Mostrando postagens com marcador DANUZA LEÃO. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador DANUZA LEÃO. Mostrar todas as postagens

NÃO CHORE GUILHERMINA - Danuza Leão

 
Ser rejeitado pelo Country é o castigo 
por querer pertencer ao clube mais gagá do Brasil

Passei a detestar clubes desde o dia em que, há muitos anos, presenciei uma conversa entre alguns sócios de um famoso clube do Rio, o Country. Nesse tempo a garotada tinha a mania de roubar carros, dar umas voltas no quarteirão e depois largá-los em qualquer lugar. Detalhe: não eram ladrões, apenas adolescentes brincando de transgredir.

Só que nesse dia a polícia viu, e foi atrás; os meninos, apavorados, entraram no estacionamento do Country (eram filhos de sócios), e a polícia foi atrás. O final dessa história não importa, mas nunca esqueci do que ouvi. Segundo esses sócios, a polícia não tinha o direito de entrar num clube privado, que tal? Foi a partir daí que comecei a detestar clubes e, mais ainda, os que ditam as regras dos clubes.

No Country é assim: a pessoa que pretende ser sócia, em primeiro lugar compra um título -entre R$ 500.000,00 e R$ 1.000.000,00; depois paga o mico de ter seu nome estampado num quadro, e se arrisca a pagar um mico ainda maior, o de não ser aceito (as famosas bolas pretas), e ter que fingir que nada aconteceu. Ninguém jamais saberá porque a pessoa levou bola preta, e também jamais saberá quem deu a(s) bola(s) preta(s). Esse é um ato de covardia, e como no clube ninguém tem assunto, um prato para os sócios. O alvo predileto dos que votam costuma ser mulheres solteiras e bonitas; eles sabem, intuitivamente, que a elas jamais terão acesso. E tem o grupo das mulheres, que pressiona os maridos para votar contra, porque não querem no clube mulheres solteiras e bonitas, ai ai.

O Country é um clube decadente, frequentado por pessoas -excetuando algumas poucas- tão decadentes quanto. Gente que não tem coragem de se expor, e passa a vida almoçando, jantando, casando, traindo, roubando, dando pequenos golpes dentro da própria família, protegida pelas paredes do clube; lá tudo pode e tudo é perdoado, desde que aconteça entre os sócios. É como se fosse um país dentro de outro país, com um presidente, seus ministros, suas fronteiras, suas leis. Não sei onde tem mais mofo, se nos sofás ou nas cabeças desses frequentadores, que adoram seus privilégios: as piscinas, as quadras de tênis, a liberdade de assinar as notas para pagar no fim do mês -quando pagam. Como os sócios estão, em boa parte, falidos, podem comer seu picadinho -ruim- lembrando dos velhos tempos. Bom mesmo vai ser no dia em que um deles escrever um livro contando as histórias do clube, que devem ser de arrepiar, mas vai ser difícil: quando você fica sócio, passa automaticamente a fazer parte de uma sociedade secreta, tipo uma máfia, onde a ormetà (voto de silêncio) é sagrada. Tudo pode -e põe tudo nisso-, desde que seja só entre eles.

Logo que cheguei de férias soube do affair Guilhermina Guinle, que tentou ser sócia do clube mas foi bombardeada por bolas pretas. Pensei, pensei, e não entendi. Por que uma mulher bonita, charmosa, rica, de sucesso, quer ser sócia do Country? E pensei que, como todos os que já receberam as tais bolas pretas, ela mereceu: é o castigo de querer pertencer ao clube mais gagá do Brasil. Dá para entender que uma pessoa pague uma fortuna pelo título de um clube em que alguns poucos vão decidir se ela pode frequentá-lo? E é possível alguém querer frequentar um lugar em que é preciso pedir licença para entrar, e essa permissão ser dada -ou não- por um pequeno grupo cujo momento de gloria é a reunião do clube, onde podem dar vazão às suas frustrações e se vingar da vida? Não dá para entender mes-mo.

Aliás, seria uma boa ideia desapropriar aquele belo terreno que dá frente para a av. Vieira Souto e fazer ali um jardim público onde os atuais sócios poderiam ir dar seus passeios e falar mal da vida dos outros, sem pagar um só tostão.

O papa se demitiu, os meteoros estão caindo, o mundo se acabando, e o Country continua acreditando em suas bolas pretas. É de chorar.

SÓ NO DICIONÁRIO - Danuza Leão

 
Tem sentido, hoje, dizer de alguém que tem excelente caráter? Que é sincera? Que nela dá para confiar?

Quais as qualidades mais valorizadas nos dias de hoje?

Bem, como tudo mudou, vou falar de algumas, as que dão mais ibope, e não pela ordem.

É preciso ser ligado, antenado e sobretudo bem informado; é aquele que presta atenção a tudo, a quem nada escapa.

Com esses predicados, é possível abrir as portas para uma carreira brilhante e um futuro promissor, e se tiver também alguma inteligência, o sucesso é garantido. Afinal, é por meio das boas informações que são feitos os grandes negócios e as tramas políticas acontecem.

Mas é preciso também ser esperto para usar essas informações na hora certa, com a pessoa certa.

Esperteza, essa sim, uma enorme qualidade. Quem tiver esse dom pode se tornar milionário e poderoso, o objetivo supremo de toda a humanidade -de quase toda, digamos.

Cultura já esteve mais em alta, mas tem sua vez em algumas rodas, e conhecer profundamente um assunto -mesmo só um- costuma deixar as pessoas de queixo caído.

Mas não se esqueça: seja ele qual for, vá fundo e mostre-se um expert. Que seja algo de original: a civilização egípcia, por exemplo. Como poucas pessoas viram uma múmia de perto, esse é um belíssimo tema para ser jogado num jantar de seis pessoas -elas vão babar de admiração, e você vai brilhar sozinho.

Os mistérios do fundo do mar e a vida sexual dos cangurus também podem agradar, mas fuja da astrologia e da psicanálise, que já deram tudo o que tinham para dar. Astronomia, quem sabe? Vinhos, melhor beber do que falar deles, e de viagens, nem pensar.

Outra qualidade muito valorizada é a dos que leem os jornais -bem. Todos os do Rio e de São Paulo, claro, e talvez de mais uns quatro Estados. Mas tem que ser falado a sério, para poderem dizer, como quem não quer nada, que concordam -ou discordam, isso não tem a menor importância- com a divisão dos royalties do pré-sal.

Saber esgrimar com as palavras também faz grande sucesso, mas é perigoso: sempre pode haver alguém mais talentoso e ferrar você de vez.

Mas quando quiser falar mal de alguém, seja irônico -é mais cruel, não compromete, não dá processo- e nunca diga nada que possa ser repetido: fale bem, mas usando tons de voz e sorrisinhos que vão arrasar, de vez, aqueles de quem você não gosta.

Mas um dia você se lembra de que há muito, muito tempo, existiam qualidades bem diferentes dessas, e que hoje não fazem o menor sucesso. Tem sentido, hoje em dia, dizer de uma pessoa que ela tem um excelente caráter? Que é sincera? Que nela você pode confiar? Se você gosta de verdade dela, é melhor ficar calado, pois pega até mal dizer essas coisas de um amigo.

E existem ainda outras de que não se ouve falar há tanto tempo, mas tanto, que já virou até coisa de época. Passa pela cabeça dizer que uma pessoa é sensível, terna, delicada, bem educada, que tem um grande coração? Pega até mal; e passa pela sua cabeça que uma pessoa é bondosa?

Procure lembrar há quantos anos você não ouve falar de um gesto de bondade, não recebe um olhar de bondade, não ouve nem pronuncia a palavra bondade -se é que isso ainda existe.

Se não souber do que se trata, procure no dicionário, e talvez encontre; talvez.

A POSSE DAS COISAS - Danuza Leão

 
E o que era o dinheiro, essa invenção diabólica, 
razão de brigas, deslealdades, traições, guerras, mortes?

Há MUITOS anos, vendi o apartamento onde morava para um americano, e como ele não tinha conta em banco, pediu para pagar em dinheiro; dinheiro vivo. Eu até gostei. No fundo, no fundo, muito melhor dinheiro do que cheque.

Depois que se deposita ainda são 48 horas para compensar, sabe-se lá se nesse tempo o comprador não morre e a mulher, com quem ele tem conta conjunta, vai lá e leva tudo. Em dinheiro é melhor.

Marcamos numa sala do meu banco, chegou o advogado, o homem do cartório, todos nos sentamos em volta de uma mesa -eu sorrindo, porque estava vendendo, ele sorrindo, porque estava comprando-, e começou a leitura da escritura. Não prestei muita atenção; já que estava vendendo, a única coisa que me interessava era receber o dinheiro e depositar.

Aí, chegou a hora do pagamento: o comprador abriu uma maleta tipo James Bond, botou os maços de dinheiro em cima da mesa e esperou que eu conferisse. Até tentei, mas como não estava (nem estou) acostumada a contar dinheiro, a coisa ficou lenta. Aí, a gerente do banco perguntou se eu não gostaria que um funcionário, com mais prática, fizesse isso por mim; eu, aliviada, disse que sim.

Por alguma razão -talvez pelo respeito que o dinheiro impõe- fez-se silêncio. Todos olhávamos para as mãos da pessoa que contava e para as notas, como se estivéssemos hipnotizados. E foi aí que viajei em meus pensamentos.
No quinto pacotinho, pensei que com eles podia comprar um carro. Mas aí vieram os outros, e me perdi. Me perdi e só via montes de folhas de papel pintado, cortados do mesmo tamanho; muito bonitinhos até, mas apenas um monte de papel. Perdi a noção de que aquilo era dinheiro e comecei a pensar.
Então estava trocando meu apartamento com vista para o mar, onde fui tão feliz, por aqueles montinhos de papel? E o tempo que levei escolhendo a cor das paredes, os sonhos que sonhei, os momentos de amizade, amor, felicidade, tristeza, desespero, ódio, esperança, tudo isso acabou, trocado por papel colorido?

E o que era o dinheiro, afinal, essa invenção diabólica, razão de brigas, deslealdades, traições, guerras, mortes?

O rapaz não acabava de contar, o silêncio continuava, e eu pensando. De tantas coisas tinha ouvido falar: de pessoas que abriram mão de suas convicções, trocaram de amigos, de marido ou de mulher, tudo por dinheiro, dos políticos que mudam de partido, que traem, que se vendem, que fazem qualquer coisa -qualquer coisa mes-mo- para serem eleitos e viverem em Brasília.

A contagem do dinheiro estava quase acabando, quando me lembrei de ter lido alguma coisa escrita sobre o Brasil na época do Descobrimento; há quem diga que os índios eram inocentes e felizes porque não conheciam nem o dinheiro, nem o casamento, nem a propriedade, isto é: a posse das coisas ou das pessoas.
E eu acrescento: eles também não conheciam o poder.

O dinheiro acabou de ser contado, assinei a escritura, suspirei, esperei pelo recibo do depósito e saí.

Já era noite, os ônibus passavam lotados; dei graças a Deus por ter dinheiro para tomar um táxi e fui para casa pensando que talvez fosse bem bom viver no meio do mato. Mas para isso seria preciso ter nascido há uns 500 anos.

A DIFÍCIL FELICIDADE - Danuza Leão

É uma aflição, um medo de que nada dê certo, 
que você está sonhando,vai acordar e ver que não é nada daquilo

EXISTEM momentos -raros, é verdade- em que tudo está bem. Bem, não: ótimo. A casa finalmente ficou pronta, os gatos estão com saúde, os filhos bem e felizes, faltam só 15 dias para a viagem marcada há seis meses -e a passagem parcelada já está paga-, a saúde em forma total e, como se não bastasse, uma proposta de trabalho nova e sedutora -e sem ter que deixar o atual trabalho. A vida está tão boa que chega a dar uma agonia. E isso é normal? Não, diria a maioria das pessoas. Sim, afirmam os mais habituados a conviver com as profundezas da alma.

É bem verdade que esses tempos são raros, e normalmente, até bobagens como a máquina de lavar roupa que está com defeito é um estresse. Mas quando eles acontecem são difíceis de suportar. A palavra é essa mesma: suportar.

É uma aflição, um medo de que nada dê certo, que você está sonhando, vai acordar e ver que não é nada daquilo, que a realidade não é assim, que existem problemas de todos os tipos o tempo todo e que nem o direito ao silêncio de sua casa você tem. Quando chega tem que ver os recados da secretária eletrônica, abrir o computador para ver os e-mails, e o mais normal é receber uma notícia que pode não ser péssima, mas será suficiente para perturbar sua santa paz. Que o ar-condicionado do quarto não está funcionando, por exemplo.

Mas tudo isso é normal, tão normal que não chega a causar nenhum abalo maior. Faz parte do dia-a-dia, faz parte de todos os dias, isso sem falar de uma dor de coluna, do brinco que sumiu, do lençol que manchou com água sanitária.

Mas tem aqueles dias maravilhosos em que tudo dá certo, e que o futuro, tudo indica, vai ser melhor ainda do que o presente. É curioso que esses dias nunca têm a ver com um homem maravilhoso que você conheceu na véspera. 

Esse tipo de encontro não costuma trazer paz, e sim angústia, ansiedade, insegurança, taquicardia, aflição. Não, esses grandes momentos acontecem apenas com nós mesmos, na nossa mais profunda -solidão? Não, solidão não é a palavra certa. É um sentimento de você com você mesmo, que não é compartilhado com nenhum ser humano e que prova que, apesar do que dizem, ninguém precisa de ninguém para ser feliz de verdade. 

Para ir a um cinema, comer uma pizza, trocar uma idéia sobre as infidelidades públicas dos políticos americanos, até aí se vai. Mas para ser feliz mesmo, para se ser profundamente feliz, não se precisa de ninguém, e o que pode parecer uma tragédia para alguns, é uma liberação para outros.

Não que só você seja feliz o tempo todo, mas existem aqueles momentos em que se é totalmente feliz, e é aí que as coisas se complicam. Como nada é fácil, você começa com a culpa, claro. Como ser feliz com tanta gente sofrendo? E aí começa o medo, o grande medo, aquele de perder a felicidade que está sentindo.

Para isso se apela para tudo: fazer uma aula de ginástica, tomar um tranqüilizante ou não fazer rigorosamente nada e ficar deitado na cama olhando para o teto, só sendo feliz e mais nada. Mas isso não dá porque os pensamentos não deixam, e a vontade é que aconteça alguma coisa que traga você de volta para o mundo imperfeito em que vive; a televisão quebrar já seria o suficiente. Ser infeliz é muito ruim, mas ser feliz é muito difícil. 

FINGINDO SER FELIZ - Danuza Leão

Mas querendo a mesma coisa que qualquer pessoa normal: 
chegar em casa, se atirar na cama e ver o final de um filme

ELA HAVIA combinado de jantar com amigos no restaurante mais novo da cidade, que, além de ser lindo e caríssimo, parece que se comia muito bem; se encontrariam lá às 10h. Mas naquele dia não estava muito bem. Para dizer a verdade, estava mal, e sem nenhuma razão especial para isso (como se precisasse).

A pele estava sem viço, o cabelo ruim, mas pensou que quando chegasse e tomasse uma bebida tudo ia melhorar. Pegou um táxi, e o trânsito estava péssimo, tudo parado.

Olhou para o lado direito, a calçada vazia; à esquerda, um ônibus parado.
O motorista, jovem, parecia calmo, mas olhou várias vezes para o relógio; alguém devia estar esperando por ele, pensou.

E pensou também no seu quase tédio, que estava indo para um restaurante cuja conta seria provavelmente mais alta do que ele ganhava em um mês. Ficou pior e começou a pensar.

Como seria a vida daquele motorista? Se às 10h da noite ele ainda estava trabalhando, devia ter começado pelas 2h da tarde -isso se não fizesse um biscate na parte da manhã.

Devia morar longe, e ainda ia ter que pegar uma condução para chegar em casa, o que seria lá pelas 11h. A essa hora a mulher talvez já estivesse dormindo, e ele ia ter que fazer um prato e botar para esquentar antes de cair na cama, morto de cansaço, sem ter com quem falar. O que será que ele pensava da vida? Teria planos para o futuro? Planos de melhorar de vida e poder ir a uma pizzaria aos sábados, tomar uma cerveja, voltar para casa e dormir abraçado com a mulher, sabendo que no dia seguinte ia poder acordar mais tarde, botar uma bermuda e ficar em casa de bobeira, vendo qualquer coisa pela televisão?

O trânsito não andava, e ela só prestava atenção nele. Nele, que parecia conformado, cumprindo sua obrigação, sem pensar em nada a não ser no trânsito, que não era para estar assim parado àquela hora. Teria acontecido algum acidente?

Daí a pouco os carros começaram a andar, o táxi virou à direita, e dez minutos depois ela chegou ao tal restaurante. O bar estava cheio, e a música -moderna- tocava alto o suficiente para que não se pudesse conversar, a não ser falando bem alto. Fez um esforço para ficar alegre; era preciso estar alegre, ou pelo menos fingir que estava. Tomou o primeiro drinque, tomou o segundo, mas naquela noite estava difícil.

Voltou a pensar no motorista, imaginando que ele só devia estar querendo uma coisa: chegar em casa e se atirar na cama. E pensou nela mesma, que não queria nada; que tinha tudo que uma pessoa pode ter, teoricamente, para ser feliz, e que estava tão mal. Se sentindo mais só do que nunca, apesar de rodeada de amigos, amigos legais que gostavam dela e de quem ela gostava, mas querendo a mesma coisa que qualquer pessoa normal: chegar em casa, se atirar na cama e ver o final de um filme bem ruim, sem precisar ser inteligente, charmosa, engraçada.

Pediu um terceiro drinque, deu risada de uma história que contaram, contou a sua, e quase sentiu inveja do motorista, que ia deitar e dormir sem precisar tomar nenhum comprimido, sem pensar em para que se nasce e para que se vive.

Enquanto ela ia continuar fazendo o que sempre fez na vida, aliás com muito talento: fingindo que era feliz
__________________________

O CLANDESTINO - Danuza Leão

Fico imaginando o tamanho da solidão de um homem 
no meio do oceano, sem ter noção de onde está

Outro dia li uma notícia que me paralisou. Um homem de Camarões, país da África, conseguiu entrar num navio como clandestino, sem nem saber para qual destino.

Fiquei pensando nesse homem, que devia ter uma vida tão sem esperança, tão sem perspectiva, que decidiu se arriscar a qualquer coisa, em qualquer lugar do mundo, à procura de um futuro. Ele não escolheu para onde queria ir, desde que pudesse deixar para trás tudo o que tinha sido sua vida até aquele momento; devia ter suas razões. Mas esse é apenas o começo da história.

Depois de sete dias de viagem, e já a dez quilômetros da costa do Brasil, a tripulação desse navio, de bandeira de Malta, descobriu o camaronês, de 28 anos. Como punição, ele foi jogado ao mar, com uma pequena balsa, e ficou à deriva durante 12 horas, quando foi resgatado por um navio chileno que passava.

Segundo o noticiário da época, ele seria deportado, a tripulação do navio que o jogou ao mar iria prestar depoimento etc. etc., mas o tempo passou e até hoje, quando abro o jornal, procuro uma notícia que me esclareça a continuação dessa história dramática que não consigo esquecer, mas nunca soube como terminou.

Sabe-se que o ser humano é capaz das piores coisas.

Mas nesse caso não foi um único ser humano; foi um grupo de seres humanos, todos unidos, todos de acordo em cometer esse ato de barbárie. Jogar em alto-mar um homem porque ele embarcou no navio sem documentos, sem ter comprado uma passagem, enfim, ilegalmente -o que, imagino, deve ser contra muitas leis-, é contra uma lei muito maior, que é a lei humanitária; não poderiam ter esperado chegar a um porto e entregá-lo às autoridades?

O que fizeram com ele foi pior do que um assassinato.

Fico imaginando o tamanho da solidão -da solidão e do medo- de um homem no meio do oceano, sem ter noção de onde está, sabendo que só um milagre poderá salvá-lo (isso se antes do milagre ele não morrer de sede, de fome, ou mesmo afogado). Nessas 12 horas, quais terão sido seus pensamentos?

Terá lembrado da infância, da família? Terá se arrependido de ter largado tudo em busca de uma vida melhor? E um pensamento banal me atormenta: seria noite ou dia, quando ele foi jogado ao mar? E sua agonia, quando viu lá longe o navio chileno que o resgatou, pensando que podia não ser visto -e podia mesmo; não, não dá nem para imaginar.

Existem crimes bárbaros, por ciúmes, raiva, vingança, que por piores que sejam, com algum esforço, dá para entender; não justificar, mas entender. Mas jogar um homem no meio do oceano porque ele não tinha no bolso uma passagem é fora de qualquer compreensão.

Mas ele foi salvo, e qualquer coisa que lhe tenha acontecido -a deportação, a prisão-, nada pode ter sido pior do que as horas que passou no mar, e penso que depois disso ele não terá medo de mais nada.

Só dos homens, e do que eles são capazes.

DANUZA LEÃO - Mulher tem memória

Você é medrosa? E quem não é? E de que você tem medo? 
Bem, existem os medos básicos: 
de barata, de rato, de cobra, da escuridão.

Mas existem outros, nos quais quase não se pensa, mas dos quais se tem pânico -e esses são os piores.

São os medos subjetivos, quando se faz algo que não se deveria, de ser punida; por um pai imaginário, por Deus, por um alguém que não faz outra coisa a não ser olhar atentamente para tudo que você faz, para premiar ou castigar. De preferência, castigar.

Existem outros medos nos quais não se pensa mas que são permanentes: medo de ficar doente, de ficar velha e sozinha, de morrer. Quando se pensa em todos esses medos, chega a surpreender como podemos, às vezes, passar horas falando bobagem e dando risada.

Quando criança, você teve medo de seu pai? Se teve, vai passar a vida inteira tendo medo do marido e do patrão, símbolos da autoridade masculina.
E o medo da maldade? E do olho grande?

Medo tem a ver com culpa, e quem é culpada vive sempre com medo do castigo.

Existem as pessoas que não são culpadas de nada, e as que são culpadas de tudo. As primeiras passam pela vida felizes, felizes; já as outras acham que, se no lugar de terem comprado aquele batom tivessem mandado o dinheiro para os necessitados da África, teriam pelo menos feito sua parte. Como é difícil viver.
Mas é preciso não confundir o medo com a covardia, e às vezes -aliás, o tempo todo- é preciso se posicionar, sem medo. Se posicionar, no caso, é apenas organizar seus pensamentos e ter suas opiniões, o que, se para alguns é simples, para outros é quase impossível.

Por que será? Serão essas pessoas tão reprimidas que isso as impede não apenas de dar sua opinião mas até de terem uma? Ou será medo?

Existem alguns medos bem concretos: da reação daquele homem quando você anuncia que está indo embora. Com todas as conquistas que as mulheres conseguiram, nessa hora o medo é físico -afinal, os homens costumam ser agressivos, mais fortes que nós (fisicamente), e às vezes, quando feridos, passam dos limites. Outro medo é quando, já com o novo, você cruza pela primeira vez com o que foi abandonado.

Mas os homens também têm seus medos, sobretudo quando são eles que abandonam. As mulheres -mais emocionais e menos civilizadas- são capazes de tudo, quando deixadas; mulher não esquece -nem perdoa.

Aconteceu com um casal de velhinhos -bem velhinhos mesmo- que estava visitando a filha, num domingo. Falavam sobre o passado, e num determinado momento ela perguntou -afinal, já havia tanto tempo- se ele havia tido um caso com uma determinada mulher, décadas atrás, o que na época ele negou com firmeza.

A conversa estava tão amena, a paz tão grande, com a família toda reunida, que ele disse que sim, era verdade. Ela avançou no pescoço dele e foi preciso a filha e o genro para separá-los. Apesar de já terem passado dos 80, ela passou meses sem falar com ele.

E é bom que os homens também tenham medo, pois uma mulher com raiva é muito mais perigosa do que um homem com um revólver na mão.

DANUZA LEÃO - Feias e Bonitas

ERAM DUAS irmãs, 
uma muito bonita e a outra 
bem, a outra não. 

A bonita tinha um corpo como qualquer mulher gostaria de ter (sem ser esquálida), era não só elegante, como se vestia de maneira diferente. Era original, criativa, isso sem ser extravagante nem exibida. Um show de mulher, que quando entrava nos lugares era olhada por homens e mulheres, com admiração.


Eu, ainda garota, era amiga das duas; inicialmente da mais bonita, pois era com ela que saía à noite, ia às festas, aos lugares onde as coisas aconteciam. A outra era casada; mal casada mas casada, e nos víamos eventualmente para almoçar. Ela era simpática, agradável, mas perto da irmã, desaparecia. E a irmã tinha sempre muitas histórias boas para contar.

Histórias dos bastidores da alta costura (tudo isso se passou em Paris), das pessoas famosas que ela conhecia, e sobretudo dos seus "dramas" amorosos. Ela nunca tinha um namorado só e, como nenhum morava em Paris, isso facilitava bem as coisas.

Ainda me lembro: naquela época -estou falando dos anos 50- os telefones eram precários, e as comunicações aconteciam por telegrama. Um dos namorados era príncipe -havia tantos, sobretudo na Itália- , se chamava Galvano e morava na Sicília. Volta e meia chegava um telegrama, marcando de encontrá-la em Palermo no fim de semana; e lá ia ela. O outro morava em Milão, e o encontro seria em Roma. Na época, nunca me ocorreu por que razão eles não iam nunca a Paris; era assim e pronto.

Ela sofria, e eles aprontavam, sumiam, namoravam outras, e assim foi indo a vida. Um dia ela achou que estava na hora de sossegar e se casou com um belo italiano; não me parece que tenha sido um grande amor, mas foi um casamento que funcionou. Ela foi morar em Milão, trancou-se em casa, e sua única distração, digamos assim, era a moda. Comprava tudo que aparecia de novo, até que um dia teve uma doença ruim e morreu.

Enquanto isso a vida da irmã continuava: separou-se do primeiro marido -porque quis-, marido esse que passou anos fazendo tudo para que ela voltasse. Se casou de novo, com um produtor de cinema, e o casamento, muito feliz, durou até que um dia ele teve um infarto fulminante e morreu.

Ela sofreu, mas não deixou a peteca cair; tempos depois estava casada de novo, com o homem que mais amou, e que trabalhava no show business. Foi um amor louco, absoluto; ele tinha uns 15 anos menos que ela, era lindo, e morreu aos 33 anos de cirrose. Como ela sofreu; parecia que nunca mais levantaria a cabeça.

É preciso aqui fazer uma pausa: desde que a irmã se casou, fomos ficando cada vez mais amigas. Fui percebendo o quanto ela era generosa, interessada pelas pessoas, pelo mundo em geral, sempre pronta a fazer agrados, carinhos, tolerante e paciente com todos que a rodeavam. Um dia conheceu seu último marido, com o qual está casada há 30 anos. Um ótimo casamento, devo dizer.
E fiquei pensando que os atributos físicos, tão valorizados, fazem com que as pessoas se esqueçam do principal, do que realmente importa, e que faz com que as pessoas se gostem, fiquem amigas, até se apaixonem. 

Nunca nenhum homem largou essa minha amiga; já a bonita teve uma vida sentimental atrapalhada, eu diria mesmo infeliz, e não sei se por acaso ou por que, eu comecei amiga de uma, o tempo passou e fui ficando amiga da outra como nunca havia sido da primeira.
E ainda sou.

MULHER ATUAL - Danuza Leão

 Quantas mentiras nos contaram! Foram tantas que a gente bem cedo começa a acreditar e, ainda por cima, a se achar culpada por ser burra, incompetente e sem condições de fazer da vida uma sucessão de vitórias e felicidades.

Uma das mentiras é a de que nós, mulheres, podemos conciliar perfeitamente as funções de mãe, esposa, companheira e amante, e ainda por cima ter uma carreira profissional brilhante.

É muito simples: não podemos...

Não podemos. Quando você se dedica de corpo e alma a seu filho recém-nascido, que na hora certa de mamar dorme e que à noite, quando devia estar dormindo, chora com fome, não consegue estar bem sexy quando o marido chega para cumprir um dos papéis considerados obrigatórios na trajetória de uma mulher moderna: a de amante .

Aliás, nem a de companheira. Quem vai conseguir trocar uma idéia sobre a poluição da Baía de Guanabara se saiu do trabalho e passou no supermercado rapidinho para comprar uma massa e um molho já pronto para resolver o jantar, e ainda por cima está deprimida porque não teve tempo de fazer uma escova?

Mas as revistas femininas estão aí, querendo convencer as mulheres - e os maridos - de que um peixinho com ervas no forno com uma batatinha cozida al dente, acompanhado por uma salada e um vinhozinho branco, é facílimo de fazer - sem esquecer as flores e as velas acesas, claro, e com isso o casamento continuar tendo aquele toque de glamour fun-da-men-tal para que dure por muitos e muitos anos.

Ah, quanta mentira!

Outra grande diz respeito à mulher que trabalha; não à que faz de conta que trabalha, mas à que trabalha mesmo. No começo, ela até tenta se vestir no capricho, usar sapato de salto e estar sempre maquiada; mas cedo se vão as ilusões. Entre em qualquer local de trabalho pelas 4 da tarde e vai ver um bando de mulheres maltratadas, com o cabelo horrendo, a cara lavada, e sem um pingo do glamour - aquele - das executivas da Madison.

Dizem que o trabalho enobrece, o que pode até ser verdade. Mas ele também envelhece, destrói e enruga a pele, e quando se percebe a guerra já está perdida.

Não adianta: uma mulher glamourosa e pronta a fazer todos os charmes - aqueles que enlouquecem os homens - precisa, fundamentalmente, de duas coisas: tempo e dinheiro.

Tempo para hidratar os cabelos, lembrar de tomar seus 37 radicais livres, tempo para ir à hidroginástica, para ter uma massagista tailandesa e um acupunturista que a relaxe; tempo para fazer musculação, alongamento, comprar uma sandália nova para o verão, fazer as unhas, depilação; e dinheiro para tudo isso e ainda para pagar uma excelente empregada - o que também custa dinheiro.

É muito interessante a imagem da mulher que depois do expediente vai ao toalete - um toalete cuja luz é insuportavelmente branca e fria, retoca a maquiagem, coloca os brincos, põe a meia preta que está na bolsa desde de manhã e vai, alegremente, para uma happy hour.

Aliás, se as empresas trocassem a iluminação de seus elevadores e de seus banheiros por lâmpadas âmbar, os índices de produtividade iriam ao infinito; não há auto-estima feminina que resista quando elas se olham nos espelhos desses recintos.

Felizes são as mulheres que têm cinco minutos - só cinco - para decidir a roupa que vão usar no trabalho; na luta contra o relógio o uniforme termina sendo preto ou bege, para que tudo combine sem que um só minuto seja perdido.

Mas tem as outras, com filhos já crescidos: essas, quando chegam em casa, têm que conversar com as crianças, perguntar como foi o dia na escola, procurar entender por que elas estão agressivas, por que o rendimento escolar está baixo.

E ainda tem as outras que, com ou sem filhos, ainda têm um namorado que apronta, e sem o qual elas acham que não conseguem viver . Segundo um conhecedor da alma humana, só existem três coisas sem as quais não se pode viver: ar, água e pão.

Convenhamos que é difícil ser uma mulher de verdade; impossível, eu diria.

Parabéns para quem consegue fingir tudo isso...

DANUZA LEÃO – Sabedoria e Indiferença

Se alguém perguntar se sua vida foi, até agora, um sucesso ou um fracasso, o que você vai responder? Detalhe: dinheiro não tem nada a ver, ser famosa e ter aparecido em capas de revista também não. Então o que é ter tido uma vida de sucesso? Bem, depende de cada um.
Todos nós já ouvimos, da boca de uma mulher modesta, a frase "criei meus filhos, estão todos encaminhados, posso me considerar realizada". E quem nunca ouviu, de pessoas que aparentemente têm tudo - por tudo entenda-se família, saúde, dinheiro, amor, mesmo que não seja verdadeiro, e não necessariamente nessa ordem -, mas vivem eternamente infelizes, tentando, inutilmente, entender o significado da vida?
Temos todos - quase todos - excelentes razões para achar que nossa vida foi gloriosa ou um vale de lágrimas. Você, por exemplo, já deve ter passado por ótimos e por péssimos momentos; quais ficaram na sua cabeça, ou melhor, no seu coração? Os melhores ou os piores?
É difícil fazer essa avaliação; às vezes a gente se acha uma pessoa privilegiada, outras vezes uma pobre coitada. Depende de quais valores naquele momento são os seus, pois dependendo da hora, eles também mudam.
Houve um tempo em que seus sonhos se resumiam a passar a vida viajando pelo mundo, num turbilhão que não deixasse tempo nem para pensar; isso sim, seria a felicidade -só que não foi.
Depois houve um outro momento em que tudo que quis foi encontrar um bom marido, mesmo meio sem graça, mas que tivesse hora certa de chegar em casa, e um bando de crianças em volta perturbando bastante o seu juízo para não ter tempo de pensar se era feliz ou infeliz. Isso sim, seria a felicidade - só que também não foi.
Aí achou que o importante seria a realização pessoal, independente da vida sentimental - ou melhor, de um homem. Isso sim, seria a verdadeira felicidade. Também não foi, mas conseguiu o que parecia impossível: viver sem ter que estar permanentemente apaixonada, ou melhor, sem inventar que estava apaixonada.
Hoje, se alguém perguntar se sua vida foi -até agora- um sucesso ou um fracasso, continuaria sem saber responder.
Foram muitos os bons momentos e tão felizes, tão inesquecíveis, que prefere até esquecer, pra não lembrar. Quanto aos maus momentos, foram também tantos, que faz tudo para esquecer, não lembrar, e às vezes até consegue.
Se houvesse uma maneira de apagar tudo, passar uma borracha, não lembrar nem do bom nem do ruim, zerar - é, zerar tudo, como seria bom.
Agora, pelo menos, já sabe; às vezes acorda feliz, sem nem saber por que, sai de casa, na primeira esquina tropeça e fica no pior humor da vida. Já no dia seguinte acorda péssima, o telefone toca, é alguém de quem você gosta, fala de maneira carinhosa, e a vida se torna, de repente, deliciosa de ser vivida. É essa certeza de que tudo pode mudar em minutos, segundos, que nos ajuda a segurar, quando tudo fica difícil.
Quando as coisas estiverem indo mal, pense em quantas outras vezes elas estiveram tão mal quanto, às vezes até pior -e depois passou. Não se queixe, não reclame, não chore, não se descabele, apenas espere; apenas espere, com aquela quase resignação que parece até indiferença, que vê tantas vezes nos olhos dos mais velhos, que sabem que vai passar - porque sempre passa.
A essa indiferença se pode chamar sabedoria ou experiência - o que, no final, é mais ou menos a mesma coisa.

DANUZA LEÃO – A Tal da Felicidade

É preciso tomar cuidado com essa tal de felicidade, e já começar sabendo que ela não é um lugar onde se chega, mas por onde se passa às vezes, por alguns instantes -e, na maioria deles, sem perceber.
É estranha, essa tal de felicidade; tão estranha que normalmente só nos referimos a ela como coisa do passado -ah, como eu era feliz- ou do futuro -ah, como vou ser feliz quando, se etc. Etc.

Tudo existe no presente: ter frio, fome, sede, estar triste, alegre ou sofrendo, menos ser feliz. Você já ouviu alguém dizer "eu sou feliz"? Você já se sentiu, em algum momento, uma pessoa completamente feliz? Mas quantas vezes olhou para trás e disse -e ouviu- que era feliz e não sabia? Pois é, quantas vezes já ouviu isso ou pensou nisso?

A felicidade é traiçoeira; quando chega, mesmo sem que se perceba, a gente muda. Fica egoísta, não presta atenção nos outros, no mundo; nada interessa, a não ser cuidar da própria vida. Mas nada como um bom sofrimento para fazer você olhar nos olhos de sua empregada de anos e se dar conta de que ela é gente; de que às vezes tem uma dor de cabeça igualzinho à sua, só que não pode ficar deitada no ar refrigerado tocando a campainha de 15 em 15 minutos e pedir um chazinho. E alguma casa deixou de ter uma carne assada, arroz e uma farofinha na mesa do jantar porque a empregada estava resfriada?

Pessoas muito felizes, além de egoístas, correm o risco de perder a curiosidade; afinal, se tudo está tão bem, qual a razão para ler um jornal, saber quais as novas descobertas da ciência, se as saias estão mais curtas ou mais longas? Faz parte da felicidade não ter grandes desejos nem grandes anseios -quando se é feliz, não se precisa de mais nada, portanto, não se sonha com mais nada. Quando se quer e se deseja, se luta, se briga, se vive.
Estando tudo bem, o melhor é ficar imóvel, rezando para que nada mude, nem o mundo nem as pessoas nem você própria. Portanto, pensando bem, a felicidade é a ser evitada.

Por que razão você se cuida, faz ginástica, mechas no cabelo, enche a casa de flores, compra um vestido novo, uma passagem no cartão de crédito, toma um uísque, se perfuma? Para ter a esperança de que aconteça alguma coisa que vai fazer de você uma pessoa mais feliz -começando pelo amor, claro; mas se acha que já é, então não faz mais nada, a não ser inventar o que vai comer no café da manhã, no almoço e no jantar. Aliás, é uma grande delícia acordar com bolo de chocolate e Coca-cola, no almoço uma montanha de pastéis de queijo e camarão com uma cerveja bem gelada, depois deitar numa rede, de preferência debaixo de um coqueiro, e à noite partir para um belo rosbife com um monte de batatas fritas, sem pensar em nada -apenas comendo, desfrutando desse que é um dos grandes prazeres da vida: o paladar, ou falando mais francamente, a gula. Pois cuidado: a felicidade engorda.

Mas pensando bem, sua vida está razoavelmente em ordem, não é mesmo? O trabalho vai bem, a família numa relativa paz -dentro do possível, claro-, a vida correndo mansa. Além disso, existem as esperanças: de que o Brasil melhore, de que seja eleito um Congresso mais razoável, de que no próximo verão dê para passar duas semanas na Bahia tomando banho de mar e bebendo água de coco: então, essas não são razões suficientes para ser feliz? Então, o que te impede de dizer, com todas as letras e bem alto, "Eu sou feliz"?

O que te impede, amiga, é a memória. Se ela não existisse, todos poderíamos ser muito felizes, ou mesmo um pouco felizes, mas sem dor. Aquela dor que te pega quando você abre uma caixa cheia de fotos de quando era criança, de uma viagem, de amigos que se perderam pela vida.

Que inveja de gente que olha para antigas fotos e lembra das coisas sorrindo, felizes. Como fazem? Como conseguem?

Só através da memória você aprende, adquire sabedoria, experiência, cultura; sem ela não há história, nem civilização, sem ela os livros não existiriam.

Mas a memória é esse mistério que torna tudo possível e só te impede de uma coisa: de ser feliz.

DANUZA LEÃO - Mulher tem memória

 Você é medrosa? E quem não é? E de que você tem medo? 
Bem, existem os medos básicos: 
de barata, de rato, de cobra, da escuridão.
Mas existem outros, nos quais quase não se pensa, mas dos quais se tem pânico -e esses são os piores.
São os medos subjetivos, quando se faz algo que não se deveria, de ser punida; por um pai imaginário, por Deus, por um alguém que não faz outra coisa a não ser olhar atentamente para tudo que você faz, para premiar ou castigar. De preferência, castigar.
Existem outros medos nos quais não se pensa mas que são permanentes: medo de ficar doente, de ficar velha e sozinha, de morrer. Quando se pensa em todos esses medos, chega a surpreender como podemos, às vezes, passar horas falando bobagem e dando risada.
Quando criança, você teve medo de seu pai? Se teve, vai passar a vida inteira tendo medo do marido e do patrão, símbolos da autoridade masculina.
E o medo da maldade? E do olho grande?
Medo tem a ver com culpa, e quem é culpada vive sempre com medo do castigo.
Existem as pessoas que não são culpadas de nada, e as que são culpadas de tudo. As primeiras passam pela vida felizes, felizes; já as outras acham que, se no lugar de terem comprado aquele batom tivessem mandado o dinheiro para os necessitados da África, teriam pelo menos feito sua parte. Como é difícil viver.
Mas é preciso não confundir o medo com a covardia, e às vezes -aliás, o tempo todo- é preciso se posicionar, sem medo. Se posicionar, no caso, é apenas organizar seus pensamentos e ter suas opiniões, o que, se para alguns é simples, para outros é quase impossível.
Por que será? Serão essas pessoas tão reprimidas que isso as impede não apenas de dar sua opinião mas até de terem uma? Ou será medo?
Existem alguns medos bem concretos: da reação daquele homem quando você anuncia que está indo embora. Com todas as conquistas que as mulheres conseguiram, nessa hora o medo é físico -afinal, os homens costumam ser agressivos, mais fortes que nós (fisicamente), e às vezes, quando feridos, passam dos limites. Outro medo é quando, já com o novo, você cruza pela primeira vez com o que foi abandonado.
Mas os homens também têm seus medos, sobretudo quando são eles que abandonam. As mulheres -mais emocionais e menos civilizadas- são capazes de tudo, quando deixadas; mulher não esquece -nem perdoa.
Aconteceu com um casal de velhinhos -bem velhinhos mesmo- que estava visitando a filha, num domingo. Falavam sobre o passado, e num determinado momento ela perguntou -afinal, já havia tanto tempo- se ele havia tido um caso com uma determinada mulher, décadas atrás, o que na época ele negou com firmeza.
A conversa estava tão amena, a paz tão grande, com a família toda reunida, que ele disse que sim, era verdade. Ela avançou no pescoço dele e foi preciso a filha e o genro para separá-los. Apesar de já terem passado dos 80, ela passou meses sem falar com ele.
E é bom que os homens também tenham medo, pois uma mulher com raiva é muito mais perigosa do que um homem com um revólver na mão.

DANUZA LEÃO - Não ver, não ouvir e calar sempre

 E não tenha ilusões: diga você o que disser, 
contra ou a favor, no final a culpa será sempre sua


Você quer ser querida pelos amigos, viver sem problemas, ser daquelas pessoas que são sempre lembradas com alegria e prazer? Em outras palavras: você quer ser feliz? Simples: esqueça essas manias de ver, ouvir e, sobretudo, falar, e sua vida passará a ser um mar de rosas.
Não ouça; isso mesmo, não ouça, salvo, talvez, um pouco de música, quando estiver no carro. Quando perceber que estão contando uma história escabrosa da área política, vá para a janela e olhe para fora com enorme atenção.
E se o assunto envolver a vida particular de quem quer que seja -e quanto mais próxima a pessoa, pior-, seja drástico e finja um mal-estar súbito. Se tiver que se explicar, diga, no máximo, que é vagotônico como era o poeta Vinicius, doença que, aliás, já esteve muito na moda e que ninguém nunca soube muito bem do que se tratava.
Agora, o principal: se uma amiga -principalmente se for a que você mais adora- quiser contar seus problemas pessoais, arranje uma desculpa, seja ela qual for, para não ouvir: simule uma crise nervosa, diga coisas desconexas, dê uns gritos, e se for preciso, desmaie, mesmo que esteja no meio da rua.
Vale absolutamente tudo para não assumir o papel de confidente, pois vai acabar sobrando para você -ou estou dizendo alguma novidade?
Bem, já falamos do primeiro ponto: não ouvir. Agora vamos ao segundo: não ver.
Quando for a uma festa, use óculos, daqueles que os bandidos obrigam os sequestrados a usar -com vidro negro e opaco- para não enxergar; faça essa riquíssima experiência que é não ver absolutamente nada, a saber: quem deu um amasso em quem, de quem é a perna enroscada debaixo da mesa que você flagrou quando foi pegar o isqueiro que caiu no chão, ou as baixarias que costumam acontecer quando as pessoas se descontraem, digamos assim. E se não conseguir os tais óculos negros, não tem importância: é só passar a noite inteira de olhos fechados -ou não sair de casa, claro.
Agora, o terceiro ponto, muito, mas muito mais importante do que não ver e não ouvir: não falar.
Nunca diga nada sobre nenhum assunto, e não dê, jamais, uma só opinião sobre nada. Se alguém diz que a couve-flor está mais cara, ouça com o ar mais sério do mundo; se ouvir o contrário, também -e continue mudo. Não diga nada, não faça nenhuma ponderação, não emita um único som.
Renuncie a bancar o inteligente e fique até o sol raiar, se for preciso, de boca fechada, que é a posição correta na vida, como você já deve ter aprendido -ou devia.
Se alguém mencionar a crise política e tiver uma vontade súbita de dizer alguma coisa, morda a língua e não faça juízo a respeito de nada: nem sobre a queda -ou a alta- do dólar, nem, sobretudo, sobre a CPI. Opinião, nem pensar.
O maior perigo é quando sua maior amiga está passando por uma crise e pede um conselho.
As pessoas só querem que se diga o que elas querem ouvir, e há até quem ache que amigo só existe para dar razão quando não se tem razão -você não sabia?
E não tenha ilusões: diga você o que disser, contra ou a favor, no final a culpa será sempre sua. Aprenda, mesmo que já um pouco tarde, que a sabedoria da vida é não ver, não ouvir e calar.
O que significa, na prática, não viver -o que é meio triste, convenhamos.

DANUZA LEÃO - Certos momentos

Ficou combinado que quem sorri muito é mais feliz 
do que os sérios, mas não sei se é mesmo fundamental.

Outro dia - era um sábado - saí de manhã para fazer umas coisas bem pouco interessantes, tipo comprar cabides, lata de lixo, um armário para a área etc.; mais sem graça, impossível. Quando terminei, eram 2h da tarde e eu estava com fome.
Por coincidência, quando vi, bem ao lado, um restaurante que adoro, de comida baiana. Entrei, pedi uma caipirinha e um acarajé.
Eu estava tranquila, tinha conseguido liquidar minha listinha e, sedenta e faminta, iria beber e comer exatamente o que queria. O restaurante foi enchendo, e a única mesa com uma só pessoa era a minha.
Algumas pessoas me olharam meio de banda, possivelmente achando estranho uma mulher almoçando sozinha num sábado de sol. Talvez tenham pensado que eu havia levado um bolo, ou que era uma pobre coitada que não tinha amigos com quem almoçar, ou sei lá mais o quê.
Terminei meu acarajé, que aliás estava ótimo, pedi mais uma caipirinha e uma moqueca de camarão.
Comi muito, mais do que deveria, mas estava tudo tão bom, mas tão bom, que eu acho que merecia.
Quando estou comendo, só presto atenção -e muita- ao que estou fazendo; mas quando terminei, e só então, comecei a olhar as pessoas.
Em uma das mesas elas eram seis, que conversavam alto, todas falavam, e pareciam alegres; em outra, um casal de turistas, tipo lua de mel, felizes da vida, e havia uma -também de seis- em que todos riam e gargalhavam, parecendo se divertir muito.
Aí fiquei pensando (uma mania que tenho). Será que os que riem e dão gargalhadas são mais felizes do que os que apenas conversam, talvez até sobre as mais banais banalidades? E mais do que os que estão sozinhos?
Ficou combinado que quem sorri muito, ri muito, gargalha muito é mais feliz do que os sérios, mas não sei se para viver bem -e não estou falando de felicidade- é mesmo fundamental estar sempre rindo.
Pensei que, se estivesse em qualquer daquelas mesas, não estaria melhor do que estava, ali, sozinha.
Quem inventou que rir é mesmo melhor do que não rir? Eu já ri muito, muito mais do que rio agora, e isso não me faz a menor falta; aliás, tenho horror aos profissionais em dizer coisas engraçadas, que são a alegria da festa, que fazem os outros gargalhar. "Vamos jantar sim, vai ter fulano, que é ótimo, divertidíssimo"; essa frase, aliás, já é uma boa razão para eu não ir.
Continuei mais um tempo na mesa, e tão bem, que ainda pedi uma cocada branca de sobremesa, e pensei que inventam umas coisas nas quais as pessoas acreditam; talvez, naquele sábado, muitos homens e mulheres acreditaram no que ouviram dizer, e estavam infelizes por estarem em casa, porque não tinham com quem almoçar, alguém engraçado, para que eles rissem um pouco.
Vou repetir, para que não haja engano: eu não estava vivendo nenhum momento de intensa felicidade. Mas estava tão bem, mas tão bem, que naquele momento não precisava de mais nada na vida; de nada. Já passei por momentos assim algumas vezes, e lembro de todos eles, porque foram todas inesquecíveis, e aprendi a identificar, na hora, quando eles acontecem, assim, a troco de nada; será que isso tem um nome?
E, curioso: em todos eu estava absolutamente só.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.
Livros de Edmir Saint-Clair

Escolha o tema:

- Mônica El Bayeh (1) 100 DIAS QUE MUDARAM O MUNDO (1) 45 LIÇÕES QUE A VIDA ME ENSINOU (1) 48 FRASES GENIAIS (1) 5 CHAVES PARA FREAR AS RELAÇÕES TÓXICAS NA FAMÍLIA (1) 5 MITOS SOBRE O CÉREBRO QUE ATÉ OS NEUROCIENTISTAS ACREDITAM (1) A ALMA ESTÁ NA CABEÇA (1) A FUNÇÃO SOCIAL DA CULPA (1) A GREVE DAS PALAVRAS (1) A LUCIDEZ PERIGOSA (1) A PANDEMIA VISTA DE 2050 (1) A PARÁBOLA BUDISTA (1) A PÍLULA DA INTELIGÊNCIA (1) A PRÁTICA DA BOA AMIZADE (1) A PREOCUPAÇÃO EXCESSIVA COM A APARÊNCIA FÍSICA (1) A QUALIDADE DO SEU FUTURO - Edmir Silveira (1) A SOMBRA DAS CHUTEIRAS IMORTAIS (1) A Tua Ponte (1) A vergonha pode ser o início da sabedoria (1) AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA (5) Amigos (4) amizade (2) ANA CAROLINA DECLAMA TEXTO DE ELISA LUCINDA (1) ANDRÉ COMTE-SPONVILLE (3) ANTONIO CÍCERO (2) ANTÓNIO DAMÁSIO (3) ANTÔNIO MARIA (2) ANTONIO PRATA (2) antropologia (3) APENAS UMA FOLHA EM BRANCO SOBRE A MESA (1) APOLOGIA DE PLATÃO SOBRE SÓCRATES (1) ARISTÓTELES (2) ARNALDO ANTUNES (2) ARNALDO BLOCH (1) Arnaldo Jabor (36) ARTHUR DA TÁVOLA (12) ARTHUR DAPIEVE (1) ARTHUR RIMBAUD (2) ARTHUR SCHOPENHAUER (5) ARTUR DA TÁVOLA (9) ARTUR XEXÉO (6) ASHLEY MONTAGU (1) AUGUSTO CURY (4) AUTOCONHECIMENTO (2) BARÃO DE ITARARÉ (3) BARUCH SPINOZA (3) BBC (9) BBC Future (4) BERNARD SHAW (2) BERTRAND RUSSELL (1) BISCOITO GLOBO (1) BRAINSPOTTING (1) BRUNA LOMBARDI (2) CACÁ DIEGUES (1) CAETANO VELOSO (10) caio fernando abreu (5) CARL JUNG (1) Carl Sagan (1) CARLOS CASTAÑEDA - EXPERIÊNCIAS DE ESTRANHAMENTO (1) CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (23) CARLOS EDUARDO NOVAES (1) CARLOS HEITOR CONY (3) CARTA DE GEORGE ORWELL EXPLICANDO O LIVRO 1984 (1) CECÍLIA MEIRELES (5) CELSO LAFER - Violência (1) CÉREBRO (17) CHARLES BAUDELAIRE (4) CHARLES BUKOWSKI (3) Charles Chaplin (4) Charles Darwin (2) CHÂTEAU DE VERSAILLES (1) CHICO ANYSIO (3) Christian Ingo Lenz Dunker (9) CIÊNCIA E RELIGIÕES (1) CIÊNCIAS (20) CIENTISTA RUSSO REVELA O QUE OCORRE CONOSCO APÓS A MORTE (1) cinema (6) CLARICE LISPECTOR (17) CLÁUDIA LAITANO (3) CLAUDIA PENTEADO (8) Coletâneas Cult Carioca (1) COMO A INTERNET ESTÁ MUDANDO AS AMIZADES (1) COMO A MÚSICA PODE ESTIMULAR A CRIATIVIDADE (1) COMO A PERCEPÇÃO DO TEMPO MUDA DE ACORDO COM A LÍNGUA (1) COMO A PERDA DE UM DOS PAIS PODE AFETAR A SUA SAÚDE MENTAL (1) COMO A SOLIDÃO ALIMENTA O AUTORITARISMO (1) COMO COMEÇAR DO ZERO EM QUALQUER IDADE (1) COMPORTAMENTO (528) Conexão Roberto D'Avila - STEVENS REHEN - IMPERDÍVEL - ALTISSIMO NIVEL DE CONHECIMENTO (1) CONHEÇA 10 PESSOAS QUE QUASE FICARAM FAMOSAS (1) conhecimento (6) CONTARDO CALLIGARIS (17) CONVERSAS NECESSÁRIAS (1) CORA CORALINA (3) CORA RÓNAI (6) CORTES DIRETO AO PONTO (32) Cristiane Segatto (8) CRÔNICAS (992) Crônicas. (172) CRUZ E SOUSA (1) CULT MOVIE (5) CULT MUSIC (10) CULT VÍDEO (21) DALAI LAMA (5) DALTON TREVISAN (1) Dante Alighieri (1) DANUZA LEÃO (30) DE ONDE VÊM OS NOMES DAS NOTAS MUSICAIS? (1) DEEPAK CHOPRA (3) DENTRO DE MIM (1) DRAUZIO VARELLA (11) E. E. CUMMINGS (3) EDGAR MORIN (2) Edmir Saint-Clair (78) EDUARDO GALEANO (3) ELIANE BRUM (25) ELISA LUCINDA (4) EM QUE MOMENTO NOS TORNAMOS NÓS MESMOS (1) Emerson (1) EMILY DICKINSON (1) Emmanuel Kant (1) Empatia (3) entrevista (11) EPICURO (3) Epiteto (1) Erasmo de Roterdam (1) ERÓTICA É A ALMA (1) Eu Cantarei de Amor Tão Docemente (1) Eu carrego você comigo (2) Fábio Porchat (8) FABRÍCIO CARPINEJAR (5) FEDERICO GARCIA LORCA (2) FERNANDA TORRES (23) FERNANDA YOUNG (6) Fernando Pessoa (13) FERNANDO SABINO (4) FERREIRA GULLAR (24) FILHOS (5) filosofia (217) filósofo (10) FILÓSOFOS (7) Flávio Gikovate (25) FLORBELA ESPANCA (8) FRANCISCO DAUDT (25) FRANZ KAFKA (4) FRASES (39) Frases e Pensamentos (8) FREUD (4) Friedrich Nietzsche (2) Friedrich Wilhelm Nietzsche (1) FRITJOF CAPRA (2) GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ (2) GEMÄLDEGALERIE - Berlin - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) GERALDO CARNEIRO (1) Gilles Deleuze (2) HANNAH ARENDT (1) HELEN KELLER (1) HELOISA SEIXAS (10) Heloísa Seixas (1) Henry David Thoreau (1) HERMANN HESSE (10) HILDA HILST (1) IMMANUEL KANT (1) INTELIGENCIA (2) intimidade (6) IRMÃ SELMA (1) Isaac Asimov. (1) ISABEL CLEMENTE (2) IVAN MARTINS (22) JEAN JACQUES ROUSSEAU (1) JEAN PAUL SARTRE (1) JEAN-JACQUES ROUSSEAU (3) Jean-Paul Sartre (2) JEAN-YVES LELOUP - SEMEANDO A CONSCIÊNCIA (1) Jô Soares (4) JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1) JOÃO UBALDO RIBEIRO (14) JOHN NAUGHTON (1) JORGE AMADO (1) JORGE FORBES (1) jornalista (3) JOSÉ PADILHA (2) JOSE ROBERTO DE TOLEDO (1) JOSÉ SARAMAGO (8) JULIO CORTÁZAR (2) KAHLIL GIBRAN (3) Kant (2) KETUT LIYER (1) Khalil Gibran (5) Klaus Manhart (2) KRISHNAMURTI (1) Lao-Tzu (1) LE-SHANA TOVÁ TIKATEVU VE-TECHATEMU - Nilton Bonder (1) LEANDRO KARNAL (3) LEDA NAGLE (2) LÊDO IVO (2) LETÍCIA THOMPSON (2) literatura (69) literatura brasileira (23) LUIGI PIRANDELLO (2) LUIS FERNANDO VERISSIMO (15) LUIS FERNANDO VERÍSSIMO (7) LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO (13) LUIS VAZ DE CAMÕES (2) LUIZ FERNANDO VERISSIMO (6) LYA LUFT (33) LYGIA FAGUNDES TELLES (1) MADHAI (4) Mahatma Gandhi (5) Maiakowski (1) MANOEL CARLOS (11) MANOEL DE BARROS (1) MANUEL BANDEIRA (4) MAPA INTERATIVO PERMITE VIAJAR NO TEMPO E VER 'SUA CIDADE' HÁ 600 MILHÕES DE ANOS (1) Marcel Camargo (12) MARCELO RUBENS PAIVA (7) MARCIA TIBURI (12) MARÍLIA GABRIELA entrevista RAFINHA BASTOS (1) MARINA COLASANTI (6) MÁRIO LAGO (1) Mário Prata (3) MÁRIO QUINTANA (15) MÁRIO SÉRGIO CORTELLA (4) MARIO VARGAS LLOSA (1) MARK GUNGOR (1) martha medeiros (92) MARTIN LUTHER KING JR (1) MARTINHO DA VILA (1) MELATONINA: O HORMÔNIO DO SONO E DA JUVENTUDE (1) MIA COUTO (14) MIA COUTO: “O PORTUGUÊS DO BRASIL VAI DOMINAR” (1) MICHEL FOUCAULT (1) MIGUEL ESTEVES CARDOSO (4) MIGUEL FALABELLA (14) Miguel Torga (2) MILAN KUNDERA (1) MILLÔR FERNANDES (3) MOACYR SCLIAR (12) MÔNICA EL BAYEH (4) Monja Cohen (1) MUSÉE D'ORSAY - PARIS - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) MUSEU NACIONAL REINA SOFIA - Madrid - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) MUSEU VAN GOGH - Amsterdam - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) NÃO DEVEMOS TER MEDO DA EVOLUÇÃO – Edmir Silveira (1) NARCISISMO COLETIVO (1) Natasha Romanzoti (3) NÉLIDA PIÑON (1) NELSON MANDELA (1) NELSON MOTTA (28) NELSON RODRIGUES (3) NEUROCIÊNCIA (143) NILTON BONDER (1) NOAM CHOMSKY (2) NOITE DE NATAL (1) O BRASIL AINDA NÃO DESCOBRIU O CABRAL TODO (1) O CLIQUE (1) O MITO DA CAVERNA DE PLATÃO: A DUALIDADE DA NOSSA REALIDADE (1) O MITO DO AMOR MATERNO – Maria Lucia Homem (1) O Monge Ocidental (2) O MUNDO DA GENTE MORRE ANTES DA GENTE (1) O MUNDO SECRETO DO INCONSCIENTE (1) O PENSAMENTO DE CARL SAGAN (1) O PODER DO "TERCEIRO MOMENTO" (1) O PODER TERAPÊUTICO DA ESTRADA - Martha Medeiros (1) O QUE A VIDA ENSINA DEPOIS DOS 40 (1) O QUE É A TÃO FALADA MEDITAÇÃO “MINDFULNESS” (1) O QUE É A TERAPIA EMDR? – Ignez Limeira (1) O QUE É BOM ESCLARECER AO COMEÇAR UM RELACIONAMENTO AMOROSO (1) O QUE É CIENTÍFICO? - Rubem Alves (1) O que é liberdade (1) O QUE É MAIS IMPORTANTE: SER OU TER? (1) O QUE É MENTE (1) O QUE É MODERNIDADE LÍQUIDA (1) O QUE É O AMOR PLATÔNICO? (1) O QUE É O PENSAMENTO ABSTRATO (1) O QUE É OBJETIVISMO (1) O QUE É SER “BOM DE CAMA”? (1) O QUE É SER INTELIGENTE (1) O QUE É SER LIVRE? (1) O QUE É SER PAPA? - Luiz Paulo Horta (1) O QUE É SERENIDADE? (1) O QUE É UM PSICOPATA (1) O QUE É UMA COMPULSÃO? - Solange Bittencourt Quintanilha (1) O QUE FAZ O AMOR ACABAR (1) O que se passa na cama (1) O ROUBO QUE NUNCA ACONTECEU (2) O Sentido Secreto da Vida (2) OBRIGADO POR INSISTIR - Martha Medeiros (1) OCTAVIO PAZ (2) OLAVO BILAC (1) ORGASMO AJUDA A PREVENIR DOENÇAS FÍSICAS E MENTAIS (1) ORIGEM DA CONSCIÊNCIA (1) Os canalhas nos ensinam mais (2) OS EFEITOS DE UM ÚNICO DIA DE SOL NA SUA PELE (1) OS HOMENS OCOS (1) OS HOMENS VÃO MATAR-SE UNS AOS OUTROS (1) OTTO LARA RESENDE (1) OUTROS FORMATOS DE FAMÍLIA (1) PABLO NERUDA (22) PABLO PICASSO (2) PALACIO DE VERSAILLES - França - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) Pandemia (2) PAULO COELHO (6) PAULO MENDES CAMPOS (2) PEDRO BIAL (4) PENSADORES FAMOSOS (1) pensamentos (59) PERFIL DE UM AGRESSOR PSICOLÓGICO: 21 CARACTERÍSTICAS COMUNS (1) PERMISSÃO PARA SER INFELIZ - Eliane Brum com a psicóloga Rita de Cássia de Araújo Almeida (1) poemas (8) poesia (281) POESIAS (59) poeta (76) poetas (18) POR QUE A CULPA AUMENTA O PRAZER? (1) POR QUE COMETEMOS ATOS FALHOS (1) POR QUE GOSTAMOS DE MÚSICAS TRISTES? (1) porto alegre (6) PÓS-PANDEMIA (1) PRECISA-SE (1) PREGUIÇA: AS DIFERENÇAS ENTRE A BOA E A RUIM (1) PROCRASTINAÇÃO (1) PROPORÇÕES (1) PSICANALISE (5) PSICOLOGIA (432) psiquiatria (8) QUAL O SENTIDO DA VIDA? (1) QUANDO A SUA MENTE TRABALHA CONTRA VOCÊ (1) QUANDO FALAR É AGREDIR (1) QUANDO MENTIMOS MAIS? (1) QUANDO O AMOR ACABA (1) QUEM FOI EPICURO ? (1) QUEM FOI GALILEU GALILEI? (1) Quem foi John Locke (1) QUEM FOI TALES DE MILETO? (1) QUEM FOI THOMAS HOBBES? (1) QUEM INVENTOU O ESPELHO (1) Raul Seixas (2) Raul Seixas é ATROPELADO por uma onda durante uma ressaca no Leblon (1) RECEITA DE DOMINGO (1) RECOMEÇAR (3) RECOMECE - Bráulio Bessa (1) Reflexão (3) REFLEXÃO DE BERT HELLINGER (1) REGINA NAVARRO LINS (1) REJUVENESCIMENTO - O DILEMA DE DORIAN GRAY (1) RELACIONAMENTO (5) RENÉ DESCARTES (1) REZAR E AMAR (1) Rick Ricardo (5) RIJKSMUSEUM - Amsterdam - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) RIO DE JANEIRO (10) RITA LEE (5) Robert Epstein (1) ROBERT KURZ (1) ROBERTO D'ÁVILA ENTREVISTA FLÁVIO GIKOVATE (1) ROBERTO DaMATTA (8) Roberto Freire (1) ROBERTO POMPEU DE TOLEDO (1) RUBEM ALVES (26) RUBEM BRAGA (1) RUTH DE AQUINO (16) RUTH DE AQUINO - O que você revela sobre você no Facebook (1) Ruy Castro (10) SAINDO DA DEPRESSÃO (1) SÁNDOR FERENCZI (1) SÁNDOR MÁRAI (3) SÃO DEMASIADO POBRES OS NOSSOS RICOS (1) SAÚDE MENTAL (2) Scott O. Lilienfeld (2) século 20 (3) SÊNECA (7) SENSAÇÃO DE DÉJÀ VU (1) SER FELIZ É UM DEVER (2) SER MUITO INTELIGENTE: O LADO RUIM DO QUAL NÃO SE FALA (1) SER OU ESTAR? - Suzana Herculano-Houzel (1) Ser Pai (1) SER PASSIVO PODE SER PREJUDICIAL À SAÚDE (1) SER REJEITADO TORNA VOCÊ MAIS CRIATIVO (1) SERÁ QUE SUA FOME É EMOCIONAL? (1) SEXO É COLA (1) SEXO TÂNTRICO (1) SEXUALIDADE (2) Shakespeare. O bardo (1) Sidarta Ribeiro (4) SIGMUND FREUD (4) SIMONE DE BEAUVOIR (1) Simone Weil (1) SINCERICÍDIO: OS RISCOS DE SE TORNAR UM KAMIKAZE DA VERDADE (1) SÓ DE SACANAGEM (2) SÓ ELAS ENTENDERÃO (1) SOCIOLOGIA (10) SÓCRATES (2) SOFRER POR ANTECIPAÇÃO (2) Solange Bittencourt Quintanilha (13) SOLITÁRIOS PRAZERES (1) STANISLAW PONTE PRETA (5) Stephen Kanitz (1) Steve Ayan (1) STEVE JOBS (5) SUAS IDEIAS SÃO SUAS? (1) SUPER TPM: UM TRANSTORNO DIFÍCIL DE SER DIAGNOSTICADO (1) Super YES (1) Suzana Herculano-Houzel (10) T.S. ELIOT (2) TALES DE MILETO (2) TATE BRITAIN MUSEUM (GALLERY) (1) TERAPIA (4) THE METROPOLITAN MUSEUM OF ART (1) THE NATIONAL GALLERY OF LONDON - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) THIAGO DE MELLO (2) TODA CRIANÇA É UM MAGO - Augusto Branco (1) Tom Jobim (2) TOM JOBIM declamando Poema da Necessidade DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (1) TONY BELLOTTO (3) Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (2) TRUQUE DO PANO: PROTEJA O CACHORRO DO BARULHO FEITO PELOS FOGOS DE ARTIFÍCIO (1) UM CACHORRO PRETO CHAMADO DEPRESSÃO (1) UM ENCONTRO COM LACAN (1) UM VÍRUS CHAMADO MEDO (1) UMA REFLEXÃO FABULOSA (1) UNIÃO EUROPEIA INVESTE EM PROGRAMA PARA PREVER O FUTURO (1) ÚNICO SER HUMANO DA HISTÓRIA A SER ATINGIDO POR UM METEORITO (1) velhice (2) Viagem ao passado (2) VICTOR HUGO (4) VÍDEO - O NASCIMENTO DE UM GOLFINHO (1) VÍDEO - PALESTRA - MEDO X CRIATIVIDADE (1) VÍDEO ENTREVISTA (2) VÍDEO PALESTRA (14) Vinícius de Moraes (3) VIVIANE MOSÉ (4) VLADIMIR MAIAKOVSKI (2) W. B. YEATS (1) W. H. Auden (2) WALCYR CARRASCO (4) WALT WHITMAN (4) Walter Kaufmann (1) Way Herbert (1) Wilhelm Reich (2) WILLIAM FAULKNER (1) William Shakespeare (4) WILSON SIMONAL e SARAH VAUGHAN (1)

RACISMO AQUI NÃO!

RACISMO AQUI NÃO!