FINGINDO SER FELIZ - Danuza Leão

Mas querendo a mesma coisa que qualquer pessoa normal: 
chegar em casa, se atirar na cama e ver o final de um filme

ELA HAVIA combinado de jantar com amigos no restaurante mais novo da cidade, que, além de ser lindo e caríssimo, parece que se comia muito bem; se encontrariam lá às 10h. Mas naquele dia não estava muito bem. Para dizer a verdade, estava mal, e sem nenhuma razão especial para isso (como se precisasse).

A pele estava sem viço, o cabelo ruim, mas pensou que quando chegasse e tomasse uma bebida tudo ia melhorar. Pegou um táxi, e o trânsito estava péssimo, tudo parado.

Olhou para o lado direito, a calçada vazia; à esquerda, um ônibus parado.
O motorista, jovem, parecia calmo, mas olhou várias vezes para o relógio; alguém devia estar esperando por ele, pensou.

E pensou também no seu quase tédio, que estava indo para um restaurante cuja conta seria provavelmente mais alta do que ele ganhava em um mês. Ficou pior e começou a pensar.

Como seria a vida daquele motorista? Se às 10h da noite ele ainda estava trabalhando, devia ter começado pelas 2h da tarde -isso se não fizesse um biscate na parte da manhã.

Devia morar longe, e ainda ia ter que pegar uma condução para chegar em casa, o que seria lá pelas 11h. A essa hora a mulher talvez já estivesse dormindo, e ele ia ter que fazer um prato e botar para esquentar antes de cair na cama, morto de cansaço, sem ter com quem falar. O que será que ele pensava da vida? Teria planos para o futuro? Planos de melhorar de vida e poder ir a uma pizzaria aos sábados, tomar uma cerveja, voltar para casa e dormir abraçado com a mulher, sabendo que no dia seguinte ia poder acordar mais tarde, botar uma bermuda e ficar em casa de bobeira, vendo qualquer coisa pela televisão?

O trânsito não andava, e ela só prestava atenção nele. Nele, que parecia conformado, cumprindo sua obrigação, sem pensar em nada a não ser no trânsito, que não era para estar assim parado àquela hora. Teria acontecido algum acidente?

Daí a pouco os carros começaram a andar, o táxi virou à direita, e dez minutos depois ela chegou ao tal restaurante. O bar estava cheio, e a música -moderna- tocava alto o suficiente para que não se pudesse conversar, a não ser falando bem alto. Fez um esforço para ficar alegre; era preciso estar alegre, ou pelo menos fingir que estava. Tomou o primeiro drinque, tomou o segundo, mas naquela noite estava difícil.

Voltou a pensar no motorista, imaginando que ele só devia estar querendo uma coisa: chegar em casa e se atirar na cama. E pensou nela mesma, que não queria nada; que tinha tudo que uma pessoa pode ter, teoricamente, para ser feliz, e que estava tão mal. Se sentindo mais só do que nunca, apesar de rodeada de amigos, amigos legais que gostavam dela e de quem ela gostava, mas querendo a mesma coisa que qualquer pessoa normal: chegar em casa, se atirar na cama e ver o final de um filme bem ruim, sem precisar ser inteligente, charmosa, engraçada.

Pediu um terceiro drinque, deu risada de uma história que contaram, contou a sua, e quase sentiu inveja do motorista, que ia deitar e dormir sem precisar tomar nenhum comprimido, sem pensar em para que se nasce e para que se vive.

Enquanto ela ia continuar fazendo o que sempre fez na vida, aliás com muito talento: fingindo que era feliz
__________________________

CIGARRO - Fábio Porchat

Sônia era fumante. Fumante inveterada. Três maços por dia era o exigido pelo corpo. Menos que isso e lá vinham as dores de cabeça, o mau humor e a impaciência. Dizia a todos que amava os filhos e o marido, mas que o cigarro era sua razão de viver. A família não apoiava, aliás, recriminava, e muito. Mas de nada adiantavam as reclamações. Os três a conheceram fumante e, no fim, era melhor ela feliz com do que irritada sem. Porque Sônia irritada era do tipo que magoava o próximo. Uns diziam que ela só entraria no céu com um cigarro aceso na mão, senão ia sobrar até pra Deus.

Certo dia, saindo do trabalho, ia caminhando pela calçada até o ponto de ônibus quando, de repente, um gol preto, cuspindo três pessoas encapuzadas, para em sua frente. Os três gritam: "Sequestro, sequestro".

Desesperada, obedeceu as ordens e entrou no carro. Tentou falar alguma coisa, mas foi interrompida pelos gritos de "cala a boca" dos sequestradores. Encapuzada, depois de algum tempo com o carro em movimento, engoliu o choro e pensou: "Meu Deus do céu, preciso de um cigarro. Não de um celular, não da policia, não da porra do Batman, mas de um cigarro." E, pior ainda, quanto tempo duraria essa confusão toda? Não, mesmo que durasse meses, sequestrador que é sequestrador fuma. No cinema, todo mundo que é mau fuma. Ficou mais tranquila. Na certa, chegando no cativeiro, dariam a ela comida, que facilmente poderia ser trocada por cigarro, como naqueles filmes americanos de cadeia.

Começou a imaginar todo o mercado negro de cigarros que iniciaria com os sequestradores. Por alguns momentos chegou a pensar até na venda do corpo, mas esse pensamento logo sumiu. Muito cedo para se pensar nessa possibilidade. Pensou, então, na família. No primeiro contato, avisaria que estava bem e que pagassem logo o resgate. Mas foi nesse momento que a ficha caiu e alguns pensamentos ruins tomaram conta de sua mente. E se eles a torturassem? Imaginou um poço, e ela lá embaixo, implorando por um cigarro, até que uma alma caridosa lhe atirasse um cigarro... Mas apagado. "Socorro, me tirem daqui!" Podia ouvir até o barulhinho das pedras batendo e ela, de cócoras, tentando fazer fogo sobre o cigarro.

O carro parou. Sônia ia dar um grito de desespero quando ouviu a voz do marido.

- Sônia, isso vai ser rápido. Só alguns dias.

- Jonas? - Falou, titubeante.

O capuz foi retirado. Conseguiu, então, ver os filhos e o marido fantasiados de sequestradores, já sem os capuzes. A luz do sol machucou seus olhos, mas não o suficiente para impedi-la de ver o que dizia a placa em frente a uma casa simples, com aparência de casa no campo:

"CASA DE RECUPERAÇÃO PARA FUMANTES"

- Nãããããããããããããooooooo!!!!!!

Preferia ter sido sequestrada.

A MÁQUINA DE FAZER POBRES - Cora Rónai

Não há horizonte para quem está na miséria; 
na pobreza, há luz no fim do túnel

Imaginem um programa social que diminui o índice de internação de crianças doentes em 90%, aumenta a sua frequência escolar em 92% e praticamente dobra a renda familiar dos seus pais. Pois foi isso que três pesquisadores da Universidade de Georgetown encontraram aqui no Brasil, quando decidiram estudar os efeitos a médio e longo prazo do Saúde Criança, uma ONG carioca especializada em transformar miseráveis em pobres, na perfeita definição da sua fundadora.

Parece um jogo de palavras espirituoso, mas fala de dois universos onde o tudo e o nada seguem rumos separados. A diferença entre a miséria e a pobreza é praticamente intransponível para quem está na miséria; não há horizontes ou esperança nesse mundo. Na pobreza, contudo, já se permitem sonhos e, eventualmente, realizações. Na pobreza há luz no fim do túnel; na miséria, só trens vindos em direção contrária.

Vera Cordeiro descobriu essa fronteira quando trabalhava no Hospital da Lagoa. Crianças eram internadas, tinham alta, iam para casa — e logo estavam de volta ao hospital, em condições ainda piores, num ciclo vicioso que, quase sempre, só terminava com a morte dos pequenos pacientes. Claro: ir para casa significa voltar para as condições insalubres que os tinham feito adoecer. Significava falta de medicação, de cuidados, de comida. Ela chegou à conclusão de que era virtualmente impossível tratar das crianças sem tratar das suas famílias e do seu entorno. E foi à luta.

Trabalhando com voluntárias, correndo atrás de donativos e de parceiros, ela traçou um plano de ação e passou a atacar a miséria em várias frentes: dando remédios e alimento para as crianças, mas também reformando os seus barracos infectos, ensinando um ofício às mães e, muitas vezes, obtendo documentos para famílias inteiras que não existiam oficialmente.

Deu tão certo que hoje o Saúde Criança — que começou como Renascer, mas mudou de nome no meio do caminho para não ser confundido com a famigerada igreja — virou franquia social, e está presente em sete estados brasileiros, sendo que, em Minas Gerais, virou política de governo. A organização ganhou todos os prêmios mundiais do setor, é exemplo no mundo inteiro e chamou a atenção de Muhammad Yunus, o banqueiro bengali que ganhou o Prêmio Nobel da Paz pela concepção do conceito de microcrédito.

Dentro deste quadro de sucesso, faltava calcular, em números concretos, o efeito a longo prazo da atuação do Saúde Criança. Não é segredo para ninguém que a metodologia funciona; afinal, as voluntárias e voluntários ficam ligados às famílias que atendem, e volta e meia têm notícias delas mesmo depois que se desligam do programa. Mas haveria como medir o seu impacto?

Sim, havia. Há três anos, os pesquisadores Daniel Ortega Nieto, James Habyarimana e Jennifer Tobin, da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, passaram a acompanhar e comparar 127 famílias assistidas pelo SC com outras tantas que não foram beneficiadas. O resultado do seu trabalho, divulgado no mês passado, foi surpreendente. O tempo médio de internação hospitalar das crianças caiu de 62 dias por ano para nove. A renda familiar per capita passou de R$ 566 para R$ 1.087. Houve também um aumento notável na porcentagem de adultos empregados, de 54 por cento na entrada para 70 por cento até cinco anos após a participação no programa. Esse índice é atribuído aos cursos profissionalizantes promovidos pelo Saúde Criança.

A percepção de bem-estar das famílias é eloquente: ao entrar no programa, 56 por cento definiam a sua situação como ruim ou muito ruim. Passados três anos, esse índice caiu para pouco mais de 15 por cento — enquanto 51,2 por cento passaram a se achar em situação boa ou muito boa, contra os 9,6 anteriores.

Como disse uma das mães atendidas:

Quando você chega aqui você está triste, abatida, sem esperança. Aqui eles ensinam a gente a andar com a cabeça erguida.”

Pois é.

Isso também é Brasil, mas no meio de tantas notícias ruins protagonizadas por elementos torpes, nem sempre nos lembramos dos pequenos milagres que acontecem todos os dias, promovidos por brasileiros que honram o seu país.

* * *

E agora, os nossos comerciais: o Saúde Criança está participando do “Skoll Foundation social entrepreneurs challenge”, um desafio internacional para arrecadação de recursos online promovido pela Fundação Skoll, que investe em empreendedores sociais ao redor do mundo.

Entre as 57 instituições escolhidas, há apenas duas brasileiras (a outra é o CDI, o Comitê para Democratização da Informática, muito bem colocado graças à doação de um trabalho do Vik Muniz). O Saúde Criança está em sétimo lugar, e precisa melhorar a posição para garantir uma parte no prêmio de 250 mil dólares que será repartido entre as ONGs que mais arrecadarem.

O desafio termina no próximo dia 22 de novembro. Até lá, é só ir ao site, que fica em crowdrise.com/SaudeCrianca, e fazer a sua doação. Doe o valor de uma manicure, por exemplo, ou de um jantar: não vai fazer falta a você, e vai ajudar muito a uma causa que é nobre e digna de apoio.

PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS E DEPRESSÃO - Cristiane Segatto

Como mudar crenças e ideias que produzem sofrimento

Ruminar é a coisa certa a fazer, desde que você tenha quatro patas, coma capim e disponha de um sistema digestivo complexo. Bois, cabras, camelos e outros herbívoros são bons nisso. O alimento vai, devagar, da boca ao estômago. Depois, volta do estômago à boca. E, de novo, segue da boca ao estômago. Tudo em nome do bom aproveitamento dos nutrientes. Humanos não processam alimentos desse jeito, mas podem ser paquidérmicos ruminantes mentais.

Sabe quando os problemas não saem da cabeça? Vão e voltam? O perrengue aconteceu lá no passado, mas ainda mina as relações do presente? Os ressentimentos encorpam como bola de neve? Ruminantes raramente viram a página ou passam a borracha. O estrago pode ser grande.

“A ruminação é um dos fatores que contribuem para a depressão”, diz o psicólogo Robert L. Leahy, do Weill Cornell Medical College, em Nova York. Há poucas semanas ele fez uma apresentação por videoconferência durante o congresso da Associação Brasileira de Psiquiatria, realizado em Curitiba.

Eu estava lá e hoje aproveito para compartilhar um pouco das observações dele. Leahy falou sobre o uso da terapia cognitivo-comportamental no tratamento da depressão.

Essa forma de psicoterapia foi desenvolvida nos anos 60 pelo psiquiatra Aaron T. Beck, quando era professor da Universidade da Pensilvânia. O objetivo é a modificação de pensamentos e comportamentos inadequados ou inúteis.

É uma terapia de curta duração, bem estruturada, voltada para o presente e, em geral, mais barata que outras formas de atendimento psicológico. É um dos raros tipos de terapia que os planos de saúde aceitam pagar.

Até hoje, mais de 500 estudos científicos demonstraram os benefícios da terapia cognitivo-comportamental no tratamento de transtornos psiquiátricos, problemas psicológicos (questões familiares e conjugais, luto complicado, angústia, raiva, hostilidade etc) e outros problemas médicos com componentes psicológicos.

A terapia pode ser útil no tratamento de transtornos psiquiátricos como depressão, ansiedade, transtorno do pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno bipolar, transtorno de déficit de atenção com hiperatividade, esquizofrenia e muitos outros.

Essa modalidade de terapia também tem ajudado no tratamento de enxaqueca, dores, obesidade, insônia, hipertensão, disfunção erétil etc. Mais informações sobre resultados de estudos podem ser encontradas no site do BecK Institute e da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas.

Qual é a teoria por trás da terapia cognitivo-comportamental? Ela é baseada na ideia de que nossa percepção sobre as situações influencia a forma como nos sentimos.

Quando uma pessoa está em sofrimento emocional, é comum que tenha uma percepção distorcida dos fatos. O objetivo do terapeuta é ajudar o paciente a avaliar se seus pensamentos são, de fato, realistas. O segundo passo é aprender a mudá-los.

Ao pensar de forma mais realista, é provável que a pessoa se sinta melhor. “A terapia cognitiva ensina as técnicas para que o paciente seja seu próprio terapeuta”, diz Leahy.

Ainda nos anos 60, quando Beck desenvolvia a técnica, ele observou que os pacientes deprimidos tinham ondas de pensamentos negativos que pareciam surgir espontaneamente. É o que os terapeutas chamam de “pensamentos automáticos”.

Esses pensamentos azedam o bolo de qualquer mastigação mental. Distorcem a realidade e angustiam. Ruminar é ter pensamentos negativos e repetitivos sobre o presente ou o passado.

“Por baixo dos pensamentos automáticos, há sempre suposições inadequadas”, diz Leahy. Coisas do tipo: “Nunca vou conseguir ser feliz fazendo as coisas por conta própria”. Com a ajuda da terapia, o paciente pode perceber que essa é uma generalização que não corresponde à realidade.

Qual é a raiz desse estado mental que causa tanto sofrimento? No começo da infância, as crianças desenvolvem determinadas ideias sobre si mesmas, sobre as outras pessoas e sobre o mundo.

Uma boa definição sobre isso aparece no livro Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática, da psicóloga Judith S. Beck, filha do criador da técnica. A segunda edição desse clássico da área é um lançamento da Editora Artmed.

“As suas crenças mais centrais, ou crenças nucleares, são compreensões duradouras tão fundamentais e profundas que frequentemente não são articuladas nem para si mesmo”, escreve Judith. “A pessoa considera essas ideias como verdades absolutas – é como as coisas “são”.

Imagine uma pessoa que tem a crença nuclear de que é incompetente. Ela interpreta as situações por meio das lentes da sua crença, mesmo que a interpretação racional seja evidentemente inválida. A pessoa tende a selecionar as informações que confirmam sua crença nuclear. As informações contrárias são simplesmente desconsideradas ou desvalorizadas.

No livro, Judith representa esse modelo de processamento da informação num diagrama. Quando a pessoa se acha incompetente, todos os dados negativos são processados imediatamente. Eles fortalecem a crença nuclear. Algo assim:

“Não consigo aprender a mexer nesse novo programa de computador.”
“Não consigo um empréstimo no banco.”

Os dados positivos apresentados pela realidade são transformados em dados negativos:

“O chefe me elogiou, mas eu não merecia.”
“Escolhi o plano de saúde, mas levei muito tempo.”

Às vezes, os dados positivos nem são percebidos. Quem se acha incompetente nem se dá conta de que faz muitas coisas bem feitas. Por exemplo: pagar as contas dentro do prazo, consertar um problema no encanamento etc.

O desafio do paciente é analisar a validade dessas crenças nucleares e mudar os pensamentos automáticos. Aceitar que errar é humano e assumir seus erros é um bom começo.

“Todas as pessoas inteligentes que conheço já tomaram decisões erradas”, diz Leahy, autor de dezenas de livros, entre eles A regulação emocional em psicoterapia.

Ninguém gosta de errar, mas é preciso perder o medo de lidar com ele. Quatro frases de Leahy que vale a pena ter em mente:
1) Todo mundo erra.
2) Erros são informação. São parte do progresso.
3) Um erro não é o fim do mundo.
4) Não tenha orgulho de ser perfeccionista.

A terapia cognitiva-comportamental não é uma panaceia. Em alguns pacientes, o efeito pode ser passageiro. Outros se beneficiariam mais se tivessem acesso a outras formas de terapia – de longo prazo e grande investimento (financeiro e emocional).

Em muitas situações, a terapia não substitui os remédios. Pacientes com depressão grave e outros transtornos psiquiátricos raramente podem ser tratados adequadamente sem medicamentos.

Em saúde mental, radicalismos podem ser bons para um ou outro grupo, mas péssimos para os pacientes. Ao final da apresentação, Leahy deixou um recado atualíssimo.

“Os pacientes nos procuram porque querem se sentir melhor. Não vêm por causa da religião da terapia cognitiva ou de qualquer outra”, disse. “Não há um tratamento que funcione para todos o tempo todo.”

Ninguém merece sofrer sozinho. O passo transformador é assumir que precisa de ajuda. Como Leahy, não acredito em cura. Acredito em ajuda. Ele não acredita em cura da condição humana. Nem eu. 
_______________________

STATUS DE RELACIONAMENTO - Ivan Martins

Você tem alguém, 
não tem ninguém ou nem sabe?

Uma garota que trabalha comigo diz que alianças e anéis de compromisso saíram de moda. Agora, quando querem avisar ao mundo sobre mudanças importantes na sua vida pessoal, as pessoas vão ao Facebook e fazem uma modificação de status. De “solteiro” para “num relacionamento sério”, por exemplo. Ou de “relacionamento sério” para “em um relacionamento enrolado”. O programa oferece nove possibilidades de escolha, mas, da forma como eu vejo, as mensagens são apenas três: tenho alguém, não tenho ninguém, não sei.

Das três categorias, a que mais me interessa é a terceira. Ela parece piada, mas, na verdade, é uma descrição objetiva de fatos que muitos de nós já vivemos. Há momentos em que simplesmente não sabemos qual é o nosso status amoroso. Ontem estávamos felizes, mas, depois daquele bate-boca odioso, quem sabe o que vai ser de nós? Estávamos apaixonados há dois meses, mas eu viajei de férias e, na volta, alguma coisa esfriou - ainda somos realmente namorados? Sem falar daquela garota, daquele cara, que sai cinco, seis vezes com a mesma pessoa, dorme junto, acorda feliz, mas, toda vez que alguém pergunta, esclarece: “Somos amigos”. Haja saco.

Os relacionamentos clarificam a nossa situação existencial. Como parte de um casal, temos alguém. Se acordar com febre, se receber uma promoção no trabalho, se esbarrar numa celebridade num bar do Rio de Janeiro, saberei a quem ligar. Com quem contar também. O contrário dessa clareza é o limbo sentimental. Você liga para dividir uma notícia boa e o Fulano reage com frieza educada. Você descobre que está com conjuntivite e a “namorada” pede para você ligar quando estiver melhor. O dia foi triste, você gostaria de conversar, mas percebe que a pessoa ao lado ergueu uma barreira invisível e não quer mais se envolver com os seus problemas. Estava lá, mas saiu. Você tinha, mas parece que acabou. Quem sabe?

As situações de incerteza amorosa machucam. Elas nos lançam numa vertigem de sentimentos negativos. Quem não sabe deprime, entristece, broxa. Como tomar decisões, mover-se em qualquer direção importante se você não sabe se estará sozinho ou acompanhado? É óbvio: quem não sabe onde está não pode decidir para onde ir.

Vejam bem: não acho que isso seja culpa do outro. Nem sempre somos vítima da indecisão de alguém. É comum que nós mesmos estejamos perdidos em nossos sentimentos, passageiros de um relacionamento que parece ter perdido o rumo. Essas coisas acontecem. As circunstâncias viram névoa. Presos na confusão, os outros, como nós, frequentemente não sabem o que sentem, o que querem, como fazer e o que fazer. Dúvidas são uma forma louvável de honestidade, sobretudo quando são recíprocas. Mas, se você tem tudo claro e o outro vive em permanente estado de apagão, sejamos francos, talvez você seja o problema...

Por isso tudo, eu tenho simpatia pelos status ambíguo do Facebook. Por trás do pano ralo da gracinha, “em um relacionamento enrolado” é uma confissão, um apelo, quase um pedido de socorro. Quem aciona esse botão está avisando ao mundo – e não apenas aquele malfadado ser humano em particular – que a sua vida virou um ponto de interrogação clamando para ser elucidado. Em um mundo repleto de certezas jubilosas (“noivo”, casado”, “separado”), é preciso ter coragem para admitir que você não sabe onde está. Não sabe se foi aceito. Não sabe se foi abandonado. E pior: está com medo de perguntar.

Muita gente preferiria, claro, que essas informações de natureza pessoal não fossem partilhadas na internet. Um mundo onde gente adulta não perdesse tempo discutindo com o parceiro o status de relacionamento no Facebook seria um mundo melhor. A partilha pública de sentimentos é um comportamento adolescente, movido por sentimentos adolescentes.

Mas as redes sociais nos reduziram a isso, não foi? Viramos adolescentes fofoqueiros e exibidos de diferentes idades. A vida de cada um de nós tornou-se uma ópera encenada online com 24 horas de riso, fotos bem editadas, certo drama e alguma autopiedade. Além de música. Como velhos artistas obcecados por si mesmos, no futuro não nos lembraremos dos fatos, mas do registro: “Lembra da Fulana? Postei uma mensagem sensacional quando a gente acabou...”

Se a ordem é escancarar publicamente a própria vida, se essa orgia de revelações é realmente irreversível, prefiro quem faça isso com graça e autoironia. Uma mulher com uma dúvida, talvez dissesse o poeta Leminski, é muito mais interessante. Ao menos ela convida a minha simpatia. Desperta em mim o sorriso melancólico de quem conhece essas paragens. Suscita no meu coração anterior ao Facebook a sensação de que seguimos fundamentalmente perdidos e desamparados, anunciando ao outro, ao mundo, que precisamos, com todas as forças, de quem nos resgate da incerteza.

Que alguém, por favor, tome vergonha e apareça.  

COM QUANTA TRISTEZA SE FAZ UMA DEPRESSÃO?

A tristeza perdida,
 livro dos psiquiatras Allan Horwitz e Jerome Wakefield, 
critica diagnósticos que ignoram a relação 
entre os sintomas e o contexto do paciente

Há 2.500 anos o ser humano se preocupa em distinguir a tristeza normal da melancolia, nome antigo para o que hoje denominamos “transtorno depressivo”. Desde Hipócrates (460-377 a.C.), na antiga Grécia, observa-se que as reações que temos a perdas de entes queridos, amores e outras tantas coisas importantes podem gerar profundo pesar. 

No entanto, é possível detectar que, para alguns, a tristeza se prolonga demasiadamente, e sua causa não é identificada pelo próprio sofredor. Ausência de motivo para sofrer: este foi um importante critério diagnóstico para a melancolia em diferentes períodos da história da medicina.

De modo geral, para qualificar a tristeza ou a depressão utilizamos a observação de alguns fenômenos: desânimo, mágoa, abatimento, sensação de vazio, desespero, desesperança, aversão a comida, irritabilidade, inquietude, sentimento de inutilidade, ideação suicida, tentativa de suicídio, medo da morte, negativismo, falta de prazer ou de interesse nas atividades cotidianas, reclusão social, fadiga ou perda de energia, agitação ou retardamento (desaceleração) psicomotor.

O fato de a tristeza ser profunda e intensa, reunindo várias dessas manifestações por um tempo um pouco maior do que o esperado, em geral, proporcionou à psiquiatria contemporânea uma confusão entre tristeza “natural” e transtorno mental depressivo. 

Os autores de A tristeza perdida, Allan Horwitz e Jerome Wakefield, ambos psiquiatras, criticam o momento atual dessa especialidade médica por se apoiar em diagnósticos que ignoram a relação entre sintomas e o contexto do paciente. Como resultado, com exceção do luto, qualquer reação a uma grande perda tem altíssima chance de ser diagnosticada como depressão, pois o critério se baseia no sintoma e não na causa do sofrimento.

O livro tem o mérito de questionar a classificação atual do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM IV) para transtornos depressivos no momento em que ocorrem as discussões preparatórias para a elaboração do DSM V, previsto para 2013. Trata-se de uma revisão do conceito de depressão no interior da própria psiquiatria. “Uma crítica vinda de quem leva a sério o DSM e por isso é útil e bem recebida”, diz Robert Spitzer, psiquiatra que escreveu o prefácio do livro. Esse comentário é importante, pois uma das poucas críticas que se pode fazer ao livro é quanto ao embate que os autores travam com as ciências sociais, culpando-as por não encontrar mecanismos emocionais universais inerentes à natureza humana e não demonstrar quais circunstâncias estressantes provocam tristeza normal. 

Criticam a teoria relativista da antropologia que afirma não haver definições possíveis para tristeza e transtorno fora do valor específico de cada cultura. A rigidez dos autores é curiosa, por exigir das ciências sociais que tomem como ponto de partida o mesmo objeto, ou seja, o DSM IV. Essa atitude é de lamentar, pois impede a consideração de outras fontes como, por exemplo, estudos psicanalíticos que igualmente buscaram recuperar a tristeza para o cenário da condição humana, além de questionar a banalização da depressão sem se ater ao DSM IV. É o caso de Elisabeth Roudinesco (Por que psicanálise?, 2000) e Maria Rita Kehl (O tempo e o cão, 2009).

O livro cumpre bem seu objetivo: proporcionar uma perspectiva crítica sobre a conceituação da experiência da depressão, como ela foi explorada por variados grupos e como sua classificação mudou, de forma questionável, com o passar do tempo. Os autores querem demonstrar que a tristeza intensa é uma capacidade natural humana e não uma fraqueza de caráter e que a tristeza é produto de processos mentais relevantes funcionando conforme foram biologicamente projetados para reagir à perda. São problematizadas as vantagens e desvantagens de haver definições demasiado amplas de transtorno depressivo, bem como tratamentos injustificados, medicalização desnecessária e estigmatização.

Horwitz e Wakefield contam como no século XX os sintomas ocuparam a cena na elaboração de métodos estatísticos para fazer diagnósticos. Vários fatores colaboraram para a instalação dessa forma de avaliar a depressão. Por exemplo, razões epidemiológicas: a necessidade de revelar na comunidade os mesmos transtornos mentais que supostamente afetavam os pacientes tratados. Afinal, havia aqueles que não buscavam ajuda médica e só poderiam ser diagnosticados por questionários que chegassem até eles. 

Isso contribuiu para o surgimento de muitos casos falsos-positivos, já que os questionários eram aplicados por leigos. Outro fator foi o alto índice de suicídio entre jovens americanos. Em 2003, foi constatado que 4 mil crianças e adolescentes se suicidaram, de um total de meio milhão que tentou. Era urgente detectar transtornos depressivos e tratá-los. Mas os autores criticam esse procedimento: haveria que verificar o contexto em que se dá a tentativa de tirar a própria vida afinal, trata-se de uma idade de muitas transformações.

A patologização do sofrimento do adolescente lembra a patologização da masturbação infantil na era vitoriana, dizem os autores. Isso nos remete ao filósofo francês Michel Foucault, quando aborda o controle da vida pelo Estado. E ele certamente não levava a sério o DSM IV.

Por fim, os autores são realistas o suficiente para saber que não se mudam critérios diagnósticos com tanta facilidade nos dias de hoje. Há grandes grupos e interesses privados que estão se dando bem com a atual definição de transtorno depressivo. Esse me parece ser mais um motivo para unir esforços entre as várias disciplinas.
Patricia Porchat - Revista Mente Cérebro
__________________________________-

O CLANDESTINO - Danuza Leão

Fico imaginando o tamanho da solidão de um homem 
no meio do oceano, sem ter noção de onde está

Outro dia li uma notícia que me paralisou. Um homem de Camarões, país da África, conseguiu entrar num navio como clandestino, sem nem saber para qual destino.

Fiquei pensando nesse homem, que devia ter uma vida tão sem esperança, tão sem perspectiva, que decidiu se arriscar a qualquer coisa, em qualquer lugar do mundo, à procura de um futuro. Ele não escolheu para onde queria ir, desde que pudesse deixar para trás tudo o que tinha sido sua vida até aquele momento; devia ter suas razões. Mas esse é apenas o começo da história.

Depois de sete dias de viagem, e já a dez quilômetros da costa do Brasil, a tripulação desse navio, de bandeira de Malta, descobriu o camaronês, de 28 anos. Como punição, ele foi jogado ao mar, com uma pequena balsa, e ficou à deriva durante 12 horas, quando foi resgatado por um navio chileno que passava.

Segundo o noticiário da época, ele seria deportado, a tripulação do navio que o jogou ao mar iria prestar depoimento etc. etc., mas o tempo passou e até hoje, quando abro o jornal, procuro uma notícia que me esclareça a continuação dessa história dramática que não consigo esquecer, mas nunca soube como terminou.

Sabe-se que o ser humano é capaz das piores coisas.

Mas nesse caso não foi um único ser humano; foi um grupo de seres humanos, todos unidos, todos de acordo em cometer esse ato de barbárie. Jogar em alto-mar um homem porque ele embarcou no navio sem documentos, sem ter comprado uma passagem, enfim, ilegalmente -o que, imagino, deve ser contra muitas leis-, é contra uma lei muito maior, que é a lei humanitária; não poderiam ter esperado chegar a um porto e entregá-lo às autoridades?

O que fizeram com ele foi pior do que um assassinato.

Fico imaginando o tamanho da solidão -da solidão e do medo- de um homem no meio do oceano, sem ter noção de onde está, sabendo que só um milagre poderá salvá-lo (isso se antes do milagre ele não morrer de sede, de fome, ou mesmo afogado). Nessas 12 horas, quais terão sido seus pensamentos?

Terá lembrado da infância, da família? Terá se arrependido de ter largado tudo em busca de uma vida melhor? E um pensamento banal me atormenta: seria noite ou dia, quando ele foi jogado ao mar? E sua agonia, quando viu lá longe o navio chileno que o resgatou, pensando que podia não ser visto -e podia mesmo; não, não dá nem para imaginar.

Existem crimes bárbaros, por ciúmes, raiva, vingança, que por piores que sejam, com algum esforço, dá para entender; não justificar, mas entender. Mas jogar um homem no meio do oceano porque ele não tinha no bolso uma passagem é fora de qualquer compreensão.

Mas ele foi salvo, e qualquer coisa que lhe tenha acontecido -a deportação, a prisão-, nada pode ter sido pior do que as horas que passou no mar, e penso que depois disso ele não terá medo de mais nada.

Só dos homens, e do que eles são capazes.

CHOCOLATE NA GRAVIDEZ = BEBÊS MENOS ESTRESSADOS?

 
Comer chocolate é prazeroso — disso nem consumidores nem cientistas discordam. Agora, pesquisadores finlandeses descobriram que o doce age como protetor contra o estresse em bebês que ainda não nasceram. Mães que haviam consumido chocolate diariamente durante a gravidez, tiveram bebês mais ativos e felizes aos seis meses –  o resultado foi medido de acordo com a frequência dos sorrisos das crianças. Em filhos de mães estressadas, o efeito foi ainda mais evidente.

O corpo precisa de uma série dos aminoácidos para favorecer a ação dos neurotransmissores (responsáveis pela comunicação entre as células nervosas). O triptofano, por exemplo, é um dos componentes que atuam  na ativação da serotonina, molécula envolvida na regulação do humor. Níveis baixos da substância podem abrir o caminho para o desenvolvimento de distúrbios como depressão e ansiedade.

De fato, a administração de triptofano alivia sintomas depressivos. Quanto maior quantidade da substância no cérebro, mais serotonina é produzida. O aminoácido é encontrado em abundância na soja, castanha de caju e no pó de cacau não adoçado. No entanto, adicionar açúcar ao chocolate parece reforçar seus efeitos positivos. A mistura estimula o pâncreas a liberar insulina, facilitando o acesso do triptofano ao cérebro. Como resultado, os níves de serotonina aumentam e melhoram o humor.

Além do triptofano, os componentes anandamida e feniletilamina também aumentam o bem-estar. No entanto, a quantidade das substâncias presentes no chocolate são pequenas demais para ter um efeito perceptível. Os grãos de cacau contêm, ainda, cafeína, que provoca um efeito levemente estimulante e melhoram o ânimo.

No entanto, o psicólogo Peter Rodgers, da Universidade de Bristol, acredita que o desejo por comer chocolate, provavelmente, está muito mais ligado à psicologia alimentar do que às suas ações benéficas ao organismo: a substância parece não ter o mesmo efeito sobre o humor quando absorvidas de outros alimentos. O cientista acredita que a combinação entre o açúcar e a gordura presentes no doce (fonte de energia para o cérebro), têm um papel importante na sensação de prazer. Estudos demonstram que basta a visualização de uma barra de chocolate para ativar o sistema de recompensa cerebral.

Além disso, aprendemos a nos premiar ou nos consolar com o chocolate. Se a sensação de “felicidade” surge ao comê-lo, ela pode estar associado às nossas expectativas. No entanto, comer alimentos ricos em acúcar com frequência, pode acarretar uma série de consequências menos positivas, como sobrepeso e a diabetes. Em longo prazo e, associados a um estilo de vida sedentário, a gordura e o açúcar presentes no chocolate podem representar um importante fator de risco para a saúde e o bem-estar.
Revista Mente Cérebro

A BANALIDADE DAS APARÊNCIAS - Christian Ingo Lenz Dunker

O mal como algo “comum” 
prospera como uma patologia das aparências

Hanna Arendt está em alta. Aqui e na Europa discute-se o legado de seu pensamento, com bons comentários e teses, sem falar no impactante filme homônimo de Margarethe von Trotta. Sua ideia mais conhecida, sobre a banalidade do mal, permitiu reler o genocídio nazista como efeito de uma superestimação do modo de vida burocrático-administrado e de nossa paixão pela obediência – e não como uma súbita epidemia de psicopatas na Alemanha de Hitler, na Itália de Mussolini ou na União Soviética de Stalin.

A ideia da banalidade do mal e sua força descritiva, tanto no que se refere à impessoalização dos carrascos voluntários, quanto à falta de resistência das vítimas, apoia-se em uma concepção muito interessante sobre o que vem a ser o nosso mundo de aparências. O mal como algo “comum” prospera como uma patologia das aparências. Ao contrário da vida, que se desenvolve em um ciclo de produção e consumo, no qual dominam os processos em permanente necessidade de reposição, o mundo é composto por acontecimentos, obras e atos que permanecem como contingência ou como impossibilidade. A mistura entre público e privado formou um novo tipo de sociedade que gradativamente reduziu a dimensão política, que deveria incluir atos de criação, à mera reposição de processos sociais. Dessa maneira, perdemos a possibilidade de entabular verdadeiros atos, e desenvolvemos uma existência que sentimos como meramente funcional – problema bem retratado em Um homem sério (2009), dos irmãos Cohen.

Verdadeiros atos, aliás, são poucos: dizer sim, dizer não, prometer e perdoar. Mas quando eles acontecem temos sempre imprevisibilidade dos resultados e irreversibilidade do processo, combinadas com a criação de uma nova realidade que pressiona pelo gradual anonimato dos autores. Por exemplo, quando dizemos “eu te amo”, como um ato, essas quarto condições são atendidas. Antes de amar todos são possíveis (imprevisibilidade), mas quando ele acontece só um é necessário (irreversibilidade). Quando o ato acontece, cria um novo estado de existência, que torna seus agentes únicos. Autores são paradoxalmente anônimos, pois suas identidades pregressas desaparecem como efeito do ato. Aparecer opõe-se tanto a “ser” quanto a “desaparecer”. Há, portanto, contingência e impossibilidade presentes no ato, fazendo com que sejam criadas condições próprias ali onde “pareciam” impossíveis. Até aqui Hanna Arendt caminha de modo convergente com Hegel e Lacan.

O problema do humanismo é que sua crítica da lógica das aparências o leva a advogar algum tipo de essencialismo por trás das aparências, que de certa forma seria o verdadeiro autor dos atos humanos. Ora, a banalidade das aparências nem sempre justifica a existência de essências encobertas ou perdidas, autênticas ou verdadeiras. A banalidade das aparências só é perigosa – nos convidando ao sentimento de irrelevância e ao seu correlativo ressentimento social – se é incapacitante para o ato, seja de pensar, querer ou julgar. E aqui o antídoto deve ser buscado em Freud. Refiro-me a Lucian Freud, em exposição no Museu de Arte de São Paulo (Masp), neto do criador da psicanálise que se tornou um expoente da pintura figurativa na virada do século. Em um momento no qual a lógica das aparências se tornava suspeita e a arte partia para o irrepresentável como alternativa formal, Lucian insistia no grotesco, na caricatura e na deformação como maneira de mostrar que nem toda aparência é banal. Há aparências que são “acontecências” e outras que são só “parecências”. Como ele mesmo dizia: “Retrato as pessoas não pelo que elas parecem ser, e não apesar do que elas parecem ser, mas do modo como elas acontecem ser (happen to be)”.

SER OU ESTAR? - Suzana Herculano-Houzel

A realidade de cada um é construída de acordo com 
a biologia, experiências pessoais, valores e expectativas pessoais

Eu detesto a onda de pseudociência baseada, com licença poética abusiva, em uma versão fantasiosa da pobre da física quântica, popularizada por livros como O segredo e aquele filme maldito, Quem somos nós. Detesto por uma série de razões, entre elas a mensagem vil (para não dizer totalmente incorreta) de que não é preciso fazer nada para melhorar nossas vidas – quer dizer, nada além de pensar positivamente, pois sua consciência teria a capacidade de mudar a “realidade quântica” do mundo. (Ah, não funcionou e o colar de diamantes não apareceu no seu pescoço, nem o cheque no correio? Você não mentalizou direito. “Venha fazer um curso conosco e aprenda a mudar o mundo com o poder do pensamento!”)

Apenas uma ideia nisso tudo se salva e, ainda assim, apresentada muito tangencialmente por trás da propaganda toda: a noção de que, em vários sentidos, não somos, mas estamos. A diferença entre ser e estar vem aos poucos sendo consolidada pela neurociência, ainda que poucos sejam os estudos que a abordem explicitamente. Estamos, e não somos, no sentido de que a realidade de cada um de nós é diferente, construída de acordo com biologia, experiências pessoais, valores e expectativas. 

Não o Real, aquilo que é externo ao corpo; este é alheio à nossa existência e não depende de qualquer atividade mental, embora possa ser mudado à força de mãos, martelos e bombas. 


Mas a realidade que cada um usa para navegar o Real, esta sim é uma hipótese de trabalho, construída e reconstruída a cada instante pelo cérebro graças aos sentidos – mas tingida das cores pessoais de cada um.

Assim seu corpo está de certo tamanho e em certo lugar – mas pode encolher ou aumentar instantaneamente, ou até ser transferido para um manequim ou o avatar na tela do computador, graças a truques tão elaborados como realidade virtual ou tão simples como imagens e toques sincronizados. Ou graças ao uso de ferramentas agora já tão habituais que a transformação passa despercebida: assim você incorpora ao seu esquema corporal o lápis, os talheres, a pinça, e até mesmo o carro que dirige. 

Assim, também, duas pessoas interpretam de maneiras radicalmente diferentes a mesma frase dita por uma terceira – ou, num bom dia, você ouve favoravelmente um comentário da sua esposa, e num mau dia, acha o mesmo comentário insultante. Viver como um ser que continuamente está tem um lado bom de permitir uma abordagem personalizada do mundo. Por outro lado, às vezes o estar dá errado, pois não mais corresponde bem o suficiente com o Real para servir de guia útil pelo mundo. 


Em depressão, julgamos estar pior do que de fato estamos; em estado maníaco, ao contrário, criamos uma realidade brilhantemente cor-de-rosa que não representa os acontecimentos. 


Em delírio, como na esquizofrenia ou na mania mais exacerbada, pode-se até estar em um mundo que fala com vozes e imagens que não pertencem ao Real. Mas é justamente o estar que permite o tratamento – e a volta a um estado mais útil, porque melhor representativo do Real.

Essa volatilidade toda, ainda assim, tem uma âncora ao longo do tempo e do espaço: você, essa unidade particular de cérebro e resto do corpo e história de vida. Esse conjunto é o que você é: o seu ser, finalmente – embora seja um conjunto também construído pelo cérebro e portanto meio que paradoxalmente também volátil. Enquanto estiver razoavelmente intacto, e dotado de memória, ele consegue costurar os seus vários “estar” ao longo da vida em um único “ser”. Mas vai-se o cérebro... e fica só  a impressão deixada na realidade dos outros.
____________________________

FUMANDO ESCONDIDO - Roberto DaMatta

Um presidente americano disse que 
o negócio dos Estados Unidos era fazer negócio. 
Hoje, dir-se-ia que é lutar a todo custo e risco contra o terrorismo

Eles ainda eram cinco quando a tia solteirona e magra viu a fumaça saindo da cabana que os sobrinhos tinham construído no terreno baldio ao lado da casa onde moravam. Viviam na Belo Horizonte dos anos 40 e mesmo um bairro nobre da cidade, em torno do Minas Tênis Clube, muitos lotes cheios de "mato", esperavam as construções que hoje sombreiam a cidade. A turma de doze meninos que os cinco irmãos naturalmente atraiam havia construído as paredes de restos de caixote e caixas de papelão, o telhado de folhas de bananeira e de galhos arrancados dos arbustos.

Um muro servia como fundo e arrimo da tal cabana que saltava aos olhos no meio daquele lote vazio. E foi essa construção torta que Tia Amália viu pegando fogo — afinal onde há fumaça, há fogo! — mas que aos olhos dos meninos era uma confortável (porque possível) sala de fumar. Com cigarros na mão e tragadas elegantes, eles brincavam de ser "homem" e, entre os adultos, figurar os haveres da paternidade que um dia ia sair dos seus sonhos e tornar-se tão dolorosamente real para alguns deles.

"Pois é, dizia Romero, você pode comprar aquele meu terreno na Pampulha..." Ao que Fernando respondia, pondo fumaça pela boca e sério como um corretor, "Vou considerar!". Enquanto Ricardo e Renato ficavam enjoados com o tabaco e Roberto, o cabeça, o mais velho e o sempre responsável por tudo, preocupava-se com a fumaceira e em pagar ao Lelinho — o único menino com coragem de ir comprar um maço de cigarros Beverly Extra, em nome do pai.

Quando a tia arrombou a porta da cabana e, escoltada por Dedé, a cozinheira, descobriu o que chamou de "vasta patifaria", nós todos voltamos à meninice e sentimos como o mundo da meninice é um universo toldado pelos olhos do mundo, um mundo de adultos. A cabana não estava em chamas. Ela apenas produzia a fumaça que denunciava o nosso "fumar escondido" como fazíamos as escondidas um monte de outras coisas que iam nos tornando o que seriamos como adultos.

O cronista de Cuzco, Garcilaso de la Vega, conta no seu livro, "Comentários Reais dos Incas", publicado na Espanha em 1606, um “conto gracioso”.

Um conquistador chamado Solar, residente em Los Reys (Lima), tinha uma propriedade em Pachacamac. O capataz desta propriedade enviou ao patrão, por meio de dois índios, dez melões — frutos das primeiras sementes plantadas no Peru — e uma carta. Quando entregou a encomenda aos índios, ele os advertiu que não comessem nenhum melão porque, se o fizessem, a carta descobriria e os denunciaria. No meio da viajem, um dos índios sentiu o aroma sedutor dos melões. quis saber o seu gosto o teve o desejo de provar a fruta do amo. Seu companheiro, temeroso, disse que não deveriam fazer isso porque a carta iria contar. O cabeça resolveu o problema colocando a carta atrás de uma mureta — pois assim ela não poderia ver o que eles estavam dispostos a fazer e, sem vê-los, ela não denunciaria o que estavam para fazer às escondidas.

A estas alturas, devo lembrar que esses índios do Peru não conheciam a imensa tecnologia que chegou com a escrita, a qual inventou os mandamentos, as leis, os contra-mandamentos, os embargos, as exegeses, as receitas, os jornais, a literatura, a criptografia e a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos.

Eles imaginavam que as cartas que os espanhóis escreviam uns aos outros eram mensageiros ou espiãs capazes de revelar o que encontravam pelo caminho. As cartas eram concebidas como seres animados.

Comido o primeiro melão, os índios decidiram que era conveniente emparelhar as cargas. E assim, para ocultar o delito, comeram — com gosto — outro melão. Chegados a Lima, apresentaram oito melões ao capataz. Este, logo depois de ler a carta, os confrontou: "A carta fala em dez! Vocês comeram dois melões na viajem. Vão levar uma sova por essa malandrice!". Depois de muito apanhar, os pobres mensageiros sentaram-se tristes na beira do caminho e um deles disse: "Viu irmão? Carta canta!" Ambos ficaram muitos impressionados com o poder dos Conquistadores, os quais possuam essas "cartas" falantes, capazes de descobrir o escondido.

Matamos Deus e somos escravos da técnica. Passei o sábado tentando fazer funcionar uma impressora e, mesmo com uma ajuda decidida e dedicada, não consegui. Nem sempre o que está no papel e nos planos do usuário, concretiza-se na sua relação com a coisa adquirida sem a figura do intermediário. Um presidente americano disse que o negócio dos Estados Unidos era fazer negócio. Hoje, dir-se-ia que é lutar a todo custo e risco contra o terrorismo — coisa complexa porque a guerra se faz entre países.

Como disse o escritor Philip Roth, com o gosto pelo desvelar que passa longe de nós, em 1998, quando do escândalo Lewinski-Clinton, o terrorismo substituiu o comunismo como a prevalecente ameaça a segurança nacional somente para ser sucedido por um escândalo erótico. A vida em toda a sua desavergonhada impureza, confunde mais uma vez a América, finaliza Roth.

Como meninos pegos fumando e peruanos ágrafos e loucos por melões, mas denunciados por uma carta, a América da liberdade e do equilíbrio entre o íntimo e o coletivo, entre o se deve aos aliados e a si mesma, é pega espionando o mundo. A tocha da Estátua da Liberdade foi substituída por um iphone.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.
Livros de Edmir Saint-Clair

Escolha o tema:

- Mônica El Bayeh (1) 100 DIAS QUE MUDARAM O MUNDO (1) 45 LIÇÕES QUE A VIDA ME ENSINOU (1) 48 FRASES GENIAIS (1) 5 CHAVES PARA FREAR AS RELAÇÕES TÓXICAS NA FAMÍLIA (1) 5 MITOS SOBRE O CÉREBRO QUE ATÉ OS NEUROCIENTISTAS ACREDITAM (1) A ALMA ESTÁ NA CABEÇA (1) A FUNÇÃO SOCIAL DA CULPA (1) A GREVE DAS PALAVRAS (1) A LUCIDEZ PERIGOSA (1) A PANDEMIA VISTA DE 2050 (1) A PARÁBOLA BUDISTA (1) A PÍLULA DA INTELIGÊNCIA (1) A PRÁTICA DA BOA AMIZADE (1) A PREOCUPAÇÃO EXCESSIVA COM A APARÊNCIA FÍSICA (1) A QUALIDADE DO SEU FUTURO - Edmir Silveira (1) A SOMBRA DAS CHUTEIRAS IMORTAIS (1) A Tua Ponte (1) A vergonha pode ser o início da sabedoria (1) AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA (5) Amigos (4) amizade (2) ANA CAROLINA DECLAMA TEXTO DE ELISA LUCINDA (1) ANDRÉ COMTE-SPONVILLE (3) ANTONIO CÍCERO (2) ANTÓNIO DAMÁSIO (3) ANTÔNIO MARIA (2) ANTONIO PRATA (2) antropologia (3) APENAS UMA FOLHA EM BRANCO SOBRE A MESA (1) APOLOGIA DE PLATÃO SOBRE SÓCRATES (1) ARISTÓTELES (2) ARNALDO ANTUNES (2) ARNALDO BLOCH (1) Arnaldo Jabor (36) ARTHUR DA TÁVOLA (12) ARTHUR DAPIEVE (1) ARTHUR RIMBAUD (2) ARTHUR SCHOPENHAUER (5) ARTUR DA TÁVOLA (9) ARTUR XEXÉO (6) ASHLEY MONTAGU (1) AUGUSTO CURY (4) AUTOCONHECIMENTO (2) BARÃO DE ITARARÉ (3) BARUCH SPINOZA (3) BBC (9) BBC Future (4) BERNARD SHAW (2) BERTRAND RUSSELL (1) BISCOITO GLOBO (1) BRAINSPOTTING (1) BRUNA LOMBARDI (2) CACÁ DIEGUES (1) CAETANO VELOSO (10) caio fernando abreu (5) CARL JUNG (1) Carl Sagan (1) CARLOS CASTAÑEDA - EXPERIÊNCIAS DE ESTRANHAMENTO (1) CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (23) CARLOS EDUARDO NOVAES (1) CARLOS HEITOR CONY (3) CARTA DE GEORGE ORWELL EXPLICANDO O LIVRO 1984 (1) CECÍLIA MEIRELES (5) CELSO LAFER - Violência (1) CÉREBRO (17) CHARLES BAUDELAIRE (4) CHARLES BUKOWSKI (3) Charles Chaplin (4) Charles Darwin (2) CHÂTEAU DE VERSAILLES (1) CHICO ANYSIO (3) Christian Ingo Lenz Dunker (9) CIÊNCIA E RELIGIÕES (1) CIÊNCIAS (20) CIENTISTA RUSSO REVELA O QUE OCORRE CONOSCO APÓS A MORTE (1) cinema (6) CLARICE LISPECTOR (17) CLÁUDIA LAITANO (3) CLAUDIA PENTEADO (8) Coletâneas Cult Carioca (1) COMO A INTERNET ESTÁ MUDANDO AS AMIZADES (1) COMO A MÚSICA PODE ESTIMULAR A CRIATIVIDADE (1) COMO A PERCEPÇÃO DO TEMPO MUDA DE ACORDO COM A LÍNGUA (1) COMO A PERDA DE UM DOS PAIS PODE AFETAR A SUA SAÚDE MENTAL (1) COMO A SOLIDÃO ALIMENTA O AUTORITARISMO (1) COMO COMEÇAR DO ZERO EM QUALQUER IDADE (1) COMPORTAMENTO (528) Conexão Roberto D'Avila - STEVENS REHEN - IMPERDÍVEL - ALTISSIMO NIVEL DE CONHECIMENTO (1) CONHEÇA 10 PESSOAS QUE QUASE FICARAM FAMOSAS (1) conhecimento (6) CONTARDO CALLIGARIS (17) CONVERSAS NECESSÁRIAS (1) CORA CORALINA (3) CORA RÓNAI (6) CORTES DIRETO AO PONTO (32) Cristiane Segatto (8) CRÔNICAS (992) Crônicas. (172) CRUZ E SOUSA (1) CULT MOVIE (5) CULT MUSIC (10) CULT VÍDEO (21) DALAI LAMA (5) DALTON TREVISAN (1) Dante Alighieri (1) DANUZA LEÃO (30) DE ONDE VÊM OS NOMES DAS NOTAS MUSICAIS? (1) DEEPAK CHOPRA (3) DENTRO DE MIM (1) DRAUZIO VARELLA (11) E. E. CUMMINGS (3) EDGAR MORIN (2) Edmir Saint-Clair (78) EDUARDO GALEANO (3) ELIANE BRUM (25) ELISA LUCINDA (4) EM QUE MOMENTO NOS TORNAMOS NÓS MESMOS (1) Emerson (1) EMILY DICKINSON (1) Emmanuel Kant (1) Empatia (3) entrevista (11) EPICURO (3) Epiteto (1) Erasmo de Roterdam (1) ERÓTICA É A ALMA (1) Eu Cantarei de Amor Tão Docemente (1) Eu carrego você comigo (2) Fábio Porchat (8) FABRÍCIO CARPINEJAR (5) FEDERICO GARCIA LORCA (2) FERNANDA TORRES (23) FERNANDA YOUNG (6) Fernando Pessoa (13) FERNANDO SABINO (4) FERREIRA GULLAR (24) FILHOS (5) filosofia (217) filósofo (10) FILÓSOFOS (7) Flávio Gikovate (25) FLORBELA ESPANCA (8) FRANCISCO DAUDT (25) FRANZ KAFKA (4) FRASES (39) Frases e Pensamentos (8) FREUD (4) Friedrich Nietzsche (2) Friedrich Wilhelm Nietzsche (1) FRITJOF CAPRA (2) GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ (2) GEMÄLDEGALERIE - Berlin - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) GERALDO CARNEIRO (1) Gilles Deleuze (2) HANNAH ARENDT (1) HELEN KELLER (1) HELOISA SEIXAS (10) Heloísa Seixas (1) Henry David Thoreau (1) HERMANN HESSE (10) HILDA HILST (1) IMMANUEL KANT (1) INTELIGENCIA (2) intimidade (6) IRMÃ SELMA (1) Isaac Asimov. (1) ISABEL CLEMENTE (2) IVAN MARTINS (22) JEAN JACQUES ROUSSEAU (1) JEAN PAUL SARTRE (1) JEAN-JACQUES ROUSSEAU (3) Jean-Paul Sartre (2) JEAN-YVES LELOUP - SEMEANDO A CONSCIÊNCIA (1) Jô Soares (4) JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1) JOÃO UBALDO RIBEIRO (14) JOHN NAUGHTON (1) JORGE AMADO (1) JORGE FORBES (1) jornalista (3) JOSÉ PADILHA (2) JOSE ROBERTO DE TOLEDO (1) JOSÉ SARAMAGO (8) JULIO CORTÁZAR (2) KAHLIL GIBRAN (3) Kant (2) KETUT LIYER (1) Khalil Gibran (5) Klaus Manhart (2) KRISHNAMURTI (1) Lao-Tzu (1) LE-SHANA TOVÁ TIKATEVU VE-TECHATEMU - Nilton Bonder (1) LEANDRO KARNAL (3) LEDA NAGLE (2) LÊDO IVO (2) LETÍCIA THOMPSON (2) literatura (69) literatura brasileira (23) LUIGI PIRANDELLO (2) LUIS FERNANDO VERISSIMO (15) LUIS FERNANDO VERÍSSIMO (7) LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO (13) LUIS VAZ DE CAMÕES (2) LUIZ FERNANDO VERISSIMO (6) LYA LUFT (33) LYGIA FAGUNDES TELLES (1) MADHAI (4) Mahatma Gandhi (5) Maiakowski (1) MANOEL CARLOS (11) MANOEL DE BARROS (1) MANUEL BANDEIRA (4) MAPA INTERATIVO PERMITE VIAJAR NO TEMPO E VER 'SUA CIDADE' HÁ 600 MILHÕES DE ANOS (1) Marcel Camargo (12) MARCELO RUBENS PAIVA (7) MARCIA TIBURI (12) MARÍLIA GABRIELA entrevista RAFINHA BASTOS (1) MARINA COLASANTI (6) MÁRIO LAGO (1) Mário Prata (3) MÁRIO QUINTANA (15) MÁRIO SÉRGIO CORTELLA (4) MARIO VARGAS LLOSA (1) MARK GUNGOR (1) martha medeiros (92) MARTIN LUTHER KING JR (1) MARTINHO DA VILA (1) MELATONINA: O HORMÔNIO DO SONO E DA JUVENTUDE (1) MIA COUTO (14) MIA COUTO: “O PORTUGUÊS DO BRASIL VAI DOMINAR” (1) MICHEL FOUCAULT (1) MIGUEL ESTEVES CARDOSO (4) MIGUEL FALABELLA (14) Miguel Torga (2) MILAN KUNDERA (1) MILLÔR FERNANDES (3) MOACYR SCLIAR (12) MÔNICA EL BAYEH (4) Monja Cohen (1) MUSÉE D'ORSAY - PARIS - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) MUSEU NACIONAL REINA SOFIA - Madrid - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) MUSEU VAN GOGH - Amsterdam - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) NÃO DEVEMOS TER MEDO DA EVOLUÇÃO – Edmir Silveira (1) NARCISISMO COLETIVO (1) Natasha Romanzoti (3) NÉLIDA PIÑON (1) NELSON MANDELA (1) NELSON MOTTA (28) NELSON RODRIGUES (3) NEUROCIÊNCIA (143) NILTON BONDER (1) NOAM CHOMSKY (2) NOITE DE NATAL (1) O BRASIL AINDA NÃO DESCOBRIU O CABRAL TODO (1) O CLIQUE (1) O MITO DA CAVERNA DE PLATÃO: A DUALIDADE DA NOSSA REALIDADE (1) O MITO DO AMOR MATERNO – Maria Lucia Homem (1) O Monge Ocidental (2) O MUNDO DA GENTE MORRE ANTES DA GENTE (1) O MUNDO SECRETO DO INCONSCIENTE (1) O PENSAMENTO DE CARL SAGAN (1) O PODER DO "TERCEIRO MOMENTO" (1) O PODER TERAPÊUTICO DA ESTRADA - Martha Medeiros (1) O QUE A VIDA ENSINA DEPOIS DOS 40 (1) O QUE É A TÃO FALADA MEDITAÇÃO “MINDFULNESS” (1) O QUE É A TERAPIA EMDR? – Ignez Limeira (1) O QUE É BOM ESCLARECER AO COMEÇAR UM RELACIONAMENTO AMOROSO (1) O QUE É CIENTÍFICO? - Rubem Alves (1) O que é liberdade (1) O QUE É MAIS IMPORTANTE: SER OU TER? (1) O QUE É MENTE (1) O QUE É MODERNIDADE LÍQUIDA (1) O QUE É O AMOR PLATÔNICO? (1) O QUE É O PENSAMENTO ABSTRATO (1) O QUE É OBJETIVISMO (1) O QUE É SER “BOM DE CAMA”? (1) O QUE É SER INTELIGENTE (1) O QUE É SER LIVRE? (1) O QUE É SER PAPA? - Luiz Paulo Horta (1) O QUE É SERENIDADE? (1) O QUE É UM PSICOPATA (1) O QUE É UMA COMPULSÃO? - Solange Bittencourt Quintanilha (1) O QUE FAZ O AMOR ACABAR (1) O que se passa na cama (1) O ROUBO QUE NUNCA ACONTECEU (2) O Sentido Secreto da Vida (2) OBRIGADO POR INSISTIR - Martha Medeiros (1) OCTAVIO PAZ (2) OLAVO BILAC (1) ORGASMO AJUDA A PREVENIR DOENÇAS FÍSICAS E MENTAIS (1) ORIGEM DA CONSCIÊNCIA (1) Os canalhas nos ensinam mais (2) OS EFEITOS DE UM ÚNICO DIA DE SOL NA SUA PELE (1) OS HOMENS OCOS (1) OS HOMENS VÃO MATAR-SE UNS AOS OUTROS (1) OTTO LARA RESENDE (1) OUTROS FORMATOS DE FAMÍLIA (1) PABLO NERUDA (22) PABLO PICASSO (2) PALACIO DE VERSAILLES - França - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) Pandemia (2) PAULO COELHO (6) PAULO MENDES CAMPOS (2) PEDRO BIAL (4) PENSADORES FAMOSOS (1) pensamentos (59) PERFIL DE UM AGRESSOR PSICOLÓGICO: 21 CARACTERÍSTICAS COMUNS (1) PERMISSÃO PARA SER INFELIZ - Eliane Brum com a psicóloga Rita de Cássia de Araújo Almeida (1) poemas (8) poesia (281) POESIAS (59) poeta (76) poetas (18) POR QUE A CULPA AUMENTA O PRAZER? (1) POR QUE COMETEMOS ATOS FALHOS (1) POR QUE GOSTAMOS DE MÚSICAS TRISTES? (1) porto alegre (6) PÓS-PANDEMIA (1) PRECISA-SE (1) PREGUIÇA: AS DIFERENÇAS ENTRE A BOA E A RUIM (1) PROCRASTINAÇÃO (1) PROPORÇÕES (1) PSICANALISE (5) PSICOLOGIA (432) psiquiatria (8) QUAL O SENTIDO DA VIDA? (1) QUANDO A SUA MENTE TRABALHA CONTRA VOCÊ (1) QUANDO FALAR É AGREDIR (1) QUANDO MENTIMOS MAIS? (1) QUANDO O AMOR ACABA (1) QUEM FOI EPICURO ? (1) QUEM FOI GALILEU GALILEI? (1) Quem foi John Locke (1) QUEM FOI TALES DE MILETO? (1) QUEM FOI THOMAS HOBBES? (1) QUEM INVENTOU O ESPELHO (1) Raul Seixas (2) Raul Seixas é ATROPELADO por uma onda durante uma ressaca no Leblon (1) RECEITA DE DOMINGO (1) RECOMEÇAR (3) RECOMECE - Bráulio Bessa (1) Reflexão (3) REFLEXÃO DE BERT HELLINGER (1) REGINA NAVARRO LINS (1) REJUVENESCIMENTO - O DILEMA DE DORIAN GRAY (1) RELACIONAMENTO (5) RENÉ DESCARTES (1) REZAR E AMAR (1) Rick Ricardo (5) RIJKSMUSEUM - Amsterdam - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) RIO DE JANEIRO (10) RITA LEE (5) Robert Epstein (1) ROBERT KURZ (1) ROBERTO D'ÁVILA ENTREVISTA FLÁVIO GIKOVATE (1) ROBERTO DaMATTA (8) Roberto Freire (1) ROBERTO POMPEU DE TOLEDO (1) RUBEM ALVES (26) RUBEM BRAGA (1) RUTH DE AQUINO (16) RUTH DE AQUINO - O que você revela sobre você no Facebook (1) Ruy Castro (10) SAINDO DA DEPRESSÃO (1) SÁNDOR FERENCZI (1) SÁNDOR MÁRAI (3) SÃO DEMASIADO POBRES OS NOSSOS RICOS (1) SAÚDE MENTAL (2) Scott O. Lilienfeld (2) século 20 (3) SÊNECA (7) SENSAÇÃO DE DÉJÀ VU (1) SER FELIZ É UM DEVER (2) SER MUITO INTELIGENTE: O LADO RUIM DO QUAL NÃO SE FALA (1) SER OU ESTAR? - Suzana Herculano-Houzel (1) Ser Pai (1) SER PASSIVO PODE SER PREJUDICIAL À SAÚDE (1) SER REJEITADO TORNA VOCÊ MAIS CRIATIVO (1) SERÁ QUE SUA FOME É EMOCIONAL? (1) SEXO É COLA (1) SEXO TÂNTRICO (1) SEXUALIDADE (2) Shakespeare. O bardo (1) Sidarta Ribeiro (4) SIGMUND FREUD (4) SIMONE DE BEAUVOIR (1) Simone Weil (1) SINCERICÍDIO: OS RISCOS DE SE TORNAR UM KAMIKAZE DA VERDADE (1) SÓ DE SACANAGEM (2) SÓ ELAS ENTENDERÃO (1) SOCIOLOGIA (10) SÓCRATES (2) SOFRER POR ANTECIPAÇÃO (2) Solange Bittencourt Quintanilha (13) SOLITÁRIOS PRAZERES (1) STANISLAW PONTE PRETA (5) Stephen Kanitz (1) Steve Ayan (1) STEVE JOBS (5) SUAS IDEIAS SÃO SUAS? (1) SUPER TPM: UM TRANSTORNO DIFÍCIL DE SER DIAGNOSTICADO (1) Super YES (1) Suzana Herculano-Houzel (10) T.S. ELIOT (2) TALES DE MILETO (2) TATE BRITAIN MUSEUM (GALLERY) (1) TERAPIA (4) THE METROPOLITAN MUSEUM OF ART (1) THE NATIONAL GALLERY OF LONDON - Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (1) THIAGO DE MELLO (2) TODA CRIANÇA É UM MAGO - Augusto Branco (1) Tom Jobim (2) TOM JOBIM declamando Poema da Necessidade DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (1) TONY BELLOTTO (3) Tour virtual - Você controla o que quer ver - Obra por obra (2) TRUQUE DO PANO: PROTEJA O CACHORRO DO BARULHO FEITO PELOS FOGOS DE ARTIFÍCIO (1) UM CACHORRO PRETO CHAMADO DEPRESSÃO (1) UM ENCONTRO COM LACAN (1) UM VÍRUS CHAMADO MEDO (1) UMA REFLEXÃO FABULOSA (1) UNIÃO EUROPEIA INVESTE EM PROGRAMA PARA PREVER O FUTURO (1) ÚNICO SER HUMANO DA HISTÓRIA A SER ATINGIDO POR UM METEORITO (1) velhice (2) Viagem ao passado (2) VICTOR HUGO (4) VÍDEO - O NASCIMENTO DE UM GOLFINHO (1) VÍDEO - PALESTRA - MEDO X CRIATIVIDADE (1) VÍDEO ENTREVISTA (2) VÍDEO PALESTRA (14) Vinícius de Moraes (3) VIVIANE MOSÉ (4) VLADIMIR MAIAKOVSKI (2) W. B. YEATS (1) W. H. Auden (2) WALCYR CARRASCO (4) WALT WHITMAN (4) Walter Kaufmann (1) Way Herbert (1) Wilhelm Reich (2) WILLIAM FAULKNER (1) William Shakespeare (4) WILSON SIMONAL e SARAH VAUGHAN (1)

RACISMO AQUI NÃO!

RACISMO AQUI NÃO!