ARNALDO JABOR - Um artigo otimista

O mundo está pirado. Essa perplexidade provoca a busca de novos procedimentos, de novas ideologias, de uma análise mais cética diante de velhas certezas.

“As ideias não correspondem mais aos fatos”, cantou Cazuza, há 25 anos. Adoro essa frase. Os fatos de hoje são muito mais complexos do que as interpretações que eram disponíveis, entre progressistas e reacionários.

Os jovens do Movimento que começou em junho trazem para o país um novo estilo de contestação, típico do século XXI — uma contestação pontual, sem “projeto de nação ou de sociedade”. É isso.

Não vivemos diante de “acontecimentos,” mas só de incertezas, de “não acontecimentos”. Na mídia, só vemos narrativas de fracassos, de impunidades, de “quase vitórias”, de derrotas diante do Mal, do bruto e do escroto.

O mundo está pirado. Essa perplexidade provoca a busca de novos procedimentos, de novas ideologias, de uma análise mais cética diante de velhas certezas. O importante nessas novas manifestações é que elas (graças a Deus) não querem explicar a complexidade do mundo com umas poucas causas onde se trancam os fatos.

Na tradição do “ideologismo” brasileiro entranhado nas mentes, a ideia de complexidade é vista como “frescura” — macho mesmo seria simplista, radical, totalizante. Mas, no mundo atual, a inovação está justamente no parcial, no pensamento indutivo, em descobrir o Mal entranhado em aparências de Bem.

A ideia de uma solução “geral”, total para o crescimento da economia brasileira é a herança dos velhos tempos da esquerda centralizadora. Para haver progresso, há que esquecer “planos” ou algo assim; temos de abandonar a ideia de uma política central, como nos planos quinquenais da URSS ou nos “saltos para a frente” da China de Mao. Somente uma política econômica indutiva, descentrada e pragmática com mudanças possíveis, pode ir formando um tecido de parcialidades que acabem por mudar o conjunto. É isso que os jovens propõem.

A chave é: “ações indutivas”, conceito que é a fobia do pensamento filosófico de tradição europeia, continental. Bom mesmo sempre foi um doce silogismo aristotélico, com premissas e conclusão. Ou então uma boa causa universal que abranja tudo, o todo, o uno, do qual se deduz o particular. É uma herança da religião e do mito. Já o pensamento pragmático tem uma tradição mais anglo-saxônica (Hume, Locke, J.S. Mill), principalmente Francis Bacon e depois William James. Não é por acaso que o pensamento pragmático nas ciências e na filosofia acelerou muito mais o progresso, saído de dentro do ventre da revolução comercial e conceitual inglesa. Esta, sim, foi a nascente do moderno pensamento filosófico e político. Suas ideias regeram o ritmo do capitalismo e dominaram o mundo.

O abstrato e ibérico vício da “dedução” generalizante nos leva a uma paralisia, diminui a imaginação, a coragem de experimentar. Uma ideologia em bloco amarra uma coisa na outra, quer empacotar todas as particularidades num saco fechado, em uma “contradição fundamental” que explique tudo.

Essa é a razão pela qual, na história brasileira, o acaso e a invasão de fatos inesperados do Exterior têm provocado mais avanços modernizadores do que políticas inúteis e utópicas de governos brasileiros — a crise de 29 e a revolução de 30, a queda do Muro de Berlim, a grande revolução digital que bota as multidões na rua.

A chamada globalização da economia é um bonde carregado de problemas? Sim. Pode nos jogar num vazio de excluídos? Pode. Mas teve a vantagem de nos botar em contato com um pensamento mais livre. Isso foi a maior novidade: abandonar o simplismo totalizante e paranoico da tradição do marxismo vulgar que nossa esquerda adotou. A globalização rompeu as paredes da “taba” imaginária em que vivíamos. Eu tinha um orientador comunista que dizia que tudo era culpa do “imperialismo americano”. Nós éramos vira-latas tupiniquins à mercê do temível mundo externo. Hoje sabemos que a causa de nossa miséria somos nós mesmos.

O apagamento de fronteiras culturais com o mundo nos tirou de um sonho de futuro e nos colocou mais no presente.

Não há mais futuro; só um enorme presente se processando. Um maior contato com métodos de gestão anglo-saxônicos trouxe dinamismo para empresas aqui, com uma nova ética administrativa.

Aliás, a própria quebra do Estado brasileiro, nos anos 80, foi ruim e boa. Deu-nos uma orfandade dolorosa diante do gigante quebrado, mas criou mais autonomia para a sociedade civil e mais criatividade para empresas privadas. Deixou claro que o Estado tem de existir para a sociedade e não o contrário, como insistem os velhos comunas e alguns jornalistas que viraram “de esquerda”, depois que a ditadura acabou, quando não havia mais perigo.

Essa orfandade nos despertou para a importância da competência contra o delírio utópico, apesar de filósofos desconfiarem que “competência técnica” pode ocultar “direitismo” por trás, tudo por causa de um velho artigo do Heidegger sobre a “técnica”.

Muito mais importante que lamentar a pobreza é descobrir formas de combatê-la, muito além do Bolsa Família, a doce e inútil caridade (se a inflação voltar, haverá correção monetária para o Bolsa?). Há grande distância entre diagnóstico e solução. Muitos se contentam com o apontamento deprimido dos problemas, como se consequências fossem causas.

Melhoramos muito com a ideia do “possível”, em vez da bravata das utopias. E isso não é covardia ou omissão; é sabedoria e prudência.

A tal “mão invisível” do mercado pode nos dar bananas, claro, mas “mercado” pode ser um termômetro dos perigos de gestões voluntaristas como temos hoje no Brasil e pode questionar certezas burras e relativizar um poder público que tende para o autoritarismo. Mudar o país tem de ser por dentro, e não uma intervenção mágica ou ditatorial.

A democracia brasileira, se for mantida, vai expelindo os micróbios que a atacam. Por isso, neste artigo-cabeça há esperança e otimismo. Muitas novidades que nos parecem detestáveis podem estar trazendo novos conceitos operadores que ajudarão a modernizar o país.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - REVERÊNCIA AO DESTINO

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.

Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.

Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.

Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso.
E com confiança no que diz.

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.

Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer ou ter coragem pra fazer.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.

Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende.
E é assim que perdemos pessoas especiais.

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.

Difícil é mentir para o nosso coração.

Fácil é ver o que queremos enxergar.

Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.
Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.

Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"

Difícil é dizer "adeus", principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.

Difícil é sentir a energia que é transmitida.

Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.


Fácil é querer ser amado.

Difícil é amar completamente só.
Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar, e aprender a dar valor somente a quem te ama.

Fácil é ouvir a música que toca.

Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.

Fácil é ditar regras.

Difícil é seguí-las.

Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.


Fácil é perguntar o que deseja saber.

Difícil é estar preparado para escutar esta resposta ou querer entender a resposta.

Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.

Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.

Fácil é dar um beijo.

Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.

Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.

Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.

Difícil é ocupar o coração de alguém, saber que se é realmente amado.

Fácil é sonhar todas as noites.

Difícil é lutar por um sonho.

Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.

O QUE SIGNIFICA ORÉGANO - Luis Fernando Verissimo

Um simples telefonema entre namorados (‘desliga você’, ‘não, desliga você’) pode ser interpretado como parte de um plano para sabotar centrais elétricas.

Um pedido para troca de bujão de gás, uma evidente referência cifrada à explosão da Casa Branca...

Você eu não sei, mas eu estou preocupadíssimo com a revelação de que os americanos têm monitorado tudo que é dito e escrito no Brasil nos últimos anos. Ouvem nossos telefonemas, leem nossos e-mails e provavelmente examinem o nosso lixo, atrás de indícios da nossa periculosidade. 

O que me preocupa é que esta informação, depois de coletada e classificada, é analisada talvez pelas mesmas pessoas que nunca duvidaram que o Saddam Hussein tivesse armas de destruição em massa e nunca estranharam que os sequestradores daqueles aviões que derrubaram as torres, no onze de nove, não se interessassem pelas aulas de aterrisagem nos seus cursos de aviação. 

Quer dizer, que garantia nós temos que não se enganarão de novo, e verão ameaças à segurança americana nas nossas comunicações mais inocentes?

Um simples telefonema entre namorados (“desliga você”, “não, desliga você”) pode ser interpretado como parte de um plano para sabotar centrais elétricas. Um pedido para troca de bujão de gás, uma evidente referência cifrada à explosão da Casa Branca. 

O fato é que tenho tentado recapitular todos os meus telefonemas e e-mails nos últimos anos, com medo de que um deles, mal interpretado, acabe provocando minha aniquilação por um drone.

Ou então me vejo chegando nos Estados Unidos, sendo barrado por um agente da imigração e levado para uma sala sem janelas, onde sou cercado por outros agentes, provavelmente da CIA, que me pedem explicações sobre um telefonema, obviamente em código, que fiz antes de viajar. Reconheço minha voz na gravação.

— O que quer dizer “à calabresa”, Mr. Verissimo? — pergunta um dos agentes.

Estou confuso. Não consigo pensar. Calabresa, calabresa...

— Alguma referência à máfia? Uma ligação da organização terrorista à qual o senhor evidentemente pertence, com a Camorra, visando a um atentado aqui nos Estados Unidos? O senhor veio se encontrar com a máfia americana para acertar os detalhes do complô. É isso, Mr. Verissimo?

— Não, não. Eu...

— Notamos que, mais de uma vez na gravação, o senhor diz “sem orégano, sem orégano”. Deduzimos que há uma divergência dentro do complô entre vocês e a máfia, uns a favor de se usar “orégano” no atentado, outros contra. O que, exatamente, significa “orégano”?

Finalmente, me dou conta.
— Orégano significa orégano. Eu estava pedindo uma...


— Por favor, não faça pouco da nossa inteligência, Mr.Verissimo. Não gastamos milhões de dólares para ouvir que orégano significa orégano.

RUY CASTRO - Proibido obrigar

No Brasil, como se sabe, o que não é proibido é obrigatório. Veja a obrigatoriedade da tomada de três pinos. Até há pouco, parecia uma piada. Mas é para valer. Em breve, todas as tomadas domésticas terão de ser adaptadas para receber os fabulosos três pinos. Para ter uma ideia do alcance da medida, imagine um apartamento de quarto e sala. Entre computador, TV, geladeira, micro-ondas, liquidificador, secador de cabelo, carregador de celular, ferro de passar, ar-condicionado, abajures e repelente de pernilongo, ninguém vive sem pelo menos 30 tomadas em casa.

No Brasil, há 73 milhões de unidades consumidoras de energia. Se todas fossem quarto e sala --esqueça os escritórios, lojas e fábricas--, e à média de 30 tomadas em cada, o número de tomadas a adaptar passaria de dois trilhões. Pode-se avaliar a sensação de poder que deve estar embriagando o pai da tomada de três pinos no Brasil?

O mesmo quanto a uma medida mais antiga e já em circulação em muitos Estados: a proibição de saleiros nas mesas dos restauran- tes e sua obrigatória substituição por aqueles sachezinhos de sal. A cada 200 refeições servidas por um restaurante, 100 sachês são abertos pelos clientes, salpicados com culpa sobre a batata frita e deixados quase intatos sobre a mesa.

Agora multiplique o número de restaurantes em sua cidade pela média de refeições que eles servem por dia e, sendo generoso, divida o resultado por dois, se achar que em apenas metade delas se abrirá um sachê. O resultado será a monumental quantidade de sachês/lixo produzida por uma única cidade e cujo destino serão os lixões --ou os esgotos, os rios e o mar. E só porque alguém implicou com os saleiros.

No Brasil, por 21 anos, foi quase proibido votar. Hoje é obrigatório. Mas, com esses partidos e políticos, deveria ser proibido obrigar.

LYA LUFT - Eu ia falar de flores

Hoje eu ia falar de flores, pois nem só de indignação, por mais justa que seja, a gente vive. Que toda indignação, ainda que abençoada, seja na medida sensata quando é possível. E com a necessária dose de emoção, pois a emoção é um bom motor de boas causas, desde que não seja irracionalmente conduzida. Teremos ou não novas manifestações enormes; mas certamente teremos manifestações de vários grupos, profissões, indivíduos. Todo mundo quer que o Brasil melhore, e não vou mais uma vez enumerar itens como condições de trabalho, saúde, educação, segurança e dignidade — isso todos sabemos.

Mas nisso estoura a bomba: em lugar de melhorar as condições da saúde pública, com mais e melhores hospitais, melhores salários, melhores condições de trabalho e mais estímulo a quem diariamente salva vidas, eis que a classe médica é castigada — mais dois anos de estudo trabalhando obrigatoriamente no SUS (vai equivaler a uma residência?), e milhares de estrangeiros entrando sem revalidar seu diploma. “Serão supervisionados por médicos brasileiros”, dizem. Mas então nesses lugares remotos, para onde os estrangeiros serão mandados, existirão médicos brasileiros? E de onde virá a dinheirama para tudo isso — que poderia melhorar o que já existe e grita por socorro?

Mas hoje eu queria falar de flores: da solidariedade humana, por exemplo. Dos que acompanham um amigo em sua aflição; que doam parte de seus bens a causas boas; que trabalham cuidando dos aflitos, e doentes — mesmo ganhando mal, e sem o necessário para que tudo saia bem; os que pensam e refletem sobre o valor da vida. Falar sobre uma entrevista com o senador Pedro Simon, o Pedro, como dizemos por aqui, imagem do político honrado possível. Nesse mar de desalento atual, quando se mente e se promete em tamanha profusão, ver e ouvir essa entrevista foi um alento. Não convivo com ele, tenho vagos contatos com sua família, acompanhei um pouco suas tragédias pessoais e, com enorme admiração, também sua transformação numa pessoa ainda melhor. Sua carreira política é uma raridade, como poucos outros: um bom punhado deles poderia transformar este país.

Falar de flores é também falar nas amizades: algumas me ajudaram a sobreviver a dramas pessoais quando eu achava impossível, e combinava comigo mesma: “Só mais este dia. Só até a noite. Só mais 24 horas”, como os anônimos heróis do AA que às vezes levam essas 24 horas por uma vida inteira. Meus filhos, então já adultos, foram e são dessas amizades inestimáveis. Falar de flores é falar daqueles que, em qualquer profissão, estudo, ramo, buscam a excelência. Não para ser admirados, não para virar celebridade ou enriquecer, mas pelo amor ao que fazem, e porque a vida merece, eles mesmos merecem buscar o melhor. Sem esquecer o tempo de amar e curtir a vida, jamais sendo como alguém que me disse certa vez: “Eu não tenho tido nem o tempo de uma risada”, e me deu vontade de pegar no colo.

Falar de flores é falar das rosas do jardim de minha mãe, com nomes solenes e perfumes inesquecíveis. É falar de uma infância simples e protegida numa cidade entre morros azuis, onde todo mundo se conhecia, tudo parecia tão fácil, tão certo e definitivo: a ideia de perda e finitude não existia. Mas é também falar de coragem e coerência. Conheci pessoas que por suas ideias sacrificavam uma forma de vida que estava à sua disposição — porém elas preferiam a coerência: não o carrão do ano, não o hotel de luxo, não as festas mais chiques, não as gentes famosas, o dinheiro e o poder, mas o humano.

No meio dos milhares de brasileiros que nestes dias saem às ruas mostrando seu descontentamento, sua indignação ou sua esperança, a grande maioria é assim: busca o que é digno, e justo, o que foi prometido e não cumprido, o que é necessário para se orgulhar do país. para trabalhar com gosto e recompensa razoável, por tudo isso que faz a vida, o trabalho, a família, o cansaço, a honradez valerem a pena. E, mesmo mencionando algum desastre, eu afinal falei de flores.

FRANCISCO DAUDT - Motivação, meio e oportunidade

Corrupção, obras faraônicas, 
tomada de três pinos, 
classe política em descrédito... 
Tudo isso deixa o povo irritado
Talvez estejamos acostumados a pensar nesses três requisitos como parte da investigação criminal, mas qualquer ação humana para acontecer requer motivação, meios e oportunidade.

Tomemos o próprio crime como exemplo. Minha motivação para odiar flanelinhas achacadores e chantagistas --"Vai deixando cinquenta real aí, dotô, pro seu carro não ser arranhado"-- é bastante grande. A oportunidade para matá-los existe em abundância, já que operam longe da polícia e à noite. Por estas razões jamais andarei armado: não quero ter os meios (só o que me falta) para me transformar em um assassino.

Por contraste, tomemos um exemplo do bem.

Motivação: a insatisfação com o desgoverno, com o mau investimento dos impostos escorchantes com que somos achacados pela única máquina de governo que funciona bem, a Receita. Aliás, não sou "contribuinte", contribuição é uma ação de vontade.

Sou um pagador de impostos contra a minha vontade; a corrupção impune; o superfaturamento de obras faraônicas (trem bala?) e inúteis; o abandono das úteis; a falta de investimento em infraestrutura, que faz disparar o custo Brasil; um "mensalão" (legal, mas imoral) disfarçado pelo loteamento de ministérios e cargos públicos em número que "nunca antes na história deste país"; o desmanche da estabilidade da moeda com volta da inflação maquiada (Argentina, nos aguarde que chegamos aí); o descrédito na classe política. Sem falar das tomadas de três pinos e sachês de sal nos restaurantes (jabuticabas, coisa que só existe no Brasil, como o falecido "kit primeiros socorros") criados com o propósito de enriquecer fornecedores apaniguados, nunca para atender os interesses da população.

Tudo isso deixa o povo irritado, indignado e furioso, mais ainda por sentir-se impotente nas mãos de políticos que não são representativos senão deles mesmos. E a raiva fermenta silenciosa.

Meios: com as entidades de classe, UNE, sindicatos e partidos no bolso do governo (com nosso dinheiro), os tradicionais mobilizadores de manifestos emasculados e apelegados, a população encontrou na internet e nas redes sociais a maneira de se comunicar, transmitir suas queixas e se organizar.

Oportunidade: para produzir mais uma maquiagem da inflação, os governos atenderam ao apelo de não aumentar o (péssimo) transporte público em janeiro, e o fizeram bem durante o mês de junho, durante as aulas. Foi o que bastou para começarem as passeatas de protesto, que rapidamente deixaram de ter o preço das passagens como único foco e se transformaram na vitrine da insatisfação geral.

Resultado: um deságue democrático, uma tradução real da insatisfação do povo, e o desmascaramento da "ilha de prosperidade", slogan dos tempos da ditadura que foi assimilado pelos governos atuais do "nunca antes estivemos tão bem".

Claro, como efeito colateral, tais movimentos ofereceram meios e oportunidades para quem tinha motivação criminosa, daí saques e depredações do patrimônio público e privado puderam acontecer.

Ao sabor de suas motivações, meios e oportunidades.

JOÃO UBALDO RIBEIRO - Medo e controle

Os atuais momentos íntimos poderão não ser mais tão íntimos. Nada de gravador debaixo da cama, primitivo e arriscado

Essa estupidez inqualificável perpetrada em Boston aviva o receio de um futuro de insegurança, desconfiança e medo para toda a Humanidade. Grande parte dela já enfrenta isso, mas todos podemos esperar um futuro bem diferente do que os que cresceram no século passado imaginavam. Acreditávamos possível uma vida privada, sem partilhar com ninguém nosso comportamento pessoal, práticas, idiossincrasias e mesmo esquisitices que não fossem da conta alheia. Encarávamos como um pesadelo distante e evitável o mundo descrito por George Orwell em1984, com sua omnipresente teletela sempre ligada e a vida dos governados escrutinada em todos os detalhes.

Hoje a tecnologia prevista por Orwell parece saída das velhas séries de Flash Gordon e a aspiração a uma vida privada, ao menos parcialmente livre do controle do Estado e de grandes organizações, não passa agora — e no futuro muito mais — de uma utopia ou lembrança nostálgica. Estamos só começando, mas a tecnologia marcha aceleradamente e as mudanças chegam sem aviso, para só as percebermos quando se torna claro que vieram para ficar. Muitos de nós entontecemos com essa velocidade, gostaríamos que houvesse mais tempo para assimilar as novidades, cansamos de tanto aprender e desaprender sem cessar. Os recalcitrantes se escondem delas, fazem tudo para ignorá-las e mesmo hostilizá-las, mas sabemos que não adianta. Por exemplo, se um vírus hipotético afetasse repentinamente todos os computadores de um país qualquer, inclusive o Brasil, o caos seria absoluto. Não teríamos comunicações, água, energia elétrica, aviões voando, bancos e comércio funcionando, hospitais, nada mesmo. O vírus resultaria, nesse sentido, muito mais eficaz que um bombardeio pesado. Os programas de sabotagem eletrônica são importante arma de guerra, porque não há como escapar da malha informática.

O atentado de Boston aumentará o empenho não só do governo americano, mas de todos os outros, em reforçar e aprimorar mecanismos de segurança. Isso está longe, é claro, de restringir-se a revistas em aeroportos, episódicas varreduras em busca de explosivos, contratação de pessoal especializado e assim por diante. O mais importante é o acompanhamento da vida de cada um, porque, nestes tempos loucos, todos são suspeitos. Londres, por exemplo, está cada vez mais coberta de câmeras de segurança e a circulação de um indivíduo talvez já possa, ou em breve poderá, ser acompanhada o dia inteiro. Por onde quer que ele passe ou aonde vá, lá estará a câmera de olho.

Penso em filmes policiais de antigamente, com a cena da saída do suspeito em seu carro e o detetive pegando um táxi e dando a ordem de “siga aquele carro” ao motorista. A ordem agora é diferente, é “monitore esse celular”. A depender do caso, o sujeito pode ter sua vida completamente espionada, desde os locais por que circula às conversas de que participa — e isso inclui os eles e elas cujos cônjuges desconfiem de prevaricação. Aliás, grampear telefone, celular ou não, é coisa do passado. Vocês já devem ter lido que cada voz humana é única, é como as impressões digitais, não há duas idênticas. Em decorrência, mesmo que um ouvido animal não distinga entre vozes muito parecidas, há aparelhos que distinguem e, se lhes fornecem essa assinatura vocal, ela sempre será identificada. A novidade é que o “grampeado” não tem como fugir. Quando ele começa a falar no telefone, seja celular, doméstico ou orelhão, em qualquer lugar onde esteja, uma central especializada compara a voz com as assinaturas em seu poder. Se reconhece a do freguês, grava a conversa. Fulano pode disfarçar a voz e dizer que é Sicrano à vontade, mas o banco de dados não se engana. E, se as chamadas forem cifradas, o governo certamente alegará razões de Estado para exigir dos autores a chave da cifra.

Os atuais momentos íntimos poderão não ser mais tão íntimos. Nada de gravador debaixo da cama, primitivo e arriscado. O amanto ou amanta (eu faço que esqueço, mas não esqueço as novas normas gramaticais da República) poderá até engolir um minúsculo gravador de circuito integrado, com microfone configurado para suprimir frequências sonoras inoportunas, como as de borborigmos e assemelhados, mas de resto capaz de gravar uma bela trilha sonora do embate amoroso, desde os jogos preliminares à hora de vestir a roupa. Também mentir ficará bem difícil, porque os novos detectores de mentiras não mais se fiam numa combinação complexa e enganosa de alterações cardíacas, respiratórias ou nervosas, mas em sensores que medem mudanças inconscientes na voz e na emissão da fala — dizem que estão ficando infalíveis.

A tendência comum, talvez normal, é o cidadão aceitar sua perda de privacidade, em troca da segurança individual ou da coletividade, até porque não costumam dar-lhe escolha e o medo é uma força muito grande, mais difícil de vencer que outras emoções. E é reacendido não somente por fatos da magnitude do que aconteceu em Boston e suas previsíveis consequências, como pelo que a gente encontra, por exemplo, na internet. Para citar apenas um caso, lembro os muitos sites que mencionam impressoras 3D, as quais tornam possível que se compre um objeto na rede e a entrega seja feita por um aplicativo que instrui a impressora do comprador a “imprimir”, ou seja, reproduzir aquele objeto na casa do comprador, sem necessidade de entregador. As impressoras e os programas já estão em funcionamento, aprimorados diariamente. Não é fantástico? É, sim, pelo menos até vocês fuçarem outros sites e descobrirem empresas desenvolvendo programas, materiais e impressoras 3D para oferecer armas de combate. Qualquer um, do bandido ao psicopata, poderá comprar e “imprimir” quantas quiser, sem numeração ou registro. Dá medo disso, dá medo daquilo — e a gente fica sem saber o que pensar.

LUIS FERNANDO VERISSIMO - O debate

O apresentador entra no palco, onde estão três cadeiras.

Apresentador – Boa noite. Teremos hoje o último debate da nossa série Criacionismo ou Evolucionismo: Qual é a sua? Afinal, fomos feitos por Deus ou descendemos dos macacos? O debate desta noite é o que todos estavam esperando, o que explica o auditório lotado e as cadeiras extras. Durante toda a semana tivemos aqui embates memoráveis entre defensores do criacionismo e defensores do evolucionismo, culminando com o debate de ontem, entre Richard Dawkins e o padre Rossi, que foi abandonado por Dawkins aos gritos de “Não. Não!” na metade, quando o padre Rossi ameaçou cantar.

E quem poderá esquecer o debate de quarta-feira sobre racionalismo empírico versus dogmatismo religioso entre Rene Descartes e Blaise Pascal, o desentendimento que começou quando Descartes confundiu “dogma” com “dogman” e perguntou se o Homem Cachorro era um novo super-herói dos quadrinhos e continuou quando Descartes reagiu a um argumento teológico de Pascal gritando “Au secours!” e Pascal ouviu mal e protestou “Olha o nível”, até se esclarecer que Descartes estava pedindo socorro.

Depois disso não houve entendimento possível e todos se lembram de como acabou a noite. Por sinal, para os que ficaram preocupados, informo que Descartes já saiu do hospital e está em repouso, em casa. Mas vamos ao grande debate desta noite. Os dois participantes não precisam de apresentações. O primeiro é... Charles Darwin em pessoa! Mr. Darwin, por favor.

Charles Darwin entra no palco e é aplaudidíssimo por parte da plateia. O resto da plateia aplaude educadamente.

Apresentador – Charles Darwin, quem não sabe, é o fundador do evolucionismo. Foram seus estudos sobre a adaptação dos genes ao meio e a seleção natural que deram origem a teoria da evolução das espécies, inclusive a espécie humana, que descenderia dos macacos. Apesar de estar morto desde 1882, Mr. Darwin concordou, gentilmente, em participar do nosso simpósio, principalmente quando soube quem seria o outro debatedor. Não é, Mr. Darwin?

Darwin – É. Será uma oportunidade para esclarecer alguns pontos.

Apresentador – E aqui está ele, senhoras e senhores. O outro debatedor desta noite. O grande, o eterno, o nunca assaz louvado... Deus Nosso Senhor!

Deus entra no palco saudando o público e é recebido com uma ovação. Parte da plateia grita “Senhor! Senhor! Senhor!”. Deus senta à direita do apresentador, Darwin à esquerda.

Darwin – Senhor, eu queria aproveitar esta oportunidade para dizer que, em momento algum a minha teoria negou a sua existência, ou desrespeitou o seu poder. Eu vivi e morri como um cristão. Só não podia esconder minha descoberta.

Deus – Eu sei, meu filho, eu sei. E você estava certo.

Darwin (surpreso) – Eu estava certo?!

Deus – Estava. Aquela história que eu criei o homem do barro, à minha imagem, e depois fiz a mulher da sua costela... Tudo literatura. Licença poética. O homem descende do macaco. Eu quis que fosse assim. E quis que você descobrisse. A sua obra é a maior prova de que eu (aliás, Eu) existo. E mando. Num mundo regido pelo acaso você dificilmente chegaria aonde chegou.

Apresentador – Então o senhor acredita num...

Deus – Evolucionismo dirigido. Um pouco como o capitalismo na China.

Darwin – Mas então por que tanta gente resiste à ideia de que o homem descende do macaco e não foi criado por Deus à sua imagem?

Deus – Ah, meu filho. A vaidade humana nem Eu controlo.

RUTH DE AQUINO - Os maiores medos das mães

A mãe, onipotente, acredita ser a pessoa mais essencial 
para tornar seus filhos felizes
 
Não importa a classe social. Não importa a idade. Ou o endereço e a profissão. Não importa se é casada ou solteira. O maior medo da mãe é que seu filho ou sua filha não seja feliz. Por mais impalpável que seja esse medo, por mais subjetivo que seja o conceito de felicidade, a mãe, em sua onipotência, acredita ser a pessoa mais essencial para fazer de seu filho ou de sua filha um adulto feliz.

Um dos medos comuns é não ser uma boa mãe – e esse adjetivo tem dezenas de significados. O que é ser boa mãe? Ela costuma ter obsessão em manter o filho e a filha alimentados, agasalhados e saudáveis, qualquer que seja a idade, como se isso os livrasse de todas as maldades do mundo. Tantas mulheres se culpam pelas desventuras dos filhos. Onde foi que errei? É uma culpa inútil, não leva a nada. Uma culpa perigosa, porque retira dos filhos a responsabilidade por seus caminhos e os infantiliza. 
 
Existe hoje, nas famílias, um medo mais concreto, quase tão paralisante quanto um pesadelo. É um medo maior que o filho ficar sem emprego ou ser assaltado. As mães receiam que os filhos se viciem em drogas, percam a saúde e o rumo. 

Esse sentimento foi detectado por uma pesquisa publicada pelo jornal Folha de S.Paulo. As drogas sempre existiram, mas, hoje, elas atemorizam 45% dos paulistanos. É muito. Fácil entender. Drogas são hoje mais letais e disseminadas. O crack e seus efeitos devastadores estão expostos nas esquinas, nos parques, na mídia. E desafiam governos, que parecem perdidos e impotentes. Não há campanhas maciças nas escolas nem conversas suficientes em casa sobre os perigos, que podem ser irreversíveis. Vejo, desolada, o choro de mães, amigas ou não, cujos filhos estão internados por cocaína. Eles entram, saem, entram de novo – a luta pela reabilitação é eterna.

Na semana passada, um atleta promissor do Fluminense, Michael, de apenas 20 anos, foi suspenso por uso de cocaína. Com os olhos marejados, Michael admitiu precisar de tratamento. Pode ficar até dois anos fora dos gramados. O problema não é o período de punição imposto a ele, mas sua chance real de se livrar do vício e de não desperdiçar seu talento e sua vida.

Adianta conversar com os filhos? Adianta. Desde cedo. Mas o amor e o rigor maternos não são suficientes. Sempre defendi que escolas levem turmas de adolescentes a presídios e clínicas para escutar depoimentos de quem se deixou destruir pelas drogas. O rito da iniciação continua o mesmo, lúdico e prazeroso, como se não houvesse amanhã. Antigamente, estudantes fumavam cigarro de tabaco no banheiro da escola para transgredir e se sentir parte da turma. O mesmo acontece hoje com drogas mais letais. 
 
Há ainda um medo específico, de mãe para filha. Apesar de toda a luta pela igualdade e contra a discriminação de gêneros, um temor persiste com a filha menina: a violência sexual, o estupro. Tive somente filhos homens. Não conheço, portanto, o medo materno de que uma filha seja vítima de abusos. Estupro é um dos crimes mais covardes e nojentos da espécie humana. E atinge incomparavelmente mais meninas e mulheres do que meninos e homens.
Não há fronteiras para essa barbárie. Na semana passada, um menor armado com revólver estuprou uma jovem mulher de 30 anos num micro-ônibus no Rio de Janeiro em plena luz da tarde. Um pastor, Marcos Pereira, foi preso, acusado de ter violentado dezenas de mulheres, várias delas menores. A Escola Britânica do tradicional bairro da Urca, no Rio, prendeu em flagrante um faxineiro que filmava alunas adolescentes com um celular escondido no banheiro. 
 
Em Cleveland, nos Estados Unidos, foi preso um ex-motorista de ônibus escolar, o porto-riquenho Ariel Castro, de 52 anos, que estuprava e mantinha em cativeiro três jovens, raptadas por ele entre 2002 e 2004. No Brasil e no mundo, meninas e mulheres estão sendo estupradas neste exato instante, por pais, parentes, ex-maridos e ex-namorados, vizinhos, conhecidos e desconhecidos.

A mãe do menor que estuprou a passageira do ônibus, uma mulher de 45 anos que vive numa favela carioca, entregou o filho à polícia e disse: “Criei ele com tanto carinho. Nunca imaginei que fosse capaz de cometer um crime desses”. A mãe do algoz sequestrador nos Estados Unidos, Lílian Rodriguez, disse, chorando: “Sou uma mãe com dor. Peço desculpas pelo que meu filho fez. Peço perdão a essas mães – e que as meninas me perdoem. Tenho um filho doente que cometeu um crime terrível”.

É duro para as mães. Depois de engravidar, parir, amamentar, embalar, passar noites em claro, criar, educar, desdobrar-se em trabalho dentro e fora de casa, elas só querem que seus filhos e filhas sejam felizes.

CRISTIANE SEGATTO - O abraço e a flor

Saí hoje cedo para caminhar com o objetivo de sempre: mexer o corpo, chacoalhar as ideias e ver a vida como ela é. A colheita não poderia ter sido melhor. Assim que dobrei a esquina, consegui minha dose diária de surpresa boa – tão necessária para mim quanto o sol.

Meninas de 20 e poucos anos exibiam um cartaz que anunciava abraços grátis. Achei que fosse mais uma ação promocional das construtoras de apartamento que, nos últimos meses, passaram a perturbar os moradores na porta de todas as padarias da região.

Estava pronta para repetir o meu clássico “Não estou 
comprando nada. Só pão”, quando uma das garotas se aproximou. Meus braços foram mais rápidos que o raciocínio. Aceitei o abraço, retribuí, me emocionei. Talvez elas não tenham percebido (eu estava de óculos escuros), mas acho que meu corpo falou por mim.

Essa sou eu. As meninas são estudantes de enfermagem do Centro Universitário São Camilo. Nosso encontro melhorou meu dia.

A ideia de oferecer abraços em locais públicos se espalhou pelas cidades brasileiras nos últimos anos. São iniciativas inspiradas na campanha Free Hugs, criada em 2008 por um australiano. Os propósitos são variáveis. 

Algumas ações são nobres e humanitárias. Outras não passam de estratégias comerciais para promover sites, empresas ou palestras de autoajuda.

No caso da enfermagem e da psicologia, a justificativa é a melhoria da qualidade de vida. Estudos demonstram que abraçar reduz os níveis de cortisol e norepinefrina, hormônios relacionados ao estresse crônico e à ocorrência de doenças cardíacas.
O abraço também aumenta a produção de dopamina e serotonina (hormônios do prazer) e de oxitocina (o hormônio do afeto). Quanto mais oxitocina o cérebro libera, mais a pessoa quer ser tocada e menos estressada ela fica. É um círculo virtuoso: quanto mais abraçada ela é, mais ela deseja ser abraçada.

Um estudo realizado no ano passado pela Universidade Médica de Viena demonstrou que o abraço pode mesmo reduzir o stress, o medo e a ansiedade. A oxitocina liberada contribui para a redução da pressão arterial, aumenta o bem-estar e favorece o desempenho da memória.

No entanto, o neurofisiologista Jürgen Sandkühler, autor do trabalho, questiona o valor dos abraços recebidos de pessoas estranhas. A oxitocina é o hormônio produzido pela glândula pituitária, conhecido por favorecer o estabelecimento de laços afetivos entre pais e filhos e entre os casais.
“O efeito do abraço sobre a produção de oxitocina só ocorre quando existe confiança mútua”, diz. “Se o abraço não é desejado pelas duas pessoas, o efeito positivo se perde”, diz.

Em resumo: as pessoas precisam estar na mesma sintonia. Acredito que isso seja perfeitamente possível entre estranhos. Não sei se o nível dos meus hormônios aumentou, mas a iniciativa das estudantes de enfermagem alegrou meu dia. Espero que elas não percam a ternura quando a realidade da profissão se apresentar.

Como essas meninas, acredito que o bem-estar pode ser contagiante. Ao final de nosso breve encontro, uma delas me ofereceu uma flor feita com capricho e papel crepom.

Resolvi testar o poder da flor. Durante uma hora caminharia com ela na mão e observaria a reação de quem cruzasse meu caminho. Será que alguém notaria alguma coisa fora do script? Será que um sorrisinho escaparia dos lábios?

Na fila para pagar o cafezinho, notei a primeira demonstração de boa vontade. A flor escapou enquanto eu abria a carteira. Com a expressão tensa, o gerente correu para avisar: “Moça, alguma coisa caiu”. Abaixei para pegá-la e respondi: “Foi a flor”.

Ele abriu um sorriso raro, sem nenhuma ruga na testa.

Segui meu caminho, em busca da dose diária de sol recomendada pelo médico e da vida que não está em nenhuma ferramenta de busca. Uma moça aflita olhou a flor e teve coragem de se aproximar.

“Por favor, estou numa emergência. Você pode me ajudar?” Quando perguntei qual era o problema, ela virou de costas e levantou a blusa. O fecho da roupa, na parte das costas, havia arrebentado. Restavam duas metades de tecido. A garota tinha uma entrevista de emprego num restaurante a poucos passos dali. Estava apavorada.

Para surpresa dos pedestres, parei na calçada para amarrar as duas partes da blusa de uma desconhecida. Tentei dar o melhor nó possível. Com uma jaquetinha jeans, ela cobriu o estrago. Depois agradeceu por eu ter aparecido na hora certa, no lugar certo. A flor não saíra da minha mão direita.

Três quadras depois, ela escapou, levada por uma ventania. Na tentativa de recuperá-la, cruzei a frente de cinco policiais. Com passos sincronizados e olhos bem abertos, eles registraram o único sinal aparente de desordem civil. A mulher que corria atrás da flor de papel crepom. Renderia uma foto de primeira página, mas acho que ninguém viu.

Voltei para casa com uma supersafra de gentilezas. Nunca ouvi, numa única manhã, tanta gente me desejando bom dia, tanto motorista me dando passagem, tanta conversa, tanto olho no olho, tanto sorriso. O tênis, a roupa, o percurso eram os mesmos. O que mudou foi o abraço e a flor.

Só um pedestre não viu nada. Bateu o portão de um prédio com fones enterrados no ouvido, óculos bem escuros, mochila estufada, ombros curvados para frente – aquele visual e aquele comportamento que são a marca do nosso tempo. Não do meu tempo, mas o de muita gente. Quase me atropelou, mas não notou minha presença. Muito menos a da flor.

THALITA REBOUÇAS - A cigana (não) leu o meu destino

Lá pelos meus 19, 20 anos, eu era louca para saber detalhes do meu futuro. E fazia de tudo para isso. Bola de cristal, jogo de búzios, cartomante. E astrólogo, tarólogo, numerólogo. O tempo passou, as previsões não aconteceram e jurei para mim mesma que nunca mais iria a um adivinho.

Nunca mais durou até o mês passado, quando me rendi à curiosidade depois de ouvir maravilhas sobre uma tal cigana do Humaitá. Cigana para os não-iniciados — ela realmente não gosta de ser chamada assim. Prefere se apresentar como quiromante. Quis saber a diferença, já que ambos fazem a leitura da mão.

- Cigana é cigana, quiromante é quiromante – tentou explicar, no dia que fui ao seu…vamos chamar de… escritório.

Tenho um estilo que flerta com uma espécie de patricice despretensiosa e uma peruice comedida (se é que existe uma perua comedida. Existe. Eu sou assim às vezes. Sou sim, pronto, falei). Também ataco de periguete elegante (sim, isso também existe) em alguns momentos, com shortinho, blusinha larga e sapatilha. No dia da… hum… consulta,  resolvi me vestir como jamais me vestiria. A intenção era que a leitora de mãos não “lesse” minha personalidade através da minha aparência.

Peguei emprestado de uma amiga um brincão desses de feirinha, arrumei uma sandália de dedos de couro com outra, comprei uma bolsa de franjas bem baratinha, vesti uma saia comprida vagabunda, combinei com uma blusa tie-dye e, com o cabelo desgrenhado, óculos escuros redondos e zero maquiagem, parti rumo ao futuro.

- Juraly vê paz – foi a primeira coisa que ela disse ao olhar para a minha mão. – Você tem muita paz, sabe?

- Sei. Eu sou a paz – reagi, tentando ser engraçadinha. –  Mas quem é Juraly? Uma entidade que está perto de você dizendo coisas sobre mim?

- Juraly não trabalha com entidades. Juraly não é macumbeira. Juraly não terceiriza. Juraly sou eu. E você não é a paz, você tem paz. É diferente, sabe?

Uia! Juraly falava na terceira pessoa. E Thalita se irrita profundamente com quem fala na terceira pessoa.

- Paz é Buda, cachoeira, hare-krishna, terra batida, biscoito recheado, sabe?

- S-sei…

- Peixe.

- Hum… Elefante!

Tentei, embarcando no que achei que era um jogo de adivinhação de animais.

- Não, menina! Juraly vê peixe! Peixe!

- Onde?

- Na sua mão!

- Por quê? Nem tenho peixe! Não gosto de bicho preso.

- Não tem peixe mas mora perto de onde tem, sabe?

Que frase ridícula. Estávamos na Zona Sul do Rio, de onde provavelmente vinha a maior parte de sua clientela. E Zona Sul é perto do mar. E mar tem peixe. Mas tudo bem. Ela seguiu em frente.

- Tenho certeza de que sua casa tem peixe perto. E peixe é bom, peixe é sorte, sabe? Você é uma pessoa de sorte, sabe? A sorte te acompanha sempre, sabe?

Ah, era isso que ela estava tentando me dizer, sabe?  Resolvi dar corda.

- Falando em peixe, queria saber da minha tartaruguinha, a Telúrica… Ando preocupada com ela.

- Fique tranquila. A tartaruga não vai morrer. É só uma doença passageira.

A única tartaruguinha que tive morreu há muito tempo. E por minha culpa. Eu mesma assassinei a coitada quando tinha uns oito anos. E se chamava Adamastor, não Telúrica. Joguei a pobrezinha do décimo andar na esperança de, como nos desenhos animados, sair correndo pelas escadas e resgatá-la antes de ela se esborrachar no chão. Fui impedida pelos meus avós de sair do apartamento. Ela morreu atrapalhando o tráfego e eu chorei por dias. Depois ganhei um pinto. Que também morreu. Eu não matei. A minha avó matou. Mas essa é outra história.

- Sua relação com bichos é muito bonita.

- Eu não tenho nenhuma relação com bichos.

- Tem sim. Tanto que sua beleza lembra a de um bicho.

- Que bicho? – perguntei, entre curiosa e irritada.

- Uma rã. Juraly está aqui olhando pra você e pensando: rã.

Tá de saca, né?, eu quis dizer. Não disse.

- Juraly está vendo você num sítio lotado de crianças. Você trabalha em uma creche?

- Não. Trabalho sozinha, mas para adolescentes – respondi, dando uma chance a ela.

- Então vai trabalhar cercada de crianças num lugar verde e distante de tudo. Seu futuro é esse.

- Creche? Crianças? Sítio? Não! E meus adolescentes? O meu trabalho com eles?

- Esquece. Não vai te levar a lugar nenhum, sabe?

Fiquei quieta. E muito injuriada  por saber que aquelazinha ia levar meu dinheiro sem merecimento nenhum.

- Palhaço – disse Juraly, séria.

- Circo?

- Pa-lha-ço!

- Meu Deus, como você é enigmática!

- O seu próximo namorado vai ser um palhaço. Não vai durar mais que cinco semanas, sabe?

- Um palhaço de verdade, um sujeito engraçado ou um mané?

- Um mané – ela optou, afinal a probabilidade era muito maior.

- Eu sou casada – contei, vitoriosa ao ver que ela caiu no golpe da mão sem aliança.

- Por enquanto – escapou. – O palhaço vai tentar te tirar do seu marido, tá muito claro aqui, sabe?

Sei, sei, sua espertinha…

- O seu casamento não está bem, sabe?

- Não está bem, está ótimo.

- Recém-casada acha sempre isso.

- Sou casada há 15 anos.

- No coração, não na mente. Na mente, você está com ele há 179 dias. O seu príncipe vai aparecer. Dono de restaurante natural em Sana.

Olha a cigana lendo minha roupa!

- Você está vendo tudo isso na minha mão?! – questionei, espantada com tamanha cara de pau.

- Juraly tá sentindo, sabe? Juraly lê mão e sente energias. Você tem muitas energias.

Energias? No plural? Ah, para, vai!

- Juraly vê uma viagem.

Até que enfim! Um adivinho que não fala em viagem não merece o título de adivinho.

- Não vou viajar tão cedo.

- Vai sim! Viagem longa. Índia. Autoconhecimento. Vaca.

- Xingamento também não! Vaca é a…

- Vaca é um animal sagrado na Índia. Vaca, paz, luz, curry. Juraly vê tudo isso na viagem. Xiii…

- O que foi? Vou passar mal com tanto curry? – perguntei, debochada.

- Não. As energias pararam de fluir. A vela até apagou, ó!

- Foi o vento.

- Vento nada. Foi o seu ceticismo. Se não acredita em quiromancia por que vem na quiromante?

- Porque ouvi falar bem de você.

- Claro, Juraly é ótima. Mas vamos terminar por aqui.

- Mas disseram que você fica pelo menos uma hora com cada pessoa. Não estou nem há 15 minutos aqui – estrilei.

Ela deu de ombros.

- Juraly vai me dar um desconto, então, né? – arrisquei.

- Juraly não trabalha com descontos.

- Ah, claro. Esse futuro eu já estava prevendo.

- Juraly vai te dar uma chance: se você arrumar três amigos pra Juraly, Juraly te atende de graça da próxima vez.

- Juraly acha mesmo que vai ter uma próxima vez?

- Juraly tem certeza.

- Quer saber? Juraly não entende nada de futuro. Nada!

Quando entrei no carro nem precisei de adivinhos. Sabia o que viria pela frente: um engarrafamento gigante até a Barra e a certeza de que eu não iria a ciganas e afins nunca mais. Nunca mais mesmo.

Ou pelo menos até alguma amiga me contar que foi a um vidente fe-no-me-nal.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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