FLÁVIO CORDEIRO - À sombra do herói

Na minha época de adolescente, eu adorava escutar “Química” da Legião Urbana. Os versos diziam que passar no vestibular era a senha para se tornar “responsável, cristão convicto, cidadão modelo e burguês padrão”. De fato, passamos boa parte da vida sendo estimulados a “passar no vestibular” – real e metaforicamente. A seguir modelos e padrões.

O mundo dos heróis é repleto dessas “forminhas”. Heróis são os superstars de nossa sociedade: eles compensam nossas fraquezas, nossas inapetências, nosso egoísmo e nossa pequenez. Como se sabe, heróis não são criaturas humanas, são semi-deuses: filhos de divindades com mortais. Teríamos então todo o direito de nos sentir um pouco intimidados diante de tanta perfeição.

Diante de um herói, como admitir que não sacamos nada de física, literatura ou gramática?

Como não lembrar do herói e corredor sul africano Oscar Pistorius, que assassinou a namorada e alegou tê-la confundido com um ladrão? Ou Lance Amstrong, o tantas vezes vencedor do Tour de France e campeão na luta contra o câncer, desmascarado recentemente por uso e distribuição de doping? Ou da lenda do esporte americano O.J Simpson, absolvido do assassinato da mulher por uma tecnicalidade jurídica? Como não lembrar do campeão da moralidade na política, que perdeu o mandato após a revelação de relações criminosas com o jogo do Bicho? Como não desconfiar de que na circunferência os extremos se aproximam?

Desconfio, estimulado por Heráclito, de todo homem-santo, de todo “herói semideus”, de todo dono da verdade, de todo cidadão-modelo e burguês padrão; desconfio de casamentos sem rusgas, de gente que não envelhece nunca, de namorados e namoradas ideais.

Precisaremos de heróis e semideuses enquanto julgarmos que a tarefa de viver é superior à nossa capacidade aguentar a vida como ela é. Mas o único ato heroico, a única aventura, é viver a nossa jornada pessoal, passando ou não no vestibular, caindo, levantando, ajudando e sendo ajudado a levantar. E então, aos poucos, quem sabe, seremos capazes de criar as nossas próprias “forminhas” – adequadas aos nossos sonhos e às nossas aspirações. 

Nietzsche usava uma expressão para se referir ao amor incondicional à vida do jeito que ela nos é dada: o amor fati – o amor incondicional às coisas como elas são e não como idealmente “deveriam” ser.

Então, meus amigos e amigas, desejo a todos muito amor fati! E cuidado com os “heróis-demais” !

JULIANA DORETTO - “Você não terá carreira”

Você tem de entender que, para uma mulher nas suas condições, é muito difícil ter uma carreira. Você tem de fazer da profissão dele uma parceria, uma empreitada a dois, e contentar-se com o estilo de vida que a carreira dele pode lhe proporcionar.” Ouvi essa frase de um chefe do meu então companheiro, cujo trabalho exigia temporadas longas no exterior. Ainda que eu tenha argumentado que a internet hoje possibilite novas relações de trabalho; que minha profissão seja versátil e flexível; e que minhas intenções de seguir carreira acadêmica sejam mais um campo a explorar, nada pareceu convencer aquele senhor de que eu poderia ter algum sucesso profissional, a não ser se eu me atrelasse à carreira de uma outra pessoa.

Pergunto-me se ele diria o mesmo se eu fosse homem…

Fui acusada de ser inferior a um parceiro por não ter a mesma carreira que ele; fui ignorada por colegas de trabalho dele por não ser do mesmo grupo profissional; fui inúmeras vezes questionada: “Mas por que você não quer fazer o que ele faz? Você iria ganhar muito mais”. A resposta “Não é minha vocação” não pareceu convencer meus interlocutores.

Cansei de dizer que não, ainda não terminei aquele “curso”: desisti de explicar que uma pesquisa de doutorado leva quatro anos e que não faço isso para “me ocupar”, mas que se trata do meu plano de vida. Nunca vi homens que estavam em condição semelhante à minha passarem pelo mesmo que eu.

Agradeço aos meus pais por terem me possibilitado escolher a profissão que quis e por terem me deixado sair de casa, antes de completar 18 anos, para estudar na capital paulista – do mesmo modo como fizeram com meu irmão mais velho. Lembro-me de que alguns diziam a eles: “Mas vocês vão deixar uma menina ficar sozinha em São Paulo?” ou ainda “Por que vocês não a convencem a fazer medicina? Vai ganhar muito mais dinheiro”.

E quando, já formada, decidi pedir demissão e abrir uma empresa, para trabalhar como profissional “freelancer” e poder me dedicar mais ao meu mestrado, meu pai não soltou “Você é louca”, mas aceitou ser meu sócio e me indicou um contador.

Nesse caso, tenho certeza de que eles fariam o mesmo se fosse meu irmão que tivesse lhes dito isso.

Em 1950, minha avó se casou aos 28 anos e ainda me dizia que poderia ter esperado mais — apesar dos comentários de que ela já estava velha demais. Nos anos 70, minha mãe tirou a carteira de motorista escondida de meu avô, porque ele não queria ver a filha dirigindo. Pagou o curso e as taxas com o dinheiro de seu trabalho. Não serei eu, nos anos 2000, a quebrar a tradição de família. Sinto muito, mas não aceito que me digam o que posso ou não fazer. Não aceito que me achem inferior a quem quer que seja – muito menos por não ter o mesmo gênero, ou o mesmo salário, ou pior, o mesmo “status”.

Não aceito que me considerem um enfeite, acompanhando – de preferência, bem trajada e maquiada – o sucesso de alguém. Sinto muito, mas eu terei uma carreira, sim. Aliás, já tenho.

MEMÓRIAS DE INFÂNCIA. VOCÊ TEM? - Isabel Clemente

Acordei num quarto de hotel que não era o nosso. Achei que estava sozinha, por uns instantes, até minha madrinha aparecer. Meus pais e irmãos tinham saído para um passeio. Fiquei. Quando descobri, chorei. Estávamos em Barbacena (MG). 1978.

O carrinho branco de bolas azuis descia sacolejando as escadas da varanda da casa. Alguém me levava para passear. Eu tinha dois? Três anos?
Meu corpinho magro e leve boiava na correnteza da piscina redonda armada no quintal de casa. As nuvens no céu passavam rápidas sobre mim – ou eu sob elas. Às vezes alguém parava na frente, e eu atropelava na inércia. Meus irmãos e minhas primas mais velhas faziam a água girar. Eu era café-com-leite e me deixava arrastar. Eu devia ter uns quatro anos.

Eu acordava animadíssima, antes do sol raiar. Estava escuro ainda lá fora quando meu pai começava a arrumar o bagageiro da Brasília azul com nossas malas. Mamãe fazia meu nescau e preparava o lanche para o longo caminho. A gente ia viajar, e antes de começar, o carro já tinha cheiro “de viagem”. Eu enjoava, e não entendia por que a estrada fazia tantas curvas até Lambari(MG). Eu era muito pequena.

Memórias de infância sempre me intrigaram. Eu queria lembrar mais, porém tenho que me contentar com cenas que aparecem na minha mente como flashes. Movida por minhas curiosidades, fiz algumas (poucas) pergundas ao psicanalista carioca Luiz Alberto Py. Ele me explicou que são muitos (e difusos) os fatores que farão com que a gente se lembre de algo, esqueça outros fatos, mas é certo que tudo, tudinho, ele afirma, vem à tona numa sessão de hipnose. Quer dizer, a gente até acha que nada ficou, mas está tudo lá, registrado no nosso inconsciente. Esse tema me fascina, só que não vai dar para esgotá-lo, nem começar a aprofundá-lo, neste post. Leia só algumas explicações.

Por que é tão difícil acessar esses registros? Qual a lembrança mais remota que se pode ter?
Varia muito. Tem gente com lembrança do berço ainda, mas a verdade é que a memória está lá, e é possível acessá-la em estado hipnótico. Vem tudo”, diz o psicanalista carioca Luiz Alberto Py.

É mais fácil ficar com o registro de momentos traumáticos?
Não, isso não é verdade. A memória é seletiva, mas não necessariamente para a dor”, diz Luiz Alberto Py.

De que forma o registro do que aconteceu na infância vai influenciar na relação com os pais?
“Vai influenciar em toda relação. Como psicanalista vejo que pessoas submetidas a determinadas situações das quais não lembram reagem em função daquilo que viveram. Por exemplo: há estudos comprovando que pessoas claustrofóbicas, a maioria delas, passaram por um parto demorado. Outras que passaram fome durante o aleitamento tendem à voracidade, a gula é algo arraigado demais. É a prova da permanência da memória, mesmo quando ela não é consciente”, diz Py.

Eu me pergunto muito sobre o que restará na memória das minhas pequenas filhas sobre esse tempo de intensa dedicação. Das gargalhadas ou das broncas? 

Das ausências ou da presença até em noites em claro? Dos castelos que construímos e desmontamos a oito mãos ou daquela vez em que a gente viajou e deixou as duas sob cuidados da avó? (ó culpa, culpa…) Do que, afinal, elas se lembrarão?

A memória é curiosa, construída pelo que nos contam e pelo que carregamos. Chega uma hora que tudo se mistura. Por isso, eu posso até nunca saber que episódios a consciência das minhas filhas escolherá para reter, nem por que motivos, mas uma certeza eu tenho. 

Minhas filhas e quase todas as crianças que conhecemos são parte de uma geração privilegiada em registros da própria história.

Blogs, fotos digitais, câmeras no celular…nunca foi tão fácil registrar detalhes do presente. O registro é uma vantagem valiosa na construção de uma memória. 

Municiados de arquivos variados de si mesmos, eles terão à disposição um imenso acervo da vida que passou, sob a perspectiva de pais, tios, avós, primos e amigos. E se desconfiarem da fonte, poderão até confrontar pontos de vista diferentes de um mesmo acontecimento.

O passado dessas crianças será um gigantesco e singular quebra-cabeças que, mesmo sem determinadas peças, oferecerá uma rica paisagem delas mesmas.

Enfim, o que me consola é que elas poderão até não lembrar de muita coisa, mas certamente saberão mais da própria história.

Carol saberá que, com 1 ano e 3 meses, ela pedia pra “zenhar” (desenhar) e adorava cantar. Saberá também que chorava desconsolada quando a irmã ia para a escola, mas não abria o mesmo berreiro se fosse ela a deixar a casa para trás. Saberá que o pai entrou inúmeras vezes em seu quarto só para observá-la dormir e que a gente se divertia pra valer com suas pequenas descobertas.

Letícia saberá que o pai retornou voando e antecipadamente de uma viagem a Belém só para vê-la dançar balé. Saberá também que, aos dois anos, ela tinha um rico vocabulário na língua do T.

Reclamava de ficar só no “tarto” (quarto), ficava feliz de chegar em “tasa” e nos convidada sempre a brincar “tomigo”. E saberá também que, num belo dia, ao ser questionada se era mesmo linda, respondeu negativamente com a cabeça e explicou por quê:
- Sô totosa.

E você, lembra de quê?

*essa cena impagável foi registrada por um celular. Não tô dizendo?

QUANTAS HORAS DE SONO VOCÊ REALMENTE PRECISA? - Alessandra Nogueira

Muitas perguntas já foram formuladas sobre o sono: Porque precisamos dormir? Porque pode ser difícil dormir? Como o sono afeta nossos ganhos e nosso desempenho atlético? Mas uma pesquisa procurou a resposta para a pergunta mais importante de todas sobre o sono.

Em 2002 Daniel Kripke comparou as taxas de óbitos entre um milhão de adultos dos EUA que, como parte de um estudo sobre prevenção do câncer, reportaram sua média de sono durante a noite. Para muitos estes resultados foram surpreendentes, mas eles foram corroborados por estudos similares na Europa e na Ásia.

Qual a quantidade ideal de sono?
Estudos mostram que pessoas que dormem entre 6,5 e 7,5 horas por noite, como elas mesmas reportaram, vivem mais tempo. E as pessoas que dormem 8 horas ou mais, ou menos de 6,5 horas, não vivem tanto tempo quanto aquelas. Há tanto risco associado com o fato de dormir pouco quando ao fato de dormir muito. A grande surpresa está no fato de que os sonos mais longos começam com 8 horas e dormir 8,5 horas pode ser um pouco pior do que dormir apenas 5 horas.

O fato de dormir muito ou pouco está associado a muitas doenças (depressão, obesidade, etc.) e, conseqüentemente, com doenças cardíacas. Mas a quantidade ideal de sono muda para diferentes medidas de saúde. O pior está entre as 7 ou 8 horas, mas há desvantagens também com 6 e até 9 horas. Daniel pensa que para diabéticos é melhor dormir 7 horas. Mas estas medidas não estão tão claras quanto os dados de mortalidade.

Daniel disse que podemos especular sobre o porquê as pessoas que dormem entre 6,5 e 7,5 horas vivem mais tempo, mas nós temos que admitir que nós não entendemos muito bem as razões. Não sabemos ainda o que é causa e o que é efeito. Portanto não sabemos que uma pessoa que dorme pouco poderia viver mais ao estender o seu sono e não sabemos se alguém que dorme muito poderia viver mais ao colocar o despertador para tocar um pouco mais cedo. Esperamos organizar testes para estas questões.

Uma das razões pelas quais gosta de divulgar estes fatos, disse Daniel, é porque pensa que nós podemos prevenir muito a insônia e o sofrimento dizendo que não tem problema em dormir pouco. Nós sempre ouvimos que devemos dormir 8 horas, mas nunca houve evidência que apóie esta afirmação.

Não consegue dormir? Largue a cama
Daniel também disse que um problema muito comum visto nas clínicas que lidam com o sono está ligado a pessoas que passam muito tempo na cama, resultando em que tenham dificuldade em cair no sono e acordando muito durante a noite. É estranho, mas grande parte do problema de insônia está ligado ao fato de se ficar deitado na cama acordado, se preocupando com isso.
Já houve muitos estudos controlados pelo mundo que mostram que um tratamento de insônia que envolva sair da cama quando você não está com sono e restringindo o seu tempo na cama, ajuda as pessoas a dormir melhor. Eles perdem o medo da cama. Eles superam a preocupação e ficam mais confiantes de que quando forem para a cama, irão dormir. Portanto passar menos tempo na cama os ajuda, em realidade, a dormir melhor. É um tratamento muito mais efetivo e de longo termo para a insônia do que soníferos.

FERREIRA GULLAR - Um novo Carnaval

Hoje, ninguém sabe de cor os sambas das escolas, 
que antigamente eram cantados por todos

Fernando Pamplona revolucionou o Carnaval carioca, mas, antes dele, eu já assistia ao desfile das escolas de samba. É que me casara com uma moça da Tijuca, Thereza Aragão, que amava o Carnaval e a música popular. Ela seria, anos mais tarde, responsável, com suas segundas-feiras de samba, no Teatro Opinião, em Copacabana, por levar o samba de subúrbio para a zona sul do Rio.

Naqueles anos, o desfile era na avenida Presidente Vargas, no trecho próximo à Candelária, e não havia nem passarela nem arquibancada. A gente assistia ao desfile inteiro, em pé, nas calçadas. Depois, o desfile foi transferido para a avenida Rio Branco, o que melhorou para nós que passamos a assisti-lo das janelas da Redação do "Jornal do Brasil", onde eu trabalhava.

Foi quando Pamplona surgiu, emprestando ao Salgueiro uma concepção nova do desfile carnavalesco, não só plasticamente, mas também tematicamente. Aí ele nos ganhou. Thereza, eu, Vianinha e a turma inteira do grupo Opinião nos tornamos frequentadoras do desfile e dos ensaios do Salgueiro.

As alegorias e fantasias das escolas de samba, até então, tinham gosto acadêmico, mesmo porque seus autores eram gente da Escola Nacional de Belas Artes e o pessoal mais conservador, para quem vestir-se de princesa é que era beleza.

Deve-se reconhecer, também, que fantasiar-se de nobre correspondia à aspiração dos sambistas, que viam a nobreza como um sonho inalcançável, a não ser no Carnaval. Fantasiar-se de conde era tornar-se conde por algumas horas.

Pamplona rompeu com isso, não só acabou com as fantasias de príncipes e princesas, como pôs como enredo a história do negro, descendente de escravos. Foi o caso do enredo "Quilombo dos Palmares", que assinalou mais uma vitória do carnavalesco inovador.

Se do ponto de vista do enredo, como se viu, Pamplona rompeu com a tradição, creio que foi no plano visual que seu ímpeto inovador foi mais determinante. Lembro-me do entusiasmo de que fomos tomados ao ver as alas do Salgueiro vestidas com fantasias de grande beleza e despojamento.

Foi a visão moderna das artes plásticas --particularmente a tendência abstrata geométrica-- que inspirou Pamplona e sua equipe. Mais que os adereços e enfeites, o que encantava era a beleza do vermelho e do branco, explorados em sua simpleza e plenitude. E mais o contraste com a pele negra dos passistas e das passistas, revoando no asfalto. Ver aquelas alas desfilando foi uma experiência inesquecível.

E, como tinha que ser, a nova concepção do desfile carnavalesco conquistou outras escolas. Nem todas com a mesma facilidade, especialmente aquelas mais antigas e de mais arraigadas tradições. A Mangueira, por exemplo, resistiu à inovação, até onde pôde e, de qualquer modo, jamais se deixou subverter pela revolução salgueirense.

Mas essa revolução não se limitou ao âmbito das escolas e dos desfiles. Fascinou uma nova geração de artistas e intelectuais da zona sul do Rio, que passaram a frequentar não só os desfiles, como também os ensaios das escolas e até desfilar nelas. Era branco no samba? Era, mas com paixão.

Alguns anos depois, construiu-se a Passarela do Samba, mal apelidada de Sambódromo. As antigas arquibancadas de madeira e tubos de metal eram montadas para o desfile e desmontadas depois. A nova passarela, em concreto armado, é permanente, custou caro e fica grande parte do tempo sem utilidade.

O desfile, por sua vez, sofreu mudanças. Porque as escolas cresceram, foi necessário estabelecer um limite de tempo para cada uma desfilar, o que levou à aceleração do ritmo dos sambas-enredo, que viraram marchas.

Hoje, ninguém sabe de cor os sambas das escolas, que antigamente eram cantados por todos. O som dos alto-falantes estendidos por toda avenida torna inaudível o canto das alas, o que reduz a emoção e a participação do espectador. As escolas passaram a alugar fantasias para estrangeiros desfilarem, gente que não sabe cantar nem dançar o samba da escola.

Depois de tudo isso, Fernando Pamplona, que trazia o Carnaval no sangue, nunca mais foi assistir aos desfiles. Nem eu.

TONY BELLOTTO - Use sua desilusão

Acreditei que às vésperas de 2014 o Galeão seria um aeroporto moderno, e não um labirinto com canos e fios aparentes como o cenário de um filme de terror

O país do futuro

O Brasil é um país pródigo em desilusões. No entanto, nós, brasileiros, nunca somos vistos — nem por nós mesmos — como um povo desiludido. O que é uma pena. Temos a aprender com a desilusão.

Ilusão

Os Guns N’ Roses lançaram na década de 1990 dois discos de muito sucesso e inspiração chamados “Use your illusion I e II”. O título, “Use sua ilusão”, remete à ideia de que a ilusão — erro de percepção ou de entendimento; engano dos sentidos ou da mente; interpretação errônea — pode ser usada de forma criativa e construtiva, já que a percepção “errada” de um fato pode revelar novos e surpreendentes ângulos desse mesmo fato. Quando nos divertimos e nos emocionamos com filmes como “Toy story” ou com livros como “A metamorfose”, estamos usando nossa ilusão.

A semântica não mente

Paradoxalmente, a desilusão nunca é compreendida como o avesso da ilusão, ou seja, uma maneira correta de entendimento. Desilusão expressa sempre descrença e perda de esperança. E isso não é mera semântica. Resistimos a nos desiludir e, mesmo quando nos desiludimos, demoramos a admitir. Por que temos vergonha de aceitar que estamos desiludidos? Por que encaramos a desilusão como uma derrota?

Use sua desilusão

Em 1968 James Brown lançou uma música que fez muito sucesso no mundo todo. Sua estrofe principal, um grito de guerra que é também o refrão e o nome da canção, diz assim:

Say it loud

I’m black and I’m proud”

(“Diga com um grito

Sou preto e me orgulho disso”
(numa tradução livre e descuidada).

O funk exuberante do Rei do Soul exorta negros oprimidos à insubmissão e à valorização de seu orgulho próprio. Não à toa tornou-se uma espécie de hino informal do movimento Black Power. Inspirado por James Brown e Guns N’ Roses, orgulhoso de minha desilusão, lanço um outro grito de guerra, destinado aos desiludidos anônimos do Brasil: Use sua desilusão!

O caminho da ilusão leva ao palácio da desilusão

Faço uma breve lista de algumas de minhas recentes ilusões. Sou um daqueles ingênuos — se preferir chamar de otário fique à vontade — que acreditaram, entre outras coisas, que a realização da Copa do Mundo no Brasil e das Olimpíadas no Rio trariam investimentos para o país e para a cidade, e que eles seriam revertidos em melhorias nos transportes, aeroportos, hotéis e infraestrutura em geral.

1- Acreditei que às vésperas de 2014 o Galeão seria um aeroporto moderno, e não um labirinto com canos e fios aparentes como o cenário de um filme de terror de baixo orçamento.

2- Acreditei que em 2014 eu iria até São Paulo num trem-bala contemplando pela janela as comunidades pacificadas.

3- Acreditei que o Santos poderia até, quem sabe, empatar com o Barcelona.

4- Acreditei que o Supremo Tribunal Federal tinha mudado os paradigmas e dado uma lição de democracia ao condenar os mensaleiros e que no dia de hoje eles estariam lendo O GLOBO na cadeia e não comendo pizza na casa do… como é mesmo o nome dele?

5- Acreditei que os policiais das UPPs eram diferenciados e que o Amarildo não desapareceria.

6- Acreditei que as manifestações de junho tinham despertado o povo brasileiro e nos ejetado da letargia bovina em que chafurdamos há séculos.

7- Acreditei que os black blocs eram apenas um grupo de manifestantes mais exaltados e que, com a ajuda deles — que são muito mais eficientes em meter medo nos políticos do que os manifestantes pacíficos — caminharíamos juntos “hasta la victoria”.

8- Acreditei que depois da ditadura militar nunca mais eu veria policiais descendo o cacete em professores.

9- Acreditei, acreditei, acreditei.

Bananão

Ivan Lessa, o grande cronista desterrado, chamava o Brasil de Bananão. Embora seja possível denotar algum carinho na definição, o sarcasmo agudo do apelido é inegável. Bananão, além de lembrar que nunca deixamos realmente de ser uma república das bananas em escala continental, alude também à acepção de “banana” como o sujeito covarde e sem iniciativa, o popular bundão. Ivan Lessa foi um dos muitos brasileiros que optaram pelo autoexílio mesmo depois de restaurada a democracia no país. Num de seus textos, revela um dos motivos que o levaram a deixar o Brasil: “Achava que, de uma maneira ou de outra, estava embromando ou sendo embromado por alguém.”

Não é assim que todos nos sentimos por aqui?

FAXINA - Deise Cordeiro Candreva

Quer ver uma terapia que amo? Arrumar gavetas e armários, separando aquilo que ainda me serve, daquilo que ainda pode ser utilizado por alguém, trabalhando o desapego e jogando fora, principalmente aquelas notinhas que vamos pegando das compras realizadas. E como se junta papel!

Faço isso regularmente, mas não pensem que tenho TOC. Apenas gosto de viver em um local asseado. Só a sensação da casa ficando leve, com as gavetas e armários com tudo organizado, também vou organizando melhor a minha mente, traçando metas e objetivos a pequeno e médio prazo. 
Sim, porque traçar planos para um futuro distante... Para quê?

A vida é tão curta, que o melhor é viver, simplesmente. Assim, creio eu, é mais interessante e nossos atos tornam-se mais intensos. Hoje, diante dessa faxina, resolvi faxinar também alguns hábitos não saudáveis: Xô stress! Xô cigarro! Eu não te quero mais, nem eventualmente como vinha fazendo.

Mas, a cada dia um passo, sempre um de cada vez! Sem cobrança, sem sofrimento, porque, em tudo o que nos propusermos a fazer nesta vida, que seja em busca do nosso centro, da nossa consciência tranquila, da nossa felicidade, pois do contrário, torna-se sofrimento e pesar.

Agir em busca da nossa saúde, física, emocional, intelectual, sentimental e o que mais for, tem que ser leve, tem que valer a pena POR NÓS!

RUTH DE AQUINO - É proibido proibir

"Eu digo não ao não. Eu digo. É proibido proibir. 
É proibido proibir. É proibido proibir. É proibido proibir." 

As repetições não são minhas. São de Caetano Veloso, em música-hino contra a censura e a ditadura, em 1968. Franzino e rebelde, ele reagia às vaias no festival gritando: "Os jovens não entendem nada. Querem matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem".

Caetano hoje é a favor - com Chico Buarque, Gilberto Gil, Erasmo Carlos, Milton Nascimento, Djavan e Roberto Carlos - de proibir biografias sem autorização prévia dos biografados ou de seus herdeiros. Essa aliança entre a Tropicália e a Jovem Guarda quer liberar só as biografias chapa-branca. Nossa "intelligentsia" musical é formada por mitos enrugados e calejados por seus atos e desatinos. São músicos brilhantes, mas péssimos legisladores.

Claro que Caetano tem o direito de mudar de campo e querer proibir. A idade mudou e, com ela, a cor dos cabelos. Aumentou o tamanho da sunga e a conta no banco. Anda com lenço e documento. Pode mudar o pensamento. Por que não? Não seria o primeiro. Quem não se lembra da admiração tardia de Gláuber Rocha por Golbery do Couto e Silva? Depois do exílio, em 1974, antes de voltar ao Brasil, Gláuber disse achar Golbery "um gênio". Pagou por isso.

Caetano só precisa sair do armário. Abraçado a Renan Calheiros e aos podres poderes do reacionarismo - hoje travestidos, na América Latina, de defensores do povo. Na Venezuela, na Argentina, no Equador, na Bolívia, o movimento é o mesmo de nossos compositores no Olimpo. A liberdade de expressão é relativa e tem de ser monitorada e pré-censurada.

Arauto da vanguarda, Caetano tem o direito de reescrever sua história. Em vez de matar o amanhã, o chefão da máfia do dendê quer matar o passado, quando for clandestino e incômodo. Ele agora diz sim ao não. As lembranças privadas, quando tornadas públicas, podem incomodar a sesta depois do vatapá.

O grupo de músicos contra biografias não autorizadas foi intitulado "Procure saber". Deve ser uma licença poética da MPB, porque significa o oposto: "Procure esconder". Ou, quem sabe: "Procure aparecer". Querem acossar nossa Constituição, favorável à liberdade de expressão, com um artigo pernicioso do Código Civil. O Artigo 20 estabelece que textos, palavras e livros poderão ser proibidos por qualquer pessoa, "a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais".

Os termos são tão subjetivos que poderiam ser usados para cortar e censurar colunas e composições de nossos músicos combativos. Muita gente já sentiu sua honra ferida pela verve da MPB e pelas polêmicas de Caetano na imprensa. Incomoda, portanto, a contradição do libertário provocador. Só ele pode dizer o que pensa sem pedir permissão?

Há outro detalhe que explica a patrulha contra Caetano. Um detalhe moreno de 1,73 metro de altura, coxas fortes e cabelos compridos. É sua ex, Paula Lavigne, que aos 13 anos começou a namorá-lo. Hoje produtora e empresária, Paula ocupa o cargo pomposo de "presidente da diretoria do grupo Procure Saber", que ela chama de "uma plataforma profissional de atuação política em defesa dos interesses da classe"...

É a mesma que arremessou um BMW blindado contra a garagem do flat onde se hospedava Caetano logo após a separação. Barrada pelos seguranças, derrubou o portão de 270 quilos. Gaba-se de ter multiplicado a fortuna de Caetano. Passou depois a produzir filmes, discos e shows. Presenteou os fãs com uma foto, em rede social, de Caetano pelado. Nu frontal.

Paula tenta ler reportagens antes da publicação, porque acha que pode. Age como imperatriz louca da Tropicália. Sua resposta, no Twitter, a uma colunista da Folha de S.Paulo, dizendo que "mulher encalhada é f...", não faz jus a seu cargo. "Tw ñ paga minhas contas", tuitou Paula, isso é "muita baixaria" (!). Ter um porta-voz como ela é suicídio para qualquer causa. Feliz é Chico que se casou com Marieta Severo, atriz com luz própria, discrição, inteligência. Quem acredita no discurso de Paula, de que a preocupação dos músicos é com os lucros do biógrafo e com o sensacionalismo? No Brasil, biógrafo nenhum fica rico com os livros.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que vetar a publicação de biografias que não tenham autorização prévia é "censura" e, por isso, "inadmissível" no estado de direito. Disse que qualquer eventual calúnia ou difamação deve ser reparada pelo Judiciário. O músico Alceu Valença concorda: "Arrisco em dizer que cercear autores seria uma equivocada tentativa de tapar, calar, esconder e camuflar a história no nosso tempo e espaço".

Em seus artigos, Caetano costuma perguntar se nós, brasileiros, perdemos nossa capacidade de indignação. Ele diz que detesta demagogia. Nós também. Detestamos demagogia, caretice e obscurantismo. Apesar de vocês, amanhã há de ser outro dia.

CAETANO VELOSO - Cordial

Aprendi, em conversas com amigos compositores, que, no cabo de guerra entre 
a liberdade de expressão e o direito à privacidade, muito cuidado é pouco

Tenho um coração libertário. Sou o típico coroa que foi jovem nos anos 60. Recebi anteontem o e-mail de um cara de quem gosto muito — e que é jornalista — com proposta de entrevista por escrito sobre a questão das biografias. Para refrescar minha memória, ele anexou um trecho de fala minha em 2007. Ali eu me coloco claramente contra a exigência de autorização prévia por parte de biografados. E pergunto: “Vão queimar os livros?” Achei aquilo minha cara. Todos que me conhecem sabem que essa é minha tendência. 

Na casa de Gil, ao fim de uma reunião com a turma da classe, eu disse, faz poucos meses, que “quem está na chuva é para se molhar” e “biografias não podem ser todas chapa-branca”. Então por que me somo a meus colegas mais cautelosos da associação Procure Saber, que submetem a liberação das obras biográficas à autorização dos biografados?

Mudei muito pouco nesse meio-tempo. Mas as pequenas mudanças podem ter resultados gritantes. Aprendi, em conversas com amigos compositores, que, no cabo de guerra entre a liberdade de expressão e o direito à privacidade, muito cuidado é pouco. E que, se queremos que o Brasil avance nessa área, o simplismo não nos ajudará. 

O modo como a imprensa tem tratado o tema é despropositado. De repente, Chico, Milton, Djavan, Gil, Erasmo e eu somos chamados de censores porque nos aproximamos da posição de Roberto Carlos, querendo responder ao movimento liderado pela Anel (Associação Nacional dos Editores de Livros), que criou uma Adin (ação direta de inconstitucionalidade) contra os artigos 20 e 21 do Código Civil, que protegem a intimidade de figuras públicas. Repórter da “Folha” cita trechos de algo dito por Paula Lavigne em outro contexto para responder a sua carta de leitor. Logo a “Folha”, que processou, por parodiá-la, o blog Falha de S.Paulo.

A sede com que os jornais foram ao pote terminou dando ao leitor a impressão de que meus colegas e eu desencadeamos uma ação, quando o que aconteceu foi que nos vimos no meio de uma ação deflagrada por editoras, à qual vimos que precisávamos responder com, no mínimo, um apelo à discussão. Censor, eu? Nem morta! Na verdade a avalanche de pitos, reprimendas e agressões só me estimula a combatividade.

Tenho dito a meus amigos que os autores de biografias não podem ser desrespeitados em seus direitos de informar e enriquecer a imagem que podemos ter da nossa sociedade. Pesquisam, trabalham e ganham bem menos do que nós (mas não nos esqueçamos das possibilidades do audiovisual). Não me sinto atraído pelo excesso de zelo com a vida privada e muito menos pela ideia de meus descendentes ficarem com a tarefa de manter meu nome “limpo”. Isso lhes oferece uma motivação de segunda classe para suas vidas.

Também neguinho pode vir a ter um neto que seja muito careta e queira fazer dele o burguês respeitável que ele não foi nem quis ser. Mas diante dos editoriais candentes, das palavras pesadas e, sobretudo, das grosserias dirigidas a Paula Lavigne, minha empresária, ex-mulher e mãe de dois dos meus três filhos maravilhosos, tendo a ressaltar o que meu mestre Jorge Mautner sintetizou tão bem nos versos “Liberdade é bonita mas não é infinita /Me acredite: liberdade é a consciência do limite”. Mautner é pelo extremo zelo com a intimidade.

Autores americanos foram convocados para repisar a ferida do sub-vira-lata. Nada mais útil à campanha. (Americanos são vira-latas mas têm uma história revolucionária com a qual não nos demos o direito de competir.) Sou sim a favor de podermos ter biografias não autorizadas de Sarney ou Roberto Marinho. Mas as delicadezas do sofrimento de Gloria Perez e o perigo de proliferação de escândalos são tópicos sobre os quais o leitor deve refletir. A atitude de Roberto foi útil para nos trazer até aqui: creio que os termos do Código Civil merecem ser mudados, mas entre a chapa-branca e o risco marrom devem valer considerações como as de Francisco Bosco. 

Ex-roqueiros bolsonaros e matérias do GLOBO tipo olha-os-baderneiros para esconder a força que a luta dos professores ganhou na cidade me tiram a vontade de crer em opções fora da esquerda entalada. Me empobrecem. Ficaremos todos mais ricos se virmos que o direito à intimidade deve complicar o de livre expressão. E se avançarmos sem barretadas aos americanos. 

Ouve-se aqui minha voz individual. Quiçá perguntem: ué, os jornais deram espaço, pediram entrevistas: Tá chiando de quê? Pois é. Meu ritmo. Roberto, Chico, Milton e os outros estão mais firmes: nunca defenderam nada diferente. Esperei o Procure Saber buscar seu timbre, olhei em volta e deixei pra falar aqui.

CHICO BUARQUE - Penso eu

Pensei que o Roberto Carlos tivesse o direito 
de preservar sua vida pessoal. 
Parece que não.

Pensei que o Roberto Carlos tivesse o direito de preservar sua vida pessoal. Parece que não. Também me disseram que sua biografia é a sincera homenagem de um fã. Lamento pelo autor, que diz ter empenhado 15 anos de sua vida em pesquisas e entrevistas com não sei quantas pessoas, inclusive eu. Só que ele nunca me entrevistou.

O texto de Mário Magalhães sobre o assunto das biografias me sensibilizou. Penso apenas que ele forçou a mão ao sugerir que a lei vigente protege torturadores, assassinos e bandidos em geral. Ele dá como exemplo o Cabo Anselmo, de quem no entanto já foi publicada uma biografia. A história de Consuelo, mulher e vítima do Cabo Anselmo, também está num livro escrito pelo próprio irmão. Por outro lado, graças à lei que a associação de editores quer modificar, Gloria Perez conseguiu recolher das livrarias rapidamente o livro do assassino de sua filha. 

Da excelente biografia de Carlos Marighella, por Mário Magalhães, ninguém pode dizer que é chapa-branca. Se fosse infamante ou mentirosa, ou mesmo se trouxesse na capa uma imagem degradante do Marighella, poderia ser igualmente embargada, como aliás acontece em qualquer lugar do mundo. Como Mário Magalhães, sou autor da Companhia das Letras e ainda me considero amigo do seu editor Luiz Schwarcz. 

Mas também estive perto do Garrincha, conheci algumas de suas filhas em Roma. Li que os herdeiros do Garrincha conseguiram uma alta indenização da Companhia das Letras. Não sei quanto foi, mas acho justo.

O biógrafo de Roberto Carlos escreveu anteriormente um livro chamado “Eu não sou cachorro não”. A fim de divulgar seu lançamento, um repórter do “Jornal do Brasil” me procurou para repercutir, como se diz, uma declaração a mim atribuída. Eu teria criticado Caetano e Gil, então no exílio, por denegrirem a imagem do país no exterior. Era impossível eu ter feito tal declaração. O repórter do “JB”, que era também prefaciador do livro, disse que a matéria fora colhida no jornal “Última Hora”, numa edição de 1971. Procurei saber, e a declaração tinha sido de fato publicada numa coluna chamada Escrache. As fontes do biógrafo e pesquisador eram a “Última Hora”, na época ligada aos porões da ditadura, e uma coluna cafajeste chamada Escrache. Que eu fizesse tal declaração, em pleno governo Médici, em entrevista exclusiva para tal coluna de tal jornal, talvez merecesse ser visto com alguma reserva pelo biógrafo e pesquisador. Talvez ele pudesse me consultar a respeito previamente e tirar suas conclusões. Mas só me procuraram quando o livro estava lançado. Se eu processasse o autor e mandasse recolher o livro, diriam que minha honra tem um preço e que virei censor.

Nos anos 70 a TV Globo me proibiu. Foi além da Censura, proibiu por conta própria imagens minhas e qualquer menção ao meu nome. Amanhã a TV Globo pode querer me homenagear. Buscará nos arquivos as minhas imagens mais bonitas. Escolherá as melhores cantoras para cantar minhas músicas. Vai precisar da minha autorização. Se eu não der, serei eu o censor.

FERNANDA TORRES - Gregório

Domingos de Oliveira me pagou um grande elogio outro dia. Ele disse que a minha geração inventou um novo tipo de mulher, algo jamais visto nos 70 anos de vida dele: a cinquentona gostosérrima. Tenho 48, estou a caminho.

Citei Dina Sfat, Norma Bengell e todas aquelas deusas da safra dele. Tentei argumentar, mas o Domingos bateu o pé e garantiu que o fenômeno era recente. Aceitei o gabo sem concordar. Já cheguei à idade de querer ser reconhecida não pelo intelecto, mas pelas curvas.

A dieta balanceada, a falta de excessos, o pilates, a ioga, os cremes, os ácidos, o lifting e o laser, o arsenal de madame de que se pode dispor para adiar os efeitos devastadores do tempo, talvez expliquem a sobrevida das que nasceram na década de 60.

No seriado Tapas e Beijos, Andréa Beltrão e eu gozamos da companhia de dois atores dez anos mais jovens do que nós duas, os irresistíveis Vladimir Brichta e Fábio Assunção. Débora Bloch acaba de emplacar um par romântico com o vampiro de Gabriel Braga Nunes. Gabriel eu vi criança, na casa do pai dele, Celso Nunes, grande parceiro de teatro dos meus pais.

Eu já estava satisfeita com a minha situação quando, em um comercial para a internet, me vi sentada em um sofá ao lado do Gregório Duvivier. Seríamos supostamente casados. Ri do par e perguntei, por curiosidade, o ano de seu nascimento. “Oitenta?”, arrisquei, já achando absurdo. “E seis”, ele respondeu. “Oitenta e seis.” Quando Gregório veio ao mundo, eu já estava na estrada havia 21 anos, estrelava Selva de Pedra e recebia a Palma de Ouro em Cannes.

O Gregório não tem idade, é difícil defini-la. Apesar do humor característico, neutro, sofisticado, ele é capaz de se adaptar aos mais diversos estilos, como o mais clássico dos atores. Eu me surpreendi ao vê-lo no musical Como Vencer na Vida sem Fazer Força, em que executava com rigor de Broadway sua rotina em cena, sem demonstrar suor ou afetação.

É muito raro divertir-se gravando comercial. Os roteiros são amarrados, deve-se enaltecer a funcionalidade do produto e o tamanho das falas raramente cabe nos segundos de exibição. Pois eu gostei de passar a tarde com o Gregório.

Compusemos cinco tipos, um casal de hippies, outro de mergulhadores, dois velhos, dois punks, duas crianças de escola, além de nós mesmos. O Gregório ficou com o pesado, coube a ele a explanação técnica e a mim, a mímica. No início do dia, vestido de septuagenário, avisou que não faria vozes. Não importava a fantasia, o tom era o mesmo, o que acentuava a comicidade da ação. Gregório é como Luiz Fernando Guimarães, um ator que sabe que não deve nunca dar 100%.

No dia seguinte ao da gravação, recebi o link de uma propaganda que o Gregório fez para o livro do Paulo Leminski Vida, com as biografias de Cruz e Souza, Bashô (poeta japonês), Jesus e Trotsky. A peça é uma obra-prima sobre um divulgador que desconhece que o autor de Vida está morto há mais de vinte anos. Vale a pena conferir.

De quebra, o moço lança um livro de poesias pela Cia. das Letras até o fim do ano.

Enquanto você dormia peguei
Uma caneta e liguei os pontos
Sardentos das suas costas…

É que ele estudou no Lycée Français.

KARINA ARRUDA - Decidi me apaixonar

O trem de pouso já havia abaixado e pela janela vi crescendo as casas cobertas pela neve e o vento movimentando o ar pálido. No desembarque, aeroporto lotado como se fossem as nossas festas de final de ano. Mas era em Genebra, onde muita gente ia e vinha com malas enormes, skis empacotados e vestidos com casacos fofinhos e roupas em camadas acumuladas uma por cima da outra, indumentária para quem vai enfrentar as temperaturas negativas ou buscar emoções nas congeladas montanhas das estações suíças. Gente animada, falante, ansiosa. E eu. Chegando do verão no Brasil.

Não sou do frio, não gosto de chocolate e enjoo fácil de queijo. Mesmo dos mais saborosos. Não fosse a saudade apertada do marido que estava me esperando no desembarque, diria “o que estou fazendo aqui?”. Ora, aqui é a minha casa. E embora reconheça algumas características maravilhosas do país que me recebeu há quase dois anos, confesso, com uma dose de lamento, que ainda é difícil pousar e voltar.

Era. Porque hoje não vou falar da saudade do que deixei. Agora decidi me apaixonar.

Para provar o meu empenho, não vou mais reclamar (muito) dos preços altos de quase tudo, da frieza das pessoas, da culinária acanhada, do preconceito sutil, dos impostos e seguros pagos para coisas inimagináveis, de algumas burocracias bobas (porém eficientes), das multas levadas pela vigilância implacável, do frio, do frio, do frio. Vou me abrir com determinação para viver o que amigos me disseram, com base nas suas experiências, e que me fariam amar este que agora é o meu lugar.

Para quem quiser me acompanhar: a primeira sugestão que recebi foi a de apreciar as mudanças causadas pelas estações muito bem definidas, e assistir com mais reverência as flores brotarem na primavera, o calor mudar as cores no verão, o outono ilustrar com mil pantones a vegetação e entender que o inverno, embora muito longo, tem a chance também de mudar o estilo da nossa diversão. Aproveitaram e me mostraram um ponto de vista singular: que a Suíça apresenta os panoramas do ângulo de cima, pois em quase todas as estradas e atrações a natureza é apreciada com metros calibrados de altitude, o que faz o ato de enxergar as coisas do alto ser realmente algo divino. 

Observaram que a falta de sol durante uma parte expressiva do ano provoca um efeito interessante: uma vontade maior de estar ao ar livre. Por isso a estrutura e as informações para a prática de esportes outdoor é excelente e a oferta de atividades das mais diversas é impressionante e acessível a todos os tipos de públicos e em qualquer período do ano. Também mencionaram a solidariedade de um sistema econômico e de seguridade social que ampara a todos, minimiza as diferenças aparentes entre pobres e ricos e tiraniza as demonstrações de riqueza e a ostentação, influenciando hábitos de vida mais simples e tornando as possíveis exigências de status menos opressoras. Disseram que o silêncio é apaixonante, como uma vez já concordei aqui.

Não se esqueceram da educação suíça, onde as escolas oferecem um ensino tão superior e qualificado que aqui escola particular, com exceção das opções bilíngues, é muitas vezes a alternativa para quem não passa de ano na rede pública. Assim como um outro aspecto da educação que se reflete na gentileza nas relações, revelando um povo cortês e amável na rotina do dia a dia. 

Lembraram que a Suíça valoriza a família e as crianças, com um calendário escolar que possibilita férias para se aproveitar as temporadas nas diferentes estações do ano, e propicia atividades inclusivas, além de numerosos e cinematográficos parques nas áreas urbanas. A pontualidade também surgiu com o seu encanto. É um charme e uma demonstração de respeito ao tempo do outro. Ponto.

Estou certa de que há muitas outras coisas que vou notar e que ainda vão me contar. É só manter esse exercício de aprender a enaltecer coisas novas e concentrar nosso prazer naquilo que a nossa consciência se habituou a não perceber e valorizar. A falta que nos faz aquilo que já amamos é uma armadilha que pode escurecer nossos horizontes e subtrair o deslumbramento de tudo o que temos a chance de descobrir. E esse é o meu plano: não deixar a chama apagar. Porque sim, agora descobri que já tenho motivos para me apaixonar.

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO -A Cigana Búlgara

A família era tão grande que, quando contaram ao dr. Parreira que seu sobrinho Geraldo tinha viajado para a Europa, ele precisou ser lembrado:
qual dos sobrinhos era, mesmo, o Geraldo?

― O Geraldinho da Nena. Largou tudo e foi para a Europa.


O dr. Parreira sorriu. Desde pequeno o Geraldinho, filho único de mãe devotada e pai rico, fazia tudo o que queria. Lembrava-se dele criança, comendo espaguete com as mãos e limpando as mãos na toalha. E a Nena, mãe de Geraldinho, como se não fosse com ela. O dr. Parreira ainda chamara a atenção da irmã: ― Olhe o que seu filho está fazendo. ― Deixa o coitadinho se divertir. Na adolescência, Geraldinho se metera em algumas encrencas. Uma vez até tinham recorrido ao dr. Parreira, o tio mais velho e mais bem relacionado, para livrá-lo do castigo. Uma aventura amorosa que acabara mal.


Mas não era má pessoa. Apenas um vagabundo mimado. E, na opinião de todos, o mais simpático da família. Geraldo anunciara em casa que estava indo para a Europa e, apesar do choro da mãe, convencera o pai a financiar a viagem, e seu sustento na Europa até "conseguir alguma coisa". Vez que outra, o dr. Parreira tinha notícias do Geraldo. ("Quem?" "O Geraldinho da Nena. O que foi pra Europa.") Geraldinho estava lavando pratos em Londres. Geraldinho estava ensinando surfe em Paris. ("Surfe em Paris?!") Geraldinho estava colhendo morangos na Suíça. Geraldinho tinha conhecido uma moça. 


Geraldinho estava namorando firme com a moça. E, finalmente, a única notícia que interessou ao dr. Parreira, pelo menos por dois minutos: a moça era cigana, de uma tribo búlgara. Depois: Geraldinho brigou com a moça. (Todos sacudiram a cabeça, afetuosamente. "O velho Geraldinho de sempre."). Depois? Geraldinho desapareceu.


― Como, desapareceu? ― Há dois meses não têm notícias dele. A Nena está desesperada. Pediram ajuda ao dr. Parreira, que, como o mais velho, assumira o papel de patriarca da família depois da morte do pai, o Parreirão. Mas, antes que o dr. Parreira entrasse em contato com o Itamaraty, chegou a notícia terrível. Geraldinho estava num hospital em Berna. Tinha sido castrado e só choramingava, pedindo a mãe. Nena e o marido, Alcides, embarcaram imediatamente para a Suíça. Ao chegarem ao aeroporto de Zurique pegaram um táxi e descobriram tarde demais que era um táxi falso, que os levou para um galpão fora da cidade onde o Alcides também foi castrado e a Nena marcada na testa com um ferro em brasa com as três iniciais (soube-se depois) da frase, em búlgaro, "Mãe da besta". 


Dois primos mais velhos do Geraldinho também embarcaram para a Suíça e também foram seqüestrados, no caminho para Berna. Não foram castrados, mas até prefeririam isto ao que passaram nas mãos de um bigodudo enorme chamado Ragud, que os outros incentivavam com frases em búlgaro (soube-se depois) como "Agora a posição do touro apressado, Ragud!" O dr. Parreira convocou uma reunião da família para decidir o que fazer. Não seria prudente mandar outros familiares à Suíça, onde evidentemente todos corriam perigo. 


O consulado brasileiro daria a assistência necessária aos hospitalizados e as autoridades suíças investigariam os atentados. Enquanto isso, alguém saberia dizer o que o Geraldinho tinha aprontado com a cigana búlgara? Ninguém sabia. Mas alguém lembrou que os ciganos búlgaros eram famosos por serem vingativos. ― O melhor ― disse o dr. Parreira ― é ninguém da família chegar perto da Europa, até que esta coisa passe. Mas quando a "coisa" passaria? Poucos dias depois da reunião da família em que tinham concluído que pelo menos no Brasil ninguém corria perigo, o dr. Parreira foi acordado no meio da noite com a notícia de que uma das suas fábricas estava em chamas. 


Fora invadida por um grupo, que escrevera uma frase em búlgaro numa parede antes de começar o incêndio. A frase era (soube-se depois): "Todos pagarão, até a terceira geração." Até a terceira geração! As crianças não vão mais à escola e a família contratou segurança armada para 24 horas, e mesmo assim entraram na casa da coitada da dona Zizica, viúva do Parreirão e mãe do dr. Parreira, e escreveram uma palavra em búlgaro no seu lençol que ninguém teve coragem de traduzir para a velha ― e tudo por culpa do Geraldinho, seu neto favorito. 


Todas as empresas da família têm recebido ameaças constantes, explosões são freqüentes nas suas instalações e a falência próxima do grupo é inevitável. Mas a vingança dos búlgaros não cessará. Continuará até a terceira geração. Preso em casa, atrás de barricadas, com medo até de chegar na janela, o dr. Parreira amaldiçoa a irmã pelo que fez, ou pelo que não fez, com o Geraldinho. Um único tapa na mão, um único "Não!", e tudo aquilo teria sido evitado. 


Mas Geraldinho podia comer espaguete com as mãos sem apanhar e o resultado estava ali. Todos sofriam pelo que ele tinha aprontado com a moça, fosse o que fosse. Provavelmente o mesmo que fazia com todas as moças que conhecia, nada grave: namoros inconseqüentes, promessas e mentiras simpáticas ― só que nenhuma das moças era uma cigana búlgara. 


E chegou a notícia de que um grupo invadira o cemitério e pintara insultos em búlgaro no túmulo do Parreira pai. No túmulo do velho Parreirão!

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.
Livros de Edmir Saint-Clair

Escolha o tema:

- Mônica El Bayeh (1) 100 DIAS QUE MUDARAM O MUNDO (1) 45 LIÇÕES QUE A VIDA ME ENSINOU (1) 48 FRASES GENIAIS (1) 5 CHAVES PARA FREAR AS RELAÇÕES TÓXICAS NA FAMÍLIA (1) 5 MITOS SOBRE O CÉREBRO QUE ATÉ OS NEUROCIENTISTAS ACREDITAM (1) A ALMA ESTÁ NA CABEÇA (1) A FUNÇÃO SOCIAL DA CULPA (1) A GREVE DAS PALAVRAS (1) A LUCIDEZ PERIGOSA (1) A PANDEMIA VISTA DE 2050 (1) A PARÁBOLA BUDISTA (1) A PÍLULA DA INTELIGÊNCIA (1) A PRÁTICA DA BOA AMIZADE (1) A PREOCUPAÇÃO EXCESSIVA COM A APARÊNCIA FÍSICA (1) A QUALIDADE DO SEU FUTURO - Edmir Silveira (1) A SOMBRA DAS CHUTEIRAS IMORTAIS (1) A Tua Ponte (1) A vergonha pode ser o início da sabedoria (1) AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA (5) Amigos (4) amizade (2) ANA CAROLINA DECLAMA TEXTO DE ELISA LUCINDA (1) ANDRÉ COMTE-SPONVILLE (3) ANTONIO CÍCERO (2) ANTÓNIO DAMÁSIO (3) ANTÔNIO MARIA (2) ANTONIO PRATA (2) antropologia (3) APENAS UMA FOLHA EM BRANCO SOBRE A MESA (1) APOLOGIA DE PLATÃO SOBRE SÓCRATES (1) ARISTÓTELES (2) ARNALDO ANTUNES (2) ARNALDO BLOCH (1) Arnaldo Jabor (36) ARTHUR DA TÁVOLA (12) ARTHUR DAPIEVE (1) ARTHUR RIMBAUD (2) ARTHUR SCHOPENHAUER (5) ARTUR DA TÁVOLA (9) ARTUR XEXÉO (6) ASHLEY MONTAGU (1) AUGUSTO CURY (4) AUTOCONHECIMENTO (2) BARÃO DE ITARARÉ (3) BARUCH SPINOZA (3) BBC (9) BBC Future (4) BERNARD SHAW (2) BERTRAND RUSSELL (1) BISCOITO GLOBO (1) BRAINSPOTTING (1) BRUNA LOMBARDI (2) CACÁ DIEGUES (1) CAETANO VELOSO (10) caio fernando abreu (5) CARL JUNG (1) Carl Sagan (1) CARLOS CASTAÑEDA - EXPERIÊNCIAS DE ESTRANHAMENTO (1) CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (23) CARLOS EDUARDO NOVAES (1) CARLOS HEITOR CONY (3) CARTA DE GEORGE ORWELL EXPLICANDO O LIVRO 1984 (1) CECÍLIA MEIRELES (5) CELSO LAFER - Violência (1) CÉREBRO (17) CHARLES BAUDELAIRE (4) CHARLES BUKOWSKI (3) Charles Chaplin (4) Charles Darwin (2) CHÂTEAU DE VERSAILLES (1) CHICO ANYSIO (3) Christian Ingo Lenz Dunker (9) CIÊNCIA E RELIGIÕES (1) CIÊNCIAS (20) CIENTISTA RUSSO REVELA O QUE OCORRE CONOSCO APÓS A MORTE (1) cinema (6) CLARICE LISPECTOR (17) CLÁUDIA LAITANO (3) CLAUDIA PENTEADO (8) Coletâneas Cult Carioca (1) COMO A INTERNET ESTÁ MUDANDO AS AMIZADES (1) COMO A MÚSICA PODE ESTIMULAR A CRIATIVIDADE (1) COMO A PERCEPÇÃO DO TEMPO MUDA DE ACORDO COM A LÍNGUA (1) COMO A PERDA DE UM DOS PAIS PODE AFETAR A SUA SAÚDE MENTAL (1) COMO A SOLIDÃO ALIMENTA O AUTORITARISMO (1) COMO COMEÇAR DO ZERO EM QUALQUER IDADE (1) COMPORTAMENTO (528) Conexão Roberto D'Avila - STEVENS REHEN - IMPERDÍVEL - ALTISSIMO NIVEL DE CONHECIMENTO (1) CONHEÇA 10 PESSOAS QUE QUASE FICARAM FAMOSAS (1) conhecimento (6) CONTARDO CALLIGARIS (17) CONVERSAS NECESSÁRIAS (1) CORA CORALINA (3) CORA RÓNAI (6) CORTES DIRETO AO PONTO (32) Cristiane Segatto (8) CRÔNICAS (992) Crônicas. (172) CRUZ E SOUSA (1) CULT MOVIE (5) CULT MUSIC (10) CULT VÍDEO (21) DALAI LAMA (5) DALTON TREVISAN (1) Dante Alighieri (1) DANUZA LEÃO (30) DE ONDE VÊM OS NOMES DAS NOTAS MUSICAIS? (1) DEEPAK CHOPRA (3) DENTRO DE MIM (1) DRAUZIO VARELLA (11) E. E. CUMMINGS (3) EDGAR MORIN (2) Edmir Saint-Clair (78) EDUARDO GALEANO (3) ELIANE BRUM (25) ELISA LUCINDA (4) EM QUE MOMENTO NOS TORNAMOS NÓS MESMOS (1) Emerson (1) EMILY DICKINSON (1) Emmanuel Kant (1) Empatia (3) entrevista (11) EPICURO (3) Epiteto (1) Erasmo de Roterdam (1) ERÓTICA É A ALMA (1) Eu Cantarei de Amor Tão Docemente (1) Eu carrego você comigo (2) Fábio Porchat (8) FABRÍCIO CARPINEJAR (5) FEDERICO GARCIA LORCA (2) FERNANDA TORRES (23) FERNANDA YOUNG (6) Fernando Pessoa (13) FERNANDO SABINO (4) FERREIRA GULLAR (24) FILHOS (5) filosofia (217) filósofo (10) FILÓSOFOS (7) Flávio Gikovate (25) FLORBELA ESPANCA (8) FRANCISCO DAUDT (25) FRANZ KAFKA (4) FRASES (39) Frases e Pensamentos (8) FREUD (4) Friedrich Nietzsche (2) Friedrich Wilhelm Nietzsche (1) FRITJOF CAPRA (2) GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ (2) GEMÄLDEGALERIE - Berlin - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) GERALDO CARNEIRO (1) Gilles Deleuze (2) HANNAH ARENDT (1) HELEN KELLER (1) HELOISA SEIXAS (10) Heloísa Seixas (1) Henry David Thoreau (1) HERMANN HESSE (10) HILDA HILST (1) IMMANUEL KANT (1) INTELIGENCIA (2) intimidade (6) IRMÃ SELMA (1) Isaac Asimov. (1) ISABEL CLEMENTE (2) IVAN MARTINS (22) JEAN JACQUES ROUSSEAU (1) JEAN PAUL SARTRE (1) JEAN-JACQUES ROUSSEAU (3) Jean-Paul Sartre (2) JEAN-YVES LELOUP - SEMEANDO A CONSCIÊNCIA (1) Jô Soares (4) JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1) JOÃO UBALDO RIBEIRO (14) JOHN NAUGHTON (1) JORGE AMADO (1) JORGE FORBES (1) jornalista (3) JOSÉ PADILHA (2) JOSE ROBERTO DE TOLEDO (1) JOSÉ SARAMAGO (8) JULIO CORTÁZAR (2) KAHLIL GIBRAN (3) Kant (2) KETUT LIYER (1) Khalil Gibran (5) Klaus Manhart (2) KRISHNAMURTI (1) Lao-Tzu (1) LE-SHANA TOVÁ TIKATEVU VE-TECHATEMU - Nilton Bonder (1) LEANDRO KARNAL (3) LEDA NAGLE (2) LÊDO IVO (2) LETÍCIA THOMPSON (2) literatura (69) literatura brasileira (23) LUIGI PIRANDELLO (2) LUIS FERNANDO VERISSIMO (15) LUIS FERNANDO VERÍSSIMO (7) LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO (13) LUIS VAZ DE CAMÕES (2) LUIZ FERNANDO VERISSIMO (6) LYA LUFT (33) LYGIA FAGUNDES TELLES (1) MADHAI (4) Mahatma Gandhi (5) Maiakowski (1) MANOEL CARLOS (11) MANOEL DE BARROS (1) MANUEL BANDEIRA (4) MAPA INTERATIVO PERMITE VIAJAR NO TEMPO E VER 'SUA CIDADE' HÁ 600 MILHÕES DE ANOS (1) Marcel Camargo (12) MARCELO RUBENS PAIVA (7) MARCIA TIBURI (12) MARÍLIA GABRIELA entrevista RAFINHA BASTOS (1) MARINA COLASANTI (6) MÁRIO LAGO (1) Mário Prata (3) MÁRIO QUINTANA (15) MÁRIO SÉRGIO CORTELLA (4) MARIO VARGAS LLOSA (1) MARK GUNGOR (1) martha medeiros (92) MARTIN LUTHER KING JR (1) MARTINHO DA VILA (1) MELATONINA: O HORMÔNIO DO SONO E DA JUVENTUDE (1) MIA COUTO (14) MIA COUTO: “O PORTUGUÊS DO BRASIL VAI DOMINAR” (1) MICHEL FOUCAULT (1) MIGUEL ESTEVES CARDOSO (4) MIGUEL FALABELLA (14) Miguel Torga (2) MILAN KUNDERA (1) MILLÔR FERNANDES (3) MOACYR SCLIAR (12) MÔNICA EL BAYEH (4) Monja Cohen (1) MUSÉE D'ORSAY - PARIS - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) MUSEU NACIONAL REINA SOFIA - Madrid - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) MUSEU VAN GOGH - Amsterdam - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) NÃO DEVEMOS TER MEDO DA EVOLUÇÃO – Edmir Silveira (1) NARCISISMO COLETIVO (1) Natasha Romanzoti (3) NÉLIDA PIÑON (1) NELSON MANDELA (1) NELSON MOTTA (28) NELSON RODRIGUES (3) NEUROCIÊNCIA (143) NILTON BONDER (1) NOAM CHOMSKY (2) NOITE DE NATAL (1) O BRASIL AINDA NÃO DESCOBRIU O CABRAL TODO (1) O CLIQUE (1) O MITO DA CAVERNA DE PLATÃO: A DUALIDADE DA NOSSA REALIDADE (1) O MITO DO AMOR MATERNO – Maria Lucia Homem (1) O Monge Ocidental (2) O MUNDO DA GENTE MORRE ANTES DA GENTE (1) O MUNDO SECRETO DO INCONSCIENTE (1) O PENSAMENTO DE CARL SAGAN (1) O PODER DO "TERCEIRO MOMENTO" (1) O PODER TERAPÊUTICO DA ESTRADA - Martha Medeiros (1) O QUE A VIDA ENSINA DEPOIS DOS 40 (1) O QUE É A TÃO FALADA MEDITAÇÃO “MINDFULNESS” (1) O QUE É A TERAPIA EMDR? – Ignez Limeira (1) O QUE É BOM ESCLARECER AO COMEÇAR UM RELACIONAMENTO AMOROSO (1) O QUE É CIENTÍFICO? - Rubem Alves (1) O que é liberdade (1) O QUE É MAIS IMPORTANTE: SER OU TER? (1) O QUE É MENTE (1) O QUE É MODERNIDADE LÍQUIDA (1) O QUE É O AMOR PLATÔNICO? (1) O QUE É O PENSAMENTO ABSTRATO (1) O QUE É OBJETIVISMO (1) O QUE É SER “BOM DE CAMA”? (1) O QUE É SER INTELIGENTE (1) O QUE É SER LIVRE? (1) O QUE É SER PAPA? - Luiz Paulo Horta (1) O QUE É SERENIDADE? (1) O QUE É UM PSICOPATA (1) O QUE É UMA COMPULSÃO? - Solange Bittencourt Quintanilha (1) O QUE FAZ O AMOR ACABAR (1) O que se passa na cama (1) O ROUBO QUE NUNCA ACONTECEU (2) O Sentido Secreto da Vida (2) OBRIGADO POR INSISTIR - Martha Medeiros (1) OCTAVIO PAZ (2) OLAVO BILAC (1) ORGASMO AJUDA A PREVENIR DOENÇAS FÍSICAS E MENTAIS (1) ORIGEM DA CONSCIÊNCIA (1) Os canalhas nos ensinam mais (2) OS EFEITOS DE UM ÚNICO DIA DE SOL NA SUA PELE (1) OS HOMENS OCOS (1) OS HOMENS VÃO MATAR-SE UNS AOS OUTROS (1) OTTO LARA RESENDE (1) OUTROS FORMATOS DE FAMÍLIA (1) PABLO NERUDA (22) PABLO PICASSO (2) PALACIO DE VERSAILLES - França - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) Pandemia (2) PAULO COELHO (6) PAULO MENDES CAMPOS (2) PEDRO BIAL (4) PENSADORES FAMOSOS (1) pensamentos (59) PERFIL DE UM AGRESSOR PSICOLÓGICO: 21 CARACTERÍSTICAS COMUNS (1) PERMISSÃO PARA SER INFELIZ - Eliane Brum com a psicóloga Rita de Cássia de Araújo Almeida (1) poemas (8) poesia (281) POESIAS (59) poeta (76) poetas (18) POR QUE A CULPA AUMENTA O PRAZER? (1) POR QUE COMETEMOS ATOS FALHOS (1) POR QUE GOSTAMOS DE MÚSICAS TRISTES? (1) porto alegre (6) PÓS-PANDEMIA (1) PRECISA-SE (1) PREGUIÇA: AS DIFERENÇAS ENTRE A BOA E A RUIM (1) PROCRASTINAÇÃO (1) PROPORÇÕES (1) PSICANALISE (5) PSICOLOGIA (432) psiquiatria (8) QUAL O SENTIDO DA VIDA? (1) QUANDO A SUA MENTE TRABALHA CONTRA VOCÊ (1) QUANDO FALAR É AGREDIR (1) QUANDO MENTIMOS MAIS? (1) QUANDO O AMOR ACABA (1) QUEM FOI EPICURO ? (1) QUEM FOI GALILEU GALILEI? (1) Quem foi John Locke (1) QUEM FOI TALES DE MILETO? (1) QUEM FOI THOMAS HOBBES? (1) QUEM INVENTOU O ESPELHO (1) Raul Seixas (2) Raul Seixas é ATROPELADO por uma onda durante uma ressaca no Leblon (1) RECEITA DE DOMINGO (1) RECOMEÇAR (3) RECOMECE - Bráulio Bessa (1) Reflexão (3) REFLEXÃO DE BERT HELLINGER (1) REGINA NAVARRO LINS (1) REJUVENESCIMENTO - O DILEMA DE DORIAN GRAY (1) RELACIONAMENTO (5) RENÉ DESCARTES (1) REZAR E AMAR (1) Rick Ricardo (5) RIJKSMUSEUM - Amsterdam - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) RIO DE JANEIRO (10) RITA LEE (5) Robert Epstein (1) ROBERT KURZ (1) ROBERTO D'ÁVILA ENTREVISTA FLÁVIO GIKOVATE (1) ROBERTO DaMATTA (8) Roberto Freire (1) ROBERTO POMPEU DE TOLEDO (1) RUBEM ALVES (26) RUBEM BRAGA (1) RUTH DE AQUINO (16) RUTH DE AQUINO - O que você revela sobre você no Facebook (1) Ruy Castro (10) SAINDO DA DEPRESSÃO (1) SÁNDOR FERENCZI (1) SÁNDOR MÁRAI (3) SÃO DEMASIADO POBRES OS NOSSOS RICOS (1) SAÚDE MENTAL (2) Scott O. Lilienfeld (2) século 20 (3) SÊNECA (7) SENSAÇÃO DE DÉJÀ VU (1) SER FELIZ É UM DEVER (2) SER MUITO INTELIGENTE: O LADO RUIM DO QUAL NÃO SE FALA (1) SER OU ESTAR? - Suzana Herculano-Houzel (1) Ser Pai (1) SER PASSIVO PODE SER PREJUDICIAL À SAÚDE (1) SER REJEITADO TORNA VOCÊ MAIS CRIATIVO (1) SERÁ QUE SUA FOME É EMOCIONAL? (1) SEXO É COLA (1) SEXO TÂNTRICO (1) SEXUALIDADE (2) Shakespeare. O bardo (1) Sidarta Ribeiro (4) SIGMUND FREUD (4) SIMONE DE BEAUVOIR (1) Simone Weil (1) SINCERICÍDIO: OS RISCOS DE SE TORNAR UM KAMIKAZE DA VERDADE (1) SÓ DE SACANAGEM (2) SÓ ELAS ENTENDERÃO (1) SOCIOLOGIA (10) SÓCRATES (2) SOFRER POR ANTECIPAÇÃO (2) Solange Bittencourt Quintanilha (13) SOLITÁRIOS PRAZERES (1) STANISLAW PONTE PRETA (5) Stephen Kanitz (1) Steve Ayan (1) STEVE JOBS (5) SUAS IDEIAS SÃO SUAS? (1) SUPER TPM: UM TRANSTORNO DIFÍCIL DE SER DIAGNOSTICADO (1) Super YES (1) Suzana Herculano-Houzel (10) T.S. ELIOT (2) TALES DE MILETO (2) TATE BRITAIN MUSEUM (GALLERY) (1) TERAPIA (4) THE METROPOLITAN MUSEUM OF ART (1) THE NATIONAL GALLERY OF LONDON - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) THIAGO DE MELLO (2) TODA CRIANÇA É UM MAGO - Augusto Branco (1) Tom Jobim (2) TOM JOBIM declamando Poema da Necessidade DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (1) TONY BELLOTTO (3) Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (2) TRUQUE DO PANO: PROTEJA O CACHORRO DO BARULHO FEITO PELOS FOGOS DE ARTIFÍCIO (1) UM CACHORRO PRETO CHAMADO DEPRESSÃO (1) UM ENCONTRO COM LACAN (1) UM VÍRUS CHAMADO MEDO (1) UMA REFLEXÃO FABULOSA (1) UNIÃO EUROPEIA INVESTE EM PROGRAMA PARA PREVER O FUTURO (1) ÚNICO SER HUMANO DA HISTÓRIA A SER ATINGIDO POR UM METEORITO (1) velhice (2) Viagem ao passado (2) VICTOR HUGO (4) VÍDEO - O NASCIMENTO DE UM GOLFINHO (1) VÍDEO - PALESTRA - MEDO X CRIATIVIDADE (1) VÍDEO ENTREVISTA (2) VÍDEO PALESTRA (14) Vinícius de Moraes (3) VIVIANE MOSÉ (4) VLADIMIR MAIAKOVSKI (2) W. B. YEATS (1) W. H. Auden (2) WALCYR CARRASCO (4) WALT WHITMAN (4) Walter Kaufmann (1) Way Herbert (1) Wilhelm Reich (2) WILLIAM FAULKNER (1) William Shakespeare (4) WILSON SIMONAL e SARAH VAUGHAN (1)

RACISMO AQUI NÃO!

RACISMO AQUI NÃO!