do seu cartão de crédito e um clique. Em dois dias, ele estará em suas mãos --e a um preço mais em conta, porque a Amazon não tem gastos com aluguel, escritório, luz, funcionários humanos e nem mesmo a ração do gato.

Com sorte, os livros continuarão "físicos". Mas os leitores correm o risco de ser reduzidos a um número de cartão de crédito e um clique.

A FARSA DA GAROTA LEGAL - Claudia Penteado

“O prazer pode apoiar-se sobre a ilusão, 
mas a felicidade repousa sobre a realidade.” (Chamfort)

Dia desses me atraquei com um livro atordoante, indicado pela amiga Martha Mendonça. Envolvida de corpo e alma numa pós graduação em literatura, devo confessar que tenho me dedicado muito pouco a leituras fora do escopo do estudo – especialmente agora, na fase de redação da monografia. Parecia uma grande transgressão ler, no meio disso tudo,  Garota Exemplar, da jornalista americana Gilliam Flynn – o livro que desbancou em vendas, quem diria, os 50 Tons de Cinza. 

Martha me garantiu que valia à pena. Depois de um breve pit stop numa pequena livraria – pensando, claro, “eles não devem ter” – rumei para casa na sexta-feira à noite com a obra malocada na bolsa, como se tivesse cometido um crime. Iniciei a leitura discretamente, ainda questionando minha decisão, e olhando de soslaio para meus livros acumulados na cabeceira, traídos, aguardando sua vez.

Resumindo: me afastando momentaneamente de Umberto Eco, Pierre Levy, Roger Chartier e tantos outros, passei o fim de semana mergulhada numa história de suspense que grudou em mim feito chiclete. O livro é bem escrito, dinâmico, competentemente estruturado, tem tudo para ser um romance de sucesso dos nossos tempos. 

Gilliam é ótima, escreve como homem e como mulher com perfeição e, tirando alguns momentos de ironia  tipicamente americana ou de distraída previsibilidade, criou um belo produto, do início ao fim.

Gostei de vários aspectos do livro, mas o que mais me interessou foi seu recado insistente e escancarado: a inexistência da Garota Legal. Esta seria uma abstração dos homens, uma fantasia tosca que nós, mulheres, numa cumplicidade disfarçada, ajudamos a construir. O livro é quase um ato de protesto contra esse estereótipo que, de alguma forma, se perpetua – em uma espécie de conspiração perversa forjada tanto por eles quanto por…nós mesmas. 

Ao longo da narrativa, a personagem se dirige frequentemente às mulheres leitoras, chamando a atenção para essa invenção, insustentável e frágil, construída através de um acordo tácito, mundano e superficial de “sobrevivência” entre homens e mulheres.

Mas, afinal, quem é essa Garota Legal? É a mulher disposta a quase tudo, com um largo sorriso no rosto – ou no corpo inteiro. Malha, trabalha, tem uma vida repleta de novidades, gosta de sair à noite, conta piadas, ama sexo casual a qualquer hora, sempre carrega um livro ótimo na bolsa (e consegue terminá-lo), está sempre cheirosa e de bom humor.

 Como descrita no livro: brilhante, criativa, gentil, atenciosa, esperta e feliz. Eternamente jovem, leve, relaxada. Divertida. Não tem ciúmes de seu parceiro – ele pode sair a hora que quer, voltar do jeito que bem entender e, ainda assim, ela estará vestindo algo sexy e achando graça naquele comportamento permanentemente adolescente e tipicamente masculino. De fato, isso a atrai.

A Garota Legal tem um humor inabalável: não faz cara amarrada, ainda que tenha ficado horas sendo transferida de atendente em atendente no teleatendimento do cartão de crédito, não consiga um táxi para uma reunião muito importante ou perca um avião. Ainda que esteja exausta, a Garota Legal tem sempre a energia necessária para fazer uma boa massagem nos pés do parceiro quando ele chega igualmente cansado – e tudo sempre pode evoluir para algo mais…

Homens fantasiam com Garotas Legais e acreditam que elas existem porque elas fingem que – de fato – existem. Usam a persona até onde for possível – até que um dia a máscara começa a cansar. Porque é verdadeiramente exaustivo ser a Garota Legal. 

Ao estranharem o humor alterado de sua Garota Legal, os homens pensam que a relação caiu na rotina – ou que a Garota começou a envelhecer. Ela que, na verdade, nunca passou de uma ficção. Ela tentou manter a farsa o quanto pode, para manter seu relacionamento – afinal, ficar sozinha é um horror. 

No mundo de hoje, as solteiras são aberrações da natureza, malucas que não conseguiram “se arranjar”. Só as sorridentes e amestradas Garotas Legais se casam, arrumam namorado, fazem maridos entediados traírem suas esposas – essas, por sua vez, ex-Garotas Legais.

O livro Garota Exemplar é tão bem construído que nos faz mesmo acreditar que Garotas Legais existem e que, no fundo, no fundo, há uma gritando pra sair de dentro da gente. Basta querer. Chegamos a sorrir com o canto da boca, virando as páginas, diante de alguns comportamentos típicos que já tivemos ou que gostariamos de ter para agradar nossos homens – e, porque não, a nós mesmas. 

Aí vem a segunda parte do livro, entregando o que já era veladamente esperado: a revelação da Garota Real. Nada parece mais assustador. Uma garota cheia de nuances variadas, e uma imensa predisposição para as mais diversas maluquices.

Claro que há extremos no livro, quase caricatos. Mas me parece importante o seu recado: a importância de não nos tornarmos essa versão caricata da Garota Ideal, distanciando-nos dos nossos verdadeiros desejos para agradar não só aos nossos parceiros (ou parceiras) mas ao mundo, de uma maneira geral. É quando esquecemos o princípio do nosso próprio prazer para tão somente proporcionar prazer e vencer na batalha dos afetos – tão escassos, no mundo de hoje. 

A má notícia do dia é: a Garota Legal não existe. Ela foi inventada para preencher expectativas e trafegar no mundo de maneira mais suave. E a boa notícia é essencialmente a mesma: a Garota Legal não existe.

 Porque sua versão real pode ser muito melhor. Pode ser genuinamente bem-humorada, sexy, workoholic, ambiciosa, inteligente, perspicaz, ninfomaníaca, cheirosa, preocupada com a boa forma, devoradora de livros, filmes, teses de mestrado. 

Talvez não tudo ao mesmo tempo. Nem o tempo todo.  A Garota Real é, do jeito dela, imperfeita e nunca, jamais, exemplar. Mas é muito mais feliz.

MARTHA MEDEIROS - Londres em retalhos

Passei mais de um mês fora do jornal – torço para que tenham reparado. Estive estudando em Londres e virando a cidade do avesso. Sigo não falando inglês com fluência: é projeto para uma vida. Mas o vocabulário se expandiu e a cabeça também, como acontece sempre que se sai em viagem de descobrimento. Voltei me perguntando o que ainda faz de Londres minha cidade preferida no mundo, e, sendo ela tão diversa, não há uma resposta única.

Não importa em que bairro, em que pub, em que estação de metrô você esteja: sempre escutará de três a quatro idiomas diferentes ao mesmo tempo, o que anula nossa nacionalidade e nos dá a sensação arejada de pertencer ao planeta – Londres não é uma capital humilde, como se sabe. Falando em metrô: o primeiro trem subterrâneo de Londres começou a circular em 1863, antes mesmo da invenção da energia elétrica (era movido a vapor). Mind the gap. O nosso começará a circular em algum ano entre 2017 e o infinito.

O.k., evitarei comparações, até porque o londrino está menos londrino: já não é pontual e polido com fanatismo, deu uma relaxada, e isso de certa forma o democratiza. Até a rainha está mais “gente como a gente”. Uma semana antes de o bisneto vir ao mundo, foi perguntada se tinha preferência por menino ou menina: “Tanto faz, desde que nasça logo, pois quero sair de férias”. Foi-se o tempo em que responder “desde que venha com saúde” é que era nobre.

Aliás, se ouvia falar do pequeno George na imprensa, e só na imprensa. Nas ruas, nem um pio. Ninguém se mobilizou. Aquele grupo reunido em frente ao Palácio de Buckingham no dia 22 de julho era composto apenas de turistas estrangeiros, em mesmo número dos que estão lá hoje e que estarão lá amanhã. O inglês está mais interessado na vida real do que na realeza.

Londres perdeu um pouco a fleuma até no clima. Com temperaturas acima dos 30 graus, sem um pingo de chuva por semanas seguidas, a falta de compostura diante do calor virou notícia. Nunca se viu tanto homem sem camisa pelas ruas – para eles, prova irrefutável da decadência do império.

Ou seja, Londres está mais solta – me segurei para não escrever “mais brasileira”, mas não ando bebendo tanto assim. Continua majestosa em sua arquitetura, com museus de tirar o fôlego (a exposição do fotógrafo Sebastião Salgado no Museu de História Natural é de nos encher de orgulho – absolutamente espetacular) e com parques cujo paisagismo você jura que ficou a cargo de algum pintor impressionista.

Aliás, foi em um parque que meu queixo tremeu e quase fui às lágrimas, e não por causa dos esquilos e das flores: enquanto o Papa abençoava nossa terra, eu dizia amém para os Rolling Stones em show satânico em pleno Hyde Park, com Mick Jagger a poucos metros de distância, em carne, osso, rugas e testosterona. Como se sabe, o sublime pode se manifestar de maneiras variadas e insuspeitas.

Enferrujada do jeito que estou, considere este texto apenas como um “oi, cheguei”. Um breve sumário de assuntos que logo adiante serão mais bem desenvolvidos. Por ora, ofereço esse patchwork só para dizer que estava com saudades e que, por mais que viajar seja fascinante, nada como estar de volta à casa.

CONTARDO CALLIGARIS - Palavras de amor

A declaração de amor não serve para seduzir o objeto de amor,
 mas para apaixonar-se cada vez mais

Os sentimentos funcionam como picadas de mosquito, que coçamos e recoçamos até que se tornem feridas infectadas e, às vezes, septicemias generalizadas (quem sabe fatais). Salvo um exercício difícil de autocontrole, qualquer picada pode adquirir uma relevância desmedida: a gente tende a se coçar muito além da conta porque descobre que se coçar não é um alívio, mas um prazer autônomo em si.

Por isso mesmo, em geral, não confio nos sentimentos --nem nos meus, nem nos dos outros. Não é que eu supunha que os humanos mintam quando amam, odeiam ou se desesperam no luto. Nada disso.

Apenas verifico que os sentimentos, em geral, são condições autoinduzidas: transtornos ou desvios produzidos pelos próprios indivíduos, que, se não procuram sarnas para se coçar (como diz o ditado), no mínimo adoram coçar as sarnas que eles têm. Detalhe: coçando, aumenta o prurido, assim como aumentam a vontade e o prazer de se coçar.

Tomemos o exemplo do amor. Eu encontro, conheço ou vislumbro de longe alguém que preenche algumas condições básicas para que eu goste dela. Sussurrando entre quatro paredes ou gritando em praça pública, anotando no meu diário ou escrevendo para grandes editoras, passo a encher o ar ou as páginas com as descrições da beleza inigualável de minha amada e com as declarações hiperbólicas de meu sentimento.

Claro, minha prosa ou poesia poderão, quem sabe, conquistar meu objeto de amor, mas esse é um efeito colateral. O efeito mais importante (e esperado) de minhas palavras de amor não é tanto o de seduzir o objeto de meus sonhos, mas o de eu me apaixonar cada vez mais. Pois a intensidade do meu amor será diretamente proporcional à insistência e virulência de minhas declarações.

Em linguística, chamamos performativas aquelas expressões que, ao serem proferidas, constituem o fato do qual elas falam. Exemplo clássico: um chefe de Estado dizendo "Declaro a guerra" --essa frase é a própria declaração de guerra.

Dizer que sou apaixonado, que odeio ou que me desespero no luto talvez não sejam propriamente performativos. Mas se trata, no mínimo, de semiperformativos, ou seja, talvez os sentimentos existam antes de serem declarados, mas eles só crescem e tomam conta da gente na hora de serem ditos, descritos e contados --na hora de sua declaração, pública ou privada.

Há três razões pelas quais o amor é absolutamente indissociável da literatura amorosa. A primeira é que a gente aprende a amar e a declarar o amor pela literatura. A segunda é que o amor se tornou relevante em nossa vida à força de ser descrito e idealizado pela literatura. A terceira é que o amor, como sentimento, é um efeito das palavras que o expressam: a literatura nos instiga a amar tanto quanto nossas próprias declarações amorosas.

Acabo de terminar a prazerosa leitura de "Como os Franceses Inventaram o Amor" (editora Prumo). Nele, Marilyn Yalom percorre a literatura francesa e revela que ela é um repertório completo do amor.

A coisa começa com o triângulo amoroso, que não é um acidente ou um imprevisto do amor; ao contrário, o amor começa, mil anos atrás, com o triângulo amoroso. Tristão escolta Isolda, a futura esposa de seu tio, e se apaixona por ela. Lancelote venera seu rei Artur, mas se apaixona pela rainha. E, em geral, os poetas do amor cortês amam damas casadas (e frequentemente fiéis a seus senhores, aliás).

A França é, para Yalom, a pátria do amor. Não só pela riqueza de sua literatura, mas justamente porque, na cultura francesa, do amor cortês do século 12 até as conversas das preciosas nos salões parisienses do século 17 (que Molière ridicularizava, mas também admirava), amar é, antes de mais nada, uma arte de dizer, de ser efeito das próprias palavras que usamos ao declarar e descrever nosso sentimento.

Alguns acham que falta amor em sua vida. Como Emma Bovary ou Anna Kariênina (extraordinária a tradução de Rubens Figueiredo, pela Cosac Naify), temem que, sem amor, sua vida nunca chegue a ter a dignidade de um romance. A eles, recomendo paciência: os tempos mudam, e talvez se afirme hoje, aos poucos, uma retórica nova, menos sentimental, capaz de dar valor literário a uma vida sem amores e paixões.

Outros se queixam dos estragos que o excesso de amor faz em sua vida. Aqui a cura é simples: eles não vão acreditar, mas basta se calar um pouco, assim como é suficiente não se coçar para que as picadas de mosquito parem de incomodar.

FERNANDA TORRES – Macumba

Um amigo de ascendência judaica me chamou a atenção para o fato: a macumba virou artigo raro nas encruzilhadas cariocas. Cresci acreditando que elas eram eternas, parte intrínseca da nossa cultura. Eu acordava cedo na Rua Frei Leandro, 29, caminhava até a Alexandre Ferreira, em direção ao Colégio Souza Leão, e na esquina com o canal havia sempre um prato de barro com arroz, pipoca e farinha, adornado com flores, cachaça e velas; as mais carregadas exibiam galinhas mortas. Eu desviava, respeitosa, e seguia em frente pedindo licença.

Meu conhecido é morador de Laranjeiras. Segundo ele, o costume ainda impera no acesso do Cosme Velho para o túnel. Um terreiro escondido na mata, entre o Largo do Boticário e o retorno do Rebouças, mantém viva a tradição.

A subida para Santa Teresa é outro foco de resistência.

Acredito que a razão do sumiço seja o avanço evangélico nas comunidades carentes. O monoteísmo radical dos brancos do norte condena o politeísmo africano. O culto trazido pelos navios negreiros foi confundido com a personificação do mal.

O pastor Marcos e muitos vídeos disponíveis na internet, com cenas explícitas de extorsão de fiéis, mostram que o diabo não privilegia credo.

A África, dada ao sincretismo, desconhece o maniqueísmo. As forças naturais manifestadas em seus deuses agem para além do bem e do mal e se reconhecem até nos ídolos alheios. O mesmo não acontece com a religião fundada pelos europeus do século XV, inconformados com a corrupção do catolicismo da Idade Média.

A Reforma não admite nuances, tanto que eliminou os santos de seu panteão. Mas fez grandes avanços ao permitir o casamento dos sacerdotes e se opor ao fausto romano. Séculos depois, a corrente religiosa que nasceu para dar fim à perdição acabou, ela mesma, caindo em tentação. No Novo Mundo, o puritanismo semeou o milagre da multiplicação dos dividendos e, humano, demasiado humano, repetiu os pecados que nasceu para exterminar.

No Brasil, as igrejas Universal, Batista, Adventista e Metodista souberam ocupar o vazio deixado pelo estado, criando alguma ordem social, moral, onde só existiam a má distribuição de renda, a miséria e a falta de saúde, transporte, educação e saneamento.

O encastelamento da Igreja Católica a afastou do dia a dia dos fiéis e contribuiu para a perda de território. As missas são impessoais e os padres têm um sotaque arcaico, um falar etéreo, indiferente ao drama terreno.

O candomblé sempre serviu de contraponto carnal para um espírito tão santo. Não mais. Os evangélicos não concordam com as regras da boa convivência religiosa que imperam no Brasil há 400 anos.

Admiro a eficiência das novas igrejas, reconheço seus resultados, mas lamento a intolerância. Eu me acostumei com a ideia de que o Brasil é um país multirracial, multicultural, multirreligioso. A terra da miscigenação. Que bom seria se, aqui, nascessem um adventismo, um calvinismo, um luteranismo, um ismo menos radical. Se os trópicos aliviassem o fundamentalismo cristão de seus praticantes.

E se os despachos voltassem a decorar as esquinas do Rio.

QUEM É O LÍDER - Arnaldo Bloch

Sucesso do Papa Francisco se deve a ausência de líderes mundiais

Sem querer desmerecer o talento do Papa Francisco e seu possível ânimo reformista, penso que o grande motivo de seu sucesso meteórico é a absoluta ausência de grandes líderes e estadistas no nosso mundo contemporâneo.

Dentro da máxima de que em terra de cego quem tem um olho é rei, Jorge Bergoglio, cheio de ideias e bem-falante, num ambiente político tão pobre de carisma e discurso, ganhou a cena rapidinho só no ato de elevar o nível da comunicação reflexiva sobre questões básicas de moral e ética.

Se não, vejamos: quem são, hoje, os grandes estadistas, os grandes oradores, os grandes líderes da Terra? Barak Obama chegou a dar esperança, mas, por melhor que sejam sua lábia, suas intenções e parte de sua prática, o presidente americano brilha mesmo é nas campanhas, nos discursos de posse e na execução de Osama Bin Laden. Raramente fala com o mundo. É um scholar refinado, homem de gabinete e burocrata centrado nas questões de interesse nacional.

Na Europa oriental Putin é uma estrela patética. Na França, François Hollande refugou e está quieto. Ninguém aguenta Angela Merkel. No Oriente Médio, bom, Netanyahu não é propriamente um prodígio de comunicação e popularidade intercontinental. Se pensarmos em Ben Gurion ou Golda Meir, dá até pena. Os líderes palestinos não têm a cancha de um Arafat. A Primavera Árabe foi um movimento e tanto. Mas, quem é a grande voz do Islã? Será Ahmadinejad, que nem árabe é, o Nasser do futuro?

No Brasil, Dilma Rousseff é uma grande trabalhadora mas, vamos convir, não é uma voz altiplana, uma estadista das multidões. Lula foi e é um vulto, um grande orador do povo, tem méritos e defeitos, mas, em que pese o prestígio político internacional, a liderança mundial efetiva não viria, como se previu: ficamos nas figuras do “mascote do mundo” e na tirada de Obama: “Este é o cara”. E a nova geração? Eduardo Campos (que chamou a atenção para a falta de novas e jovens ideias) afigura-se um estadista? Aécio Neves terá um pedacinho que seja da estatura de Tancredo Neves? Quem vem por aí? Garotinho? Feliciano?

Onde estão os líderes? Meus bisavós foram contemporâneos do tsar Nicolau II e Abraham Lincoln e viram Lenin ascender ao poder. Mahatma Gandhi pregava a não violência. Imigrados, assistiram a discursos de Getúlio Vargas. A segunda geração, dos meus avós, ouviu Franklin Roosevelt pregar o New Deal e, quando Winston Churchill prometeu sangue, suor e lágrimas, papai já ia ver o movimento na Conde de Lajes. No tempo em que o progenitor namorou minha mãe Lacerda fazia discursos na televisão e JK já tinha construído Brasília.

Nasci no primeiro ano do regime militar justamente num tempo em que o nível dos governantes (nível entendido como uma conjunção de saberes e ideias, o poder de comunicá-las e a firmeza para implantá-las com respeito a valores morais e éticos comprometidos com alguma dose de humanismo) começou a cair no mundo todo. Na transição da infância para a adolescência, minha principal referência de voz “política” era John Lennon. E, rumando para a idade adulta, quanto mais conhecia os líderes do passado, menos enxergava na turma da Guerra Fria qualquer tirada inspiradora.

No meio do caminho, um Gorbatchev aparece como figura “orgânica” realmente transformadora e comunicativa, e Ronald Reagan e Margaret Thatcher eram personagens sinistras de certo impacto. No Brasil, saído dos anos de chumbo, Brizola, que jamais viraria um estadista, era ao menos o último grande orador e ainda proporcionava o prazer da escuta. Da América só vinham vozes de guerra, só daria para relaxar um pouco com a cara de malandro de Bill Clinton.

Na Europa, morando na França, conheci, in loco, o charme e a consistência política de François Mitterrand (em que pese a inconsistência doutrinária) e, depois, ninguém mais. Sobre Jacques Chirac, cujo livro de cabeceira é do nosso Paulo Coelho!, só depreendi mediocridade e gosto por cerveja. De Sarkozy... bom, desse aí é melhor nem falar.

Onde estão os líderes? Hugo Chávez morreu. Este sabia falar e mobilizar. Mesmo assim, era desses líderes que fazem do confronto a palavra e esvaziam o discurso com chavões. Os chavões chavistas cansaram o mundo. Fidel, o comandante, tem hoje como porta-voz um irmão inexpressivo. A extrema direita, felizmente, apesar das aberrações que apresenta, especialmente na Europa, não há de encontrar um artífice com a oratória e a fúria de Adolf Hitler, e, espera-se, nem as condições ideais para a emersão de algo semelhante.
E, no lugar de Lennon, vejo Yoko Ono mostrar os óculos do marido e pedir paz, na tentativa de que uma refração mágica miraculosa substitua, por um átimo, sua silhueta pela do cara de Liverpool. Imagine...

Os motivos desta grande queda na mensagem e na qualidade dos governantes podem ser observados por vários ângulos, alguns dos quais até já soam como clichês, de tão institucionalizados que já estão no pensamento acadêmico: do crescimento do capital sobre o estado ao advento, na Aldeia Global, de um corpo esférico onde as ideias são mais fragmentadas e compartilhadas através de lideranças de tribos e subtribos.

As grandezas, os dizeres, os discursos, políticos em essência e não partidários, estão na corrente sanguínea da web. Cada um que escolha o seu líder e caminhe, se necessário sem sair de frente do monitor, na direção que deseja, dentro do mundo ou em realidades paralelas.

MARCIA TIBURI - Me dá preguiça


Quem nunca teve preguiça que atire a primeira pedra. De onde vem a preguiça que só de pensar nela ela já aparece? Se uns dizem que são preguiçosos para estudar, ler ou trabalhar, outros dizem que preguiça é “o que dá” diante de certas pessoas ou programas, causas políticas e ecológicas cheias de discursos que se repetem ou que exigem esforço. Em nossos tempos já se falou até de preguiça do sexo. Se a preguiça é difícil de explicar, não é difícil de entender que ela é reação a algo que, na falta de expressão melhor, chateia. Pode ser causa, mas também efeito. Pode ser direito e pode ser desculpa. Em qualquer caso, ela é sempre um mal estar. Tal mal estar não é só ruim, pode também ser proteção contra o excesso de trabalho, contra a super produtividade de cuja exigência ninguém escapa na vida contemporânea. Mal compreendida a preguiça pode ser só uma forma de violência passiva diante das urgências da vida.

A preguiça é um vício

Há preguiça demais e pouca análise dos seus motivos. Até por preguiça. Até parece a grande vitoriosa diante das possibilidades da vida. A preguiça é redundante. Seu nome próprio é a vitória sobre qualquer esforço, até o do pensamento que parece não exigir força alguma. Mas por qual motivo?

Os filósofos antigos se ocupavam da preguiça como um dos sintomas da melancolia que compõe a pré-história da depressão atual. A preguiça era falta de vontade de tudo e qualquer coisa. Na Idade Média, São Tomás de Aquino tratou-a entre os vícios capitais que se opunham às virtudes. Virtude, para o filósofo santo, era tudo aquilo que dizia respeito à realização da natureza de algo. Por exemplo: a virtude da faca é cortar, a virtude do homem é raciocinar, a virtude do cão de guarda é guardar assim como a da estante é suster livros. Neste sentido, mesmo sendo cristão, ele pensava como os antigos gregos. Vício, por outro lado, era tudo o que não alcançava seu próprio objetivo interno, era como perder-se no meio do caminho: uma faca que não corta, um homem que não raciocina, um cão que não guarda, etc. Mas por que algo deixaria de fazer o que deve, ou deixaria de realizar o motivo pelo qual existe?

A definição tomista de preguiça é importante ainda hoje: ela se caracterizava como uma tristeza que impossibilitava a quem dela padecia de agir para fazer o bem. A preguiça era um torpor do espírito que impedia o indivíduo de agir. Não era a maldade, mas a inatividade.

Não é nenhum exagero a sua íntima relação com a cultura brasileira. Quando Mario de Andrade escreveu seu Macunaíma não errou nem por um segundo quanto ao sentido da preguiça que, como sério fator cultural, nos assola desde sempre.

A preguiça é a doença da ação

A preguiça tem alvo. Sua arma é o abandono. Quando temos preguiça tratamos nosso alvo como algo que simplesmente não nos interessa. Abandonamos ou ficamos abandonados a nós mesmos. Pode-se ter preguiça de conversar com amigos, mas também de educar os filhos, de ensinar alunos, de informar um funcionário sobre seus erros ou até acertos. A preguiça não vem do cansaço. É bom esclarecer que cansado é aquele que fez ou tentou fazer, que exauriu forças e não pode prosseguir por esgotamento. Esgotou uma força que havia. Preguiçoso é quem nem tentou fazer, mas está impedido por um outro motivo, o descaso. Em sua base está um desinteresse pelas coisas e pelas pessoas que, sem cuidado, pode se transformar em falta de respeito. O preguiçoso é aquele que esgota uma força que nunca existiu, ele se cansa antes de ter começado como se estivesse doente de uma curiosa incapacidade de agir.

Impotência

Se a violência é destrutiva do poder como um dia comentou a filósofa da política Hannah Arendt, podemos dizer que a preguiça também nega o poder, mas não por contradizê-lo e sim por localizar-se onde ele falta. A preguiça é o nome que se dá a uma forma de impotência, à potência que não se realiza. O preguiçoso não é simplesmente aquele que “não pode”, mas aquele que não tenta, não deseja e, no limite, não se permite sair da inatividade na qual está lançado. No fundo, o impotente é aquele que “poderia, mas não pode”. Porém, é preciso lembrar que “não poder” também está ao alcance de todo aquele que pode. Quem faz algo poderia sempre “não ter feito nada”. O que nos ensina que fazer ou não fazer tem relação direta com a possibilidade de escolha.

A preguiça neste sentido não é o ócio, mas o seu momento negativo, pejorativo. Assim como o negócio é a negação do ócio, mas num sentido positivo, a preguiça é a negação do ócio num sentido pejorativo. Por isso é possível dizer que a preguiça é autoritária, porque ela é fechada, não deixa espaço para as novidades da vida, para outros olhares, para a aceitação de novas potências. Se há segredo em conviver com a preguiça nossa de todo dia, ele está na possibilidade de saber sua diferença com o descanso necessário ou a falta de desejo pela vida e suas possibilidades. É muito bom não fazer nada quando isto é uma escolha, mas não é nada bom ser escravo da própria impotência.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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