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O PERFUME DO RIO - Heloisa Seixas

Eu estava na praia quando caiu o temporal. Era um meio de tarde, não mais de quatro horas, e lembro-me de que estava deitada de frente para o mar do Leblon, lendo. De repente, senti uma chicotada nas costas. A areia me fustigou com tal violência que a revista me foi arrancada das mãos. Tapei os olhos, esperando que a ventania passasse. Mas não passou. Depois de me levantar com dificuldade, enquanto o vento me empurrava em direção ao mar, recolhi minhas coisas como pude e virei-me em direção à rua – justamente de onde vinha o vento. Enfrentei-o, caminhando quase agachada e ouvindo a algazarra dos banhistas que, sem exceção, corriam para se abrigar.

Num brevíssimo intervalo entre duas lufadas, olhei para cima. O céu, por trás dos prédios, era de um negro profundo, parecia saído de um filme de ficção científica. Um raio e um trovão simultâneos me fizeram baixar a vista e apertar o passo.

Não tinha ainda alcançado o outro lado da Delfim Moreira quando a chuva caiu. Uma chuva desalmada, de instintos assassinos, que me ensopou em segundos.

Corri para uma das ruas transversais, procurando abrigo. A rua estava deserta, ninguém à vista. Nem qualquer lugar que pudesse me servir de refúgio. No Rio, os prédios se cercaram todos de grades de ferro e suas marquises ficaram para além das lanças pontiagudas, em território proibido. Já não servem a ninguém em dia de chuva.

Eu estava a poucos quarteirões de casa, mas água e vento me batiam com tamanha violência que eu mal podia caminhar. Não havia alternativa a não ser parar em algum lugar e esperar passar a tormenta. Lembrei-me, então, do pequeno largo, um recuo, do lado direito da rua, que imaginei abrigado, senão da chuva, pelo menos da força do vento. Ainda com dificuldade e sentindo a água me açoitar as costas nuas, caminhei até lá.

O largo, cercado de prédios baixos e amendoeiras, me acolheu. De fato, ali ventava menos. Tremendo de frio e susto, esperei que a chuva passasse, encostada ao muro de um prédio antigo, cujas pedras ainda emanavam o calor da tarde. Abraçada à minha bolsa de lona, tão molhada quanto eu, fiquei ali, pensando em toda sorte de histórias sobre raios fulminantes.

Foram muitos minutos até que a tormenta recuasse. Mas, quando isso aconteceu, foi como se o mundo emergisse de uma paixão avassaladora e respirasse, salvo. Fechei os olhos.

E foi então que o cheiro das amendoeiras me invadiu.
Um cheiro ácido, verde, úmido – a alma das árvores delas se desprendendo, leve e lavada. Um aroma que a chuva acentuara, sem dúvida, mas que eu reconheci porque já o sentira antes, muitas vezes, sem que disso me desse conta. Agora ele estava apenas mais forte, mas a verdade é que sempre estivera lá. O cheiro das amendoeiras.

É esse o perfume do Rio.
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A NOITE VERMELHA - Heloísa Seixas

O incêndio da Praia do Pinto no Leblon
Lembro-me que naquela noite acordei sem motivo algum. Acordei, simplesmente, sem saber por quê. No instante exato do acordar, não houve susto. O sobressalto veio depois. Olhei para a parede do meu quarto e vi que estava tomada por uma sombra incomum. Uma sombra vermelha, cor de fogo. Sempre achei que todas as sombras eram iguais, cinzentas, negras. Jamais imaginei que pudesse haver uma sombra cor de fogo. Intrigada, com uma ponta de medo, levantei da cama e fui até a janela. E então fui atraída pela luz.

Parece o início de um conto de terror – e, de certa forma, é. Foi assim que me senti naquela madrugada distante em que vi a Favela da Praia do Pinto pegar fogo. As chamas eram tão tremendas que projetavam sobre a parede do meu quarto um reflexo avermelhado, um pôr-do-sol no meio da noite. Todo o terreno hoje ocupado pela Selva de Pedra estava pegando fogo. Não havia um só ponto onde não brilhassem as labaredas, projetando-se para o alto, devorando o céu, em meio ao tiroteio dos bujões de gás que explodiam.

Ao ver a cena, meu coração se contraiu. Adolescente ainda, tive a noção exata do que significava aquele espetáculo terrível, pensando, angustiada, nas pessoas que com certeza tentavam escapar do fogo. Horas depois, quando o dia raiasse, outro espetáculo me espantaria. A multidão compacta enchendo as ruas em torno da favela destruída, carregando nas costas seus móveis, seus pertences, num movimento febril que era a perfeita reconstituição de um gigantesco formigueiro.

Ao fim de tudo, manhã já alta, quando olhei o imenso quadrado cinzento que restara no lugar da favela, senti uma estranha sensação de vazio. Mas ela veio acompanhada de uma lembrança boa. A recordação de outro espaço, grande como aquele, já então desaparecido: o terreno baldio onde armavam o circo, quando eu era criança. Ficava no quarteirão entre o Jardim de Alá e a Almirante Pereira Guimarães, em plena Ataulfo de Paiva, que eu atravessava de mãos dadas com a babá, rumo ao mundo encantado e assustador que a lona escondia. Por um segundo, cheguei a pensar no circo pousando outra vez no Leblon, no imenso terreno deixado vago pela favela calcinada. Mas logo dei de ombros, sorrindo. Bobagem. Eu não era mais criança.

Mas é engraçado. Desde então, essas duas lembranças tão díspares – do fogo e do circo – andam sempre juntas dentro de mim. Dois terrenos vazios que, como retalhos quadrados numa colcha, ajudam a compor o cenário desse Leblon de onde nunca saí.
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SOMOS UM POVO FÚTIL? - Heloísa Seixas

Descuidamos de nossos museus, nosso patrimônio, nossos arquivos. Deixamos cair aos pedaços a Biblioteca Nacional. Mas adoramos automóveis. E televisores gigantes.

“No Brasil, tudo vira moda. Até manifestação de rua.”

Ouvi essa frase de um motorista de táxi durante os acontecimentos de junho, e achei um exagero. Rebati, dizendo que o povo nas ruas tinha um significado imenso e ia propiciar a mudança de várias leis. Ele me olhou pelo retrovisor e respondeu que era verdade, mas que via muitos jovens, a caminho das manifestações, agindo como se estivessem indo para um bloco de carnaval. 

“É a onda do momento”, insistiu. “Daqui a pouco passa.”

Em poucas semanas, as manifestações começaram a esvaziar. Os motivos eram muitos: a ação dos black blocks, as depredações, a violência da polícia, as denúncias de interesses escusos por parte de políticos, milicianos, traficantes. Mas não pude deixar de pensar nas palavras do motorista de táxi.

Tornei a pensar nelas há algumas semanas, ao voltar de uma viagem de quase um mês à Alemanha. Ao desembarcar no Brasil, fui tomada pela sensação de que somos mesmo um país de modismos. Um povo fútil. Sei que é um clichê essa história de ir à Europa e voltar falando de “um banho de civilização”. 

Sempre fui contra isso. Mas, desta vez — depois de visitar 11 museus, duas exposições, de ir a um concerto de música clássica e de visitar uma gigantesca feira de livros —, alguma coisa aconteceu comigo.

Acho que uma das razões dessa sensação foi a leitura, durante a viagem, do livro de Mario Vargas Llosa, “A civilização do espetáculo”. Embora em alguns pontos eu discorde do escritor, o livro me chamou a atenção para a destruição da cultura no mundo moderno, em favor do entretenimento. 

Esse conceito me deixou pensando no Brasil — nesse país que não lê livros, mas onde quase todo mundo tem celular. Onde se veem, nos bairros pobres, antenas parabólicas sobre casas miseráveis, onde há mais televisores do que geladeiras, e onde, em vez de bibliotecas, temos lan houses. País que parece ter passado, em massa, do analfabetismo funcional para o Facebook — sem escalas.

Outro fator que contribuiu para a minha sensação, ao voltar, foi essa lamentável discussão sobre as biografias. Muito me entristeceu ver biógrafos e historiadores serem tratados como se fossem caçadores de fofocas, quando o que está em jogo, com essa distorção no Código Civil, é a memória — e a História — de nosso país. Lamentei ver artistas que sempre lutaram pela liberdade defendendo posições indefensáveis. 

Não pude deixar de comparar o que estava acontecendo aqui com a atitude dos alemães em relação ao seu próprio passado (e que passado!). Eles não escondem nada. Não são um país sem memória. Tinham todos os motivos para ser, mas não são.

Nós somos. Descuidamos de nossos museus, nosso patrimônio, nossos arquivos. Deixamos cair aos pedaços a Biblioteca Nacional. Mas adoramos automóveis. E televisores gigantes, com telas de LED. Não podemos ficar um segundo sem falar ao celular, nem mesmo quando almoçamos (na Alemanha, os trens têm vagões em que é proibido ligar celulares e computadores, porque os bips incomodam). Quando viajamos — refiro-me à nossa classe média —, o que mais gostamos é de fazer compras. Já somos até conhecidos nas lojas de Nova York e Miami, onde os lojistas contratam vendedores que saibam falar português. 

E somos vaidosos. Queremos espetar botox no rosto e botar silicone nos seios. Já há meninas de 14, 15 anos, pedindo às mães que as deixem fazer isto. Nas ruas da Europa, não se vê essa quantidade de seios artificiais que temos por aqui. Estamos entre os campeões mundiais em número de cirurgias plásticas. 


Em cidades como Rio e São Paulo, há quase uma academia de ginástica em cada quarteirão. Precisamos malhar. E emagrecer. E não envelhecer nunca. E comprar tênis novos. Mas podemos passar um ano inteiro sem ler um único livro. Temos péssimos resultados em matéria de educação — em todos os sentidos.

Voltei da viagem com essa sensação de que somos mesmo fúteis, superficiais, e me lembrei do motorista do táxi.
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BURRO SEM RABO - Heloísa Seixas

Eu estava do outro lado da rua quando ele apareceu, virando a esquina. Andava sem aparentar muito esforço, empurrando por cima da calçada seu carrinho repleto de pedaços de madeira, papelões e caixas, numa pilha imensa, amarrada com capricho. Era forte e ágil, apesar da idade, e chamava a atenção pelo contraste entre a cabeça branca e a força que parecia ter nos braços. Era o que no Rio, desde os tempos antigos, se chama de burro-sem-rabo.

Sempre que vejo um deles passando na rua, paro e observo. Eles me fascinam. Há uma grandeza nesse trabalho bruto, na humildade desses homens que andam encurvados, puxando ou empurrando seus carrinhos, usando o corpo como instrumento de força.

Outro dia, folheando um livro com fotografias de Marc Ferrez, tiradas no século dezenove, parei numa página dupla, com uma imagem captada em 1899. Era uma foto da antiga Estação D. Pedro II, com sua esplanada de paralelepípedos, cheia de gente. A legenda dizia que ali, parados diante da estação, estavam exemplos de todos os tipos de transporte da época: o landau, a vitória, o carroção, o tílburi, o bonde puxado a burro, o carrinho de mão. Observei melhor a foto. O tal carrinho de mão era um burro-sem-rabo. O mesmo pranchão de madeira sobre uma estrutura de ferro, os mesmos puxadores, as duas rodas. Olhando-o assim, ninguém diria que, de todos aqueles meios de transporte, seria o único a continuar circulando depois que o relógio dos séculos virasse duas vezes.

Foi pensando nisso que continuei ali, do outro lado da rua, olhando o burro-sem-rabo que passava na calçada. De repente, ele parou. Parou com um tranco. A roda do carrinho parecia ter esbarrado em alguma coisa. Eu, que observava à distância, percebi que era um desnível da calçada, cujo cimento fora talvez deslocado por uma raiz. Mas o homem, com a visão toldada pela enorme pilha de papel e madeira, não conseguia ver o que se passava. Tentou e tentou, deu marcha-a-ré, forçou várias vezes – e nada. Comecei a ficar aflita. O carrinho estava empacado.

Só depois de muito esforço, ele conseguiu ir em frente – para meu alívio. Mas não tinha andado nem vinte metros quando parou de novo, dessa vez num trecho onde a calçada se alargava, sob uma árvore centenária. Cheguei a pensar que as rodas do carrinho estivessem novamente presas, mas logo vi que não. O homem remexeu no bolso e dele tirou um saco plástico. No mesmo instante, foi cercado por dezenas de rolinhas.

A cena me enterneceu. Ele jogava milho para elas. Talvez o fizesse sempre que passava por ali, porque as rolinhas pareciam conhecê-lo, cercando-o, quase vindo comer em sua mão. Quando o homem se pôs novamente em marcha, elas se alvoroçaram, como se pedindo mais.

E lá se foi o burro-sem-rabo, empurrando seu carrinho imenso, os passarinhos voejando em torno. Parecia o final de um filme de Carlitos.
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O Leblon pré-novelas do Manoel Carlos.

Contos e crônicas.
 O cotidiano do bairro.
 Clipper, Pizzaria Guanabara, BB Lanches, Jobi, Bracarense
e outros lugares tradicionais do Leblon
são os palcos dessas histórias.

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A GAROTA DE IPANEMA, HOJE - Heloísa Seixas

A cena era singela. Uma jovem de vinte e poucos anos no dia do seu casamento. O rosto muito bem maquiado, o sorriso doce, os cabelos repuxados no alto da cabeça por uma tiara, mas caindo em cachos perfeitos (não havia um só fio solto) sobre os ombros.

O vestido acetinado, rosa-chá, era tomara-que-caia, todo de nervuras, uma delicadeza. Sendo assim decotado, exibia por inteiro o colo, os ombros nus, o pescoço da noiva. E era ali, mais exatamente no ombro e no pescoço, que estavam as duas gigantescas tatuagens. Uma delas, a do ombro, era uma rosa enorme, preta e vermelha, que se espalhava pelo começo do braço. Já a do pescoço era um desenho tribal, talvez (o que será um desenho tribal?). Ou talvez não.

Pensando bem, acho que era uma aranha.
Confesso que, num primeiro instante, a fotografia me chocou.

Alguma coisa estava fora de lugar. Seria preciso escolher entre a doçura do vestido de noiva e a imagem incisiva, quase agressiva, daquelas tatuagens. Um e outro eram, como diziam os intelectuais de antigamente, uma “ruptura na cadeia do significante”. Ou do significado.

Mas logo refleti melhor: por que as duas coisas precisavam ser excludentes?

E nesse instante me lembrei da pergunta que me fora feita: quem é a garota de Ipanema hoje?

Sendo a noiva em questão uma jovem carioca e morando por ali mesmo, em Ipanema, concluí que, de repente, ela – aquela noiva pós-moderna, misturando na mesma imagem elementos tão díspares – poderia muito bem servir de exemplo.

Afinal, o conceito de “garota de Ipanema” está associado à idéia de liberdade, e havia qualquer coisa de libertário naquele gesto de se casar à moda antiga e, ao mesmo tempo, exibir as tatuagens (ela poderia ter usado um vestido fechado).

Por que associamos “garota de Ipanema” com liberdade? Em seu livro Ela é carioca – Uma enciclopédia de Ipanema, Ruy Castro escreve que a música feita por Tom e Vinicius era “uma homenagem à já longa tradição feminina de Ipanema – a todas as garotas que, desde os anos 30, haviam lutado pela independência, nas praias, nos bares, nas ruas, e conquistado o direito de trabalhar, pensar, namorar e fazer as besteiras que quisessem”. É isso mesmo.

A idéia de uma garota dourada a caminho do mar – e dona de seu nariz – vinha de longe, mas só se consolidou ao longo dos anos 60 e 70, período em que se deu a chamada revolução da contracultura. O auge da liberdade. Mas seria mesmo?

Pois, hoje, a garota de Ipanema talvez seja mais livre ainda, mais livre do que nunca. Mais livre do que as garotas de Ipanema daquelas décadas que entraram para a história como as da conquista e do paroxismo da liberdade. E a razão disso é que a jovem de hoje é livre também para ser “careta” à vontade, se quiser. Isso faz toda a diferença do mundo.

Voltemos à nossa noiva. Há 30 anos, ninguém tinha o direito de ser “careta”. Uma menina que acalentasse o secreto desejo de se casar de noiva era capaz de morrer de culpa, por se deixar envolver por esses “anseios pequeno-burgueses”. Tinha vergonha de confessar isso às amigas. E não era apenas casar na igreja que era feio: em alguns círculos, principalmente os dos intelectuais de esquerda, também era feio querer ser bonita, usar roupas de gostosa (“mulher-objeto”), salto alto, maquiagem. Isso agora acabou.
Conquistado o direito de dormir com o namorado em casa (ah, como era complicado antes!) – e apesar dos percalços provocados pelo medo da Aids – as garotas de hoje podem escolher à vontade entre usar salto alto ou chinelo, bata indiana ou saia godê, pintar ou não as unhas, usar ou não batom. Podem “ficar” ou namorar a sério, podem ficar noivas ou simplesmente ir morar com o namorado. Ninguém está ligando. (Sei de um rapaz que é baterista de uma banda de heavy metal e está noivo de aliança. E outro dia vi um casal de punks empurrando um carrinho de bebê pelo calçadão – eles, cobertos de piercings e de preto da cabeça aos pés, e a garotinha toda de cor-de-rosa.)

Enfim, as jovens de hoje podem resolver apenas coabitar ou podem se casar de noiva, na igreja, com festa e padrinhos, tatuadas ou não – sem precisar se envergonhar. Isto é liberdade, não? Sem dúvida.
Só tem um pequeno senão. (Sempre tem. O ser humano gosta de complicar o que é simples.) É que as jovens de agora são livres demais. Foram criadas por pais que só souberam dizer “sim”.

Esses pais, os ex-revolucionários, ex-hippies e ex-loucos que hoje estão com 50, 60 anos, não acreditavam em impor limites. E até a liberdade, quando é total, enjoa. Com isso, as novas garotas, de Ipanema ou de outras praias, tiveram de buscar alguma coisa que fosse proibido. Daí criaram um padrão de beleza que contraria a natureza, formado por mulheres esquálidas, que parecem saídas de um campo de concentração.

Pronto: estava inventado o “não” dessa geração. Para a garota de Ipanema de hoje, só é proibido comer.

UM ACERTO DE CONTAS - Heloísa Seixas

Um dia, peguei uma revista americana para folhear, mas não consegui abri-la. Meus olhos se prenderam à fotografia da capa e ali ficaram, hipnotizados. Era uma foto em close de um lobo ou cão de pêlo escuro, com os dentes à mostra e os olhos arregalados. Embora o título ao pé da foto dissesse Anatomia do medo, para mim aquela imagem não era a tradução do medo – mas sim de outro sentimento, poderoso e destruidor, que num primeiro instante não pude precisar.

Continuei olhando: os olhos cor de fogo, o pêlo reluzente, os caninos como marfim velho, de pontas finíssimas; a gengiva escura, a língua vermelha, banhada em saliva. A imagem era de um realismo impressionante, o animal parecia a ponto de saltar do papel. Pensei, num delírio, que se ele o fizesse, eu não me deixaria morrer de forma passiva, mas o agarraria pelo pescoço e apertaria com toda a força. Seria uma luta encarniçada. E, nesse instante, veio a compreensão do sentimento que me evocava a fotografia: não era medo, era ódio.

A constatação me deixou inquieta. Sempre tive dificuldade de lidar com a raiva. E, nessa época, a raiva era um sentimento que fermentava dentro de mim, à minha revelia. Havia uma razão para eu me sentir assim: minha mãe começava a mostrar os primeiros sintomas do Mal de Alzheimer. Como qualquer doença que afeta as faculdades mentais, o Alzheimer costuma provocar misericórdia – mas também suscita sentimentos menos nobres, como a revolta, a raiva e, em conseqüência, a culpa. Era o que acontecia comigo.

Mamãe, que sempre fora uma mulher forte, independente e decidida, tornara-se um ser frágil, súplice, uma mulher carente, emocionalmente desequilibrada. E eu vinha tendo enorme dificuldade de conviver com a pessoa desconhecida que surgia de dentro dela. Baixei a cabeça e tornei a observar os olhos cor de fogo do lobo preto, na capa da revista. Havia um animal igual àquele dentro de mim.

Quando se manifesta, o Mal de Alzheimer traz consigo vários males, que se infiltram na vida do doente e de todos que convivem com ele. A raiva é um desses males. Os parentes não conseguem compreender o que está acontecendo, negam a doença – ou simplesmente a desconhecem – e com isso acabam sendo tomados por um sentimento de revolta.

Hoje, depois de conviver com a doença de minha mãe por mais de dez anos, eu me arriscaria a dizer que se houvesse um maior esclarecimento sobre o problema, os casos de violência contra os idosos diminuiriam. Ao anunciar, em setembro último, a Campanha Nacional de Conscientização sobre o Mal de Alzheimer, a Academia Brasileira de Neurologia (ABN) divulgou uma previsão assustadora: em dez anos, vai quase dobrar o número de pessoas com a doença no Brasil.

Hoje, há cerca de 16 milhões de brasileiros com mais de 80 anos, faixa etária em que a percentagem de casos de Alzheimer pode chegar a quase 40 por cento. Em 2017, serão 24 milhões de idosos acima dessa faixa etária. Se, entre esses, houver dez milhões com demência senil, e se contarmos as pessoas que estão em volta deles – filhos, maridos e mulheres, irmãos, acompanhantes – estamos falando de um universo de talvez 40 milhões de pessoas.

São projeções, mas já dá para pressentir esses números: é raro falarmos no assunto Alzheimer sem ouvir o interlocutor dizer que tem um caso na família ou que sabe de alguém que tem. O Mal parece estar em toda parte. E continuamos sabendo tão pouco sobre ele.

Quem nunca conviveu com um caso de demência senil pensa que o Mal de Alzheimer é simplesmente a perda da memória. Mas não é. É uma doença cheia de faces, um mal progressivo e desestabilizador, que nos faz perder as referências, porque um de seus primeiros sintomas é a modificação da personalidade. A princípio de forma sutil, essa mudança vai aumentando e contaminando as relações. Às vezes, o doente se transforma no avesso de si mesmo: torna-se manhoso, quando era corajoso; brigão, quando era pacífico; desafiador, quando era cordato. Além disso, todas as dores mal trabalhadas, todas as mágoas acumuladas ao longo de anos – coisas naturais nas convivências familiares – começam a aflorar. Os pequenos nós, os pontos doloridos, se fazem sentir com mais agudeza, e isso torna as relações entre o doente e seus parentes quase insuportáveis.

Quando minha mãe apresentou os primeiros sintomas, eu não tinha a menor idéia do que estava acontecendo. Achava que envelhecer era assim. Demorei muito a procurar ajuda médica especializada e acredito que isso tornou mais difícil minha relação com ela. Por outro lado, não creio que a demora em consultar um especialista tenha sido determinante para a evolução da doença: os remédios que existem hoje são, em alguns casos, capazes de retardar um pouco o processo, mas não há cura. Nem prevenção.

Na verdade, ninguém sabe direito o que causa o Mal de Alzheimer e as demências senis correlatas. No caso de minha mãe, os remédios experimentados – alguns caríssimos, importados – deram um resultado mínimo e, mesmo assim, acompanhado de efeitos colaterais (um deles provocou rigidez muscular em mamãe, que praticamente parou de andar, recuperando os movimentos assim que suspendeu o medicamento).

O neurologista que a atendeu disse que ela não sofria apenas de Alzheimer, mas de uma combinação de doenças senis, incluindo a demência com corpos de Lewy e a demência fronto-temporal, ou doença de Pick. Na época, ouvi aquilo e não entendi nada. Depois, estudando o assunto na internet, fiquei sabendo que os corpos de Lewy são estruturas cheias de proteína, que matam ou modificam os neurônios; e que a doença de Pick afeta os lobos frontal e temporal, atingindo mais o comportamento do que a memória. Mas, nos dois casos, ninguém sabe por que isso acontece. E não há cura.

O mesmo se dá com o Mal de Alzheimer: quando, em 1906, o neuropatologista alemão Alois Alzheimer pesquisou o cérebro de uma paciente sua, morta aos 55 anos com demência precoce, e descobriu emaranhados fibrosos dentro de seus neurônios, ele estava inscrevendo seu nome na história da medicina. Mas o que até hoje ninguém sabe é por que esses emaranhados neurofibrilares e placas neuríticas – que, a grosso modo, apagam os neurônios – aparecem.

Há um inegável fator genético, mas a doença tem sido também associada a fatores externos, como impulsos elétricos, stress e alimentação (a incidência de alumínio encontrada em cérebros de portadores da doença é altíssima), entre outros. Uma pesquisa feita há alguns anos mostrou que entre os portadores de demências senis há uma grande percentagem de pessoas solitárias – ou melhor, que se dizem solitárias, mesmo não sendo. Uma amiga minha garante que o Mal de Alzheimer é mais comum entre pessoas incapazes de superar as próprias perdas, pessoas que guardam mágoas e alimentam o sofrimento. Será?

Devemos deixar aos cientistas a busca dessas respostas. Mas, enquanto isso, temos de aprender a conviver com o problema da melhor forma possível. E, se os remédios ainda não são tão eficazes assim, entender o que está acontecendo é muito importante. Faz toda a diferença do mundo.

Em minha mãe, a doença teve inúmeras faces e fases, começando com os lapsos, os esquecimentos, as confusões (estes, sim, naturais da idade) e logo desembocando na gradual, porem inexorável, transformação da personalidade. Junto com esta, começaram os sintomas mais graves: depressão, manias, paranóia persecutória e por fim alucinações. De repente, eu tinha em casa uma psicótica, capaz de tudo – até mesmo de violência.

Em meio a esse turbilhão de horrores, nem sempre é fácil ter compaixão. Em geral, o que eu mais sentia era raiva. Era o lobo selvagem dentro de mim, mostrando seus dentes. Não me envergonho de dizer isso. Houve momentos, durante o processo de esfacelamento da mente de minha mãe, em que senti que me degradava também, que me desfazia, que ameaçava resvalar perigosamente para o outro lado – o lado da insanidade. Acho que essa foi uma das razões que me levaram a escrever um livro sobre o Mal de Alzheimer.

Quando me sentei no computador, não sabia ao certo o que faria. Deixei que meus dez dedos, pousados sobre o teclado, decidissem tudo, caminhassem sozinhos. Escrevi durante semanas, de forma febril. E assim se fez O lugar escuro – Uma história de senilidade e loucura. É um relato da minha convivência com a doença, e também uma viagem ao fundo da mente de minha mãe. Uma catarse que me ajudou a entender e, principalmente, a aceitar muitas coisas.

Acho que esta é a palavra-chave: aceitação. Não é fácil ver alguém com quem se conviveu por toda a vida se transformar em outra pessoa. Meu marido, muito perspicaz, disse certa vez uma frase que me chocou muito, mas que tive de admitir ser rigorosamente verdadeira: “Sua mãe não existe mais. O que existe é uma entidade, que tomou o lugar dela. Não sei que entidade é essa, nem o que se passa em sua mente. Só sei que ela não é mais sua mãe”. Aceitar isso foi algo que também me ajudou. Mas admito que não foi fácil. Para os filhos, esse processo de entendimento e aceitação talvez seja ainda mais difícil do que para maridos, mulheres, irmãos e outros parentes que convivam com o doente. Porque as relações entre pais e filhos são muito fortes, viscerais, e por isso mesmo quase sempre difíceis, permeadas de pontos sensíveis.

Quando me convenci de que era um caso de demência senil, a raiva e a revolta que moravam dentro de mim – aquele lobo de olhos de fogo – deu lugar à compaixão. Eu me reconciliei com minha mãe. Hoje, converso com ela, mesmo sabendo-a incapaz de compreender o que estou dizendo, e falo de mágoas, equívocos, ciúmes, sentimentos que por muitos anos tinham ficado sufocados, nela ou em mim. E ela, às vezes, em rasgos de lucidez, diz frases pertinentes, que me tocam e surpreendem. Mas o importante é que hoje consigo acariciá-la, ficar a seu lado, brincar com ela – muito mais do que antes. 

No fim, o mal de Alzheimer foi para nós duas um acerto de contas. No bom sentido.

OS MAUS MODOS DO GIGANTE - Heloísa Seixas

Qualquer grupo de insatisfeitos com a falta de um muro em sua rua bota fogo num sofá e fecha a avenida, infernizando a vida de centenas de milhares

Todo mundo que conheço achou uma coisa fantástica a greve dos garis no Rio. Eu não. A Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) tem sido, há muitos anos, considerada uma empresa modelo, boa de se trabalhar e bem avaliada pela população. A imprensa cansou de dar matérias sobre seus funcionários --um deles, Renato Sorriso, chegou a ser um símbolo da cidade. E até há pouco tempo era assim.

De repente, os garis do Rio se transformaram em pessoas exploradas, mal pagas e protagonistas de uma greve legítima para ter o direito de ganhar cerca de R$ 1.800. Tudo bem. Eles têm os seus direitos. O que achei estranho foi terem feito a greve contrariando uma decisão da Justiça e do próprio sindicato, o que deixou a prefeitura sem interlocutor. E pior: deflagraram o movimento em pleno Carnaval.

Ora, uma greve de lixo é sempre um trauma para qualquer cidade. Por ser uma greve tão visível, que causa transtornos imensos, um movimento como esse tem sempre enorme poder de barganha. Se os garis do Rio tivessem feito uma greve de advertência algumas semanas antes do Carnaval, certamente teriam tido um bom resultado em suas negociações. Mas não.

A greve deles foi feita de uma hora para outra, e o que vimos? A cidade cheia de turistas e inundada de lixo. A ponto de o prefeito Eduardo Paes (PMDB) ter atendido a quase todas as reivindicações deles para evitar o caos absoluto, porque havia previsão de chuva forte para o dia seguinte.

Na época, li o noticiário com a sensação de que aquilo era uma chantagem. Que o prefeito, sem opção, estava se rendendo a ela. E não pude deixar de pensar: e se os garis decidirem fazer o mesmo na Copa do Mundo? Sem sindicato, desrespeitando a Justiça e pedindo, digamos, salários de R$ 5.000? E se os aeronautas também decidirem entrar em greve? E os motoristas de ônibus? E os policiais? Será que existe um plano de contingência capaz de lidar com isso?

Até a greve dos garis no Rio, tínhamos pelo menos a garantia de que haveria a palavra da Justiça, a decisão sobre se uma paralisação é ou não legal. Quando eu trabalhava como jornalista, havia algumas máximas que circulavam nas redações, verdadeiras cláusulas pétreas. Uma delas era "Decisão da Justiça não se discute. Cumpre-se". Mas hoje, como sabemos, até um ex-presidente da República afronta as decisões judiciais legítimas, tomadas por ministros indicados por ele.

E, enquanto isso, nosso país vai caminhando, à catraca. Qualquer grupo de dez ou 12 pessoas insatisfeitas com a falta de um muro em sua rua bota fogo num sofá e fecha a avenida Brasil, infernizando a vida de centenas de milhares. O mesmo pode acontecer na avenida Copacabana ou na avenida Paulista, a qualquer momento, pelos mais diversos motivos, justos ou não. Incendiar ônibus e automóveis é coisa que agora acontece quase todos os dias nas nossas cidades --nem sempre isso é feito apenas por bandidos.

No Brasil, é assim: oito ou 80. Ou estamos inertes, aceitando de braços cruzados os governos e desgovernos mais absurdos, ou de repente despertamos e aí não paramos mais. É o dilema que vivemos hoje.
O gigante acordou. Mas ele precisa ter aulas de civilidade.

PAISAGENS - Heloísa Seixas

Se eu pudesse levar comigo uma paisagem, se pudesse congelá-la e guardá-la, se pudesse tê-la eternamente, e revê-la sempre que quisesse, quando fosse para uma ilha deserta ou para outro mundo, não levaria uma – mas duas. Copacabana de manhã e Ipanema à tarde.

Copacabana de manhã.
Não a qualquer hora da manhã, mas às oito em ponto. Não em qualquer lugar, e sim na Avenida Atlântica, no Posto Seis. Mas pode ser em qualquer época do ano, não importa.

As amendoeiras junto à areia, os barcos de pesca, as redes. No mar, de poucas ondas, uns barquinhos, balançando. Além da ponta do Marimbás, as flores de espuma que se abrem em alto mar, quando a água rodeia as pedras submersas. Mais além, horizonte afora, as cadeias de montanhas, intermináveis, imutáveis, com suas cores em degradê, contendo todos os verdes, todos os cinzas, todos os azuis.

Na areia, onde o sol acaba de chegar, a alvura dos grãos em combinação perfeita com a calçada de pedras portuguesas, retrato em preto e branco cujas ondas passeiam pelo mundo inteiro. E à esquerda, a curva majestosa bordejada de prédios – não faz mal – terminando na pedra do Leme, com o volume do Pão de Açúcar por trás. Uma curva feminina, sensual, preguiçosa. Copacabana é uma mulher madura.

Ipanema, não. Ipanema é uma menina. É a outra paisagem que eu levaria comigo.

Ipanema à tarde.
Às quatro da tarde, antes do pôr do sol. E sendo outono. Ou um inverno com jeito de outono, como agora. Com muita, muita luz.

Mas não num dia qualquer, e sim num daqueles em que o vento sudoeste está começando a entrar, fazendo erguerem-se as cristas das ondas, como borrifos de monstros marinhos. Banhando a paisagem, a luz da tarde, um pouco oblíqua, só que muito alva, de arder a vista. Luz que faz refletir a areia, à essa hora uma enorme massa fria, pontilhada de banhistas tardios. Solitários. Porque às quatro da tarde de um dia assim, quem está por ali, na areia ou no mar, caminhando ou contemplando, é necessariamente um ser sozinho.

Na calçada, não. Na calçada à essa hora a vida fervilha. Há em quase tudo cor – nos coqueiros, nos quiosques, nas latas de lixo – e as pessoas caminham em frenesi, parecendo ter apenas um destino, um ponto de referência: as montanhas ao fundo.

Outro dia, num único dia, pude admirar essas duas paisagens. Copacabana de manhã, Ipanema à tarde. Num dia só, apenas um, lá estavam – as duas. Paisagens para se guardar na retina e na memória, para se rever em pensamento sempre, nos momentos de contemplação interior.

É quase impossível ser triste numa cidade assim.

HELOISA SEIXAS - As amigas

 Eram duas amigas – uma feia, outra bonita. Amigas mesmo, desde pequenas. E também, desde pequenas, com aquelas características: uma feia, a outra bonita. Há uma crença de que nas diferentes idades a beleza se alterna com a feiúra (bebê bonito, criança feia, adulto bonito ou, ao contrário, bebê feio, criança bonita, adulto feio), mas no caso delas isso não aconteceu. Houve uma coerência. A feia foi feia sempre. Muito magra, de cabelos pretos, sobrancelhas grossas demais, quase formando um urubu que lhe sobrevoasse os olhos, nariz grande, boca como um traço. E a outra era o oposto. Sempre bonita, desde bebê. Cabelos castanhos claros, com um toque de cobre que cintilava ao sol. O rosto de um oval perfeito. Olhos quase negros contrastando com uma pele clara, sem qualquer sinal, e lábios grossos e vermelhos que pareciam desenhados com lápis de cor.
Brincavam juntas, desde muito pequenas, pois eram vizinhas. Era interessante vê-las de mãos dadas, correndo pela grama, subindo e descendo dos bancos, com seus vestidos rodados, a menina feia e a menina bonita. Numa, o que primeiro chamavam a atenção eram as sobrancelhas cerradas, que lhe pesavam a fisionomia. Na outra, a leveza dos cabelos avermelhados, flutuando.
O tempo passou. Elas cresceram. Sempre assim, uma feia, a outra bonita. E amigas. Sempre amigas. Presentes em todos os acontecimentos importantes da vida de cada uma. Não posso dizer que foram ao casamento de uma e outra porque uma delas, a bonita, nunca se casou. Mas teve grandes paixões. E um filho. A feia se casou duas vezes e teve três filhos, duas meninas e um menino. E o tempo continuou passando.
Até que um dia – de repente, de uma hora para outra – envelheceram. Parece mentira, mas as pessoas envelhecem assim. Principalmente as mulheres. Um dia, você acorda e vê uma nova marca no seu rosto. Não estava ontem, você tem certeza. Mas hoje está. Com elas, não foi diferente.
Uma tarde, tendo ido ao Centro da cidade para fazer compras, as duas amigas decidiram tomar um chá na Confeitaria Colombo. E foi ali, sentadas diante de um daqueles espelhos centenários, que as duas de repente se olharam e viram que tinham envelhecido. Lá estavam. Duas senhoras. E, incrível, na velhice, tinham ficado parecidas. Continuaram se olhando em silêncio por alguns segundos. “A idade nivela tudo, iguala feias e bonitas”, pensou uma delas. E a outra, como se lesse seus pensamentos, completou:
– A velhice é democrática.

HELOISA SEIXAS - Janela carioca

A noite já quase caía e eu ia passando pela praia de Ipanema em direção a Copacabana quando o motorista de táxi que me levava soltou uma exclamação. Inclinei-me para frente, sem entender bem o que ele dizia, só tendo percebido que a frase acabara com a expressão “tudo dourado”. Já ia pedir que ele repetisse o comentário quando meus olhos viram, através do vidro da frente do carro, a imagem à qual sem dúvida o rapaz se referia. Na altura do Castelinho e indo até a ponta do Arpoador, os prédios, a areia, a pedra, tudo estava cor de ouro – e brilhava, brilhava como um enfeite de Natal.

O motorista diminuiu a marcha, ou talvez tenha sido um sinal de trânsito que, num ajuste perfeito e providencial, acabava de fechar. O fato é que ficamos os dois ali, em silêncio, olhando, observando o cenário tão conhecido, mas que naquele instante ganhava uma tonalidade incomum.

Quando o carro recomeçou a andar, olhei para trás. O sol, que já quase se punha atrás do morro do Vidigal, surgira de repente – depois de tantos dias de chuva – e ao vencer as nuvens se mostrava como uma bola de fogo, cujos raios se despejavam diretamente sobre a ponta do Arpoador, formando à nossa frente aquela pequena cidade de ouro, como se saída de um conto das mil e uma noites.

Mas não foi só isso. Havia naquele fim de tarde algo mais.

Mal me recuperara da surpresa e olhei na direção do mar. E ali, muito além das ilhas, emergindo das brumas que suavizavam o horizonte, estava o pé de um arco-íris, de um colorido perfeito, subindo e desaparecendo no céu lilás do começo de noite, antes de completar o arco. Há muito tempo não via um arco-íris tão nítido, de cores tão bonitas. Mostrei-o ao motorista de táxi que, como eu, parecia não saber mais o que dizer.

Entramos pela Rua Francisco Otaviano, com pena de deixar aquela paisagem para trás. Mas quando desembocamos no Posto Seis, o arco-íris, fugidio e mágico como qualquer arco-íris, estava lá, só que agora inteiro, surgindo de trás do Marimbás, cobrindo com seu arco toda a curva do mar de Copacabana e indo desaparecer além do Morro do Leme, lá pelas bandas do Pão de Açúcar. Suas cores eram menos nítidas, talvez porque a noite caía depressa, ou porque em Copacabana anoitece primeiro. Mas, de toda forma, era lindo.

E eu me deixei recostar no banco do carro, pensando no fascínio desta cidade, capaz às vezes de nos agredir tanto, com violência, sujeira, miséria, e ao mesmo tempo nos dar tanta beleza. E guardei nas retinas aquelas visões – todas as cores do arco-íris, o pôr-do-sol mais dourado – como se fossem presentes dela para mim.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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