Dizem que a primeira versão desta fábula é de Demétrios de Phalerum e que Esopo (Grécia), Fedro (Roma), La Fontaine (França) e até Monteiro Lobato (Brasil) apenas a reescreveram. Se abrirmos os jornais essa fábula continua atual. Narro a versão divulgada por La Fontaine e dou minha feroz e mansa contribuição a esse fabulário.
Versão clássica
Dizem que um cordeiro pôs-se a beber num regato de águas limpas. Apareceu por ali um lobo, que parecia estar faminto e, em vez de beber água, foi logo dizendo ao cordeiro:
– Como ousas te meter nessa água que é minha? Vou te castigar por isso.
O cordeiro, respeitosamente chamando o outro de vossa majestade, pediu que o lobo não se irritasse, pois, afinal, o lobo é que estava na parte de cima do riacho, o cordeiro, mais abaixo, e não poderia turvar a água.
O lobo ficou ainda mais furioso e alegou que, além do mais, o cordeiro andava falando mal dele há um ano.
– Como? disse o cordeiro surpreso, se há um ano eu nem havia nascido.
– Ah, então foi seu irmão.
– Mas eu não tenho irmão…
– Então foi algum dos seus, o pastor, os cães e, de qualquer forma, eu vou me vingar.
E assim dizendo, deu um bote no cordeiro, carregou-o para o fundo da floresta e o devorou.
Segunda versão
Um cordeiro estava bebendo água, porém na parte alta de num riacho, quando, de repente , mais abaixo, apareceu um lobo, que começou também a beber da mesma água.
O lobo virou-se para o cordeiro e disse:
– Você está emporcalhando a água que estou bebendo.
– Mas eu cheguei aqui primeiro, disse o cordeiro, você é que se meteu aí embaixo.
– Vocês cordeiros não aprendem nunca. Já tive que comer seu pai e sua mãe por causa disso, no ano passado.
– Por que você não bebe a sua água e me deixa beber a minha em paz?, disse o cordeiro.
– É, vocês cordeiros não leem as fábulas antigas, não estudam história.
E assim dizendo, deu um bote, arrastou o cordeiro para o fundo da floresta e o devorou.
Terceira versão
Um lobo chegou à beira de um riacho, instalou-se na parte de cima e começou a beber água, pois estava meio cansado.
Mal começou a beber, notou que outro lobo se aproximava, instalando-se na parte de baixo do riacho, onde começou a beber água.
Iam bebendo, cada um do seu jeito. A água corria, matava-lhes a sede e era abundante.
Mas o lobo que estava abaixo começou a achar que o lobo que estava acima estava sujando sua água.
Incomodado, o lobo olhou o outro:
– Você bem que podia ir beber longe daqui, meu velho, porque esse riacho é meu.
– Sem essa, “ brother,” vê como fala, porque não sou nenhum cordeiro.
E a conversa foi ficando tensa, cada vez mais agressiva, até que os dois se atacaram e se estraçalharam mortalmente. (ARS)
Quarta versão
Um cordeiro chegou à beira de um riacho, instalou-se na parte de baixo começou a beber água.
Estava ali tranquilo quando, na parte de cima do mesmo riacho, surgiu um outro cordeiro que começou a beber da mesma água.
Não se sabe quem começou a implicar com quem. Ambos se achavam com direito à água. Não teve jeito, atracaram-se e se feriram mortalmente.
E ambos eram cordeiros.