DRAUZIO VARELLA - O começo do fim da Aids

Os que receberam tratamento precoce tiveram 
41% menos processos infecciosos do que os demais.

Parece ficção, mas esse foi o nome de um congresso realizado na Universidade George Washington, em dezembro último.

Há muito a comunidade científica discute a ideia de que tratar a infecção pelo HIV com antirretrovirais (ARVs) traria a vantagem paralela de impedir a transmissão do vírus.

De um lado, os que consideravam óbvia essa hipótese: se os remédios reduzem a carga viral, a probabilidade de espalhar o vírus tem que diminuir. De outro, os céticos: falta provar.

A controvérsia foi esclarecida com a publicação do estudo conduzido pelo HIV Prevention Trial Network, um consórcio internacional do qual participaram diversos infectologistas brasileiros.

Batizado como HPTN 052, o estudo envolveu 1.763 casais heterossexuais com apenas um dos cônjuges infectado (casais discordantes), residentes em cinco países africanos, Brasil, Tailândia e Estados Unidos.
Para participar, o parceiro infectado devia estar virgem de tratamento e ter no sangue um número de células CD4 entre 350 e 550/mm³, característica dos que apresentam certo grau de deficiência imunológica, porém ainda insuficiente para chegar à fase de Aids.

Sorteados ao acaso, metade dos participantes recebeu comprimidos contendo ARVs. Para os outros, foram distribuídos comprimidos-placebo aparentemente idênticos, até que suas células CD4 caíssem abaixo de 250.

Em abril de 2011, os resultados se mostraram tão contundentes que o estudo foi encerrado e enviado para a revista médica de maior circulação mundial: "The New England Journal of Medicine".
Das 28 pessoas infectadas por seus parceiros, 27 faziam parte do grupo-placebo; apenas uma pertencia ao grupo medicado com os ARVs.

Além do benefício na prevenção, os que receberam tratamento precoce tiveram 41% menos processos infecciosos do que os demais, constatação que levou os organizadores a prescrever ARVs para todo o grupo de controle. Para excluir a possibilidade de que os 28 infectados tivessem adquirido o vírus em relações extraconjugais, o HIV colhido na circulação de cada um deles foi submetido a testes genéticos para confirmação de identidade com o vírus do cônjuge.
Você acha, leitor, que o debate está encerrado?

Claro que não. Em ciência, a resolução de um problema inevitavelmente cria outros. Agora, alinham-se em campos opostos os otimistas, que acham possível conter a epidemia em países inteiros às custas do tratamento precoce dos HIV positivos, contra os que consideram essa estratégia fantasiosa pelas seguintes razões:

1) É muito difícil identificar todos os infectados pelo HIV. Nos cinco continentes, há 34 milhões, apenas 6,6 milhões dos quais recebendo medicamentos. A cada ano ocorrem 2,7 milhões de infecções novas. Lesoto, país africano com a terceira prevalência mais alta do mundo, lançou em 2004 uma campanha nacional para testar a população inteira. Até hoje, apenas metade dos adultos fizeram o teste.

2) Os testes anti-HIV não possuem sensibilidade para detectar o vírus nos primeiros dias depois de adquiri-lo, quando a multiplicação rápida na corrente sanguínea torna a transmissão mais provável. Cerca de um terço delas ocorre nessa fase aguda.

3) Para a estratégia ter êxito, os portadores devem tomar os remédios com regularidade, durante muitos anos, rotina especialmente problemática no caso dos assintomáticos, quando experimentam efeitos colaterais.

4) Prescrever ARVs em grande escala aumenta o risco de tornar o vírus mais resistente. Na África, a resistência do HIV entre os que recebem tratamento aumenta a cada ano que passa.

5) Confiar na atividade protetora dos ARVs poderia levar os portadores a adotar práticas sexuais inseguras para seus parceiros.

6) Embora menos da metade dos que precisariam tomar ARVs tenha acesso a eles, cerca de dois terços dos U$ 7 bilhões anuais investidos no combate à epidemia são consumidos apenas no custeio de programas de tratamento. Haveria recursos para medicar todos?

Apesar dessas objeções, a possibilidade de conter a epidemia com medicamentos deixou de ser pensamento mágico. A revista "Science" considerou a prevenção do HIV com antirretrovirais a mais importante de todas descobertas científicas do ano passado.

MARINA COLASANTI - Alto risco entre duas leis‏

Se duro é ser mulher, bem mais duro é ser mulher 
em universos onde só homens mandam.

Um homem que conheço está querendo matar uma mulher, que também conheço. Disse isso a ela mais de uma vez. E, para que não duvidasse, a cobriu recentemente de pancadas. Ela e sua irmã. É homem forte, mas para bater usa um pedaço de pau.

A casa em que ela morava com ele e a filha dos dois é dela. Foi ela quem comprou, foi ela que providenciou os eletrodomésticos, foi ela que mobiliou. Ele quer essa casa. Não lhe basta a parte que a lei lhe destina. Quer toda. Não porque precise de espaço – a casa é grande – mas para que ela fique sem nada.

A casa é localizada numa comunidade. E aí o caldo, que já não era fino, engrossa ainda mais.

Com o rosto inchado pela surra e marcas no corpo todo, ela e a irmã, também cheia de hematomas, foram à delegacia. Muito bem atendidas. O delegado era pessoa de bem, foi delicado e claro. Disse que se ela quisesse fazer recurso à lei Maria da Penha, a policia iria lá prender o homem e executar o exigido pela lei. Mas a avisou que logo depois ela seria expulsa da comunidade pelos traficantes que a controlam, como punição por ter atraído a policia. Acabaria perdendo a casa do mesmo jeito. Ela decidiu pensar.

Por que, se os traficantes mandam tão amplamente na comunidade, não pede ela às chefias da boca que a protejam, expulsando o homem que prometeu matá-la? Porque a lei dos traficantes, como antigas leis há séculos superadas, diz que “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”. Pergunto-me por que esse raciocínio não avança, até esbarrar na conclusão óbvia: se ele matar a mulher, a polícia virá investigar e a teremos bisbilhotando no morro. Mas sei que o avanço dos raciocínios sempre foi problemático.

Se duro é ser mulher, bem mais duro é ser mulher em universos onde só homens mandam.
E a irmã apanhou por quê? Porque foi defender a outra. A cena se passou no meio da rua onde ficam, frente a frente, a casa da irmã e a casa da mulher. Voltavam juntas quando ele as agrediu.

Um jovem soldado do tráfico observava a cena. Enquanto o homem agrediu a mulher, que considera ainda objeto seu, enquanto a jogou ao chão e se preparava para atacá-la a pontapés, o jovem nada fez. Mas quando deu pauladas na irmã que foi defendê-la, o jovem avançou e, utilizando a autoridade conferida por seu pertencimento às forças armadas locais, meteu-lhe um soco, um empurrão e alguns insultos. Que não tocasse na moça, pois esta não lhe pertencia.

Que tão intrincadas e sutis são as teias dos relacionamentos sociais.
Se a casa que é motivo de tamanho conflito tivesse sido erguida uns tantos metros adiante, “no asfalto”, só uma lei teria que ser observada, o do Código Civil. Porém, bastou subir a encosta, para pertencer a um universo duplo, onde duas leis se defrontam e onde obedecer a uma significa trombar com a outra.

Dentro de ambas as leis, os dois poderiam resolver a questão abrindo mão da casa. Mas essa casa é para ambos muito mais que uma casa. É um símbolo. Para ela, migrante vinda da miséria, é a concretização da sua tenacidade e do seu esforço, a vitória na ascensão. Para ele, que nada tinha antes de conhecê-la, representa sua capacidade de submeter a fêmea a seus desejos, seu domínio de macho. E seja qual for a lei, abrir mão de um símbolo significa abrir mão de uma parte de si.

FERNANDO BRANT - Olha o outono aí, gente‏!

O frio que faz lá fora costuma bater na alma. E o agasalho que cobre o corpo não aquece o coração nesses momentos. Examinando bem, é apenas um arrepio de susto, que logo passa. A vida segue seu rumo, as nuvens logo se afastarão e trarão o outono, que por nossas bandas prenuncia meses e dias de muito sol, muito azul. Manhãs exuberantes de abril, tardes límpidas de maio, noites aconchegantes de junho.

A vida segue seu curso, as pedras ficarão pelo caminho e nós voltaremos a cantar debaixo do flamboyant, celebrando a amizade, a comunhão e a ética, na festa de brasilidade. Debaixo dessas árvores, dentro da casa e de seus salões, há muita música e pessoas de bem convocadas para celebrar a existência digna. 

Sou hóspede antigo desta casa brasiliense acolhedora. As conversas que essas paredes testemunharam são histórias de inteligência, talento, carinho e afeto por um país que todos amamos e queremos melhor para todos. É o lugar ideal para a conspiração dos poetas, o delírio dos loucos sadios e, ao mesmo tempo, ponto de referência da lucidez e da sabedoria. Um espaço de democracia e esperança, banhado muitas vezes por arroubos de fé.

É esta a morada que almejo para todas as estações, do ano e da vida. Não consigo, por mais que tente, assumir o pessimismo de Brás Cubas. Sou um otimista renitente, capaz de enxergar na bruma da noite o raio de luz que anunciará o dia.

Defeito de fabricação não é, pois Vinicius já dizia que é melhor ser alegre do que triste e a alegria é a melhor coisa que existe. Ao contrário, confesso me sentir muito benfeito e criado, fruto de uma família de gente simples, estudiosa e correta, que foi vencendo os obstáculos sem reclamar. Se faz frio, pego um cobertor. Se chove, guarda-chuva. Se está quente, água fria e cerveja gelada.

Descanso nos ombros das pessoas de quem gosto, me envolvo em conversas animadas a futebol, política e outras amenidades. Fosse só isso, seria um desperdício. Mas há as questões relevantes das ideias sobre a humanidade e uma vontade de contribuir com um pouco de beleza para a existência dos semelhantes. Olho para minha biblioteca e constato mais uma vez que eu deveria arquivar o leitor comprador e incentivar o leitor ledor. Quanta sabedoria e poesia nos volumes que tenho à disposição nas estantes. Nem li livros que, nessa altura da vida, deveria estar relendo. 

Se, como diz Brás Cubas, cada estação da vida é uma edição que corrige os erros da anterior, aproveito essa passagem do verão para o outono e volto a me prometer mais leitura gratificante, mais música no meu som e mais cinema em meus dias. E continuarei cada vez mais fora de moda.

JARON LANIER - Falsos ideais da internet

A oposição à Sopa chegou a tais extremos que nós, defensores da
liberdade de expressão, impedimos as pessoas de se manifestarem.

Nós, que amamos a internet, adoramos o fato de tantas pessoas contribuírem para ela. É difícil acreditar que céticos já tenham chegado a achar que ninguém teria alguma coisa que valesse a pena dizer online.

Existe, entretanto, um ramo ultrapassado da ortodoxia digital que deveria ser aposentado. Nessa visão de mundo, a internet é um embate sem fim entre os mocinhos amantes da liberdade e os vilões, como os antigos magnatas da mídia de Hollywood. Os vilões querem ampliar a lei sobre os direitos autorais, e impedir que sejam postados vídeos e artigos anônimos.

A proposta da Stop Online Piracy Act (Sopa), que está sendo analisada na Câmara, enquanto o Senado avalia projeto semelhante, é rotulada como a pior já apresentada. Sites muito visitados, como a Wikipedia, fizeram um blecaute para protestar contra esse tipo de projeto de lei. O Google pôs tarja preta sobre o próprio nome. Coisa nunca vista. Foi extraordinário porque mostrou que a crença na prioridade de combater a Sopa é absoluta a ponto de superar a missão declaradamente não partidária desses sites.

Na verdade, a legislação incluiu medidas draconianas em vários projetos, portanto eu me uno aos colegas na crítica a essas propostas. Mas nossa oposição se tornou tão radical que está sendo mais prejudicial que benéfica a nossa causa. As raras companhias da área de tecnologia que saíram em apoio da Sopa não são apenas criticadas, mas também proibidas de participar de eventos do próprio setor e sujeitas a boicote. Nós, os guardiões da chama da liberdade de expressão, estamos impedindo que as pessoas se manifestem. O resultado é uma atmosfera gélida na qual existe o medo de se dizer o que se pensa.

Nosso melodrama nasce de uma visão de uma internet aberta que já está distorcida, embora não pelos setores mais antigos que temem a pirataria.

Por exemplo, até um ano atrás, eu gostava muito de certo tipo de conteúdo gerado pelos usuários: participava de fóruns nos quais os músicos falavam sobre instrumentos musicais. Por muito tempo, fui alertado de que poderosos obcecados por uma posição de controle, como os magnatas da imprensa, poderiam me tirar meus amados fóruns. Um fórum poderia ser fechado por estar hospedado num servidor com conteúdo pirateado.

Embora reconhecendo que essa seja uma possibilidade concreta, um fator muito diferente – as redes sociais proprietárias – está acabando com minha liberdade de participar dos fóruns de que eu gostava tanto, pelo menos em termos que aceito. Assim como muitas outras formas de contato, as conversações musicais estão se mudando para sites privados, particularmente o Facebook. Para continuar participando, devo aceitar a filosofia do Facebook, que analisa meu perfil e procura novas maneiras de cobrar de terceiros pelo uso dessa análise. No momento isso não me incomodaria muito, porque conheço muitas pessoas no Facebook e sei que são bastante honestas. Mas já vi muita coisa ocorrer com empresas. Quem sabe quem poderá estar usando meus dados daqui a 20 anos?

Pode-se argumentar que é tudo questão de escolha. Mas isso não leva em conta as consequências das redes, e a maneira como elas funcionam. Depois de um certo ponto, a escolha individual fica reduzida.

E a culpa não é do Facebook. Nós, idealistas, insistíamos que a informação online deveria circular livremente, o que significava que os serviços relativos à informação, não a própria informação, seriam a principal fonte de lucro. Algumas empresas vendem conteúdo, mas isso não se aplica ao lado econômico do conteúdo do dia a dia gerado pelos usuários.

A valorização exagerada do “conteúdo livre” inevitavelmente passou a significar que a “publicidade” se tornaria o maior negócio no aspecto aberto da economia da informação. Além disso, esse sistema não é tão positivo para os novos concorrentes. Uma vez criadas, é difícil reduzir o poder das redes. Os anunciantes do Google, por exemplo, sabem o que acontecerá se decidirem sair. O próximo maior lance para cada posição no modelo de leilão do Google para a venda de inserções herdará essa posição se o autor do maior lance se mudar. Por isso os anunciantes do Google tendem a ficar, pois as perdas com a saída são evidentes, enquanto os ganhos não são.

A estratégia óbvia na briga por uma fatia do bolo da publicidade está em excluir partes substanciais da internet de modo que o Google nunca mais as veja. É assim que o Facebook espera ganhar dinheiro, fechando totalmente uma enorme quantidade de informação gerada por usuários em um mundo estanque, fora do Google. As redes isolam seus usuários dentro delas, sejam eles membros do Facebook ou anunciantes do Google.

Essa crença na informação “livre” bloqueia os futuros caminhos para a internet. E se usuários comuns passassem a ganhar micro compensações por suas contribuições? Se todo conteúdo, não apenas o dos magnatas, fosse valorizado, talvez uma economia da informação pudesse proporcionar sucesso para todos. Mas, sob os atuais termos do debate, essa ideia mal pode ser sussurrada.

A pergunta que faço aos meus amigos do movimento pela internet “aberta” é: o que vocês achavam que aconteceria? Nós, no Vale do Silício, solapamos o direito autoral para que o comércio tivesse mais a ver com serviços que com conteúdo. A conclusão inevitável foi sempre de que acabaríamos perdendo controle de nosso próprio conteúdo pessoal, de nossos próprios arquivos. Assim, enfraquecemos não apenas Hollywood e antiquados defensores de conteúdo: enfraquecemos nós mesmos.

Jaron lanier, é o autor de you are not a gadget. É pesquisador da microsoft research. Escreveu esse artigo para The New York Times.

ZUENIR VENTURA - O poder da irrelevância

Quando em 2009 o escritor inglês Richard Dawkins fez sucesso na Flip falando mal das religiões, foi muito solicitado para explicar a inexistência de Deus, na qual, como bom ateu, acreditava religiosamente. Hoje, se estivesse vivo, seria chamado para comentar a frase “menos Luíza, que está no Canadá”, bordão que se propagou na internet como se fosse um vírus. Eu disse bordão? Desculpem, queria dizer meme, o termo da moda lançado em 1976 por Dawkins no seu livro “O gene egoísta”. Equivalente cultural de gene, o meme é capaz de se replicar, passar de uma mente para outra e se disseminar de maneira viral. Como esclarecia o autor, pode ser uma melodia, uma ideia, um poema, um comportamento ou, acrescento, uma irrelevância, como a afirmação “hoje é dia de rock, bebê”, da Cristiane Torloni, ou a aderência inevitável do “Ai, se eu te pego”.

O que aconteceu com o meme Luíza foi mais impressionante, porque surgiu na Paraíba e se espalhou pelo país. Num anúncio imobiliário, um suposto comprador, depois de exaltar os apartamentos à venda, diz: “É por isso que fiz questão de reunir toda a minha família (ao fundo, a mulher e um casal de filhos), menos Luíza, que está no Canadá, para recomendar esse empreendimento.” Pronto, e a moça de 17 anos virou celebridade instantânea. Retornou ao país, deu dezenas de entrevistas, criou um blog sobre moda e, segundo a agência que agora cuida de sua imagem, vai se “posicionar como a formadora de opinião que ela tem potencial para ser”. O último feito da jovem foi ser questão numa prova de concurso público no interior de SP.

O “caso Luíza” ilustra o fenômeno de consagração da insignificância em que se transformou o meme no Brasil. Assim como uma bobagem replicada pode virar notícia, assim também um desacontecimento surge como fato relevante, um brother do BBB pode amanhecer famoso, sem quê nem por quê, ou uma mentira política às vezes ganha ares de verdade. Basta que, jogados na rede, sejam repetidos ou tuitados à exaustão. Como dizia McLuhan nos anos 60, “o meio é a mensagem”, ou seja, mais do que a forma e o conteúdo, o que importa é o modo como ela é divulgada.

No processo de comunicação de massa, a transmissão é tão ou mais importante do que a emissão e a recepção. O meme sempre existiu, com outros nomes — bordão, palavras de ordem, slogans — mas nem sempre para transmitir irrelevâncias. Ao contrário. O mais antigo deles, o “Faça-se a luz” (“Fiat lux”), não caiu na boca do povo porque não havia internet. Pouco antes de morrer, José Saramago diagnosticou a “tendência atual para o monossílabo” como forma de comunicação. Ele se referia ao twitter, mas, exagerando, pode-se estender o fenômeno ao meme. A sua previsão é de um pessimismo hilário: “De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.”

FERREIRA GULLAR - Num outrora agora

Meus olhos se enchem d'água e o passado me invade. 
É perda, mas, ao mesmo tempo, alegria.

"Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça..." Assim começa o samba "Garota de Ipanema", uma das obras-primas da bossa nova. Consta que esse samba nasceu no bar Veloso, que hoje tem o nome da música e fica na esquina da Prudente de Morais com a antiga Montenegro, chamada agora Vinicius de Moraes.
Pois bem, naquela época eu morava ali mesmo na rua Montenegro, quase em frente ao Veloso e também, como os demais moradores do bairro, com barraca e cadeira de praia, fazia o mesmo percurso a caminho do mar.

Mas, naquela época, minha turma não era a da música, e sim a das artes plásticas, cuja nova bossa era, então, o concretismo, que tinha seu quartel-general ali perto, na Visconde de Pirajá, entre a Montenegro e a Farme de Amoedo, no apartamento de Mário Pedrosa. Ali se reuniam, quase toda semana, Ivan Serpa, Lygia Clark, Aluísio Carvão, Amilcar de Castro, Lygia Pape, Abraham Palatnik, Franz Weissmann...
Se a bossa nova resultava numa ruptura com a música popular em voga, em que imperavam o bolero e o dó de peito, o concretismo rompia com a tradição modernista nas artes plásticas, cujo principal expoente, na época, era Portinari.

Se se leva em conta que a pintura deste tratava de temas históricos e sociais, o concretismo, limitando-se a composições geométricas, era, como a bossa nova, um modo também de falar baixo.

De qualquer modo, vivíamos uma época de mudanças, tanto assim que, em 1955, se elege um presidente da República bossa nova, Juscelino Kubitschek, que decide construir uma nova capital para o Brasil e chama Oscar Niemeyer para inventar Brasília.

Mas as mudanças não ficaram no terreno das artes. Avançaram para o campo político-ideológico, com a luta pela reforma agrária e contra o imperialismo norte-americano. Cria-se o CPC da UNE, que se volta para a música dos subúrbios e se envolve com as escolas de samba. Mais tarde, após o golpe de 1964 e a criação do teatro Opinião -que era o CPC com outro nome-, o samba das escolas invade a zona sul do Rio.
Já então me afastara do concretismo, do neoconcretismo e mergulhara na luta política e na poesia social. Vinicius se junta aos jovens baianos e faz um show em nosso teatro. Tornamo-nos amigos desde então e essa amizade vai nos juntar, durante meu exílio em Buenos Aires, aonde ele ia fazer shows e terminou se apaixonando por uma moça argentina, quase 30 anos mais nova que ele. E ainda teve a coragem de ir pedir-lhe a mão aos pais dela, bem mais jovens que ele.

Todas essas lembranças, tumultuadamente, tomavam-me a mente, enquanto assistia ao filme de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim, "A Música Segundo Tom Jobim", feito a muitas mãos, inclusive as de Miúcha.

O filme começa com o "Samba do Avião" e estende-se num sobrevoo sobre a cidade: o aterro do Flamengo ainda em obras, a praia de Botafogo, passa pelo Pasmado, depois pelo Túnel Novo, desemboca na Princesa Isabel e eis que estou na entrada da Barata Ribeiro, percurso que faço até hoje, várias vezes por semana.
É o outrora agora, de que fala Fernando Pessoa. Meus olhos se enchem d'água e o passado inteiro me invade. É perda, mas, ao mesmo tempo, alegria, pois só a música é capaz de nos dar isso.

E mais vertigem está por vir e já sei que virá e espero que venha, o coração batendo forte. A cada aparição de Tom Jobim, ora jovem e lindo, ora já sessentão e charmoso, a imagem do talento e da doçura, que doce ele era, sempre pronto a reconhecer e valorizar o talento do outro. É o que o filme nos mostra, sem uma palavra, sem uma legenda, nas cenas que se sucedem sempre iluminadas por sua música.

Não por acaso, essa música encantou o mundo, seduziu cantores e instrumentistas de muitos países e muitas línguas, que a executam, diante de nós, visivelmente tomados por ela, sejam eles Frank Sinatra, Sarah Vaughan ou Dizzy Gillespie. Mas a emoção maior foi ver e ouvir de novo aquelas canções na voz de Elizeth, Maysa, Elis, Nara e Adriana. Senti falta de Astrid e João Gilberto, que não aparecem no filme.
Soube-se que ele é que não permitiu.

MARTA SUPLICY - A vida é curta

"Pentimentos" e ressentimentos. Dois sentimentos que atrasam a vida. O primeiro é uma palavra em italiano que quer dizer arrependimento, mas Contardo Calligaris deu a ela outra interpretação. Definiu-a como a "miragem da felicidade" e versa sobre o que seria da vida atual se tivéssemos feito escolhas diferentes em algumas, ou uma das, milhões de escolhas que fizemos ao longo da vida.

Esses pedaços de passado, alguns de encruzilhadas difíceis, nas quais tivemos que decidir que lado estaríamos, voltam, fantasiados. Ah! Se eu tivesse me formado em engenharia, em vez de ser ator, teria sido um sucesso retumbante. Ou, a minha vida frustrou-se, pois casei antes da hora...

Na maioria das vezes, decidimos o que somos capazes de decidir. Ou, o que temos a ousadia de querer. Mais ainda, a coragem de arriscar. Depois, muito depois, a tal da miragem pode voltar, toda enfeitada e arrumada, para explicar o que poderia ter sido e não foi.

É uma forma de não encarar o erro. Ou o medo. De negar a falta de discernimento na escolha, mas é pior. Funciona como um tecido que impede novas escrituras. Impede buscar o novo. Viver.

O outro sentimento, o ressentimento, é parecido no que concerne ao esvaziamento da vida. Enquanto um vê a vida passar, delirando no que poderia ter sido, no outro, o indivíduo se afunda num mar de mágoa.
Ambos os mecanismos imobilizam. Para o ressentido, o esquecimento não existe e o prazer é ficar no poço da insatisfação. Às vezes, até quem provocou a ofensa já está em outra, mas a vida para o ressentido continua nublada e sem graça e empacada.

A incapacidade de virar a página impede o fluir da vida e a procura pelo novo. Essa dificuldade em poder continuar, sentir a dor das escolhas equivocadas ou das ações que foram ofensivas sem usar artifícios, é o que faz alguns superarem os entraves e outros se perderem num rodamoinho sem fim.
Gosto desta frase atribuída a Shakespeare: "Guardar ressentimentos é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra". Só que o óbito é seu.

Diferentemente do "pentimento" e do arrependimento, ocorreu-me um terceiro sentimento também forte: a cicatriz.

A pessoa não fica atrelada de forma atrapalhada ao passado. Mas permanece um sentimento de dor e interrogação. Se abrir mais fundo, e houver ainda possibilidades de retomar a situação que marcou, fica a frustração que a falta de ousadia traz. E uma perda do que poderia ser ainda vivido. Se cutucar a ferida, o risco de uma reviravolta real na vida é grande. Talvez o empecilho maior seja o medo da perda da ilusão e do sonho, que acalentam e acalmam a insatisfação.

A vida é curta, dizia minha mãe. Eu acrescentaria: aprenda a ser feliz.

MÔNICA WALDVOGEL - Saia justa no banheiro

Tínhamos acabado de gravar o “Saia Justa” desta semana, do qual, pela primeira vez, apenas nosso elenco masculino participava. De repente, Dan Stulbach — ou teria sido Xico Sá? — dá um tapinha na testa. “Esquecemos de falar da confusão que o Laerte arrumou ao usar o banheiro feminino num restaurante!”

Que mancada. Como é que deixamos fora um tema tão quente como esse, quintessência das saias justas deste milênio?

O cartunista Laerte, sessentão que há uns três anos resolveu se vestir de mulher e passear por aí usando looks de gosto duvidoso, é muito querido pelos paulistanos da tribo que se reúne nos bares lá pras bandas da Vila Madalena. Laerte, da noite para o dia, pelo menos na percepção de quem não frequenta as rodas certas da boemia, virou Sônia.

E Sônia se transformou numa celebridade, dessas que atraem todos os fotógrafos nos eventos e enche páginas de jornal e revista com entrevistas sobre a velha e carcomida moldura sexual a que estamos todos submetidos.

Até aí, tudo bem. Sônia tem namorada (ou será o Laerte?), ex-mulher e filhos. A sem-cerimônia com que circula pelo mundo escancarando sua fantasia faz com que a gente se pergunte qual é o tamanho da liberdade que concedemos a nós mesmos. Esses que transgridem normas sem prejudicar ninguém são os mais fortes, acredito eu. Eles fazem do mundo inteiro o seu espaço vital, não se contentam com a parte com que temos de nos virar nesse latifúndio da falta de imaginação e de ousadia.

Mas o que você acha?”, pergunta Dan.
Ele pode usar o banheiro feminino quando está encarnando a Sônia?”

Não paro pra pensar.“Precisa perguntar para as mulheres se elas concordam com isso”, respondo. “E para os homens também”, rebate ele.

Sucedeu-se uma conversa escatológica sobre como mulheres e homens usam o banheiro, se a higiene do espaço é mais bem cuidada por quem usa o vaso sanitário em pé ou se, ao agachar, como fazem as moças, os resíduos líquidos que encharcam o chão não se equivalem aos famosos respingos que os rapazes não conseguem evitar.

Poderia ser esse o critério ideal para resolver o problema sem precisar obrigar a construção de um terceiro banheiro, para transexuais, cross-genders, travestis e assemelhados? Ou seja, instituiriam-se dois tipos de banheiro com nova sinalização: ali para os que fazem xixi em pé e aqui para quem se senta nessas horas. Vários problemas culturais estariam resolvidos como mágica.

Será? A reação de Laerte/Sônia ao ser solicitado/a a se dirigir ao banheiro masculino depois da reclamação de uma mulher mostra que não é bem assim. Para ele, o que importa é a roupa que se usa, correspondente à pessoa que se sente ser naquele momento. É complicado. Laerte armou um bafafá, reclamou seus direitos de “dupla cidadania” e conseguiu apoio da coordenação de políticas para a diversidade sexual de São Paulo.

E na próxima vez em que ele tiver de escolher um banheiro no restaurante? E se ele for para o masculino e um homem protestar?

Para as cabeças que se enxergam abertas é facílimo defender a liberdade de expressão. Só para os muito tacanhos é insuportável conviver com opiniões divergentes, encarar outros processos mentais, outras crenças, outros comportamentos. Não é apenas que o mundo seja mais colorido quando aceitamos a diferença dos outros. É também porque a vida fica mais divertida.

Mas mesmo para os que se interessam e se divertem, diante de um desafio novo há que se fazer um esforço pelo posicionamento justo. E quem tem a prerrogativa da justiça nesse caso? O direito de escolher que banheiro usar está com Laerte, que inventou para si uma nova expressão? Ou com quem tem o direito à privacidade adquirido pela anatomia do sexo?

Um homem vestido de mulher é rejeitado por seus pares diante do mictório ou estes são indiferentes ao vestuário do companheiro quando constatam o órgão que têm em comum? Às mulheres basta a identificação estética que se processa pelo espelho ou a roupa encobrindo um homem no cubículo ao lado configura algum tipo de ultraje?

Tenho um palpite. Acho que o problema é mais complicado para as mulheres resolverem. Nenhuma de nós se incomodaria se uma moça de terno e gravata usasse o banheiro feminino. Identidade de mulher se dá pela aparência não pela exposição genital, não é mesmo?

Fosse eu a encontrar o Laerte no banheiro do bar, não iria reclamar com o gerente. Puxaria um papo com ele, não deixaria escapar uma história boa como essa.

Mas sou sincera: é porque se trata de Laerte e de sua Sônia, só por isso. Fosse um completo estranho, eu ficaria um tanto constrangida.

ALDIR BLANC - Visão das janelas

Está na cadeia — ou estava, com miliardários e banqueiros nunca se sabe — o Filantropus nada-erectus Kim Detcom, fundador da Megaupload, que abria generosamente "janelas para o futuro" e fazia a cultura tecnológica de ponta chegar aos necessitados. Um herói. Sua empresa em prol dos menos favorecidos contava com 150 milhões de usuários registrados e recebia 50 milhões de visitas diárias. Fraudou, por baixo, muito por baixo, os proprietários legítimos de direitos autorais em mais de 500 milhões de dólares. Sonhador emérito, guardava em casa apenas para uso pessoal mais de 30 carros de luxo, BMWs, Maseratis, um Cadillac cor-de-rosa, Ferraris, Bentleys, Rolls Royces... Como sua marca preferida era Mercedes, possuía apenas dez, tadinho do menino carente. Vendia publicidade no Mega. Afinal, uma graninha a mais para quem faz o bem pode ajudar outros pés-dechinelo. Não sei se o slogan da empresa (sede em Hong Kong...) era "Estamos abrindo mão de nossos direitos para que você, etc. etc...". É bom saber que, enquanto Wall Street assalta o mundo, contamos com pessoas capazes de sacrifícios de tal, hum, monta. Os anjos existem, lá e cá.

Compreende-se a facilidade com que o bravo Kim Detcom roubava com tamanha desfaçatez. Vivemos tempos de intensa liberdade, tanto em Guantânamo quanto na Síria, Egito, Bahrein...

Durante a ditadura militar no Brasil era comum explicação do tipo "caso isolado, não reflete a totalidade de...". Foi o que ouvimos da sanguinária Hillary "I’m coming" Clinton ao se desculpar, e como se desculpam!, pelo xixi coletivo que robocops norteamericanos despejaram sobre cadáveres ensanguentados em andrajos, no Afeganistão. Tragicômico ver o arquiladrão Karzai bancando o macho, com lengalenga sobre o abuso. Ele que bote uma burca e fuja, antes de aparecer pendurado num poste com genitais na boca. O bombardeio de urina reflete o que acontece diuturnamente nas frentes de batalha: vingança. Leiam "Guerra", de Sebastian Junger, sobre combates contra talibãs: poucos metros conquistados num pequeno vale custavam vidas americanas.
O soldado-símbolo da campanha afegã, Pat Tillman, recebeu proposta de milhões de dólares para atuar no futebol americano, mas preferiu ser voluntário naquele inferno. Já havia combatido no Iraque. Há um documentário chocante, de 2010, "Tillman, um herói sob medida", direção de Amir Bar-Lev, passando na HBO, no qual o irmão do soldado revela a opinião de Tillman, sobre a guerra iraquiana: "É ilegal". Também no livro de Jon Krakauer "Onde os homens conquistam a glória — A odisseia de um soldado americano no Iraque e no Afeganistão" o assunto é esmiuçado. Alguns detalhes: a farda, o capacete, o peitoral protetor e até o diário de Tillman foram destruídos por ordem de seus comandantes para alterar a verdade. Ele foi destroçado por rajadas de metralhadoras disparadas por seus companheiros no chamado "fogo amigo".
Montaram uma comemoração gigantesca, com desfiles de bandas, cheerleaders e discursos oportunistas. Logo depois das baboseiras proferidas por um político-pastor, "Pat voltará para nós com Jesus", o irmão mais novo de Tillman subiu ao púlpito com um copo de cerveja e, entre vários "fucks", mandou: "Pat não acreditava nisso e não vai voltar. Está morto".

Também estão mortas as campanhas americanas no Iraque e no Afeganistão, talvez porque eles estejam se preparando para a sonhada — que se converterá em outra catástrofe — guerra contra o Irã.
Enquanto isso, aqui, a população atônita repete a velha pergunta: "Quem julgará os juízes?", e estão roubando o entulho dos prédios que desabaram no Centro do Rio. Essa é a visão das "janelas para o futuro", doces e róseos profetas em causa própria.

CAETANO VELOSO - Sobrevivendo no inferno

O que mais assombra nas euforias capitalistas é o irrealismo.

Por que a Nike lançou uma linha de tênis e camisetas com o nome de Mano Brown sem tomar a precaução de fazer um contrato com ele? Os produtos WFC Mano Brown estiveram, até faz pouco tempo, à venda em lojas da marca por todo o mundo e também na internet. A resposta é que a Nike não teme nenhumas consequências que possivelmente adviriam de um ato assim. Parece que, sobretudo num país como o Brasil, as grandes corporações agem como se não estivessem ligando muito para os direitos de indivíduos mais fracos do que elas. Digo sobretudo no Brasil porque me contam que aqui as indenizações são, por lei, calculadas a partir do poder aquisitivo de quem as recebe. Ou seja, a vítima de um uso abusivo de seu nome ou imagem será compensada de acordo com o lugar na pirâmide social que ela já ocupa: terá direito a muito se for rico; se for pobre ou remediado, terá direito a muito pouco ou a simplesmente pouco. Sendo assim, qual a empresa que fará cálculos levando em consideração a honra e a dignidade de quem quer que seja?

Mano Brown é uma referência para moradores de favelas por todo o Brasil; para músicos inteirados do que se passa na cultura popular contemporânea; para adolescentes de todas as classes sociais; para aspirantes a poetas. Chico Buarque já citou mais de uma vez o rap (ou o hip-hop em geral) como a verdadeira música de protesto do nosso tempo: não é feita por universitários bem nutridos que se comovem com o sofrimento dos excluídos, mas pelas próprias vítimas da exclusão. Os Racionais MCs, grupo de que Mano Brown é líder, representam o ápice da cultura hip-hop entre nós.

Nascido da importação de formas musicais jamaicanas por músicos do Bronx, em Nova York - não sem a referência da música eletrônica alemã do Kraftwerk, da disco music, da capoeira, dos discípulos de Marcel Marceau e dos filmes de Bruce Lee -, o hip-hop, disparado por Clive Campbell (Kool Herc) e Afrika Bambaataa, vem sendo, desde que se tornou amplamente conhecido, a partir do início dos anos 1980, a expressão mais acabada de uma mistura de nacionalismo negro com direito à visibilidade das camadas desfavorecidas. Como tal, nenhuma outra forma de arte popular ou de massas se lhe pode comparar em força internacional, superadora do modelo de distribuição que tem os Estados Unidos como centro gerador. Ainda é a vontade feladaputa de ser americano que (como, modéstia à parte, sinteticamente eu disse numa canção de homenagem a Raul Seixas) atrai jovens do mundo todo para o hip-hop, como já o fizera com o blues, o jazz, a canção da Broadway e o rock. Mas nenhum desses gêneros tinha no seu DNA (que quando eu era estudante ainda se chamava ADN) a impressão digital de criadores vindos de fora dos EUA. A Jamaica de onde veio, na memória de Campbell, a colagem de falas ao vivo com ritmos gravados, contribuiu no nascedouro, não com uma tradição primitiva a ser utilizada por americanos sofisticados, mas com uma nova formulação de elementos expressivos. Há um livro excelente sobre o assunto: "Infectious rhythm", de Barbara Browning. Assim, a ênfase no nacionalismo negro sobre o brasileiro - e a autodefinição de classe por sobre a de região ou nacionalidade - se dá de forma mais legitimada do que nunca. O álbum "Sobrevivendo no inferno", dos Racionais, é a obra-prima dessa experiência entre nós.

É por sua autenticidade e força poética que esse disco se coloca no centro do coração de tantos adolescentes desde que foi lançado, perto do final da década de 1990. De minha parte, como ponho, por programa, o sonho do Brasil acima de todos os outros elementos de todas as outras dialéticas, adivinho nesse apego das sucessivas gerações de garotada pelo rap uma vivência inconsciente da talvez principal missão do nosso país: salvar a África. Não apenas o maior dos continentes e o lugar de origem da raça humana, mas também todo o grande sentido da sofrida diáspora de seus primitivos habitantes na violência da maré montante do Ocidente e do Cristianismo. Então é com reverência que olho para Pedro Paulo Soares Pereira, Mano Brown e seus amigos que, como ele, tomaram apelidos tirados da língua inglesa: Edy Rock, Ice Blue e KL Jay.

Eles nos têm ensinado a sobreviver no inferno. Brown não pode ser submetido aos caprichos ditados pelo lucro de uma grande marca. Quem desce aos infernos está mais apto a ressurgir dos mortos e subir aos céus - e sentar-se à mão direita de Deus Pai.

A cultura hip-hop, como não podia deixar de ser, contaminou-se da ética das gangues, do mandonismo dos traficantes, da adoração à afirmação capitalista de automóveis, bebidas caras e roupas de grife: o gangsta rap americano (que não deixou de ser relevante esteticamente por isso) está cheio de exemplos. Mas isso são cores do complexo fenômeno. Em seu sentido mais abrangente e mais profundo, o hip-hop é a exibição de força dos que começam a construir a onda ascendente que há de mudar o mundo. Suas versões brasileiras são particularmente dignas. Mano Brown é o rei e o profeta. Não pode ser lançado ao desrespeito. Se ele não fez contrato com a Nike para dar seu nome a produtos dela - e não fez -, a Nike deve, cedo ou tarde, saber que tem que pagar caro pela desatenção. O que mais assombra nas euforias capitalistas é o irrealismo. O grupo de pessoas que decide passar a perna em alguém grande como Brown pensa que representa a esperteza. Na verdade, representa o delírio, o engano, a falha total.

MILLÔR FERNANDES - Poeminha: Última Vontade

Enterrem meu corpo em qualquer lugar.
Que não seja, porém, um cemitério.
De preferência, mata;
Na Gávea, na Tijuca, em Jacarepaguá.
Na tumba, em letras fundas,
Que o tempo não destrua,
Meu nome gravado claramente.
De modo que, um dia,
Um casal desgarrado
Em busca de sossêgo
Ou de saciedade solitária,
Me descubra entre fôlhas,
Detritos vegetais,
Cheiros de bichos mortos
(Como eu).
E como uma longa árvore desgalhada
Levantou um pouco a laje do meu túmulo
Com a raiz poderosa
haja a vaga impressão
De que não estou na morada.
Não sairei, prometo.
Estarei fenecendo normalmente
Em meu canteiro final.
E o casal repetirá meu nome
Sem saber quem eu fui,
E se irá embora
Preso à angustia infinita
Do ser e do não ser.
Ficarei entre ratos, lagartos,
Sol e chuvas ocasionais,
Estes sim, imortais
Até que um dia, de mim caia a semente
De onde há de brotar a flor
Que eu peço que se chame
Papáverum Millôr.

VINÍCIUS DE MORAES - A mulher que passa

Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!

Oh! como és linda, mulher que passa
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pêlos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?

Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida?
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!

No santo nome do teu martírio
Do teu martírio que nunca cessa
Meu Deus, eu quero, quero depressa
A minha amada mulher que passa!

Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.

MARTHA MEDEIROS - Em que esquina dobrei errado?

Quanta gente perde a vida que almejou por ter virado 
numa esquina que não conduzia a lugar algum?

Aconteceu em Paris. Estava sozinha e tinha duas horas livres antes de chamar o táxi que me levaria ao aeroporto, de onde embarcaria de volta para o Brasil. Mala fechada, resolvi gastar esse par de horas caminhando até a Place des Voges, que era perto do hotel. Depois de chuvas torrenciais, fazia sol na minha última manhã na cidade, então Place des Voges, lá vou eu. E fui.

Sem um mapa à mão, tinha certeza de que acertaria o caminho, não era minha primeira vez na cidade. Mas por um desatino do meu senso de orientação, dobrei errado numa esquina. Em vez de ir para a esquerda, entrei à direita. Mais adiante, aí sim, virei à esquerda, mas não encontrei nenhuma referência do que desejava. Segui reto: estaria a Place des Voges logo em frente? Mais umas quadras, esquerda de novo. Gozado, era por aqui, eu pensava. Não que fosse um sacrifício se perder em Paris, mas eu parecia estar mais longe do hotel do que era conveniente. Mais caminhada, e então, várias quadras adiante, não foi a Place des Voges que surgiu, e sim a Place de la Republique. Eu tinha atravessado uns três bairros de Paris, mon Dieu.

Perguntei a um morador o caminho mais curto para voltar à rua onde ficava meu hotel, e ele me apontou um táxi. Teimosa, pensei: ainda tenho um tempinho, voltarei a pé. E assim foram minhas duas últimas horas em Paris, uma estabanada andando às pressas, saltando as poças da noite anterior, olhando aflita para o relógio em vez de flanar como a cidade pede. Cheguei bufando no hotel, peguei minha mala e, por causa da correria, esqueci no hall de entrada uma gravura linda que havia comprado e que planejava trazer em mãos no voo. Tudo por causa de uma esquina que dobrei errado.

Foram apenas duas horas inúteis e cansativas, e duas horas não é nada na vida de ninguém. Mas quanta gente perde a vida que almejou por ter virado numa esquina que não conduzia a lugar algum?

Alguns desacertos pelo caminho fazem a gente perder três anos da nossa juventude, fazem a gente perder uma oportunidade profissional, fazem a gente perder um amor, fazem a gente perder uma chance de evoluir. Por desorientação, vamos parar no lado oposto de onde nos aguardava uma área de conforto, onde encontraríamos pessoas afetivas e uma felicidade não de cinema, mas real. Por sair em desatino sem a humildade de pedir informação a quem conhece bem o trajeto ou de consultar um mapa, gastamos sola de sapato à toa e um tempo que ninguém tem para esbanjar. Se a vida fosse férias em Paris, perder-se poderia resultar apenas numa aventura, mesmo com o risco de o avião partir sem nós. Mas a vida não é férias em Paris, e aí um dia a gente se olha no espelho e enxerga um rosto envelhecido e amargurado, um rosto de quem não realizou o que desejava, não alcançou suas metas, perdeu o rumo: não consegue voltar para o início, para os seus amores, para as suas verdades, para o que deixou pra trás. Não existe GPS que assegure se estamos no caminho certo. Só nos resta prestar mais atenção.

CORRER 1h POR SEMANA AUMENTA A EXPECTATIVA DE VIDA EM 6 ANOS

Pesquisa com 20 mil pessoas mostra que 
riscos de morte são reduzidos em 44%.

Correr uma hora por semana dos 20 aos 70 anos aumenta a expectativa de vida em cerca de seis anos. E aquela corridinha suave é melhor do que qualquer outro exercício, segundo estudo Copenhage City Heart, feito com 20 mil homens e mulheres de 20 a 93 anos.

Os pesquisadores descobriram que correr a passos lentos por uma ou duas horas por semana pode aumentar a expectativa de vida dos homens em 6,2 anos e, nas mulheres, em 5,6 anos, reduzindo os riscos de morte em 44%.

Além disso, eles acreditam que a corrida traz diversos benefícios ao coração, aumenta a oxigenação do corpo, diminui a pressão alta, previne a obesidade e aumenta a função cardíaca, entre outros benefícios. 

Para o médico Peter Schnohr, do hospital universitário Bispebjerg, na Dinamarca, até o bem-estar aumenta quando as pessoas estão na rua correndo porque interagem mais.

CIENTISTAS REVELAM CURIOSIDADES SOBRE COMO SENTIMOS OS SABORES

Você sabia que não há mapa da língua? 
E que um café numa boa xícara é mais saboroso?

Se a comida fosse apenas uma experiência definida por doce, amargo, azedo, salgado ou umami (o sabor do glutamato) os chefs ficariam sem emprego. Os sabores sim, são a grande arma de um bom prato. Mas do ponto de vista científico o sabor ainda é mal compreendido. Veja abaixo dez fatos científicos sobre o sabor selecionados pelo jornal "Independent":

1. O sabor é uma maneira evolutiva de ter certeza que temos uma dieta variada, já que precisamos de certos nutrientes para sobreviver. Diferentes macronutrientes tendem a ter sabores diferentes. Pães, batatas e massa são mais parecidos que diferentes tipos de carne, por exemplo.

2. Não sentimos o sabor apenas com a língua: gosto, olfato, visão, audição, temperatura, componentes irritantes do odor (que sentimos quando comemos pimenta ou rábano) e interocepção (a percepção das vísceras) estão envolvidos na criação da sensação cerebral que chamamos de sabor.

3. Cores afetam nossa percepção de sabor: pesquisadores da escola de enologia da Universidade de Bordeaux descobriram que quando os estudantes provavam vinhos brancos tingidos de vermelho por um corante sem sabor, eles o descreviam com adjetivos mais comumente atribuídos a vinhos tintos.

4. Café é mais gostoso em uma xícara robusta: pesquisadores das universidades de Rutgers e Michigan descobriram que a firmeza do copo influencia a percepção de gosto e qualidade.

5. Até a descrição da comida afeta o sabor: barras de proteína parecem piores se forem chamadas de proteínas de soja ou iogurte e sorvetes parecem melhores se descritos como de alto teor de gordura.

6. Não há um mapa da língua: não há zonas diferentes na língua para a percepção de doce, amargo, salgado e saboroso. O mapa da língua que conhecemos é baseado em uma pesquisa de 1901 publicada pelo cientista alemão de fama duvidosa DP Hanig, desmascarado em 1974. As papilas gustativas têm, de fato, de 50 a 100 receptores para cada gosto.

7. Algumas pessoas têm mais paladar. Mas isso não faz delas connoisseurs, só significa que eles são mais sensíveis a sabores amargos. Se você gosta de couve de bruxelas pode estar entre os super tasters, como são chamados.
8. O cheiro faz diferença e é um componente extremamente importante do sabor, detectado por receptores no nariz e na boca. Cientistas descobriram ainda, por ressonância eletromagnética funcional, que partes diferentes do cérebro são estimuladas dependendo do aroma.

9. O cheiro também afeta a quantidade de comida que colocamos na boca. De acordo com cientistas holandeses, quanto mais forte o aroma menor a porção.

10. Nosso gosto por determinados sabores é desenvolvido antes do nascimento. Um estudo recente com 24 grávidas as dividiu em dois grupos. Um provou uma dieta com anis, o segundo grupo ficou sem. Pouco depois do nascimento dos bebês, eles foram presenteados com algodão embebido em anis. Aqueles cujas mães consumiram o anis durante a gestação mostraram tolerância à substância, enquanto os outros mostraram aversão pelo seu cheiro.

LYA LUFT - Dizer "sim", dizer "não"

A história mais difícil de escrever é a nossa própria, complexa, obscura, inocente ou perversa – bem mais do que são as narrativas ficcionais.
Brinquei muito tempo com a idéia de dizer “sim” ou “não” a nós mesmos, aos outros, à vida, aos deuses, como parte essencial dessa escrita de nosso destino
com os naturais intervalos de fatalidades que não se podem evitar,
mas têm de ser enfrentadas.
Acredito em pegar o touro pelos chifres, mas vezes demais fiquei simplesmente deitada e ele me pisoteou com gosto. Afinal, a gente é apenas humano.
Nessa difícil história nossa, dizer “sim” ao negativo, ao sombrio, em lugar de dizer “sim” ao bom, ao positivo, é o desafio maior.
Pois a questão é saber a hora de pronunciar uma ou outra palavra, de assumir uma ou outra postura. O risco de errar pode significar inferno ou paraíso.
Também descobri (ou inventei?) isso de existir um ponto cego da perspectiva humana, em que não se enxerga o outro mas apenas um lado dele: seu olho vazado, sua boca cerrada, seu coração amargo. Sua alma árida, ah…
O ponto cego das nossas escolhas vitais é aquele onde a gente pode sempre dizer “sim” ou “não”, e nossa ambivalência não nos permite enxergar direito o que seria melhor na hora: depressa, agora. O ponto mais cego é onde a gente não sabe quem disse “não” primeiro.
E todos, ou os dois, deviam naquele momento ter dito “sim”.
Viver é cada dia se repensar: feliz, infeliz, vitorioso, derrotado, audacioso ou com tanta pena de si mesmo. Não é preciso inventar algo novo.
Inventar o real, o que já existe, é conquistá-lo: é o dom dos que não acreditam só no comprovado, nem se conformam com o rasteiro.
Nosso drama é que às vezes a gente joga fora o certo e recolhe o errado.
Da acomodação brotam fantasmas que tomam a si as decisões: quando ficamos cegos não percebemos isso, e deixamos que a oportunidade escape porque tivemos medo de dizer o difícil “sim”.
O “não” é também um ponto cego por onde a gente escorre para o escuro da resignação.
O ponto mais cego de todos é onde a gente nunca mais poderá dizer “sim” para si mesmo. E aí tudo se apaga. 
Mas com o “sim” as luzes se acendem e tudo faz sentido. 
Dizer “sim” a si mesmo pode ser mais difícil do que dizer “não” a uma pessoa amada: é sair da acomodação, pegar qualquer espada – que pode ser uma palavra, um gesto, ou uma transformação radical, que custe lágrimas e talvez sangue – e sair à luta.
Dizer “sim” para o que o destino nos oferece significa acreditar que a gente merece algo parecido com crescer, iluminar-se, expandir-se, renovar-se, encontrar-se, e ser feliz.
Isto é: vencer a culpa, sair da sombra e expor-se a todos os riscos implicados,
para finalmente assumir a vida.
Fazer suas escolhas, assinar embaixo, pagar os preços…e não se lamentar demais.
Porque programamos o próprio destino a cada vez que, num tímido murmúrio ou num grande grito, a gente diz para si mesmo: “Sim!”

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.
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